Candlemass: uma análise de cada vocalista que passou pela banda
Por Bruno Rocha
Fonte: Encyclopaedia Metallum
Postado em 28 de dezembro de 2016
A Sociedade Esportiva Palmeiras sempre foi um celeiro de grandes goleiros: Cattani, Emerson Leão, Velloso, Sérgio, Marcos, Fernando Prass, Jailson... Já chega. Não torço pelo Palmeiras. Mas lembrei desta peculiaridade ao revisitar as vozes de uma das mais importantes bandas do Heavy Metal.
O CANDLEMASS sempre foi um celeiro de grandes vocalistas. Messiah Marcolin, Johan Längquist e Robert Lowe serão sempre os mais lembrados. Mas na verdade a banda fundadora do Epic Doom Metal já teve sete vocalistas em sua história. O atual, Mats Levén, é o oitavo. E, dentre os fãs da banda sueca, sempre haverá as discussões de quem foi o melhor de todos. Há as 'viúvas' de Messiah, os admiradores de Lowe, os saudosos de Längquist e também os que se contentam com Levén. Analisemos, pois, cada uma das oito vozes da banda de Leif Edling. Observemos seus prós e contras e você, leitor, tire suas conclusões. Os vocalistas aparecerão em ordem cronológica relativa às suas respectivas passagens pelo CANDLEMASS.
O primeiro não poderia deixar de ser o patrão.
LEIF EDLING
Sim! O fundador, líder, baixista e compositor do CANDLEMASS já ocupou também o posto de vocalista. Entre 1982 e 1984, a banda se chamava NEMESIS e chegou a lançar um EP chamado 'The Day Of Retribution'. Nesta época, Leif era o vocalista, além de baixista. Em 1984, a banda passou a adotar o atual nome, pois, segundo o próprio Leif, 'fomos forçados a mudar o nome por causa de direitos autorais. Havia uma rede de lojas de equipamentos eletrônicos chamada Nemesis no sul da Suécia, e eles ameaçaram nos processar se nós não mudássemos o nome da banda.' Já sob o nome CANDLEMASS, Leif ainda gravou duas demos como vocalista. Ouça uma música da era NEMESIS, chamada 'Black Messiah', do EP supracitado.
JOHAN LÄNGQUIST
Pronuncia-se 'lênqvist'. O primeiro grande vocalista do CANDLEMASS e responsável pelos vocais do debut, a obra atemporal 'Epicus Doomicus Metallicus' (1986), o marco zero do chamado Epic Doom Metal. Tenor, seus vocais dramáticos forjaram uma das características do novo jeito de fazer Doom Metal que Leif Edling criou. Apesar de ocupar uma posição confortável nas avaliações dos fãs e críticos, na verdade Johan nunca foi membro oficial do CANDLEMASS. Ele foi um músico contratado na época das gravações, já que a formação oficial da banda contava com Leif no baixo, Mats 'Mappe' Björkman na guitarra-base e Mats Ekström na bateria. Tal fato não diminui a sua importância na história do CANDLEMASS. Tanto que, até com uma boa frequência, Johan é convocado para cantar ao vivo com o grupo os clássicos do debut. Apesar da insistência de Leif, Johan não quis assumir o posto efetivamente, pois estava trabalhando em um futuro projeto Pop. Coisas do Heavy Metal.
MESSIAH MARCOLIN
Talvez o músico que primeiro vem à cabeça quando se pronuncia o nome CANDLEMASS. Sua passagem pela banda ficou marcada por clássicos do Doom, sua voz dramática e operística, sua figura caricata e suas confusões com o patrão. Sua entrada se deu de forma curiosa: tarde da noite, Messiah (que se chamava Bror, antes de mudar seu nome legalmente) chamou Leif Edling e começou a cantar 'Solitude', a capela mesmo, enquanto sua mãe esperava no telefone. Aceitando se mudar para Estocolmo, Messiah ganhou o emprego. E já chegou impondo sua personalidade. Convenceu Leif de que o segundo álbum do grupo se chamaria 'Nightfall' e escolheu a capa do álbum, uma parte de uma obra chamada 'The Voyage Of Life' (1842), de Thomas Cole. Ficou na banda até 1991, quando uma disputa interna culminou com sua saída. Voltou em 2002 para uma turnê de reunião da formação que gravou 'Nightfall', saiu e voltou de novo em 2004, com o retorno definitivo do CANDLEMASS. Gravou o álbum autointitulado, lançado em 2005, mas novamente disputas com Leif Edling o levaram a deixar a banda de uma vez por todas em 2006, durante o processo de composição do álbum 'King Of The Grey Islands'.
Maiores detalhes e as versões de Leif e de Messiah estão expostas nos links abaixo.
THOMAS VIKSTRÖM
O primeiro vocalista dos obscuros anos pelos quais o CANDLEMASS passou. Com a chegada do novo cantor, chegaram também as primeiras mudanças de sonoridade. No álbum que Thomas gravou, 'Chapter VI' (1992), há uma aposta e uma aproximação de um som mais tradicional em algumas faixas, e os teclados também começaram a dar as caras mais fortemente. Apesar destas mudanças, o Doom característico de Leif Edling ainda está lá. Thomas tem uma voz mais rouca, diferente da voz limpa de seu antecessor Messiah Marcolin. Mas suas interpretações das músicas dos primeiros álbuns atestam sua categoria e justificam sua escolha para os vocais. Confira abaixo 'Temple Of The Dead', faixa 5 de 'Chapter VI'.
