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Celly Campelo: A prova viva de que Rock era algo para jovens

Por Márcio Ribeiro
Postado em 06 de março de 2003

Nos deixou esta semana uma das matricarcas do nosso Rock ‘N’Roll tupiniquim. CELLY CAMPELLO foi, entre o final da década de cinquenta e início da década de sessenta, a prova viva de que Rock era algo para jovem, reforçando também a idéia que independente de ser menino ou menina, você pode se expressar através do Rock. O Rock é a música dos jovens. Para mim pelo menos, esta foi sempre a grande mensagem.

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Com seu sorriso de criança, mesmo por ocasião de seu retorno, já em 1976, dotada de uma voz clara, límpida e extremamente afinada, Celly nos leva, sem esforço, para um Brasil esquecido no tempo. De quando Santo André ainda não havia sido engolida por São Paulo ou quando a Barra da Tijuca e Recreio só tinham dunas de areia e sequer eram considerados parte da cidade do Rio de Janeiro. Mais do que uma brasa (mora?), Celly foi a chama que atraiu incontáveis jovens a serem instigados por este novo som. Em um tempo em que o nosso Rock brazuca vivia sua primeira infância utilizando versões traduzidas dos sucessos que estouravam na América, "Banho de Lua" se tornou um marco. Não é a toa que sua versão inspirou ninguém menos do que os MUTANTES a regravá-la em 1972. No mesmo disco, Arnaldo Baptista declara categoricamente em sua análise "Posso Perder Minha Mulher, Minha Mãe, Desde Que Não Perca O Meu Rock ‘n’ Roll" que "eu não perco a Celly".

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Nascida Célia Benelli Campello em 18 de junho de 1942, na cidade de São Paulo, passou a infância em Taubaté, interior do Estado, onde acabou iniciando sua carreira ao lado do irmão Tony Campello, nome artístico de Sérgio Campello, outro personagem importantíssimo na história do nosso Rock nacional. Embora Celly desde os seis anos já vinha sendo convidada para cantar em festas do Rotary Club e mais tarde em programas de rádio locais, foi somente quando o irmão Sérgio foi a São Paulo, e conseguiu iniciar sua carreira de músico, que Celly fez sua estréia, adentrando os estúdios para gravar um disco.

A história conta que Sérgio, como instrumentista do Mário Gennari e seu Conjunto, foi convidado a gravar duas canções, "Forgive Me" e "Handsome Boy". A idéia inicial era destas canções serem gravadas pela crooner da banda, Celeste Novaes, porém seu inglês não era convincente o suficiente para a tarefa. Sérgio gravou "Forgive Me", mas como não pegava bem um homem cantar uma letra falando de um Handsome Boy, Sérgio trouxe para o estúdio sua irmã Célia, então com quinze anos. Sua interpretação foi tão perfeita que a canção acabou sendo o Lado A deste compacto lançado em 1958 pela Odeon.

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Numa tramóia típica da época, um esquema foi montado para vender os irmãos como uma dupla americana. Assim Sérgio e Célia se tornaram respectivamente Tony e Celly, tendo o nome Campello continuado por exigência do pai dos dois adolescentes. O estilo da Celly de cantar era basicamente inspirado pelas divas brancas do Rock caipira americano, com altas dosagens de Country Music, através de cantoras como Brenda Lee e Connie Francis. Entre 1958 e 1959, Celly gravaria "O Céu Mudou de Cor" / "Devotion", "Túnel do amor" / "Muito jovem", "Lacinhos-cor-de-rosa" / "Tammy" e..."The Secret" / "Estúpido Cupido", versão em português escrita por Fred Jorge para o grande hit americano, "Stupid Cupid" de Neil Sedaka e Howard Greenfield. Todos esses discos eram ainda lançados em 78 rotações.

