Jimi Hendrix: a dedicatória no Electric Ladyland
Por Brunelson T.
Fonte: Álbum "Electric Ladyland" 2010
Postado em 05 de novembro de 2015
No ano de 1968 o JIMI HENDRIX lançava o seu 3º álbum de estúdio, o disco duplo chamado "Electric Ladyland".
E no ano de 2010 este álbum foi relançado acompanhado de 01 DVD que conta algumas histórias sobre a construção deste disco e, assim como dentre vários bônus, uma dedicatória escrita pelo famoso escritor e jornalista inglês chamado Derek Taylor, que era também responsável pela assessoria de imprensa dos BEATLES.
Segue logo abaixo esta homenagem escrita e traduzida na íntegra:
Ele não deve envelhecer como um velho, assim como alguns que são deixados para envelhecer...
A posteridade tem realizado o seu devido cuidado com o JIMI HENDRIX nos mostrando um homem real que realmente vive e que não é apenas a lenda... Embora Deus saiba que ele foi um farol de fogo e som com um show de luzes de muitas cores batendo ritmos inconfundíveis.
Shakespeare e o seu intérprete, Sr. Buckley, estavam errados! Agora e de novo, o bom jazz soando como um gato cortado ao meio miando lamentos por tempos e tempos mostrando o mal que está escondido nos seus ossos, ainda soa bem e assim tem sido com o JIMI HENDRIX.
Bem como todas as grandes estrelas o seu imaginário é imediato, evocativo, um tópico onipresente e que demonstra sempre uma necessidade de querer saber mais. Para querer ter um outro olhar ou uma outra escuta sobre isso, isto é um esclarecimento que somente o estrelato pode lhe dar..., ou será que é definido também pelo poder de sobreviver a sua própria era?
O Jimi vive novamente nos dias de hoje em álbuns, livros, pôsteres, memorabilias, cinema e vídeos. Aqueles de nós que vivemos aquela época temos a recuperação instantânea do sorriso inconfundível desta auto invenção que foi os anos 60. Com um pouco de sangue indígena Cherokee, principalmente afro-americano e inteiramente musical, dirigido pela sua imaginação enraizada no soul, no rock sólido, na essência do BOB DYLAN e em todas as linhas de blues que existem com a sua única e pirata guitarra a qual lhe ajudou a pagar as suas dívidas nos EUA, o Jimi obteve as suas primeiras recompensas "balançando" a cidade de Londres. Confiante por se inserir na cidade colorida, ele foi levado pelo brusco, divertido e visionário cidadão nativo da cidade de Newcastle, Inglaterra, Chas Chandler, que era ultimamente um dos membros da banda THE ANIMALS e que havia se tornado agora um "criador de estrelas" peripatético.
A longa distância o JIMI HENDRIX escreveu uma carta ao seu amado pai chamado Al Hendrix, que sempre morou em Seattle e que vivia em condições financeiras extremas, estando apto a se "quebrar" se fosse preciso para alimentar a sua família órfãos da mãe: "Sou eu, pai, o Jimmy, e eu estou na Inglaterra porque eu conheci algumas pessoas e elas estão querendo me fazer..., me tornar uma grande estrela. Eu mudei o meu nome para Jimi". Dentro de alguns meses, com o seu próprio talento e ambição de uma unidade divina e encontrando nutrientes reais no rico cenário underground da cidade de Londres, o Jimi permitiu que estas pessoas lhe "fizesse" se tornar uma estrela. A estrela das estrelas, de fato, usando os melhores tópicos que a contracultura psicodélica supranacional poderia conjurar, devido ao imperialismo britânico, da sua própria nativa América e de outros países muito além.
Ele foi muito desenhado em cartazes, em fotografias, em decorações e em vestidos. Ele se tornou a personificação das compulsões artísticas de si próprio e dos seus contemporâneos... Ele se pôs livre.
Em meu próprio esboço poderoso de memória, estamos agora no ano de 1967 no famoso Monterey Festival nos EUA, quando o Jimi estava com o seu chapéu e demonstrando uma performance com muita intensidade, cheia de fogo e à propósito..., com muita coisa em jogo. Esta poderia ser (era para ser) a sua descoberta e reconhecimento pelo seu próprio povo americano. Para outros, este evento foi apenas um sorriso mais relaxado do Jimi, mostrando a sua ousadia de ser atrevido e de amaldiçoar um público que estava muito satisfeito em ouvi-lo. Algumas das visões que me ficaram deste show seriam a do seu chapéu com os anéis de metal fixados nele, os muitos lenços que caiam pelo corpo do Jimi e que fazia cobertura nas suas costas mais parecendo um BOB DYLAN de cabelos eletrificados, com um Jimi de olhos quase fechados ou em concentração com alguma outra coisa com os seus olhos abertos..., ou ambos ao mesmo tempo.
