Velvet Underground
Postado em 06 de abril de 2006
Biografia originalmente publicada no site Dying Days
Por Fabricio Boppré
O Velvet Underground foi, inegavelmente, uma das bandas mais importantes e influentes já surgidas. Originais em seu tempo e cultuados hoje em dia, a banda de Lou Reed praticamente criou uma cultura para o rock ‘n’ roll, inserindo valores insuspeitados até então e tornando-se uma referência para 9 a cada 10 bandas que tenham qualquer pretensão de soar alternativa após ela. Coverizados, citados e copiados, artísticos e malditos, geniais e chapadaços, cult para a maioria e no mínimo familiar para o resto, a influência e a importância histórica da banda é difícil de traduzir em palavras, pois está presente em todos os aspectos e obscuridades da música contemporânea.
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Lou Reed e Sterling Morrison eram amigos na Syracuse University nos anos 60 em Nova York. John Cale, que nasceu no país de Gales, se juntou a eles em 1963 para formar um grupo que tirasse do papel as letras que Reed costumava escrever. Como um trio chamado The Primitives, a banda gravou uma demo de 4 músicas que possuia Heroin e Venus in Furs em seu tracklist. Enquanto procuravam mercado no Reino Unido, onde a demo teve alta circulação, uma oportunidade surgiu no terreno de casa: o promotor Al Aronowitz ofereceu a eles a abertura de um show do Myddle Class, uma das bandas que ele cuidava. Aceitando a oferta, Reed, Morrison e Cale saíram atrás de um baterista. Reed lembrou de um colega seu de faculdade, Jim Tucker, cuja irmã que era baterista: Maureen Tucker aceitou o convite e estava fechada a formação do grupo, que tinha Lou Reed na guitarra e vocais, Morrison também na guitarra e Cale no baixo. A essa altura, o nome The Velvet Underground já tinha sido instituído, tendo sido tirado de um livro de ficção barata popular na época.
Aronowitz ficou impressionado com a performance da banda e conseguiu novas apresentações para Reed e seus companheiros, e assim começava para o mundo a história do Velvet Undergound. Enquanto os Beatles ainda estavam na fase do iê-iê-iê e a surf-music inocente fazia sucesso nos EUA, ou seja, a música ainda era um tanto quanto boba e sem maiores pretensões, o Velvet logo de cara quebrou estes conceitos reinantes querendo fundir arte e loucura em sua música. Um exemplo do impacto que a banda gerava foi sua expulsão do Cafe Bizarre, no Greenwich Village. Isso foi devido à insistência em tocarem a música The Black Angel’s Death Song, o que havia sido proibido pelos donos do lugar. O Velvet não apenas ignorava essa ordem como também apresentava versões extendidas da canção. Mas as apresentações no Cafe Bizarre renderiam um encontro fundamental para a história da banda e, porque não, para a história da arte pop. Foi numa das últimas apresentações do Velvet neste local, em 1965, que um grupo local de artistas underground compareceu para assisti-los.
A idéia tinha sido de Paul Morrisey, um dos cineastas do grupo. O líder, o artista plástico Andy Warhol, gostou do que viu e ofereceu ao Velvet uma parceria com seu grupo artístico, que ele chamava de The Fabric (ou The Factory), no qual, ao lado de diversos artistas marginais, ele produzia filmes, teatro, exposições e música.
Bancados pela Fabric, a banda poderia produzir seu primeiro disco. A proposta era irrecusável, e, a princípio, somente uma coisa incomodava Reed e seus amigos: Warhol insistia para que eles incluíssem em seu line-up um quinto membro: a atriz e modelo alemã Christa Paffgen, mais conhecida como Nico. Nico, cuja participação mais famosa no cinema foi no filme La Dolce Vita de Fellini, também gostava de cantar e a idéia de Warhol era fazer sua voz gélida ser o vocal único da banda. Por fim, o grupo aceitou a idéia e ficou combinado que Nico cantaria algumas canções e tocaria tamborim quando não estivesse cantando. Sucessivamente limada por Lou Reed, Nico acabaria protagonizando somente três canções no debut da banda.
Finalmente então o Velvet começou a gravar seu primeiro disco, em abril de 1966, no TTG Studios, na Califórnia. Seu lançamento não ocorreu logo após findadas as gravações: devido ao pesado conteúdo lírico, a musicalidade pouco convencional da banda e até a controversa capa da banana bolada por Warhol, o disco encontrou resistências e só conseguiu ser lançado no começo de 1967. Sua repercussão foi irregular: enquanto algumas publicações o consideravam revolucionário, o público em geral não entendeu e as vendas fora baixíssimas, com as lojas de Nova York retirando-o das prateleiras logo a seguir. De qualquer modo, reza a lenda que as poucas pessoas que ouviram o disco formaram suas bandas logo depois, empolgadas com a proposta artística que ouviam pela primeira vez, onde a fácil assimilação e os atalhos para o sucesso não eram os objetivos primários a serem atingidos. Pode-se dizer que o conceito de underground adquiriu sentido a partir de aí. Mesmo que a banda acabasse logo a seguir e "Velvet Underground and Nico" fosse seu único álbum, o grupo de Lou Reed já havia escrito de maneira definitiva e indelével seu nome na história da música.