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Mas foi de fato com "Estúpido Cupido" que o nome de Celly passaria a ser conhecido. E através do programa "Crush em Hi Fi" da TV Record, que a imagem da menina sorridente e simpática conquistaria os corações de pais e filhos nos grandes centros do país (ainda não havia transmissão televisiva para o Brasil inteiro). Em 1960, Celly Campello começou a ser reconhecida como a namoradinha do Brasil, título que passaria depois para Regina Duarte. E de fatos, éramos todos apaixonados por ela. Paixão que rendeu até alguns produtos no mercado, como a boneca Celly da Troll, e até um chocolate da Lacta chamado Cupido. Seria contratada juntamente com o irmão para cantar jingles comerciais vendendo produtos tão diversos como colírio Moura Brasil, biciletas da Monark e pó achocolatado da marca Toddy. Também em 1960, Celly e seu irmão Tony fariam uma pequena aparição no filme "Jeca Tatu" de Mazzaropi, onde cantam a canção "Tempo de Amar".

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Em 1961, com outra série de canções gravadas, foi oficialmente condecorada pela "Revista do Rock" como sendo a Rainha do Rock do Brasil, junto com Sérgio Murillo, eleito Rei. Em maio de 1962, casou com José Eduardo Gomes Chacon, então contador da Petrobrás e largou sua carreira artística para cuidar da casa e criar uma família. Já com dois filhos, gravou um disco em 1968 e chegou a participar de alguns festivais de músicas durante 1969-71. Mas foi somente em 1976, com a novela "Estúpido Cupido" da Rede Globo que faria sucesso nacional, tendo ela então gravado seu último disco e excursionado por todo o país, pois o Rock já era então uma indústria altamente lucrativa.

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Em uma entrevista concedida em 1993, Celly deixa entender que foi somente após este revival que ela começou a tomar consciência da sua importância para a história musical do país. Três anos depois tomou conhecimento que estava com câncer de mama. Após passar por uma cirurgia e tratamento à base de quimioterapia, os médicos a consideraram curada. Posteriormente o câncer foi identificado em uma de suas costelas, mal que acabou atingindo a pleura. Outra cirurgia e mais quimoterapia não abalaram a moral ou esperanças da eterna "Broto Legal". No entanto, novamente internada no dia 20 de fevereiro, no Hospital Samaritano, Celly Campello acabaria por falecer no dia 4 de março de 2003. O sepultamento se deu no dia seguinte no Cemitério dos Flamboyants na cidade de Campinas onde ela residia. Ela deixa o marido, dois filhos e três netos.

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Site recomendado

Para a mais completo tributo a Celly Campello na internet,
recomendamos o site Celly Campello no endereço www.cellycampello.cjb.net.

Discografia

ESTÚPIDO CUPIDO (1959)
BROTO CERTINHO (1960)
A BONEQUINHA QUE CANTA (1960)
A GRAÇA DE CELLY E AS MÚSICAS DE PAUL ANKA (1961)
BROTINHO ENCANTADOR (1961)
CELLY (1968)
CELLY CAMPELLO (1976)

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Coletâneas

GRANDES SUCESSOS - CELLY CAMPELLO (1995)
MEUS MOMENTOS - CELLY CAMPELLO (1996)
BIS JOVEM GUARDA - CELLY CAMPELLO (2000)

Participações em discos

ESTÚPIDO CUPIDO - TRILHA SONORA DA NOVELA (1976)

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Sobre Márcio Ribeiro

Nascido no ano do rato. Era o inicio dos anos sessenta e quem tirou jovens como ele do eixo samba e bossa nova foi Roberto Carlos. O nosso Elvis levou o rock nacional à televisão abrindo as portas para um estilo musical estrangeiro em um país ufanista, prepotente e que acabaria tomado por um golpe militar. Com oito anos, já era maluco por Monkees, Beatles, Archies e temas de desenhos animados em geral. Hoje evita açúcar no seu rock embora clássicos sempre sejam clássicos.
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