As pessoas que percorreram um longo caminho de volta nas suas mentes com esta história irão se lembrar de um menino-homem de cabelo curto que havia sido dispensado do exército, o qual havia caído na estrada fazendo parte da banda de apoio de vários cantores como o LITTLE RICHARD, SAM COOKE, KING CURTIS e com a banda ISLEY BROTHERS. Existem pessoas de sorte que estavam em torno do Chas Chandler quando ele descobriu o Jimi tocando no clube chamado Cafe Wha? em Greenwich Village (bairro de New York), que era onde o Jimi vivia até então. Não deixar o seu cabelo crescer e ficar assoprando a sua mente com as limitações de ser um integrante de uma banda de apoio, eram condições que o Jimi não estava mais aceitando na sua carreira musical...
Você tem que ter sorte, mas você tem que ser uma "boa moeda" para ser "encontrada", para depois ser tomada, encaçapada e polida. Depois deste processo todo, não importando o quão bom você seja, você tem que ter mais sorte ainda para não se tornar em uma moeda mal gasta ou mal utilizada. Eu sempre senti que até o último momento terrível da sua confusão e morte, o Jimi tinha uma vida satisfatória muito boa absorvendo muito mais como uma figura conhecida mundialmente do que qualquer menino pobre que havia nascido em Seattle nos anos 40, onde ele era uma criança sem nenhum motivo para a sua vida ficando sentado esperando por algo...
Houve um acerto absoluto no reconhecimento do JIMI HENDRIX. Talvez, acima do seu próprio posicionamento em todo o cenário musical, mas não sendo necessariamente o mais "poderoso" da música moderna, seja em comparação com o LOUIS ARMSTRONG, DUKE ELLINGTON, DAVID CROSBY ou com o FRANK SINATRA. Ou também com os bluesmen dos anos 20 até aos anos 50 ou ainda com o ELVIS PRESLEY, CHUCK BERRY, LITTLE RICHARD, BUDDY HOLLY, BEATLES, ROLLING STONES, BOB DYLAN, THE BYRDS e todo o movimento musical que se passava na cidade de San Francisco/EUA nos anos 60. A coisa com o Jimi, como aconteceu com todos estes cantores e bandas que foram citados acima, é que ele era absolutamente o seu próprio homem. Ele tinha tanta inteligência e sensibilidade que ele sabia o que fazer, quando e onde fazer. Durante os anos como obediente guitarrista das bandas de apoio que ele participou, ele sabia que tinha mais a oferecer do que a maioria. Todas as estrelas estão cientes desta especialidade que cada uma delas possui, assim como quando as crianças geralmente sabem de algo verdadeiro banhadas em sua inocência ou quando uma certa questão é correta ou não para elas.
* Aos 15 anos de idade, o JIMI HENDRIX viu o seu 1º show do ELVIS PRESLEY no ano de 1957 (mas que ano foi esse para o rei, não é?!)
Ele confiou em pessoas para ajudá-lo a realizar o seu potencial. Ele se agarrou no blues, no soul e (de acordo com o seu amigo MILES DAVIS) na música country, ainda! E agora, como alguém em seus 20 e poucos anos, justamente quando o rock’n roll britânico foi jogado em torno das nossas mentes com os seus alucinógenos e drogas psicotrópicas, se viu com um real potencial em se tornar em uma nova marca somente usando 02 palavras do seu nome (JIMI HENDRIX) para ser reconhecido? Ainda ocasionando um significado ambíguo em relação a sua forma de ortografia, maravilhosamente comercial em sua fonética e no seu impacto visual.
Mas acima de todo este imaginário, esse gato citado por Shakespeare ainda poderia tocar. E que, assim como o Mitch Mitchell (uma alma gêmea do Jimi na bateria que era uma parte inteligente na evolução da banda) diria, era o que estava em causa no momento e isso foi o que o JIMI HENDRIX nos mostrou através da: música. Muitas citações lembram do Jimi testemunhando o seu desejo intenso e maduro para fazer música com a sua voz e instrumentos, levando as suas canções ao público em novos lugares (ele poderia ter feito tudo isso em um terno marrom de tecido mohair, mas não teria sido tão divertido assim).
Já escrevi em outro lugar (não muito recentemente, eu espero) de ter acordado em uma manhã em Los Angeles no ano de 1967 para me encontrar com um dos fundadores do Monterey Festival, e que o Paul McCartney (que foi tanto um fã quanto um mentor do Jimi) havia me dito que o Jimi deveria ser a atração principal deste festival..., e eu acabo de me lembrar de uma outra estrela do rock e amigo meu americano, que foi muito rude comigo na época sobre o Jimi me dizendo que o Jimi tinha pouco a oferecer.
Ambas as atitudes, de alguma forma, explicaram como o Jimi "zeitgeist" (palavra alemã que significa "espírito da época" ou "espírito de um certo tempo") chegou a deixar os EUA com 23 anos de idade e ter oferecido o seu gênio para o povo britânico, que desde sempre era um povo que havia sido muito sensibilizado pelos melhores talentos americanos que já haviam existido até aquela época, particularmente aqueles que ficaram a margem do mainstream americano.