Nico e Lou Reed Para se ter uma idéia do alcance e atemporalidade do debut da banda, basta lembrar de onde veio a inspiração para o nome da revolução checa que em novembro de 1989 derrubou pacificamente o regime comunista daquele país: Velvet Revolution. Seu tracklist hoje em dia parece uma coletânea: estão lá clássicos como Heroin, All Tomorrow’s Parties, Femme Fatale e Venus In Furs.
Warhol, que aparece creditado como produtor do disco, tinha mais planos de como a Fabric podia aproveitar o Velvet. Foi então que ele criou um espetáculo musical-teatral para as apresentações da banda, que incluia dançarinos, luzes, projeção de filmes e outras psicodelias. Paul Morrisey sugeriu que o espetáculo deveria se chamar "The Exploding Plastic Inevitable" e logo eles partiam para apresentações pelos EUA e pela Europa, sempre deixando um rastro de extâse e espanto atrás. Surgiram também boatos sobre envolvimentos amorosos de Nico com Cale e Reed, e também nessa época começou a polarização em torno destes dois membros, que pouco a pouco destruiria o grupo.
Nico viria a deixar a banda logo depois, expulsa por Lou Reed. Andy Warhol também começaria a se desinteressar, descontente com os sinais de discórdia que nasciam. Fora do Velvet, Nico teria um caso com Iggy Pop, participaria de mais alguns filmes e lançaria 4 discos solos, antes de falacer em 1988, vitima de um aneurisma cerebral.
Já Andy Warhol sofreria uma tentiva de homicídio em 1968, escreveria uma biografia, apresentaria programas de televisão, pintaria mais quadros e viria a falecer em 1987, após uma operação de vesícula aparentemente bem sucedida.
Em setembro de 1967, a banda voltou aos estúdios para a gravação de um novo disco. Dessa vez o local escolhido para a gravação foi o Mayfair Studios, em Nova York, com Tom Wilson (que já havia trabalhado no primeiro disco) como produtor. "White Light / White Heat" foi lançado pouco depois, e, apesar de ser mais uma obra fantástica, teve retorno comercial ainda menor do que o de "Velvet Underground & Nico". Definitivamente, o Velvet estabelecia-se como uma banda à frente de seu tempo e que viria a ter sua genialidade devidamente reconhecida somente após alguns anos. O disco foi gravado ao vivo em alguns trechos e com o volume no máximo na maior parte, com a banda abusando de experimentações e distorções. Destacam-se a faixa título, Here She Comes Now e a epopéica Sister Ray.
Pouco tempo depois, o difícil relacionamento entre Cale e Lou Reed atingiu o limite, e Cale deixou a banda para seguir carreira solo. Para seu lugar, foi chamado o multi-instrumentista Doug Yule. No final de 1968, a banda voltou ao estúdio TTG, na Califórnia, para a gravação de um novo disco. Lançado no começo do ano seguinte e com o simples nome de "The Velvet Underground", este terceiro álbum apresenta uma face mais leve da banda. Definitivamente sem a influência de Andy Warhol (que havia rompido com Lou Reed logo após o lançamento de "White Light / White Heat") e sem a disputa de egos entre membros, o Velvet já era praticamente uma banda de apoio para Lou Reed, que registrava faixas clássicas como Candy Says, What Goes On, Pale Blue Eyes e Beginning to See the Light. Em função disso tudo, um público maior começou a prestar atenção ao Velvet.
Em 1971, novo trabalho de estúdio, dessa vez sem Maureen, que estava grávida e impossibilitada de tocar. Billy Yule, irmão de Doug, assumiu as baquetas. "Loaded" conta com grandes canções como Sweet Jane e Rock & Roll e potencial para difundir de vez a banda para as massas. A impressão é que o Velvet Underground estava prestes a se tornar a maior banda do mundo, se não fosse o fato de que, pouco antes de seu lançamento, Lou Reed havia pulado fora do conjunto que ele criara.
A banda, sem Reed e com Doug Yule se tornando o novo líder, resolveu continuar fazendo turnês. Gravaram um disco em 1972 chamado "Squeeze", que nem costuma ser considerado como parte da discografia irretocável do Velvet Underground. Neste ano aconteceria a primeira reunião entre membros originais do Velvet após o fim não-oficial da banda (a saída de Reed): em 29 de janeiro, Lou Reed, John Cale e Nico fizeram juntos um show no Le Bataclan, em Paris.
Alguns dos lançamentos póstumos foram os discos ao vivo "Live at Max’s Kansas City", "1969" e "Live MCMXCIII". Esse último é fruto de uma reunião dos quatro membros originais para um mini-turnê pela Europa em 1993, cujas apresentações foram consideradas decepcionantes, pois o relacionamento entre eles no palco ainda era visivelmente frio e distante. De qualquer modo, foi um evento histórico: diz-se que nessa mini-turnê o Velvet Underground foi mais prestigiado e ovacionado do que havia sido em toda sua carreira. Sterling Morrison viria a falecer logo depois, de causas não reveladas. Coletâneas como "VU" e "Another View" também foram lançadas e pouco a pouco a banda foi ganhando o status de a mais importante já surgida nos EUA, e uma das mais influentes de nosso tempo. Lou Reed mantém até hoje uma bem sucedida carreira solo, tendo gravados clássicos como "Transformer" e "New York". John Cale lançou também diversos discos solos após sua saída da banda. Cale e Reed gravaram novamente juntos em 1988: "Songs for Drella" é um álbum em homenagem a Andy Warhol, que havia morrido um ano antes.
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