Resenha - Octavarium - Dream Theater
Por Ricardo Seelig
Postado em 07 de agosto de 2005
Nota: 9
De certas bandas não se espera menos do que ótimos álbuns. O Dream Theater é uma delas. O grupo americano foi o grande responsável pelo ressurgimento do rock progressivo no início da década de noventa, e até hoje se mantém como o maior nome do gênero em todo o mundo.
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Após o clássico e excepcional "Scenes From A Memory", lançado em 99, do excelente "Six Degrees Of Inner Turbulence" de 2002, e do ótimo "Train Of Thought", lançado em 2003 (e que foi injustamente apedrejado pelos fãs mais xiitas do grupo, que reclamaram de influências 'new metal' em certas músicas), a banda chega ao seu oitavo álbum de estúdio.
Como todo trabalho do Dream Theater, "Octavarium" é complexo e extremamente bem executado. A primeira música, "The Root Of All Evil", inicia o álbum de forma soberba, mantendo a tradição das faixas de abertura da banda, como "Overture 1928", "New Millenium" e "The Glass Prison". Com muito peso, nota-se de cara o destaque óbvio para as guitarras de John Petrucci e a bateria de Mike Portnoy, mas toda a banda se mostra homogênea e extremamente sólida, com as intricadas linhas de cada instrumento se interligando entre si. A letra desta canção dá continuidade ao processo de exorcismo dos problemas com álcool enfrentados por Mike Portnoy e James Labrie, já abordado em canções anteriores como "The Glass Prison". Vale mencionar também o belo refrão, que resgata alguns trechos de "This Dying Soul", do álbum "Train Of Thought". Típica música do Dream Theater, abrindo o álbum exatamente com aquilo que os fãs queria ouvir.
As primeiras notas de "The Answer Lies Within" nos remetem ao hit "My Immortal", do Evanescence, mas os fãs mais radicais não precisam torcer o nariz, já que Jordan Rudess mostra mais uma vez todo o seu talento e constrói um arranjo belíssimo, em uma das melhores baladas do grupo. Uma música agradável, que viraria hit com facilidade e levaria o nome do Dream Theater para um número muito maior de pessoas, caso este fosse o desejo da banda.
"These Walls" mais uma vez traz Jordan Rudess como destaque, principalmente no final, onde a música cresce sobre suas frases de teclado, em um resultado empolgante. A faixa seguinte, "I Walk Beside You", é a mais pop, e traz influências claras de U2, com a voz de Labrie lembrando, e muito, os vocais de Bono no refrão. Provavelmente será a faixa mais discutida de "Octavarium" pelos fãs das antigas do grupo, e mais uma vez mostra a inigualável capacidade dos cinco integrantes do DT, que saem de seu habitat natural e se arriscam em um terreno totalmente diferente mantendo a alta qualidade do seu trabalho.
Contrastando com "I Walk Beside You", "Panic Attack" traz o tradicional Dream Theater que os fãs aprenderam a amar, em uma canção pesadíssima e cheia de andamentos quebrados, que é certamente um dos principais destaques do álbum. Mike Portnoy simplesmente destrói tudo nesta canção, enquanto Jordan Rudess e John Petrucci somam suas forças para dar ainda mais peso à canção.
Mas o grande destaque do álbum, aquelas músicas que vão fazer o fã lembrar de "Octavarium" mesmo após anos de seu lançamento, ficaram guardadas para o seu final. Trechos de diversas notícias sobre os acontecimentos de 11 de setembro de 2001 dão início aos mais de onze minutos de "Sacrificed Sons" (vale lembrar que a banda retirou do mercado o ao vivo "Live Scenes From New York", lançado no mesmo dia dos atentados, e que trazia as torres gêmeas em chamas na capa, em uma bizarra coincidência). O clima fica tenso e melancólico até os quatro minutos, onde a música dá uma virada e a banda começa a viajar instrumentalmente, para a alegria dos fãs. Perfeita, perfeita, absolutamente perfeita, e com direito a arranjos orquestrais que tornam o final ainda mais apoteótico.
Já "Octavarium", a música, gerou comentários de que seria a nova "A Change Of Seasons" pela sua duração. Mas, ao longo dos seus mais de 24 minutos, o que se vê em cada nota, em cada detalhe, é a união da genialidade, da sensibilidade e da capacidade técnica de todos os cinco integrantes do grupo. Falar de Mike Portnoy, John Petrucci e Jordan Rudess é chover no molhado. Eles são as estrelas maiores do DT, o alicerce que mantém a banda viva (se alguém tem dúvida disso, é só olhar para trás e ver todo o histórico do grupo, e a nova vida que a entrada de Rudess, em 1999, deu à banda). Já o sempre discreto John Myung, que apesar da técnica incrível sempre ficou em segundo plano (mais por vontade própria e temperamento, já que assistindo ao DVD "Live At Budokan" é fácil perceber o quanto a presença e personalidade de Portnoy, Petrucci e Rudess o ofusca), em "Octavarium" sai da toca e nos entrega andamentos jazzísticos onde mostra todo o seu talento. Quanto a James Labrie, ele merece um parágrafo a parte.
Sempre apontado como o patinho feio do Dream Theater, frequentemente acusado de não estar a altura dos demais membros da banda, em "Octavarium" Labrie lava a alma e mostra que é, sim, um excepcional vocalista. Deixando totalmente para trás os agudos irritantes do passado, neste álbum ele se concentra nos aspectos mais graves de sua voz, a transformando realmente em mais um instrumento na sonoridade única do grupo. Com toda a certeza está registrada em "Octavarium" a melhor performance de James Labrie em toda a sua carreira com o Dream Theater. Um tapa na cara dos seus inúmeros críticos, que ficarão felizes em dar o braço a torcer em troca de ver enterrados os timbres irritantes que o vocalista insistia em colocar em canções mais antigas como "Pull Me Under".
A produção mais uma vez ficou a cargo de Mike Portnoy e John Petrucci, e está excelente. Analisado com calma, "Octavarium" se coloca facilmente entre os melhores álbuns do Dream Theater, ao lado de "Scenes From A Memory", "Images & Words", "Awake" e "Six Degress Of Inner Turbulence".
Um álbum para se ter em casa e curtir por muito tempo.
Faixas:
1. The Root Of All Evil
2. The Answer Lies Within
3. These Walls
4. I Walk Beside You
5. Panic Attack
6. Never Enough
7. Sacrificed Sons
8. Octavarium
Ouvindo:
Dream Theater, Sacrificed Sons.
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