Mudhoney: Banda revive o grunge no Sub Pop Festival, em SP
Resenha - Mudhoney (Audio Club, São Paulo, 15/05/2014)
Por Jorge A. Silva Junior
Postado em 17 de maio de 2014
O termo "grunge" sempre foi mais um rótulo adotado pela mídia para definir as bandas que surgiam em Seattle no início dos 90 do que propriamente um gênero musical. A história toda começou nesta fria cidade do noroeste dos Estados Unidos em 1986, quando foi fundada a Sub Pop Records, gravadora que deu espaço a grupos "de garagem" que faziam um som experimental com influências de hardcore e punk.
Texto: Jorge Junior
Fotos: Fernando Yokota
O "filho" mais famoso foi o NIRVANA, que lançou seu primeiro álbum, 'Bleach', em 1989. No entanto, um ano antes, outra banda local já fazia barulho pelos clubes da região com shows tão originais e anárquicos quanto os de Kurt Cobain e companhia. Tratava-se do MUDHONEY, que debutava oficialmente com o EP 'Superfuzz Bigmuff' (1988). O grupo surgiu após Mark Arm e Steve Turner terminarem suas atividades com o GREEN RIVER, que também tinha em sua formação Stone Gossard e Jeff Ament, membros fundadores do MOTHER LOVE BONE e, posteriormente, do PEARL JAM.
Mesmo sendo considerado precursor do grunge, o MUDHONEY nunca se escondeu atrás deste título. Seus integrantes, principalmente o vocalista Mark Arm, sempre fizeram questão de afirmar que a banda estava muito mais próxima do punk. Discussões irrelevantes ou não, a sua importância para a música de Seattle - e mundial - é inquestionável.
Neste clima saudosista, a Sub Pop trouxe ao Brasil o seu próprio (mini) festival e escalou como atração principal justamente o MUDHONEY, que retornou a São Paulo trazendo na bagagem seu nono registro de estúdio, 'Vanishing Point' (2013). O evento aconteceu no Audio Club, zona oeste da capital, na última quinta-feira (15), e ainda contou com os canadenses do METZ e os nova-iorquinos do OBITS.
Em horário pouco atrativo, Mark Arm (vocal, guitarra), Steve Turner (guitarra), Guy Maddison (baixo) e Dan Peters (bateria) entraram em cena por volta da 00h20 com "Slipping Away" seguida de "I Like It Small", músicas que também abrem seu disco mais recente. Como de costume ao longo da carreira, o MUDHONEY mostrou logo de cara que segue muito competente ao vivo, realizando apresentações marcantes e enérgicas.
O público que compareceu em bom número sabia que estava presenciando uma parte importante da história do rock. Mas a interação começou pra valer somente em "You Got It" e "Suck You Dry", clássicos presentes nos álbuns 'Mudhoney' (1989) e 'Piece Of Cake' (1992), respectivamente.
A guitarra distorcida e "suja" de Steve Turner continua sendo o destaque da sonoridade peculiar do MUDHONEY. Seu desempenho quase que estático no canto do palco não inibe o peso visceral colocado nas músicas, que parecem entrar nos ouvidos perfurando os tímpanos.
Fato este mais que comprovado na cadenciada - e não menos robusta - "Sweet Young Thing Ain't Sweet No More" e no clássico - para muitos o hino do grunge - "Touch Me I'm Sick", que teve seu refrão cantado em uníssono e foi sem dúvida um dos pontos mais altos da noite. As duas canções estão presentes no segundo EP do grupo, 'Boiled Beef & Rotting Teeth' (1989).
O vocalista Mark Arm segue como um show a parte, sobretudo quando resolve deixar de lado a guitarra para cantar com trejeitos ao melhor estilo Iggy Pop, de quem é fã declarado - no documentário 'I'm Now: The Story Of Mudhoney' (2012), ele afirma que seu primeiro disco comprado foi o aclamado 'Raw Power' (1973).
Tamanha ligação com os fãs aumentava cada vez mais enquanto se aproximava o término da apresentação, que ainda reservou momentos incendiários durante "In 'N' Out Of Grace" ('Superfuzz Bigmuff', 1988) e "Hate The Police", cover da banda punk THE DICKS e que se tornou música indispensável no repertório do MUDHONEY.
As famosas "rodas" e os "moshs" surgiam a todo o momento para o desespero dos seguranças da casa. Isto prova que, mesmo há 26 anos honrando o underground, o pilar da música independente de Seattle segue impressionando por fazer rock de maneira simples, verdadeira e contagiante.
Set List MUDHONEY:
01. Slipping Away
02. I Like It Small
03. You Got It
04. Suck You Dry
05. F.D.K. (Fearless Doctor Killers)
06. 1995
07. In This Rubber Tomb
08. Flat Out Fucked
09. Sweet Young Thing Ain't Sweet No More
10. Judgement, Rage, Retribution And Thyme
11. Touch Me I'm Sick
12. What To Do With The Neutral
13. I'm Now
14. The Final Course
15. The Open Mind
16. I Don't Remember You
17. Next Time
18. Chardonnay
19. The Only Son Of The Widow From Nain
Bis:
20. Here Comes Sickness
21. When Tomorrow Hits
22. In 'N' Out Of Grace
23. The Money Will Roll Right In (FANG cover)
24. Hate The Police (THE DICKS cover)
25. Fix Me (BLACK FLAG cover)
METZ
Se muitos saíram do festival dizendo que o METZ foi o destaque, não é surpresa nenhuma. Exagero seria se o próprio vocalista do MUDHONEY, Mark Arm, não tivesse passado por situação semelhante quando assistiu a um show da banda tempos atrás e, na sequência, os levou para assinar com a Sub Pop.
Natural de Toronto, o trio formado por Alex Edkins (vocal, guitarra), Chris Slorach (baixo) e Hayden Menzies (bateria) literalmente quebrou tudo durante 50 minutos ao apresentar uma mistura excelente de noise rock, hardcore punk e garage rock.
Seu único álbum lançado, 'Metz' (2012), foi tocado praticamente na íntegra e mostrou um peso ao vivo impressionante, criado a base de riffs poderosos, bateria frenética e vocal rasgado, gritado e feroz.
Os destaques do repertório ficaram por conta de "Negative Space", "Wasted" e "Wet Blanket". Não será novidade se dentro de pouco tempo o grupo fechar com uma gravadora 'major' para, num futuro próximo, tocar em grandes festivais ao redor do mundo.
OBITS
Os americanos do OBITS abriram o evento divulgando seu mais recente trabalho - o terceiro da carreira -, 'Bed And Bugs', lançado no ano passado pela Sub Pop. Formado no Brooklyn, Nova York, em 2006, a banda fez um bom show, mas que beirou o "mecânico" em alguns momentos.
A sonoridade apresentada por Rick Froberg (vocal, guitarra), Greg Simpson (baixo), Sohrab Habibion (guitarra) e Alexis Fleisig (bateria) nada mais é que um rock de garagem com doses de indie, punk e até rock psicodélico.
Por mais que exista boa química entre os integrantes, faltou mais peso e interação com o público, algo que sobrou para METZ e MUDHONEY.
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