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Kid Vinil: a lenta despedida de uma geração de dinossauros

Por Rodrigo Contrera
Postado em 19 de maio de 2017

Tenho 49 anos. Em agosto, faço 50. Então, mesmo que aparente um pouco menos, sou um tiozinho - quando não um tiozão. A garotada me trata como tal, e eu noto como minhas referências vão, aos poucos, ficando cada vez mais para trás. Vou sentindo como se o mundo estivesse se despedindo de mim, ou eu do mundo. Mas não irei falar disso, nem do meu distúrbio - esquizofrenia -, que às vezes faz com que eu me sinta realmente indo embora. Irei falar de algumas referências que vão indo embora. A última, o Kid Vinil, que faleceu aos 62 anos esta sexta-feira.

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Claro, vários outros luminares foram embora recentemente. O Chris Cornell, o mais conhecido dos internacionais. Mas o Belchior também se foi. E o Jerry Adriani. E vários outros, menos conhecidos - ou que batem ainda menos em minha história.

Ocorre que o Kid Vinil, não. Ele foi um dos sujeitos que comandavam aqueles programas na tv dos anos 80 e 90, e que mostravam aquelas bandas que iriam fazer nossas cabeças. O Kid Vinil, punk como era, também nos mostrou aquelas bandas que estavam fazendo (ou que já haviam feito) história no movimento que ele ajudou a divulgar. Confesso que eu não reparava muito nele. Mas sentia que ele era quase mais um personagem que um divulgador. Eu mesmo só vim a saber o nome real dele agora, que ele morreu.

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Foi com o Kid Vinil que a geração da qual faço parte foi apresentada às bandas que iriam mexer com a sua cabeça. Foi com ele, e não com o Thunderbird, que foi posterior e que divulgou a sua morte, que eu vim a conhecer bandas de que tanto iria gostar e que iria acompanhar, assim como outras, de que eu não gostei tanto. Foi com o Kid e o Tadeu Jungle (dentre os de que me recordo) que eu vim a gostar de rock - e de heavy metal. Mas eu preciso confessar: o cara era estranho. Mas era um estranho que eu respeitava. Mal eu sabia a importância que ele teria na divulgação do rock entre nós. Mal eu sabia a influência ele teria na geração que vinha logo a seguir - e da qual eu não gostaria tanto.
Passou-se o tempo dos Som Pop e quejandos, fui crescendo, arrumando emprego e encrenca, fui aprendendo sobre outros gêneros musicais (blues, jazz, rock nacional, etc.), ainda gostando de heavy metal, e o Kid Vinil foi sumindo na minha memória. Eu mal acompanhei, sinto notar, sua trajetória enquanto profissional. Ele continuou sendo aquele Kid Vinil que apresentava aquelas bandas das quais ele devia ter uma impressão bastante potente - mas que muitas vezes não falava (ele deve ter feito isso em seus livros). E foi bem mais que isso, como a mensagem do Thunderbird no twitter fez bem crer: um professor.

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Hoje o Kid Vinil se foi, e com ele parte das memórias do moleque - eu - que via a tv na casa dos pais e que saía pulando pelas ruas para comprar algumas revistas sobre suas bandas preferidas - só tinha uma, na verdade. Parte também com ele algo das memórias do sujeito - eu - um pouco mais velho que procurava sobre outros músicos - na galeria do rock, em lojas que não existem mais - que o levavam a outros universos musicais. Parte também com ele algo das memórias do sujeito que, já mais crescido, passou a gostar de coisas mais complexas. E parte com ele também toda uma série de referências que moldou algumas gerações.

Eu não estava pretendendo fazer este artigo. Mas creio que ele sirva um pouco para fazer-nos notar que, em termos de rock, estamos, sempre, todos meio juntos. Que vamos com os falecidos quando eles preferem sair desta para melhor, que nossas referências vão com eles, e que também nós bem que podemos ser alguma referência para quem veio depois de nós. Porque, em termos de plateia roqueira ou punkeira, estamos sempre todos juntos.

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Sobre Rodrigo Contrera

Rodrigo Contrera, 48 anos, separado, é jornalista, estudioso de política, Filosofia, rock e religião, sendo formado em Jornalismo, Filosofia e com pós (sem defesa de tese) em Ciência Política. Nasceu no Chile, viu o golpe de 1973, começou a gostar realmente de rock e de heavy metal com o Iron Maiden, e hoje tem um gosto bastante eclético e mutante. Gosta mais de ouvir do que de falar, mas escreve muito - para se comunicar. A maioria dos seus textos no Whiplash são convites disfarçados para ler as histórias de outros fãs, assim como para ter acesso a viagens internas nesse universo chamado rock. Gosta muito ainda do Iron Maiden, mas suas preferências são o rock instrumental, o Motörhead, e coisas velhas-novas. Tem autorização do filho do Lemmy para "tocar" uma peça com base em sua autobiografia, e está aos poucos levando o projeto adiante.
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