BJÖRN FLODKVIST
Quem se lembrava deste elemento? Sim, pois os álbuns 'Dactylis Glomerata' (1998) e 'From The 13th Sun' (1999) são obras verdadeiramente soterradas em meio ao legado do CANDLEMASS. Nesta 'fase experimental', digamos assim, Björn foi o responsável pelos vocais, e cumpriu seu papel competentemente, muito embora sua performance não chegue nos monumentos que são Messiah Marcolin, Johan Längquist ou mesmo Thomas Vikström. No que se refere à sonoridade da banda, até que o Epic Doom de Leif Edling resiste às experimentações, mas o novo som mais parece uma mistura de BLACK SABBATH com HAWKWIND. Explica-se: o primeiro fim do CANDLEMASS se deu em 1994. Então, Leif criou um novo grupo chamado ABSTRAKT ALGEBRA (tomara que algum matemático leia este trecho e entenda a piada interna). A operação neste grupo foi a de se reinventar e tentar encontrar novos caminhos sonoros, mas dentro do Doom. Depois do debut autointitulado, a gravadora Music For Nations apostou no segundo trabalho do grupo, desde que fosse lançado sob o nome CANDLEMASS. Então a banda foi ressuscitada e Björn foi recrutado, porém a sonoridade da época foi mantida. Abaixo, segue a música 'Abstrakt Sun', faixa 06 de 'Dactylis Glomerata'.
TONY MARTIN
Sim, ele mesmo! Aquele que gravou cinco álbuns de estúdio com o BLACK SABBATH e também cantou no BLUE MURDER do guitarrista John Sykes (ex-WHITESNAKE, TYGERS OF PAN TANG). É, é ele mesmo. Ele chegou a gravar um demo para a faixa 'Witches', em 2004. Mas sua empreitada na banda sueca ficou por aí mesmo. Depois desta tentativa, Messiah retornaria para o CANDLEMASS. Mais detalhes desta curiosidade estão no link abaixo. Seria uma ótima aposta para o microfone do CANDLEMASS? Talvez sim, mas o futuro ainda reservaria uma grande voz para a banda.
ROBERT LOWE
Talvez o único que se equipare (supere?) Messiah Marcolin. Desde os anos 90 seus agudos e sua afinação irrepreensível assombravam os adoradores do Doom Metal em sua banda SOLITUDE AETURNUS. Depois de um período sumido do Heavy Metal, Lowe voltou a gravar com sua banda em 2006 e logo depois foi recrutado por Leif Edling para o posto de vocalista do CANDLEMASS. Gravou três discos de estúdio e foi demitido em 2012, uma semana após o lançamento de 'Psalms For The Dead'. Pois bem. Se sua voz ombreia a de Marcolin, não se pode dizer o mesmo do seu carisma. Robert Lowe também é uma figura caricata com aquele cabelo calvo e loiro e suas caretas impagáveis e demoníacas, mas em palco era muito mais contido do que Marcolin. De poucas palavras, talvez por seu jeito pessoal de ser mesmo. Costumava também esquecer as letras durante os shows, o que, para um sujeito perfeccionista como Leif Edling, foi considerado um erro passível de pena capital.
[an error occurred while processing this directive]MATS LEVÉN
Já que começamos esta análise falando de futebol, imagine um time que no passado teve Cristiano Ronaldo e que conte agora com Lionel Messi. Eis que esse time agora demite Messi e contrate para o seu lugar Paulo Henrique Ganso. Pois é... Ganso é um bom jogador e com muita técnica, mas para os padrões de Messi e Ronaldo, deixa a desejar. O que isso tem a ver com o CANDLEMASS? Robert Lowe, um cantor monstruoso, é demitido e em seu lugar é efetivado Mats Levén. Um bom cantor, com extenso currículo, mas que não chega aos calcanhares de Lowe, de Marcolin ou de Längquist. Desde os anos 90 Mats ficou ali na beirada esperando a proposta de emprego dos sonhos do patrão Edling. Foi o vocalista do citado ABSTRAKT ALGEBRA, do KRUX, projeto do baixista na primeira metade dos anos 2000, foi um dos candidatos ao posto de vocalista antes da entrada de Lowe em 2006 e finalmente ganhou o emprego com a saída deste em 2012. Basta notar suas apresentações ao vivo com a banda e constatar que o cara se esforça e conduz bem os vocais, mas logo bate a saudade de seus antecessores. Seu primeiro trabalho oficial com o CANDLEMASS foi lançado agora em 2016, o EP 'Death Thy Lover'.
Vemos, pois, o quanto de talento e qualidade passou pelo microfone da maior banda de Doom da atualidade. Para cantar numa banda de estilo épico como o CANDLEMASS, é essencial ter muito sentimento e técnica. Depois das ameaças que nunca convenceram ninguém de que o CANDLEMASS finalmente se acabaria, resta-nos esperar o que o futuro trará para o legado da banda de Leif Edling.
E para o gol do Palmeiras...
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