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Whitesnake: períodos turbulentos no início dos anos 80

Resenha - Saints & Sinners - Whitesnake

Por Doctor Robert
Postado em 08 de agosto de 2010

Em 1981, o Whitesnake já havia deixado para trás há muito tempo o status de "banda dos ex-membros do Deep Purple" e gozava de uma boa notoriedade no cenário mundial. Com um sucesso crescente a cada novo álbum e turnê, David Coverdale, Jon Lord e os demais músicos mal tinham tempo para descansar, e logo apareciam novos compromissos. Recentemente contratados nos Estados Unidos pela Geffen Records para lhes representar na terra de Tio Sam, o grupo entra em estúdio para gravar seu novo disco, mas períodos turbulentos viriam pela frente...

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Lançado em 1982, "Saints & Sinners" é o sexto álbum de estúdio do grupo, se considerarmos o E.P. "Snakebyte" (os álbuns "David Coverdale’s Whitesnake"e "Northwinds" eram trabalhos solos do vocalista). O sexteto contava com um time de primeira linha em seu elenco: além do vocalista e de Jon Lord nos teclados, os guitarristas Bernie Marsden e Micky Moody e o baixista Neil Murray, colaboradores de longa data de Coverdale, tinham desde o álbum "Ready An’ Willing" (1980) a companhia nas baquetas de Ian Paice, também ex-Deep Purple. Tinham também canções de sucesso nas rádios, como "Fool For Your Lovin’", deste mesmo álbum, e "Don’t Break My Heart Again", de "Come And Get It" (1981), além de um ótimo álbum duplo ao vivo no currículo ("Live In The Heart Of The City", de 1980).

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Se o contrato com a gravadora de David Geffen era promessa de uma melhor distribuição do trabalho do grupo em território americano e de um futuro mais lucrativo, a realidade guardava alguns maus momentos para a banda. Os músicos, de um modo geral, encontravam-se terrivelmente insatisfeitos por trabalharem em excesso e não verem a cor do dinheiro no final. Tanto que quando ainda estavam em estúdio gravando o novo álbum quatro membros anunciaram que estavam deixando a banda – o único que permaneceria junto a Coverdale seria o tecladista Jon Lord.

Constatou-se que grande parte do problema se dava por conta da má administração realizada pelo manager John Coletta, empresário desde os tempos de Purple. Em situação instável, o grupo consegue de algum modo terminar as gravações que seriam suficientes para compor um álbum, mas as desavenças internas pareciam não ter fim. Segundo declarações do guitarrista Micky Moody, "não foi nada agradável ficar sabendo que após seis discos de ouro tínhamos um saldo devedor de cerca de 200.000 libras. Não só eu, mas todos nós estávamos cansados, putos e perdendo nossos sensos de identidade. Cada um queria uma coisa diferente, seja fazer um álbum solo, ou escrever com outros artistas...".

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Moody, após várias conversas com Coverdale, resolve ficar na banda por mais uma turnê, ao contrário dos demais membros que não viam perspectiva de melhorias ou reconciliação. Em meio a este clima ruim, chega ao mercado o aguardado sexto álbum do grupo, e para a vindoura excursão mundial, David Coverdale recruta mais um timaço: o grande baterista Cozy Powell (que já havia tocado com o Rainbow e com o Jeff Beck Group, entre outros), o saudoso guitarrista Mel Galley (ex-companheiro de Glenn Hughes no Trapeze) e um conceituado baixista, o canhoto Colin Hodgkinson.

Quanto ao disco em si, logo que colocamos o vinil para rodar fica muito claro que o clima de desunião afetou diretamente o resultado final: as dez canções que faziam parte do lançamento lembravam muito palidamente as grandes músicas que compunham seu material nos lançamentos anteriores. A não ser por dois grandes clássicos instantâneos ("Here I Go Again" e "Cryin’ In The Rain"), as demais faixas se alternavam entre bons momentos e outros simplesmente descartáveis.

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A abertura com "Young Blood" já fica bem a desejar, e se a coisa melhora um pouco com "Rough an' Ready" (que tinha uma energia contagiante ao vivo), as duas faixas seguintes ("Bloody Luxury" e "Victim Of Love") não comprometem, mas não chegam nem perto de empolgar. Encerrando o lado A, a primeira grande canção do disco: "Cryin’ In The Rain", com uma forte pegada de blues e uma grande interpretação de Mr. Coverdale. A música passou a ser presença constante no repertório dos shows da banda a partir de então, bem como a grande "Here I Go Again", que abre o lado B. Uma bonita balada, com um belo solo cheio de feeling nas guitarras dobradas de Bernie Marsden e Micky Moody, fizeram desta faixa outro acerto na mosca.

