Morrissey: fãs em estado de graça na Fundição Progresso
Resenha - Morrissey (Fundição Progresso, Rio de Janeiro, 09/03/2012)
Por Gabriel von Borell
Postado em 16 de março de 2012
Depois de longos 12 anos, o público carioca pôde, finalmente, reencontrar o ex-líder do The Smiths, Morrissey, na última sexta-feira (9). O cantor britânico se apresentou no palco da Fundição Progresso para uma plateia cheia e bastante empolgada.
Antes de um dos maiores nomes do rock alternativo do Reino Unido começar o seu show, a norte-americana Kristeen Young abriu a noite com o seu teclado e seu estilo musical diferente. Esforçada, a cantora se sacudiu e se movimentou pelo palco, enquanto que o público apenas respondia timidamente. Talvez por ela se aproximar mais de algo parecido com Bjork e muito menos com o rock dos anos 1980. Se Kristeen não empolgou os fãs de Morrissey, pelo menos os mesmos foram educados durante os cerca de 35 minutos em que a cantora esteve no palco.
Depois disso, durante o intervalo entre a abertura e o início da apresentação do ex-Smiths, uma série de vídeos musicais eram projetados na cortina, que escondia o palco, para aquecer a plateia. Sendo assim, os fãs de Morrissey o aguardavam pacientemente enquanto assistiam clipes de ícones da cultura pop como Nico, New York Dolls, Brigitte Bardot e The Sparks. Até que o protagonista da noite deu o ar de sua graça, pouco depois de 00h. E ao som de "First of the Gang to Die", um dos maiores sucessos da carreira solo de Morrissey, o público reverenciava o seu ídolo e cantava a letra da música.
Apesar de estar um pouco acima do peso, aos 52 anos, o ex-Smiths ainda demonstra bom preparo físico e vocal, mantendo o fôlego e afinação faixa após faixa. Já os músicos que acompanhavam Morrissey, embora competentes, chamavam mais a atenção pelo visual, digamos, incomum, do que pelo talento. Bastante à vontade, o grupo trajava apenas uma espécie de cueca samba-canção e também exibia alguns dizeres pintados no peito. Só quem fugiu à regra foi o guitarrista Boz Boorer, que adotou um look bizarro no estilo crossdresser. O músico ostentava uma peruca loura com comprimento até a altura do ombro, salto alto e um vestido espalhafatoso roxo.
Esquisitices à parte, depois da primeira canção, Morrissey deu sequência a hits de sua carreira solo como "You Have Killed Me", "Black Cloud" e "Alma Matters". Aí veio "Still lll", música do Smiths e que, claro, botou o público para pular e cantar com entusiasmo. Depois vieram mais sucessos do cantor como "Everyday is Like Sunday", "You’re the One for me, Fatty" e "I Will See You in Far-Off Places". Nesse momento, Morrissey, que até então tinha trocado poucas palavras com os fãs, aproveitou para elogiar a beleza do povo carioca e criticar, como de praxe, a realeza britânica. Ciente da presença do príncipe Harry na Cidade Maravilhosa, o ex-Smiths alfinetou o jovem de 27 anos, que esteve no Brasil neste final de semana para participar de uma série de eventos de caráter filantrópico. Fazendo jus ao seu histórico de ferrenhas acusações sobre a Monarquia do Reino Unido, Morrissey afirmou que Harry estaria aqui apenas atrás do dinheiro do povo. "Como vocês sabem, Harry está aqui (no RJ) hoje. Ele veio tomar o dinheiro de vocês. Por favor, não deem a ele", provocou o cantor.
Continuando em seu universo de polêmicas, Morrissey, que é vegetariano, seguiu o show com outra faixa clássica do Smiths, "Meat is Murder". Para tentar impor o seu pensamento "verde" na cabeça da plateia, o telão no fundo do palco apresentava imagens em que animais eram abatidos no campo enquanto Morrissey cantava, ou pregava, sobre o "assassinato animal". Concordando ou não com a postura pouco tolerante do ex-Smiths, os fãs aplaudiram ao final da faixa. Pouco mais tarde, outra música da antiga banda de Morrissey apareceu no set e levou o público ao delírio. Era "I Know it’s Over". A interpretação sensível de Morrissey emocionou a plateia, que cantava cada verso da canção. Vozes entre os mais variados pontos da Fundição Progresso tentavam se fundir a de Morrissey. A vibração contagiante dos fãs continuou na mesma frequência com "There’s a Light that Never Goes Out", que veio pouco depois. "I’m Throwing my Arms Around Paris", presente no último álbum do cantor ("Years of Refusal", 2009), também teve boa recepção dos fãs. Já se encaminhando para o final de sua apresentação, ele voltou ao repertório dos Smiths com "Please, Please, Please, Let me Get what I Want" e "How Soon is Now". Essa última botou todo mundo para se mexer e deixou o público extasiado.
E então, por volta de 1h30 da manhã, Morrissey deixou o palco para voltar em seguida com o bis. Sem fugir do set list previsível, o cantor anunciou "One Day Goodbye Will Be Farewell", depois de uma hora e meia de show e algumas trocas de camisa. Com esse clima de despedida transmitido pela letra, Morrissey direcionava para a plateia palavras de agradecimento como "Obrigado" e "Eu Amo Vocês", enquanto era ovacionado pelos fãs. Nem a falta de outros hits do Smiths como "Ask", "This Charming Man" e "The Boy With A Thorn In His Side" na apresentação poderiam afetar o estado de graça de quem deixava a Fundição Progresso naquele momento.
Set list:
1- First Of The Gang To Die
2- You Have Killed Me
3- Black Cloud
4- When Last I Spoke To Carol
5- Alma Matters
6- Still Ill (cover The Smiths)
7- Everyday Is Like Sunday
8- Speedway
9- You're The One For Me, Fatty
10- I Will See You In Far-Off Places
11- Meat Is Murder (cover The Smiths)
12- Ouija Board, Ouija Board
13- I Know It's Over (cover The Smiths)
14- Let Me Kiss You
15- There Is A Light That Never Goes Out (cover The Smiths)
16- I'm Throwing My Arms Around Paris
17- Please, Please, Please Let Me Get What I Want (cover The Smiths)
18- How Soon Is Now? (cover The Smiths)
Bis:
19- One Day Goodbye Will Be Farewell
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