Resenha - Recreation Day - Evergrey
Por Leandro Testa
Postado em 21 de abril de 2003
Nota: 9
Agora está decido! Quero me mudar de vez pra Gotemburgo... Nunca a cena de lá esteve tão forte e o mesmo pode-se dizer do Evergrey, que apesar de ressurgir após a sua única obra mestra, volta um pouco mais poderoso, isto que certamente vai lhes render um reconhecimento ainda maior nesta já bem sucedida carreira.
E não era pra menos: Riffs refinados de thrash em "Blinded"? Sim! Recreation Day é o MAIS PESADO de sua discografia, mesmo não significando que todas as músicas sejam assim, nem elas inteiras, e sim partes dentro destas, em suas diversas nuanças. De um modo geral a velocidade fala mais alto e é justamente essa dinâmica que fez com que as harmonias vocais de Tom S.Englund se renovassem, sendo mais agressivas do que antes em determinados atos e um tanto "acessíveis" em outros, como na pegajosa "As I Lie Here Bleeding".
Outro exemplo disso é a inconstante (no bom sentido) "Visions" na qual o instrumental está espancando neurônios, entretanto, a opção pela melodia em suas linhas cria algo realmente único, permeado ainda, antes e depois, por corais tristonhos ‘a la’ Pain of Salvation.
Assim, não são raros os momentos em que elas se apresentam mais diretas, sendo difícil então, através deste lançamento, explicar abertamente o porquê considero este intérprete como um dos melhores da atualidade, junto a nomes como Jorn Lande, Daniel Gildenlöw, Russel Allen, Roy S.Khan e Warrel Dane.
Mas se é isso que você quer, é isso que ele vai te dar na trinca final, que conta com a acústica "Madness Caught Another Victim", a que mantém a tradição e mais uma vez traz no nome a palavra de trevas preferida, "Your Darkest Hour", e "Unforgivable" que volta a evidenciar a participação de Carina Kjellberg, esposa do ‘frontman’, e trata da pedofilia na Igreja Católica (covardia retratada na própria capa).
A banda até planejava fazer um álbum conceitual sobre isso, mas sentiu que seria necessária certa pesquisa para que pudessem externar seu ponto de vista. Não obstante, ainda não abandonaram a idéia (por ser o tipo de coisa que ‘emputece’ qualquer um), mesmo sabendo das retaliações que tal tema iria lhes causar.
Um outro assunto que continua a dar bons frutos é a morte, como na faixa-título, que relata os sentimentos daquele que acaba de perder uma pessoa querida, e se ergue para permitir que a vida siga seu rumo (sei o que é isso... recebi anteontem a notícia de um camarada meu, envolvido num acidente de carro*).
Pode-se então perceber que os climas que fizeram de In Search for Truth um opus sem igual não foram, obviamente, abandonados. "I’m Sorry", cover (escolhido como single) de uma das baladas pop mais executadas até hoje nas rádios suecas, expele da mesma forma uma emoção pulsante.
Devido à evidente aceleração, a qual já citei, seria até normal que este fosse um CD um pouco menos diversificado... mas, por outro lado, vejo isso com estranheza, principalmente por não haver a uma limitação cronológica específica, algo ao qual o antecessor esteve preso, e também por eles terem tido tempo para pensar em todos os detalhes da sua edificação.
Para isso, foram necessários dois meses e meio de pré-produção, nove semanas dentro do estúdio, tendo ‘dias’ nos quais eles chegaram a ficar 36 horas seguidas na batalha, até mesmo porque Neil Kernon (Cannibal Corpse, Nevermore, Queensryche) foi impedido de trabalhar nestas sessões, por ainda enfrentar problemas de imigração. A essa altura, os guitarristas, com a ajuda de Fredrik Nordstrom (Dream Evil), decidiram encarar a situação de frente e o resultado ficou não menos que excelente. Isso que é força de vontade, porque além de tudo, eles tinham acabado de contornar a saída de dois tecladistas num curto espaço de tempo, tendo o antepenúltimo ido para o Soilwork.
Sonoridades aparte, creio que para classificá-lo melhor, o termo correto não seria "evolução", mas sim "mutação". E é justamente isso que qualquer banda que se preze deveria fazer: sempre se reciclar, sem perder sua essência de qualidade. A única coisa é que, para mim, as peculiaridades deste novo petardo dificilmente superam a agonia suprema do antecessor, embutida e especialmente representada pela irretocável "Different Worlds" que inegavelmente foi de arrancar lágrimas.
Para os brasileiros tirarem essa prova, gostando possivelmente de ambos, basta esperar até meados de maio, quando a Hellion Records deve estar disponibilizando-o por aqui, torcendo ainda para que, assim como na edição limitada, a nacional venha acompanhada do ‘medley’ "Trilogy of the Damned", composto por trechos ao teclado de "As Light Is Our Darkness", "Words Mean Nothing" e "The Shocking Truth", bônus este de nove minutos que só havia saído no mercado japonês e que devido a uma enxurrada de pedidos, acabou sendo disponibilizado agora aos mais afortunados.
Lançado originalmente pela Inside Out Music em 17 de março.
Veja o fórum, para algumas observações.
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