Muse: temática do medo humano em um rock alternativo
Resenha - Absolution - Muse
Por Pedro Zambarda de Araújo
Fonte: Bola da Foca
Postado em 12 de julho de 2009
Black Holes and Revelations não é o único álbum de sucesso do trio britânico Muse, formado por Matthew Bellamy (voz, guitarra e piano), Christopher Wolstenholme (baixo, voz secundária e teclado) e Dominic Howard (bateria e percussão). Absolution traz a temática do medo humano em um rock alternativo que mistura a elaboração do progressivo, o peso de distorções bem encaixadas e a empolgação de uma banda entrosada. Vai agradar desde aqueles que querem uma música pra agitar até os que desejam ouvir e refletir.
Lançado em 2003, começo da Guerra do Iraque, desde a introdução, o CD já traz a realidade de sua época. Em 22s, nos momentos iniciais, há sons de marcha de soldados. "Apocalipse Please" começa com um piano repetitivo, com poucas notas, que faz o fundo para a voz melódica de Bellamy. Em tom de fim inevitável, a letra se transforma no "corpo" principal da música, especialmente no trecho "This is the end / This is the end / Of the world". Matthew Bellamy brinca com a voz ao longo da canção, sendo acompanhado por alguns efeitos eletrônicos, encerrando a introdução.
"Time is Running Out" também conta com efeitos de sintetizador em seu começo, sincronizado com estalar de dedos. Em seguida, uma guitarra abafada surge até encombrir a música com sua distorção pesada. Bellamy consegue tocar rápido, em palhetadas ao melhor estilo punk rock, e modular sua voz. Proeza de poucos, com uma letra que gruda na cabeça, junto com todo o peso. "Our time is running out / And our time is running out / You can't push it underground / We can't stop it screaming out".
Como o próprio nome diz, "Sing for Absolution" soa como uma prece por absolvição dos pecados e das penas. Traz a temática do CD, que é o peso dos males que causamos e daqueles que infringimos. "Stockholme Syndrome", música seguinte, traz justamente o "outro lado" dos crimes: o da vítima. "And i won't hold you back / Let your anger rise / And we'll fly / And we'll fall /And we'll burn". A sindrome citada no nome se refere aos sequestrados que compactuam das torturas dos algozes para sobreviver, que se transmite claramente pela melodia que oscila entre o distorcido e algo mais leve, quase afetivo.
"Falling Away With You" é essencialmente eletrônica, após uma introdução acústica, e fala sobre o peso na consciência dos nostálgicos, que jamais terão acesso ao passado tão exaltado. Com o som de uma distorção acima do comum, quase uma dissonância pura, "Interlude" é a introdução de "Hysteria" que pela guitarra estremamente caótica já transmite sua mensagem. Bellamy canta com sentimento e uma interpretação única da loucura, entre a agressão e a passividade. Wolstenholm e Dominic fazem a retaguarda necessária no baixo e na bateria.
Tímida, "Blackout" começa reconfortante para trazer uma enorme interferência no final da canção. Mattew Bellamy favorece a interpretação de sua forma de cantar, repetindo uma letra ao longo da música que conta com variações sutis. "Don't grow up too fast / And don't embrace the past / This life's too good to last / And I'm too young to care". A vida inteira como um blecaute, uma enorme ruptura.
"Butterflies and Huricanes" traz a Teoria do Caos como tema, onde "o bater de asas de um ser simples como a borboleta pode causar um furacão do outro lado do mundo". "Best / You've got to be the best / You've got to change the world / And you use this chance to be heard / Your time is now" diz o vocalista, em frases que começam em sussurro e terminam em gritos. O caos para Muse é isso: a crença que você pode mudar, porque uma pequena atitude pode fazer a diferença. Mais uma vez a interpretação musical é valorizada, ao longo de um instrumental variado, com toques de rock progressivo.
Como um pequeno retrato, "TSP (The Small Print)" resume as loucuras que o medo da verdade pode trazer, que a lucidez contém. "Endlessly" trata de amores que não morrem, em formato de balada lenta e valorizando o vocal, mesmo na ausência total do outro, o sentimento que permanece até nos casos acabados. "There’s a part in me you’ll never know / The only thing I’ll never show".
"Thoughs of Dying Atheist" traz uma idéia muito interessante: qual seria o desespero de um ateu, que não espera ninguém além da vida, em sua morte? O ritmo da música é um rock frenético, sem muito peso, quase como uma música feliz. É quase o oposto de "Ruled by Secrecy", a última música, que trata da repressão essencialmente sagrada. Os efeitos e o piano que a recheiam quase a transformam em um ritual religioso, apesar da bateria e do baixo que ainda lembram o estilo de Muse.
O álbum é longo - 14 músicas podem cansar o ouvinte -, mas é interessante como a banda aborda com diversidade o tema, seja comunicando por voz ou pelo som instrumental. É uma lição para bandas novatas que acham que apenas meia dúzia de grandes hits implacam. Uma última constatação é notar a semelhança absurda de Muse com a sonoridade de Radiohead. No entanto, mesmo parecidos, cada um tem suas peculiaridades.
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