Guerras Históricas: Os conflitos retratados em discos.
Por Lord Gothmog
Postado em 07 de julho de 2022
O ser humano sempre teve um certo fascínio pela guerra e suas características. Segundo Robert E. Howard, autor de "Conan da Ciméria", o estado puro do ser humano é o barbarismo e este conceito primal leva o homem ao conflito por diversas razões, sejam elas ideológicas, políticas ou pessoais. No metal, o tema protagonizou diversos trabalhos mostrados sob a ótica de artistas com visões diferentes sobre o assunto. Perversidade, heroísmo e teatralidade blasfema nos leva de volta à eventos marcantes, já esquecidos por muitas pessoas nas páginas da História.
Civil War - Gods and Generals (Napalm Records, 2015)
O segundo disco da banda sueca de power metal é um prato cheio para quem gosta de temas históricos. O álbum, tem seu título baseado no filme de mesmo nome de 2003 "Gods and Generals". Assim como o nome da banda, o disco aborda principalmente a Guerra Civil Americana como na épica "War of the World", que abre o disco e em "Bay of Pigs" com seu refrão chiclete. "Braveheart", traz a história de Willian Wallace, um cavaleiro escocês que lutou pela idependência da Escócia, e "The Mad Piper", com sua introdução recheada de tambores e gaita de fole, conta a história de Bill Millin, um canadense que tocou gaita durante a invasão dos Aliados no Dia D para que os soldados não perdessem sua moral. "USS Monitor" fala do encouraçado de mesmo nome famoso pela "Batalha de Hampton Roads" onde enfrentou o encouraçado CSS Virginia dos Confederados e a melódica "Tears from the North" fala do viking Rurik, conhecido por assumir o controle da cidade de Novgorod para fundar um governo justo em um lugar de tantos conflitos territoriais. "Admiral over the Oceans" nos leva a grande "Batalha de Trafalgar" entra a esquadra franco-espanhola e a esquadra britânica, liderada pelo Almirante Horatio Nelson, dito ser o maior estrategista naval que já existiu. "Back to Iwo Jima" remonta a grande invasão à Ilha de Iwo Jima pelas forças Aliadas durante a "Segunda Grande Guerra" e a emocionante faixa "Schindler's Ark" traz a história de Oskar Schindler, membro do Partido Nazista que salvou um total de 1200 judeus e poloneses dos campos nazistas de concentração, sendo uma das músicas mais bonitas do disco. "Gods and Generals", cheia de coros, nos leva novamente aos campos de batalha da Guerra Civil, enquanto as faixas bônus "Knights of Dalecarlia" e "Colours on My Shield" encerram o disco trazendo histórias da cultura sueca, sobre batalhas contra invasões dinamarquesas.
Sodom - Agent Orange (Steamhammer, 1989)
O Lendário "Agent Orange" é um dos discos mais importantes do thrash metal e não podia ficar de fora dessa lista com suas letras que remontam uma das guerras mais cruéis que foi a do Vietnã, como na faixa-título nos lembrando do terrível Agente Laranja, arma química em forma de gás usada contra a população. O disco nos traz reflexões brutais sobre vários aspectos da guerra como em "Remember the Fallen", nos fazendo lembrar das inúmeras vidas que se perderam no campo de batalha, enviadas por homens que nunca saíram de trás da mesa. "Magic Dragon" relembra o avião de ataque Douglas AC-47 também representado na capa alvejando bases inimigas e "Ausgebombt" completa falando dos bombardeamentos como uma das principais estratégias de ataque, tirando a esperança dos que estão do outro lado, seguida de "Baptism of Fire" que na última estrofe diz "Turn over a new leaf, to form a vicious circle, till end of time", nos levando à reflexão de que novas eras chegam, mas o círculo vicioso sempre nos levará ao conflito, até o fim dos tempos.
Marduk - Frontschwein (Century Media, 2015)
Os discos do MARDUK, sempre recheados de blasfêmia, nos leva principalmente aos embates da Segunda Guerra Mundial e "Frontschwein" é o que mais bem representa esse conflito armado. A destruidora faixa-título remonta à parte mais visceral e brutal da guerra, com mortes horríveis, destruição, caos e medo trazidos pelos nazistas representados em "The Blonde Beast". "Afrika" remonta os combates do norte da África travados entre ingleses, alemães e italianos, com citações à Irwin Rommel, marechal de campo alemão apelidado de "A Raposa do Deserto", que comandando os "Afrika Korps", formados por um regimento panzer e algumas pequenas unidades, enfrentou os ingleses até ser derrotado em El Alamein.
