Roxette: já estava literalmente vestido para o sucesso
Resenha - Joyride - Roxette
Por Guilherme dos Santos
Postado em 17 de julho de 2013
Como bem enfatiza uma das faixas-top do segundo disco da banda, o aclamado Look Sharp! (1988), o Roxette, pode-se dizer, já estava literalmente vestido para o sucesso. Agora ainda mais, pois além da boa receptividade que o já mencionado disco obtivera nos EUA, uma certa balada (e que balada!), fazia a cabeça dos ouvintes na América e no restante do planeta. Trata-se de It Must Have Been Love, um clássico gravado em 1987 e que só agora, após a inclusão na trilha sonora do filme 'Uma Linda Mulher', recebia o verdadeiro e merecido reconhecimento. Pra se ter ideia desse hino, o maior da carreira do Roxette, basta saber que até 2005 a canção já ultrapassava a marca de 4 milhões de execuções nas rádios, fato que levou Per Gessle a ganhar um prêmio da BMI. Na verdade, a canção a ser incluída no filme deveria ser outra, mas por indisponibilidade de tempo o líder do Rox apenas alterou a música gravada três anos atrás, fazendo uma sutil, mas necessária mudança num dos versos ("Christmas Day" para "winter's day"). It Must Have Been Love estourou, ficou duas semanas seguidas no topo das paradas e o resto, bem... o resto é história. E a saga de Joyride começa por aí.
Propício ao sucesso, a banda não deixou a peteca cair. E Per Gessle que já demonstrava ser um inspirado compositor, provou ser um completo hitmaker nesse disco. O álbum traz evidentemente, maravilhosas composições de Marie Fredriksson, mas são as músicas de Per que se sobressaem, até porque ele escreveu todas as letras além de colaborar com as canções de Marie também. Falando em colaboração, Mats Persson é outro que tem uma importância tremenda em Joyride. O fiel escudeiro do Roxette e parceiro do Per no Gyllene Tider (a banda paralela deles) teve o gabarito de, ao lado do songwriter, nos presentear com três mega-power baladas que são verdadeiras obras primas do gênero. Pois é, ele que já havia criado junto de Per a melodia sensacional de Listen To Your Heart, agora voltava a nos brindar com as clássicas Spending My Time, (Do You Get) Excited? e Perfect Day.
Aliás, um lance bastante injusto no Roxette é que a maioria das pessoas só voltam olhares para o duo de cantores, esquecendo-se do fenomenal conjunto que o grupo em si se constitui, incluindo aí gente de muito talento. O Roxette, pelo menos do meu ponto de vista não se limita a uma dupla. Afinal, pergunto, como ficam os instrumentos nesse caso? Baixo, guitarra, teclado, bateria? A resposta é um time de músicos muito competentes no qual posso começar a listagem pelo tecladista e programer Clarence Öfwerman. Para aqueles que veem o Roxette como dupla é praticamente um terceiro membro, o único musico efetivo a figurar em todos os álbuns do grupo e que além de excelente instrumentista, também é quem produziu e co-produziu todos os trabalhos do conjunto. Como uma rock band (comprove isso vendo um show deles!) o Roxette contava ainda em Joyride com o criativo Jonas Isacsson, que literalmente impunha um som Hard Rock na banda (a-há! achava que só o Per era o dono das guitarras?!). Suas bases cheias de pegada e seus solos quase mínimos, porém muitíssimo inspirados davam um gás enorme no disco e faziam uma diferença ímpar. Infelizmente, esses fatores foram diminuindo de forma gradual ao longo do tempo até desaparecerem por completo, uma pena.
Na época de Joyride a cozinha do disco era composta pelos também companheiros de Gyllene Tider Anders Herrlin (baixo e programação) e Pelle Alsing (bateria adicional e percussão), enquanto os backing vocals ficavam por conta do irmão do irmão do produtor, Staffan Öfwerman.
Assim era a formação estável do Roxette na época, a formação clássica podemos dizer. Quanto à Marie Fredriksson e Per Gessle, os comentários se fazem dispensáveis. Marie é uma das maiores cantoras do mundo enquanto Gessle não só como compositor, se destaca também por sua personalidade própria, por vezes subestimada.
E Joyride é um discaço do início ao fim, uma viagem no melhor sentido da palavra, sem ressalvas , sem músicas ruins ou medianas, é só clássico atrás de clássico. Falar do repertorio é difícil, a banda conseguiu fazer seu disco mais proeminente, ainda que exista a discordância de alguns, mas Joyride é, sem sombra de dúvida o disco mais inspirado do Rox.
