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Saxon: Agraciando um disco que não foi tão agraciado

Resenha - Innocence Is No Excuse - Saxon

Por Ronaldo Celoto
Postado em 05 de dezembro de 2013

Nota: 9 starstarstarstarstarstarstarstarstar

A inocência jamais será desculpa para justificar qualquer ato tido como contrário ao que se espera. Mas a ousadia, sim, esta sempre será um atributo a ser considerado quando uma banda que entrava nos anos oitenta para tornar-se, ao lado do IRON MAIDEN, as duas lendas do NWOBHM - New Wave Of British Heavy Metal, de repente, assina com uma grande gravadora, e, vê-se obrigada a modificar um pouco a sua sonoridade mais do que peculiar, e, assumir os requintes do hard rock então pulsante. Mas quem disse que não havia ousadia por detrás da aparente inocência da sonoridade que o SAXON iria conceber?

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Nascia então, o clássico ¨Innocence Is No Excuse¨, massacrado por muitos fãs radicais, mas que hoje, ouvido com mais paciência, pode ser muito bem compreendendo como um clássico, devido às mudanças históricas das sonoridades da maioria das bandas, mudanças estas exigidas pelas próprias gravadoras, que tentavam fazer a Europa soar igual aos Estados Unidos e sua incendiária Los Angeles. Obviamente, sem muito sucesso. Mas, que deixou como registro alguns clássicos como esta obra dos lendários defensores das lendas e conquistas dos saxões.

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O disco abre com o chamado de um teclado, substituindo os tradicionais gritos de batalha (presentes no ótimo "Crusader" e aclamados em "Strong Army Of The Law" e "Power and the Glory"), dando início à harmonia melódica de "Rocking Again", onde o vocalista BIFF BYFFORD conclamava: "I'm standing in the dark/Let the music start/I can hear you call out my name", para avisar que, faça chuva ou faça Sol, todos estarão juntos ao som do bom rock pesado, todos estarão "rocking again". Sim, apesar das críticas que esperavam um furacão sonoro e veloz, o SAXON simplesmente teve coragem de dizer a todos que, independente do que eles estivessem a ouvir, a alma da banda lá estava, com refrões mais populares, guitarras mais sintetizadas ou menos "heavy metal", como alguns críticos de botequim disseram na época.

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Não, eu não vou culpá-los neste disco. Ao contrário, a resenha que agora faço é uma homenagem à mudança convertida pelo SAXON, à ousadia, mesmo que forçada, mas que trouxe, pelo menos neste disco, momentos ainda maravilhosos. Os álbuns seguintes são mais fracos, até o grande retorno deles, com a sonoridade tradicional, e, clássicos fabulosos, como "Unleash The Beast", "Into The Labyrinth", "Inner Sanctum", "Call To Arms", "Sacrifice" e demais novas pérolas.

A segunda faixa abre com guitarras cavalgadas, mas, o embrião esperado da bateria não arranca, e, a batida continua com o hard rock tradicional, com as guitarras Jackson de PAUL QUINN e GRAHAM OLIVER voando alto numa sonoridade ritmica que lembra alguns trechos feitos pelo ACCEPT, por exemplo. E assim, chega aos ouvidos de todos a bela "Call Of The Wild", com refrão similar ao que, por exemplo, o DEF LEPPARD já fez, mas sem perder a identidade dos queridos saxões.

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"Back On The Streets" flerta com o pop assumido de Los Angeles do início ao fim, passando pelos backing vocais e toda a tentativa do videoclipe em transformar os tímidos britânicos em rapazes que chegam e causam pelas estradas em um caminhão, ao lado de belas tietes. Não é algo que me agrada muito em termos de SAXON, mas a música foi sucesso, de uma forma até então inesperada.

"Devil Rides Out" também é hard ao extremo, com belo riff de guitarra e pegada forte no baixo de STEVE DAWSON e na bateria de NIGEL GLOCKLER. O refrão? Bom, o refrão é exatamente o que se pode esperar para uma canção cuja letra diz: "Cast your spell in the night/Black hearted woman mystifies/Heart of stone cold as ice/Play the cards roll the dice". Sim, é uma canção sobre uma mulher específica, algo não muito comum nas letras deles. Mas, em se tratando de uma banda que redefiniu a linha e a sonoridade um pouco mais pesada na Inglaterra, ao lado (como eu disse) do IRON MAIDEN, eles não fizeram feio.

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A quinta faixa traz o segundo melhor refrão do disco (o melhor viria na canção seguinte). Trata-se de "Rock and Roll Gypsy", harmoniosa, ótima de se ouvir, e, com sonoridade inicial (nos primeiros instantes apenas) característica de, por exemplo, algo que o DEF LEPPARD já havia feito nas canções "Switch 625" e "Let It Go" do ótimo disco "High and Dry", mas logo em seguida convertida novamente (antes que alguém me xingue por fazer referências a outro grupo) à identidade da banda, algo que eles conseguiram manter de forma competente, sem copiar outros grupos famosos da época. Pessoalmente, eu adoro esta canção.