"Watherland" refere-se à "Reichsgaul Wartheland", um território anexado pelos alemães usando partes das Grande Polônia e regiões adjacentes e "Rope of Regret" fala da ação dos Partisans, membros de uma tropa irregular que agiam dentro das linhas inimigas na função de atrapalhar e se opor à invasores estrangeiros em determinadas áreas. "Falaise: Cauldron of Blood" remonta a "Batalha da Bolsa de Falaise", um dos conflitos mais importantes da tomada da Normandia. "Doomsday Elite" relembra os embates e dificuldades de avanço territorial das divisões Tiger e divisões de "Kampfgruppen" em território soviético, marcando batalhas como em Kharkov, Kursk e Zhitomir, enfrentando o clima, a dificuldade territorial e o poder de fogo russo.
Ao final, temos "503", referenciando a "503th Heavy Panzer Batallion", a divisão de tanques alemães pesados, armados com tanques Tiger I, Panzer III e posteriormente, em 1944, reequipados com o Tiger II, usados principalmente nas frentes ocidental e oriental. Terminando com "Thousand-fold Death", o disco encerra com uma música visceral, mostrando o cenário caótico dos campos de batalha recheados de arames farpados e os ataques às cidades. "Frontschwein" é um disco recheado de referências caóticas da Segunda Guerra, passadas através de músicas viscerais para transportar o ouvinte para os campos de batalha europeus ou o clima abafado de um tanque.
Armahda - Armahda (2013)
A banda brasileira de heavy metal entra na lista utilizando temas históricos pouco abordados por outras bandas e com muita riqueza, trazendo nas belas composições, um resgate de nomes famosos e eventos que são marca da nossa história.
"Norairô" abre o disco com um belo instrumental, seguindo de "Echoes from the River", trazendo o Tratado de Madrid de 1750 que delimitava os territórios espanhóis e portugueses na América do Sul, tal fato que gerou o conflito conhecido como "Guerras Guaraníticas", onde tribos Guaranis das missões jesuíticas entraram em conflito com soldados portugueses e espanhóis, pois se recusavam a deixar suas terras para migrarem para o lado espanhol.
"Queen Mary Insane", relembra a primeira rainha da coroa portuguesa e a primeira monarca a pisar na América, D. Maria I, marcada na historiografia como "A Louca". Maria I teve um reinado de avanço político, econômico e até artístico, interrompido pelos anos de agravamento de sua doença psicológica, julgada simplesmente como loucura por todos ao redor, é provável que D. Maria sofresse de Esquizofrenia.
"Canudos" fala dos conflitos que ocorreram no interior do estado da Bahia entre 1896 e 1897. A "Guerra de Canudos" marcou a resistência da comunidade sócio religiosa de sertanejos liderada por Antônio Conselheiro contra o Exército Brasileiro que fora enviado para acabar com a comunidade sob denúncias e boatos de que estes queriam invadir cidades vizinhas e derrubar a República recém-instaurada para colocar a Monarquia de volta ao poder. A comunidade resistiu levando derrota aos militares por três incursões seguidas, até por fim ser derrotada, levando à morte, Conselheiro e os quase 25.000 habitantes do local.
"Armahda", que leva o nome do quinteto, é baseado na "Revolta da Armada", um movimento de rebelião organizado por unidades da Marinha do Brasil contra os dois primeiros governos republicanos do país. Descontentes com ações de Deodoro da Fonseca, e seu sucessor, Floriano Peixoto, foram arquitetados levantes onde unidades da Marinha na Baía de Guanabara, sob o comando do Almirante Custódio de Melo, ameaçaram bombardear a cidade do Rio de Janeiro o que levou à renúncia de Deodoro, em 1891. A segunda revolta foi contra Floriano Peixoto, sendo acusado de estar na Presidência de forma ilegítima, indo contra a Constituição.
"Flags in the Wind" fala sobre os "Voluntários da Pátria", nome dado às unidades militares convocadas para lutar na grande "Guerra do Paraguai", aproveitando o sentimento de patriotismo que estava em alta devido ao conflito que acontecia, Dom Pedro II rumou a cavalo para o território de Uruguaiana, ocupado pelo exército paraguaio. Denominando-se o primeiro dos voluntários, usando essa ação para inspirar e trazer mais brasileiros para o exército, que naquele momento, carecia de poderio bélico e homens para a luta.
"Paiol em Chamas" traz de volta a fatídica madrugada de 2 de Agosto de 1958, que ficou conhecida como "A Explosão do Paiol de Deodoro", onde o paiol do bairro de Deodoro, explodiu. Sendo o maior da América do Sul, 10 paióis e 60 depósitos de armamento e munição do Exército foram destruídos pelas explosões, jogando projéteis nas moradias próximas.
