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Achtung Baby: a derrubada de The Joshua Tree a machadadas

Resenha - Achtung Baby - U2

Por Guilherme Mattar
Postado em 10 de março de 2012

Em 1987, o sucesso retumbante de The Joshua Tree deu ao U2 aclamação crítica, sucesso comercial e transformou Bono, The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen Jr em astros do rock. A imersão na música americana fez a banda alcançar de vez o estrelato. Mas a recepção fria de Rattle and Hum, em 1988, rendeu opiniões ácidas por parte da imprensa especializada, que acusava o U2 de ter ido longe demais. Despreparada para encarar o lado negro do showbiz, a banda entrou em um período de insatisfação artística profunda.

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Uma mudança de direção era iminente. Até que em 31 de dezembro de 1989, na turnê promocional de Rattle and Hum (Lovetown Tour), veio o comunicado. Bono dirigiu-se a platéia em Point Depot, na capital irlandesa, e afirmou que aquilo era "o fim de algo para o U2", onde eles teriam de "sonhar tudo de novo" para seguir em frente.

1990 chegou e trouxe consigo o desejo da novidade. A queda do muro de Berlim e a dissolução do socialismo pareciam fazer da capital alemã o lugar perfeito para novas idéias. Após viverem um tempo na Alemanha recém-unificada, os quatro integrantes voltaram a Dublin em 1991 e, depois de quase 1 ano de gravações e discussões internas sobre qual rumo musical adotar, vinha ao mundo Achtung Baby. Ou, nas palavras de Bono, "o som de quatro homens a derrubar The Joshua Tree a machadada".

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Lançado em novembro de 1991, Achtung Baby (expressão usada pelo engenheiro de som da banda, Joe O’Herlihy – "achtung", em alemão, significa "atenção") representou uma revolução artística no U2. A preocupação social e a seriedade do fim dos anos 80 davam lugar à irreverência e ao sarcasmo. Acusada de ter "se vendido" em Rattle and Hum, a banda agora brincava com o aspecto megalomaníaco do rock. Ainda assim, o álbum de 1991 é um dos trabalhos mais pessoais e introspectivos do grupo, senão o maior deles.

As músicas

Tudo começa com a industrial Zoo Station. A guitarra de Edge e a bateria de Larry estão sob vários efeitos, mostrando que a banda está diferente, renovada, como atesta um distorcido Bono no segundo verso da canção: "I’m ready, I’m ready for what’s next".

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Na seqüência, Even Better Than The Real Thing mantém a pegada. Usando um pedal Whammy na intro e munido de um slide no solo, The Edge dita o tom, com Bono cantando sobre a futilidade de se buscar gratificação instantânea.

Eis, então, que One aparece como um convite à reflexão. Na "cozinha", Adam e Larry são suaves, dando toda a tensão necessária ao desgaste da relação conjugal contada na letra. Há, também, outras interpretações (uma conversa entre um pai e seu filho gay, entre outras).

Na 4ª faixa, Jesus e Judas resolvem ter uma conversinha intermediada por Bono. Em Until The End of The World, Adam nos brinda com uma simples, porém eficiente, linha de baixo. O riff em E, composto por Bono, e o solo de guitarra de Edge também merecem menção honrosa.

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Relações amorosas conflituosas são tema recorrente em Achtung Baby. Em Who’s Gonna Ride Your Wild Horses, elas aparecem. Com uma letra interessante, colorida com metáforas sexuais, e uma performance vocal poderosa, Bono é a estrela maior.

Em So Cruel, o fim do primeiro casamento de Edge, que ocorria simultaneamente às gravações, é retratado. O arranjo de cordas produzido por Brian Eno e Edge, aliado ao teclado tocado também pelo guitarrista, são dignos de nota.

"Like a fly on a wall, it’s no secret at all". Em The Fly, somos apresentados a um dos alter egos desenvolvidos por Bono na turnê de Achtung Baby (ZooTV Tour). Aqui, ele dá voz a um rockstar no auge da forma e da fama, com todos os seus excessos. Mais uma vez, a distorção vocal aparece, bem como a bateria "enlatada" de Larry e a guitarra estridente, mas indispensável, de Edge.

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Depois disso, a dançante Mysterious Ways dá o ar de sua graça. O baixo pulsante de Adam aparece sob medida, com The Edge mostrando que sabe usar o wah-wah. E muito bem.

Tryin’ To Throw Your Arms Around The World narra as aventuras de um homem voltando da farra, bêbado. O verso "a woman needs a man like a fish needs a bicycle", presente na canção, é um famoso bordão cunhado pela escritora australiana Irina Dunn.

Ultraviolet (Light My Way) mostra Bono em seu melhor. Mais uma vez um casal em vias de separação é retratado, com o vocalista mostrando perícia nos registros graves, frases agudas e falsetes. The Edge aparece com riffs daqueles que grudam na cabeça, e Larry se destaca na bateria.

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Na reta final, aparece uma das músicas mais subestimadas do U2: Acrobat. Aqui, Bono vai fundo nas contradições humanas, cantando sobre alienação, com Larry firme na batera e The Edge executando um longo solo nas seis cordas.

Eis que surge Love is Blindness para encerrar o álbum. Contundente e instrospectiva, invocando imagens da Berlin recém-unificada, a letra escrita por Bono atinge em cheio um The Edge abalado pelo fim do casamento. A raiva era tanta que, ao gravar o solo, Edge chegou a arrebentar duas cordas de sua guitarra e assustou a equipe de produção, que nunca o havia visto tocar daquela forma. Na humilde opinião deste que vos escreve, os melhores solos já feitos por The Edge se encontram justamente nas versões ao vivo dessa música (vide o show em Adelaide, 93, na reta final da ZooTV).

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Recepção

Achtung Baby foi muito bem recebido tanto pela crítica quanto pelos fãs, que viram a mudança de direção com bons olhos. Em uma de suas turnês mais longas e bem-sucedidas, a agora aclamada ZooTV Tour, o U2 provou ser capaz de se reinventar, produzir boa música, lotar estádios mundo agora e usar a tecnologia a seu favor.

Entre as alterações que mais chamaram atenção em Achtung Baby, tem-se The Edge explorando novos sons e efeitos em sua guitarra minimalista, solando cada vez mais, e Larry incorporando elementos eletrônicos na batera.

Mas é Bono quem chama mais atenção. Conhecido pelo alcance vocal amplo, o cantor passou a adotar registros mais graves nas canções, privilegiando falsetes em detrimento de frases mais agudas (fruto do desgaste na Lovetown Tour, onde o vocalista teve sérios problemas com a voz).

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Mais adiante, Bono exploraria ainda mais esse novo jeito de interpretação, como ficaria evidente no álbum Zooropa, de 1993.

Tracklist

1- Zoo Station
2- Even Better Than The Real Thing
3- One
4- Until The End Of The World
5- Who’s Gonna Ride Your Wild Horses
6- So Cruel
7- The Fly
8- Mysterious Ways
9- Tryin’ To Throw Your Arms Around The World
10- Ultraviolet (Light My Way)
11- Acrobat
12- Love is Blindness

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Sobre Guilherme Mattar

Curitibano, formado em jornalismo pela UFPR. Integra o duo de rock Cactos e mantém um projeto solo no formato voz e violão.
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