Revolução Virtual: o impacto no Mercado Fonográfico
Por Flavio Bahiana
Fonte: Blog do Bahiana
Postado em 30 de junho de 2010
Comecei a consumir música no início de 1994, comprando discos das minhas bandas preferidas, ouvindo programas de rádio especializados em rock, assistindo Mtv (quando ela era muito mais voltada para a música do que para o entretenimento) e comprando revistas sobre música.
Naquela época, o mercado fonográfico e os meios de comunicação eram diferentes do que são hoje. As pessoas compravam discos, gravavam músicas em fitas cassetes e a informação não chegava tão rápido para os fãs, pois eram transmitidas apenas pelos veículos tradicionais de comunicação: rádios, jornais e TV. Se não fosse através de um veículo especializado, a informação chegava de uma forma muito genérica e condensada, sem a atenção e abordagem que os fãs gostariam.
Algumas revistas especializadas de qualidade que existiam naquela época ou que surgiram alguns anos depois são a Rock Press (que não existe mais no formato impresso, apenas como site), Rock Brigade (que atualmente é vendida apenas pela internet), a Bizz (que tentou um retorno, mas acabou novamente), a Roadie Crew (uma das poucas que ainda pode ser encontrada nas bancas) e a Poeira Zine, esta última a mais recente, sendo lançada em 2003 e que pode ser encontrada em muitas lojas de discos do Brasil.
Ouvir uma música inédita de um grupo só era possível quando ela era lançada nas rádios. Quando a banda era muito importante, havia uma data de lançamento e os fãs aguardavam ansiosamente a chegada deste dia. Hoje as músicas inéditas, muitas vezes o álbum completo, vazam na internet, sem a autorização do artista e sem estar com a edição final.
Naquele ano de 1994, ainda não existia internet, pelo menos não para o grande público. O que significa que não havia troca de músicas no formato MP3, o espaço para bandas independentes era menor, os veículos de comunicação tinham mais poder em impor um determinado estilo musical ou pautar o que as pessoas deveriam ouvir e o acesso a informação sobre determinados grupos era muito mais difícil. Conhecer pessoas que curtiam os mesmos grupos que você também era mais complicado.
Hoje, os meios de comunicação continuam tendo este poder, mas ele é muito menor do que naquela época. Na internet, o espaço é o mesmo para todos, tanto para um grande portal de notícias quanto para um pequeno site especializado em um determinado assunto. Isso possibilitou ao público ter um acesso maior a algo que ele tenha interesse, mas que tinha dificuldade de encontrar nos meios de comunicação tradicionais.
Hoje, a notícia circula de uma forma muito mais fácil e rápida, possibilitando o acesso a informações que dificilmente teríamos se não fosse a internet e os sites especializados em uma determinada cultura ou assunto específico.
Muitos desses sites conquistaram um público específico e obtiveram credibilidade junto a ele. Talvez os dois maiores exemplos voltados para o Rock são os sites Zona Punk e Whiplash, que surgiram no final da década de 90, de forma independente. A cada ano que passa eles aumentam o número de leitores e hoje são referência para o meio em que estão inseridos, tendo bastante credibilidade junto ao público.
Com o crescimento desses sites de informação especializados, muitos grupos independentes começaram a ter a internet como o principal meio de divulgação do trabalho que produziam. Neste meio, eles tiveram maior facilidade para se comunicar com o público e com outras bandas, através de e-mail, site da banda, sites de disponibilização de música gratuita e programas de compartilhamento de arquivos na rede. Estes últimos possibilitavam ao ouvinte conhecer o som de uma determinada banda a hora que quisesse, fugindo assim da obviedade das rádios FMs.
Hoje existem outras formas de divulgação de uma banda, como os fotologs, Orkut, facebook, twitter, myspace, youtube e outros. Como muitos desses sites permitem uma grande interação entre a os integrantes de uma banda e os fãs, e também entre os próprios fãs, ficou muito mais fácil você conhecer pessoas com os mesmos interesses que você e, conseqüentemente, fazer amizade com elas. Tudo isso gera uma maior discussão e debate sobre o trabalho de um grupo, mantendo assim o nome da banda em evidência.
Neste cenário, muitos grupos independentes começaram a conquistar um público muito maior. No meio punk rock, alguns exemplos são Dead Fish, CPM 22, Hateen, Dance of Days, Mukeka di Rato, Carbona e tantas outras, que podem ser consideradas as pioneiras neste mundo virtual. Algumas conseguiram contratos com grandes gravadoras e outras obtiveram um maior contato com bandas de outros países e fizeram turnês pelos EUA ou Europa, num esquema totalmente independente: rodando de van pelas cidades ou países e tocando em pequenas casas de shows.
Toda essa mudança no comportamento e na comunicação, fez com que as gravadoras também mudassem a forma de atuação no mercado. Hoje, dificilmente elas apostam em uma banda realmente nova e desconhecida. Os grupos contratados hoje pelas grandes gravadoras normalmente são as que já têm um público conquistado através da internet, de forma independente.
A internet gerou uma grande revolução no mercado fonográfico e nos meios de comunicação. As vendas, tanto de discos quanto de revistas e jornais, caíram bastante em vários lugares do mundo, mas parece que os meios de comunicação se adaptaram melhor a esta nova ferramenta. Talvez porque eles optaram em fazer parte da internet e a viram como um novo meio para se fazer jornalismo. Enquanto que as gravadoras resolveram declarar guerra tanto aos sites e programas de compartilhamento de arquivos, quanto as pessoas que baixam músicas, o que prejudicou ainda mais a imagem das grandes gravadoras junto ao público.
Nos últimos anos as gravadoras começaram a rever os conceitos e passaram a utilizar a internet como um meio de vender música. A cada ano que passa aumenta o número de vendas das músicas digitais, mas a indústria fonográfica ainda está muito longe de recuperar o mercado que tinha até o final do século passado.
Com isso, fica no ar algumas questões: será que o grande público vai querer começar a pagar por algo que pode conseguir de graça? Será que as grandes gravadoras não perceberam tarde demais um meio de comercialização das músicas na internet? Será que elas não estariam em melhor situação financeira se tivessem lançado a venda de música digital a mais de dez anos atrás, quando surgiu o compartilhamento de arquivos ao invés de ter declarado guerra aos sites, programas e aos usuários?
Estas perguntas, por enquanto, ficarão no ar, sem respostas definitivas, só serão respondidas com o passar do tempo e dos anos...
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