"Spears of Freedom" resgata as divisões de lanceiros constituídos por homens negros livres ou libertos pela República Rio-Grandense. "Os Lanceiros Negros", como ficaram conhecidos, eram em torno de 8 companhias de 51 homens, que lutaram durante a "Revolução Farroupilha", prestando vários serviços militares à República Rio-Grandense.
"The Iron Duke", relembra os feitos do comandante de maior destaque durante a "Guerra do Paraguai", Duque de Caxias. Apelidado de "O Duque de Ferro", Caxias foi o comandante que levou o exército brasileiro à vitória total contra os paraguaios, com destaque na conquista da Fortaleza de Humaitá e da série de batalhas conhecidas como "Dezembradas", levando à conquista de Assunção, capital do país.
"Pathfinder" evoca as jornadas de sangue e escravidão dos Bandeirantes no interior do país, tendo sua história exaltada por uns e amaldiçoada por outros. As Bandeiras tinham como principal objetivo buscar riquezas como ouro e prata em territórios indígenas e na América espanhola, tendo também outras funções como escravidão indígena e destruição de quilombos.
Sodom - M-16 (Steamhammer, 2001)
O SODOM volta à lista trazendo em seu décimo trabalho, um álbum conceitual sobre a Guerra do Vietnam, tema que fascina Tom Angelripper. Apesar de um tema lírico interessante e uma sonoridade que não deixa nada a desejar, o álbum para alguns, pode soar repetitivo já que usa o mesmo tema do primeiro trabalho da banda. Mas diferente de "Agent Orange", "M-16" traz uma viagem mais centrada e caótica ao fatídico conflito.
"Among the Weirdcongs e "I Am The War" trazem as visões dos soldados americanos do conflito, vendo a sanidade e a humanidade irem embora, matando sem arrependimentos enquanto sobrevivem às balas e emboscadas.
"Napalm in the Morning" e "Minejumper" lembram táticas cruéis usadas em combate como as bombas de napalm que grudavam na pele, queimando aos poucos e gerando cicatrizes cuja espessura era quatro vezes maior que a da pele normal. A música também faz referência ao filme "Apocalypse Now" de Francis Ford Coppola. Outra tática usada eram as minas terrestres ou armadilhas de fossos com estacas onde muitas vezes, as estacas eram revestidas com fezes para infeccionar as feridas.
"Genocide" traz em sua letra uma reflexão sobre as vidas jovens perdidas em campos de batalha, que partiram ouvindo histórias de glórias, conquistas e patriotismo, acreditando que lutam por uma verdade, por um caminho correto ou mesmo por uma fé cega, mas que no fim, só resta à morte abraçar a todos. "Little Boy" lembra o cruel e fatídico dia da bomba nuclear Little Boy lançada na cidade japonesa de Hiroshima em 6 de Agosto de 1945, causando a rendição do Japão no fim da Segunda Guerra.
Sabaton - The Last Stand (Nulclear Blast, 2016)
O oitavo disco dos suecos do SABATON traz um trabalho conceitual sobre batalhas famosas "Last Stand", um termo militar para definir batalhões que mantém uma posição defensiva contra um ataque esmagador onde a maioria dos soldados são mortos. Um disco sobre heroísmo, coragem e resistência. Com um final glorioso.
"Sparta" abre o disco lembrando a figura do Rei Leônidas I e seus 300 espartanos na "Batalha das Termópilas" contra o exército persa de Xerxes I. Em resposta à derrota sofrida na "Batalha de Maratona", Xerxes reuniu um grande exército e uma grande marinha para conquistar toda a Grécia. O rei espartano com um total de 7000 homens bloqueou o avanço dos persas por sete dias no total. Depois da traição de um residente grego chamado Efialtes, que mostrou um caminho alternativo para o exército inimigo adentrar o território, Leônidas despachou grande parte do exército e junto de 300 espartanos, 700 téspios e 400 tebanos, ficou para defender os Portões de Fogo da invasão, perecendo junto com a maioria de seus aliados.
O feito heroico de Dragutin Gavrilovic, oficial sérvio e iugoslavo, é retratado em "Dying Last Breath", onde durante a "Primeira Guerra Mundial" liderou o regimento sérvio na defesa da cidade de Belgrado contra o avanço austro-húngaro e alemão. Depois de sofrer pesadas baixas e resistir ao avanço inimigo, o major reuniu os remanescentes de seu batalhão para um ataque suicida que não teve êxito, mas despertou o respeito das tropas inimigas que levantaram um monumento para os sérvios que caíram naquela batalha. As forças inimigas tiveram um total de 10.000 baixas.