O convite a um passeio se faz audível e ecoa nos primeiros segundos da faixa-título. Está dada a largada! Começa a espetacular corrida de hits, sequenciados nessa abertura antológica de riffs poderosos e detonantes, se é que essa palavra existe! A faixa culmina no refrão apoteótico: "Hello! You fool! I love You!" cantada em uníssono nos shows , não à toa o single foi parar como nº 1 nas paradas.
E como a corrida não para, Hotblooded vem para esquentar ainda mais com seu riff rasgadão, denotando a imensa qualidade das composições de Marie. A música realmente prima pela pegada e pelo solo, fundindo a gaita com a guitarra, uma coisa fantástica!
Fading Like A Flower (Every Time You Leave) com sua marcante introdução ao piano virou imediatamente hit de rádio, mas nem tinha como não virar, uma balada incrível dessas!
Impossível não se contagiar com o carisma de Knockin' On Every Door e não se emocionar com Spending My Time, onde Marie não peca pela maestria e poder de interpretação. A música fez tanto sucesso que foi parar até na trilha sonora de uma certa novelinha que passava aqui na época. É isso aí, o Roxette já tinha seu espaço garantido aqui no Brasil e os abundantes fãs do grupo não demorariam em vê-los; Per , Marie & Cia, aterrissariam aqui no ano seguinte, 1992, para shows lotados.
I Remember You, faixa que saiu só no CD (o vinil ainda era predominante na época) carrega aquela musicalidade belíssima de Southern e Country Rock que só o Roxette sabe fazer. Já a balada acústica Watercolours In The Rain (outra composição da Marie) brilha pela sua aura intimista; os arranjos orquestrados nessa música são emocionantes e só a fazem ainda mais linda.
Para os detentores do LP o lado B do álbum abria com outro powerpop classudo: The Big L. Muitos até hoje se perguntam do porque da abreviação de "love" no título. É outra canção clássica, de enorme sucesso e com a tão característica identidade Roxette.
A regravação de Soul Deep, original do Pearls Of Passion, esteve disponível no CD e ganhou uma roupagem bem mais pesada. Joyride em si, apesar do direcionamento Pop, é um disco bem rock'n'roll e Soul Deep é uma das faixas que retratam bem isso.
A próxima do track-list é (Do You Get) Excited? A bela música começa suave, acalenta os ouvidos, o ouvinte pressupões que se trata de uma doce balada. Mas eis que, de súbito, ao fim do primeiro refrão somos surpreendidos por um baita riff, daqueles certeiros e vigorosos, capazes de deixar embasbacado até mesmo o mais relutante ouvinte roqueiro quando o assunto é Roxette. Que riff! Que pegada! Certamente um dos momentos de cume dessa adrenalina que é Joyride.
A melódica Church Of Your Heart, na sequência, dá mais uma nova injeção de generosas guitarras, desta vez, guiadas pela singela atmosfera que traz a música.
Momentos de descontração são encontrados nas ótimas Small Talk, com sua levada Funk e na dançante Phisical Fascination, que pelas batidas, nos remete à década de 80.
A power balada Things Will Never Be The Same é outro clássico imortal, com Marie e Per se alternando nos vocais e ambos arrasando no refrão singular. Se tornou uma das baladas mais executadas ao vivo, principalmente em performances acústicas, essas não menos formidáveis.
Ao fim da viagem temos a profunda e melodiosa Perfect Day. Mais uma no hall das grandes baladas desse disco e de todos os demais da banda. A performance de Marie é simplesmente tocante e o acordeom só veio a elegantar essa sublime composição que fecha o disco de forma perfeita.
Agradecimentos são ditos ao final do play. Agradecimentos esses que devem ser ditos por nós após ouvir uma obra prima desse quilate!
Joyride, o terceiro álbum dos suecos foi gravado entre janeiro e novembro de 1990 nos estúdios Tits & Ass em Halmstad e no EMI Studios em Estocolmo. Os takes provaram a competência dos músicos e o auge de sua inspiração. Com um resultado mais que satisfatório, o disco, que foi lançado oficialmente a 28 de março de 1991, logo chegava ao expressivo 2º posto da parada britânica. Nos EUA a obra conquistou a 12ª colocação no Billboard Hot 200 e na Alemanha permaneceu 13 semanas como o número 1. Rendendo cinco singles, Joyride também foi o responsável por colocar o Roxette de vez na estrada. A Join-The-Joyride-World-Tour percorreu o mundo todo (incluindo o Brasil), resultando em outro disco clássico, o ótimo Tourism, que traz uma mescla entre novos sucessos, hits ao vivo e músicas mais experimentais, mas isto aí é história pra outra ocasião.
Por hora me resta dizer que sem Joyride os anos 90 não seriam os mesmos. É ainda o disco mais vendido do Roxette, já tendo superado a marca de 11 milhões de cópias vendidas, número até pequeno para a maestria desse clássico.
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