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"Love an’ Affection" e "Rock And Roll Angels" são mais duas faixas que tentam, mas não chegam lá: a primeira tenta emplacar com uma levadinha mais rocker, mas tem um refrão meio chatinho, e a segunda parece ser uma sobra retrabalhada de algum álbum anterior, colocada aqui para preencher espaço. Mas, para salvação da pátria, mais dois bons temas salvam o disco aos 45 do segundo tempo...

"Dancing Girls" tem um riff simples, mas interessante, além de um bom refrão. Já a faixa título, que encerra o play, tinha todos os elementos para se tornar mais um clássico do grupo: um grande riff na introdução, uma boa levada, belos solos de guitarra, mas... Por algum motivo acabou não decolando – uma pena, pois é uma das melhores composições do trabalho.

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Remasterizado e relançado em CD em 2007, o álbum trouxe ainda mais uma música inédita, "Soul Survivor", uma canção inacabada e sem vocais, mas de levada instrumental bem interessante. Há também versões de "Young Blood" e "Saints An’ Sinners" com uma mixagem diferente. Vale lembrar ainda que tanto "Cryin’ In The Rain" quanto "Here I Go Again" foram regravadas no álbum "Whitesnake" (também chamado de "1987", dependendo do país onde foi lançado). E, por fim, não constam os créditos no álbum de quem gravou o quê, apenas as autorias das canções. O que é difundido entre os fãs e sites pela internet é que os músicos foram os mesmos dos dois álbuns anteriores (a formação citada acima), e que Mel Galley apenas participou fazendo alguns backing vocals.

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Mesmo não alcançando o sucesso esperado, as vendas de "Saints & Sinners" foram boas e a turnê foi um sucesso, culminando com uma apresentação no Monsters Of Rock em Donington, em 1983 – show que foi registrado e lançado em vídeo sob o nome de "Whitesnake’s Commando". Após a excursão, o grupo entra em estúdio para as gravações de seu novo trabalho, "Slide It In", mas novas mudanças aconteceriam na formação: Jon Lord concluiu suas partes nas gravações (e chegou a se apresentar em algumas datas com o grupo), mas voltou ao recém reunido Deep Purple; o baixista Colin Hodgkinson cedeu o lugar para a volta de Neil Murray; Micky Moody saiu definitivamente, mas não sem ter gravado ainda algumas partes no novo trabalho (como o antológico solo de "Love Ain’t No Stranger"), vindo a ser substituído pelo virtuoso John Sykes (ex-Thin Lizzy); e Mel Galley também saiu durante a turnê, sem que o grupo contratasse alguém para seu lugar – seguindo o restante da excursão apenas com Sykes na guitarra.

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Faixas:

1. "Young Blood" (Coverdale, Marsden) – 3:30
2. "Rough an' Ready" (Coverdale, Moody) – 2:52
3. "Bloody Luxury" (Coverdale) – 3:23
4. "Victim of Love" (Coverdale) – 3:33
5. "Crying in the Rain" (Coverdale) – 5:59
6. "Here I Go Again" (Coverdale, Marsden) – 5:08
7. "Love an' Affection" (Coverdale, Moody) – 3:09
8. "Rock an' Roll Angels" (Coverdale, Moody) – 4:07
9. "Dancing Girls" (Coverdale) – 3:10
10. "Saints an' Sinners" (Whitesnake) – 4:23

Faixas bônus da versão remasterizada de 2007:

11. "Young Blood" (monitor mix/early vocals) (Coverdale, Marsden) – 3:30
12. "Saints An' Sinners" (monitor mix/early vocals) (Whitesnake) – 4:24
13. "Soul Survivor" (unfinished, unreleased song) (Coverdale, Moody, Marsden) – 3:08

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Músicos:
David Coverdale – Lead Vocals
• Micky Moody – Guitars, Backing Vocals
• Bernie Marsden – Guitars, Backing Vocals
Jon Lord - Keyboards
• Neil Murray – Bass
• Ian Paice – Drums
• Mel Galley – Backing Vocals

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Sobre Doctor Robert

Conheceu o rock and roll ao ouvir pela primeira vez Bohemian Rhapsody, lá pelos idos de 1981/82, quando ainda pegava os discos de suas irmãs para ouvir escondido em uma vitrolinha monofônica azul. Quando o Kiss veio ao Brasil em 1983, queria ser Gene Simmons e, algum depois, ao ver o clipe de Jump na TV, queria ser Eddie Van Halen. Hoje é apenas um bom fã de rock, que ouve qualquer coisa que se encaixe entre Beatles e Sepultura, ama sua esposa e juntos têm um cãozinho chamado Bono.
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