Pantera: uma banda revolucionária
Por Marcelo Dias Albuquerque
Postado em 09 de setembro de 2013
O Pantera foi sem dúvidas uma das bandas de metal mais peculiares que surgiu. E para quem gosta de rótulos, é um eterno enigma. No anos de 1980 a banda tinha influências nítidas de hard rock, glam metal e heavy metal clássico. Mas depois da entrada de Phil Anselmo nos vocais, já no final daquela década, a mudança pela qual a banda passou é ainda mais notável do que qualquer coisa que tenham feito antes. E o sucesso começou de verdade depois disso.
Com o primeiro vocalista, Terry Glaze, a banda chegou a lançar três álbuns que não foram de grande notoriedade, mesmo durante o auge das bandas glam metal nos Estados Unidos. Para quem só conhece os grandes sucessos da banda, vale a pena conferir a fase anterior e se chocar com a aparência e com as músicas feitas antes da entrada de Phil Anselmo. Nem dá para dizer que a banda é a mesma. E quando se vê isso, fica nítida a importância que às vezes um integrante pode ter dentro de uma grande banda.
Se você analisar o álbum acima, "Metal Magic", fica bem difícil identificar a guitarra de Darrel, que posteriormente viria a ser um marco na história do thrash metal.
O primeiro álbum de Phil Anselmo com o Pantera veio em 1988, se chama "Power Metal". Boa parte das músicas deste álbum foram adaptações de músicas antigas, ainda cantadas pelo vocalista anterior. Naturalmente elas ficaram mais pesadas do que as versões originais, o que já deu impulso para a nova fase da banda. Mas neste período eles ainda mantiveram a aparência afeminada do glam e a pegada hard rock. Isso pode ser notado principalmente na música "We'll meet again", que tem uma pegada mais desacelerada, o vocal grave e soturno é alternado num refrão sem os gritos habituais do glam metal, embora mais agudo. E nessa música já se percebe a qualidade dos solos de Dimebag Darrel, dando a entender o que viria pela frente. "Rock the World", a primeira música do álbum, também não deixa a desejar nesse sentido.
Embora poucos considerem o Pantera antes de "Cowboys From Hell", pode-se considerar o "Power Metal" como um ótimo álbum. Talvez ele não tenha feito ainda tanto sucesso porque não soava tão diferente do que já era batido naquela época por outras bandas semelhantes. Só que ele é uma transição. A banda sai do hard rock para o thrash metal, e o "Power Metal" fica no meio disso, o que o torna impossível de rotular.
O sucesso comercial da banda realmente começaria em 1990, com o "Cowboys From Hell". A própria faixa homônima trazia timbres muito mais agressivos e pesados, emprestados do thrash metal. Nota-se em músicas como "Cemitery Gates" e "The Sleep" uma influência maior do heavy metal clássico, com solos repletos de muito feeling, introdução lenta feita com dedilhados de violão e alternâncias entre vocais altos e baixos, às vezes soando mais ou menos agressivos. Em "Domination" e "The Art of Shredding" dá para notar a influência do hard core, as músicas são bastante aceleradas e agressivas, contendo letras raivosas e um vocal mais gritado, que é bem típico deste gênero.
Neste álbum, o que é incrivelmente notável são as linhas de bateria. Vinnie Paul foi imensamente criativo, enchendo todo o álbum com detalhes que enriqueceram as músicas; esse tipo de coisa faz com que as músicas fiquem muito menos cansativas de se ouvir. Porque se você ouvir álbuns de thrash metal puro, a bateria acaba soando muito repetitiva, porque é focada apenas na velocidade. O que Vinnie fez no Pantera é realmente surpreendente para o gênero que a banda adentrou.
Também não se pode negligenciar a importância de Rex Brown, o baixista. As linhas de baixo em "Cowboys From Hell" são muito ricas. Ele conciliou os grooves com uma regulagem sonora que lhe conferia grande peso, o que inclusive deu uma roupagem completamente diferente ao gênero da banda, por vezes é até chamado de "power groove" ou "groove metal", devido ao fato de grande parte das melodias serem construídas em cima dos grooves do baixo e não dos riffs de guitarra, como era padrão até então. Ouvir Pantera sem o baixo não seria nem de longe a mesma coisa.