Foi em toda a Grã-Bretanha no ano de 1966/67, que o JIMI HENDRIX havia se tornado um rockstar irresistível para as mulheres (sendo que este sentimento era mútuo) e um herói para os homens. Foi depois do Monterey Festival que ele conseguiu caminhar para a ponta e para a maioria das pessoas, no final dos anos 60 ele era o ponta. Sem a sua particular visão musical ele teria sido como algumas outras belas imagens que passaram na história do rock’n roll, recebendo 01 ou 02 estrelinhas com notas de rodapé, mesmo tocando guitarra com os seus dentes, jogando-a para trás, tomando ácido LSD e deixando 04 álbuns de "estúdio" na sua retrospectiva em vida.
* "O homem mais sexy que andou no planeta". NENEH CHERRY disse uma vez (cantora sueca).
As pessoas são tão cruéis... A sua precoce morte se tornou em opiniões alheias de várias mentes atrapalhadas que somente dizem: "Ah,sim... Eu me lembro dele... É aquele que morreu de drogas, não é?"
Mas como um guitarrista que possuía tal respeito por todos e que oferecia o seu vislumbre gratuitamente a todos também, uma vez e agora ele é um homem coroado por uma joia e é por isso e muito mais que estamos todos aqui hoje celebrando este 3º álbum de estúdio do JIMI HENDRIX chamado "Electric Ladyland". Talvez este seja um consolo para o seu pai, Al Hendrix, que perdeu tão cedo um filho tão bom de uma forma tão ruim...
Após o sucesso britânico do Jimi, guitarristas entraram na fila para elogiá-lo. Ao longo dos anos as homenagens foram se acumulando. ALBERT COLLINS: "ele não tocava músicas de ninguém..., o Jimi era original". BUDDY GUY: "um daqueles caras que era tão explosivo..., o Jimi basicamente tocava blues, mas ele acrescentou coisas a mais nela". ERIC CLAPTON: "eu gostava do FREDDIE KING, BB KING, ROBERT JOHNSON e do BUDDY GUY. Nós gostávamos todos das mesmas pessoas..., mas ver o JIMI HENDRIX tocando foi uma emoção diferente para mim, porque era tudo inédito ver e escutar as coisas que o Jimi conseguia fazer, era algo que eu só consegui aprender a partir de várias e várias audições dos seus álbuns de estúdio. Esse cara estava entre os maiores e ele foi um deles ".
Depois do Woodstock Festival (que foi no ano de 1969), o NEIL YOUNG disse que o Jimi era: "absolutamente, o melhor guitarrista que já viveu! Não há e não houve ninguém sequer no mesmo nível desse cara". MILES DAVIS disse: "ele tinha um ouvido natural para a música..., e isso foi ótimo, cara! Ele me influenciou e eu influenciei ele e essa será sempre a melhor maneira de se fazer uma boa música. Todo mundo está mostrando alguma coisa para alguém, e em seguida, movendo-se a partir disso... O JIMI HENDRIX veio do blues, como eu, e nós nos entendemos um ao outro imediatamente. Ele era um grande guitarrista de blues".
Neste inédito DVD que vem acompanhado neste relançamento, ele se reporta em um documentário esclarecedor sobre o "making of" deste inovador 3º álbum de estúdio. O STEVE WINWOOD, um artista musical que era muito admirado pelo Jimi, mostra neste DVD que, o que fazia com que o ponto chave sobre o Jimi ter sido uma pessoa motivadora, é que ele conseguia estabelecer um clima de camaradagem à sua maneira tranquila e agradável de ser mesmo sofrendo interferências do mainstream, mas ele a fazia da maneira mais simples de ser...
O JIMI HENDRIX foi um grande portador de confraternizações entre as pessoas. Ele se fez uma unidade fina e feliz também devido à experiência do seu charmoso, hábil e engraçado baixista, Noel Redding, e do seu corajoso e confiável baterista, Mitch Mitchell (um elenco inspirado, diga-se de passagem). O famoso fotógrafo desta época, Gered Mankowitz, que assumiu esplêndidas imagens do Jimi, diz hoje: "ele era charmoso, despretensioso e divertido, e muitas vezes ele estava rindo iluminando toda a sua face. Uma pessoa feliz, agradável e acolhedora. Muitos ainda irão testemunhar o seu gosto/amor que ele tinha pelas pessoas... Ele realmente adquiriu discípulos para segui-lo".
A música rock’n roll foi super isolada e segregada devido ao seu costume laxista de ser que ocasiona por muitas vezes, um preconceito de imediato em certas pessoas. Mas o ecletismo do Jimi fez muito para mudar esse modo de ver as coisas. Quando ele voltou como um herói para os EUA depois de ter se consagrado no Reino Unido, havia plateias brancas sem precedentes para vê-lo. Ele faria de New York a sua base até a sua morte no ano de 1970.
Eu passei uma noite com o Jimi uma vez em um certo clube..., não havia muitas pessoas lá. Eu gostaria de me lembrar mais... Eu me lembro bem das vibrações daquele homem que ainda continuam..., apenas as vibrações.
Mas que vibrações! E que homem!
por: Derek Taylor
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