Exaltando a luta escocesa pela liberdade, "Blood of Bannockburn", nos traz a vitória de Robert de Bruce, líder dos escoceses sobre os ingleses liderados por Eduardo II da Inglaterra na Batalha de Bannockburn. Interceptando o exército inglês no Riacho Bannock Burn, mesmo em menor número, os escoceses se aproveitaram do terreno lamacento e estreito para subjugar os invasores, fazendo Eduardo I recuar em uma derrota humilhante que ajudou Robert I a reestabelecer um Estado soberano.
"Diary of an Unknown Soldier" são as breves lembranças de um soldado sobre as batalhas da Ofensiva Meuse-Argonne em 1918, durante a Grande Guerra. Planejada pelo comandante francês Ferdinand Foch, a ofensiva foi parte do avanço final dos Aliados na Frente Ocidental com o intuito de forçar a capitulação dos alemães.
O Batalhão Perdido, como ficariam conhecidas as companhias da 77 Divisão, foi retratado em "The Lost Batallion". A Divisão fazia parte da Ofensiva Meuse-Argonne e foi isolada e mantida sob fogo pelo exército alemão na Floresta de Argonne, pois não sabiam do bloqueio que as divisões vizinhas haviam sofrido e continuaram o avanço, mesmo sob ataque pesado e com perdas significativas.
A Guerra Anglo-Zulu é o tema principal em "Rorke´s Drift", que lembra a defesa britânica em oposição às ofensivas das tribos Zulu contra a expansão do Império em terras do sul da África. Mesmo em um número inferior, mas com superioridade bélica, os ingleses conseguiram rechaçar o gigante exército Zulu, que mesmo fugindo após a derrota, foram massacrados quando voltaram para pedir ajuda para os feridos.
O "Saque de Roma" de 1527, retratado em "The Last Stand", traz de volta a "Guerra da Liga de Cognac", entre os Estados Papais e Carlos V, Imperador do Sacro Império Romano-Germânico. Mas os protagonistas desse episódio são a Guarda Suíça Pontifícia e sua resistência ao exército imperial de Carlos V. Insatisfeitos com a falta de pagamento e poucos espólios de guerra, o exército, em sua maioria luteranos, rumou para Roma para saqueá-la. Quando os invasores, em torno de 1000 homens, chegaram à Praça de São Pedro, a Guarda Suíça defendeu o lugar lutando e perdendo 147 membros junto com seu comandante, Kaspar Roist. Em contrapartida, a defesa papal matou 800 dos 1000 invasores. Os 42 membros restantes armaram uma defesa em forma de cinturão para o Papa Clemente VII e alguns cardeais.
"Hill 3234" retorna à Batalha da Colina 3234, entre paraquedistas da Guarda Independente Soviética, que protegiam o monte como parte da Operação Magistral no Afeganistão e soldados rebeldes muyahidins. Os rebeldes, que eram por volta de 200 a 250 soldados, encontraram resistência por parte dos 39 soldados soviéticos que guardavam a posição para a segurança dos caminhões e comboios. De 7 de Janeiro de 1988 ao amanhecer do dia seguinte, a companhia de 39 soviéticos rechaçou os 11 ataques dos rebeldes, assegurando sua posição e fazendo o inimigo recuar por grandes baixas. Todos os paraquedistas dessa batalha foram condecorados com a Ordem da Bandeira Vermelha e a Ordem da Estrela Vermelha.
"Shiroyama" nos leva de volta à Revolução Satsuma que marca o fim do Período Edo e o início do Período Meiji, no Japão. Os samurais remanescentes, liderados por Saigo Takamori, lutaram contra as forças do Imperador na batalha em Shiroyama. Os 500 samurais restantes foram cercados pelas forças imperiais e além da superioridade numérica, o uso de armas de fogo foi um fator decisivo.
"Winged Hussards" conta a história da Batalha de Viena entre o Império Otomano e e o Sacro Império Romano-Germânico com destaque na divisão de cavalaria dos Hussardos Alados Poloneses. Apesar da superioridade numérica, o exército otomano não conseguiu invadir Viena, sendo obrigado a sitiar a cidade. Depois de uma batalha duradoura com o exército de socorro, que durou 12 horas, a cavalaria de mais de 20 mil homens desceu das colinas liderada por 3 mil hussardos alados poloneses, sendo considerada uma das maiores cargas de cavalaria da história que se chocou com o exército otomano, causando baixas incríveis nos invasores e obrigando os sitiantes a recuar.
"The Last Battle" relembra o dia da vitória decisiva contra a Alemenha Nazista que se rendeu oficialmente em 8 de Maio de 1945. O exército alemão ainda resistiu em Praga até o dia 11 de Maio no que ficou conhecido como a última grande investida Aliada em solo europeu.
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