Você pode conferir isso diretamente aqui:
Depois de "Cowboys", praticamente tudo que a banda fez deu certo. Mas, nada fez mais sucesso do que "Vulgar Display of Power". Esse álbum conta com algumas das músicas mais marcantes da banda, como "Walk" e "Funcking Hostile". E é interessante perceber que este álbum teve, na mesma época, um bom reconhecimento por parte da crítica e do público¹, além de ter trechos de suas músicas tocadas em programas da MTV como Headbangers Ball e uma versão de "This Love" tocada no filme "Doom II".
"Vulgar" é de longe o álbum de maior vendagem da banda e é um marco nos anos 90. Nesta época a banda se assumiu como Groove Metal, o que até hoje acredita-se ser um termo cunhado por eles mesmos.
O Pantera manteve-se fiel, segurando a mesma linha de "Cowboys From Hell" e "Vulgar Display of Power" em seu sétimo álbum, "Far Beyond Driven". Devido aos sucessos anteriores, este álbum foi outro sucesso imediato de vendas, embora não tenha superado o anterior. Contudo, foi o primeiro álbum de metal a alcançar top 1 na parada Billboard, o que por si só já mostra a importância de uma banda ser revolucionária. O tipo de som que o Pantera vinha fazendo era algo completamente diferente, embora não passasse do empréstimo de vários gêneros anteriores. A banda soube conciliar muito bem suas influências, além de ter um entrosamento invejável entre seus integrantes. "5 Minutes Alone", provavelmente a música de maior sucesso deste álbum, possui um riff incrível, aliado a um vocal agressivo e um solo destruidor de guitarra. Provavelmente esta também é a música que possui a maior contribuição de Rex Brown como baixista, pois o groove da música é praticamente o que a sustenta. Particularmente, indiscutível que esta música seja uma das melhores que a banda produziu em todos os anos de carreira.
Vale também ressaltar o cover de "Planet Caravan", do "Black Sabbath", que consta na última faixa deste álbum e também foi um grande sucesso.
Depois de tanto sucesso, é normal que uma banda passe por certas conturbações. E com o Pantera não foi diferente. Com o "The Great Southern Trendkill", a banda passa por uma nova fase muito mais agressiva. Na mesma época em que lançavam o álbum, Phil Anselmo teve um overdose quase fatal de heroína, quando foi considerado morto durante quatro minutos. Havia também muitos problemas pessoais em jogo. Tirando a era de Terry Glaze, este foi sem dúvidas o álbum de menor sucesso da banda, e até hoje é um álbum pouco considerado pela maioria dos fãs.
Mas foi com "Reinventing de Steel", de 2000, que a banda realmente terminou a carreira. Este foi o nono e último trabalho de estúdio feito pela banda, no qual se destacam poucas músicas, e dentre elas certamente está "Revolution is my name". Porém, este álbum tem uma grande peculiaridade, pois a maioria das músicas é dedicada aos fãs e também aos ídolos da banda. Inclusive, a letra de "Goddam Eletric" faz referências a Slayer e Black Sabbath, que seriam aparentemente duas grandes influências musicais do grupo.
A conclusão que se pode tirar disso tudo é que o Pantera não por acaso foi a banda de maior sucesso no metal durante os anos 90. Esta foi uma época de quase morte para o gênero, quando Metallica - a esperança anterior dos headbangers - estava abandonando suas origens e se adaptando demais ao mercado. O Pantera se manteve firme, passou por cima de toda a situação e continuou fazendo músicas incrivelmente marcantes. Além disso, outro fator que explica o sucesso é certamente a originalidade da banda. Não há parâmetro para o que eles fizeram. Nem no Heavy Metal, nem no Thrash Metal e nem no Hard Core há paralelo para o que a banda realizou.
É de se considerar até mesmo que Pantera foi quase tão importante para a história do metal do que o próprio Black Sabbath. São gerações diferentes, ambas as bandas foram bastante originais e revolucionárias, e ambas foram de grande sucesso. Mas, tudo isso não teria sido possível sem Phil Anselmo como frontman do grupo.
[an error occurred while processing this directive]¹ É muito raro uma banda ser igualmente reconhecida pela crítica e pelo público. Em geral, o que a crítica gosta o público despreza, e vice-versa.
Fontes: "Heavy Metal - A História Completa" (Ian Christe)
"Behind the Music" (VH1) (site em inglês)
http://www.musicmight.com/artist/united+states/texas/arlington/pantera
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