E enfim, a inocência conhece o seu maior e mais magnífico emblema: a canção "Broken Heroes", maior de todos os hinos da década em homenagem às vítimas do Vietnã, engolidas e massacradas pela propaganda norte-americana que recrutava almas para enterrá-las. Nesta canção, BYFFORD e sua trupe fizeram o que já deviam ter feito muito antes; eles disseram: - nós somos ingleses... e nós estamos aqui para reivindicar o nosso direito de colonizadores !!!

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Sim, pois literalmente a música "Broken Heroes" massacra a ideologia americana da guerra e proclama aos verdadeiros heróis o direito de terem ouvidos os seus gritos por justiça. Digo, sem medo, que esta canção está entre as dez melhores músicas dos anos oitenta. Impecável, dantesca, e, fabulosa !!! Até hoje, ouvi-la me emociona e me remete aos patamares da mais alta e louvável justiça divina para aqueles que realmente merecem, e, não para os governantes sujos, hipócritas e nefelibatas.

Nunca me esquecerei (ainda bem) da primeira estrofe da canção, que diz: "They came to fight for glory in their thousands/Young men with their dreams/They died before the guns for their country/A book of faded pictures, broken dreams"...E do refrão seguinte, onde simplesmente, todos em uníssino perguntam: "Where are they now???".

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Pausas feitas, abro asas para o doce respirar de alguém que não ouvia esta música há muito tempo, e, se emocionou agora, ao ouvi-la novamente. Mas é preciso continuar. E lá vamos com a faixa seguinte: "Gonna Shout", um exercício do SAXON antigo, mas ousando ser glam, com toques de hard e androginia, e, o efeito não é dos melhores. Mas, também não é ruim. O refrão retoma a banda à posição que sempre foi sua, antes mesmo deste trabalho: - a de conquistadores!!! Sim, pois o povo saxão, bem sabem os historiadores, reivindicavam a Britânia pura, um território inteiro que carecia do resgate de sua identidade e de sua cultura!!!

"Everybody Up" tem um belíssimo riff de guitarra, e, a banda parece estar de alguma forma, deixando as exigências contratuais à parte e tentando voltar a ser SAXON, como de costume. Quase, quase chega lá. É como se o caminhão do videoclipe "Back On The Streets" ficasse sem combustível a um quilômetro do posto de gasolina mais próximo.

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"Raise Some Hell" faz a engrenagem deste caminhão (pedindo licença à metáfora) começar a se mover novamente, tem a cavalgada peculiar muito bem desenvolvida por guitarristas como RITCHIE BLACKMORE na fase RAINBOW ou MICHAEL SCHENKER na fase UFO. E tem um bom refrão, um grande riff, e, um belo solo de guitarra.

E o final, sim, eles conseguem, ao menos por minutos, fazer os fãs reviverem a identidade saxônica: "Give It Everything You've Got" é uma faixa que deveria estar em "Cruzader" ou "Power and the Glory". É o SAXON na fase mais pura e direta, mesmo que pareça mais uma diversão ao estilo "party" que eles resolveram fazer para desfecho da obra, mas o fato é que ela diz aos fãs mais raivosos, que ouviram o disco e estavam preocupados com os rumos da banda: - relaxe, nós ainda somos o SAXON!!!

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Mas, anos depois, a banda acabou por ser um pouco engolida pelos modismos de outras épocas, até renascer de forma grandiosa em novos e brilhantes discos, cujas resenhas já foram muito bem descritas por alguns fãs neste próprio site.

A mim, coube a difícil missão de, como observador e ouvinte, agraciar um disco que não foi tão agraciado, mas que hoje, décadas depois, pode ser muito melhor compreendido por todos. Enfim, a inocência foi toda dissecada. Ame-a ou não, o fato é que todos nós temos um pouco de inocência e malícia dentro de nossas almas. E, morder a maçã da vida é algo que ninguém jamais dirá que não tem vontade de fazer. Pois, a maçã foi mordida e o disco, a meu ver, foi aprovado!!!

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Sobre Ronaldo Celoto

Natural do Estado de São Paulo, é escritor, professor, poeta e consultor em direito, política e gestão pública. Bacharel em Direito, com Mestrado em Ciência Política, atualmente cursa Doutorado em Direito, Justiça e Cidadania pela Universidade de Coimbra. Além destas atividades, dedica diariamente parte de seu tempo à pesquisa e produção de artigos científicos, contos, romances, matérias jornalísticas, biografias e resenhas. Seus interesses pessoais são: cinema, política, jornalismo, literatura, sociologia das resistências, ética, direitos humanos e música.
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