Shaman: baixista desabafa sobre cena brasileira
Por Fernanda Lira
Fonte: Fernando Quesada
Postado em 10 de novembro de 2011
O depoimento de Edu Falaschi, vocalista do Almah, sobre a cena metal brasileira, divulgado em 2011 após a celebração ao Dia do Metal Nacional chocou e dividiu muitas opiniões sobre a situação atual a música pesada por aqui. Muitos se manifestaram contra, outros a favor, principalmente por causa da repercussão que a suposta 'falta de público em massa' no show ocorrido no Carioca Club em São Paulo.
O baixista do Shaman, Fernando Quesada, mandou uma nota à mídia, que você confere abaixo, falando sua opinião sobre toda essa polêmica que foi gerada nos últimos dias.
"Olá pessoal!
Dentro desse momento muito interessante que passamos no cenário do metal nacional, eu também quero expor a minha opinião, como alguém de dentro e fora dos bastidores.
Como alguns sabem eu sou fã de metal melódico e power metal há mais tempo do que sou músico desse estilo de metal. Cresci ouvindo Angra, Shaman, Wizards, Hangar, Karma, Dr Sin e diversas outras bandas, e sempre imaginei muitas coisas de fora dos bastidores antes de entrar no Shaman e hoje vejo tudo de outra maneira, por isso queria esclarecer algumas coisas com a minha opinião de ao mesmo tempo fã e músico!
Primeiro gostaria muito de agradecer ao Thiago Bianchi e a todos envolvidos e bandas no evento que tive o prazer de rever e conhecer e principalmente aos fãs que estavam presentes no evento que fizeram esse primeiro passo ter resultado. E realmente colocar aqui que, se existem culpados pelos shows não estarem lotados, na minha opinião, não são as espectadores, fãs ou consumidores das bandas. Se uma pessoa escolhe não ir a um show, tem algum motivo pelo que ela não foi cativada, e todos tem o livre arbítrio para irem ou virem como quiserem. Então de novo agradeço aos que foram e também agradeço aos que escreveram sobre o evento, que deram opiniões e fizeram um barulho sobre isso, mesmo não tendo ido ao evento!
E qual seria o culpado pela decadência desse estilo e shows vazios? De novo, na minha opinião, não existe culpado. O próprio cenário musical, de década em década, renova o estilo em evidência e faz com que os estilos e bandas sejam cíclicas. E isso não é culpa de nada e nem ningguém e nem é algo ruim. Música é comunicação! Veja como a comunicação mudou nos últimos anos, e me pergunto se a música também não iria mudar! E durante essas mudanças do meio, por quê o metal melódico e power metal não ficaram em evidência? O nosso estilo não é um estilo de massa, é um estilo para poucos que gostam e apreciam. É uma música feita pra apreciação e análise instrumental e vocal, que hoje em dia não faz parte do que a massa entende por ouvir música. É um estilo que não segue um padrão visual de massa também e é um estilo que foi atual na década de 90 e começo dos anos 2000. Resumindo o metal não procurou e não procura ser atual e fazer um som de mentira para agradar gregos e troianos. E esse é o lance legal do METAL! O metal é um estilo de vida. A paixão, adoração pelo estilo e fazer por paixão aquilo da maneira mais natural e verdadeira sem acompanhamento de tendencias mercadológicas.
Só que nós, profissionais do meio, temos que saber que isso traz consequências e realmente faz gerar o que aconteceu com diversos outros estilos: que é fazer parte de um cenário Underground onde vão existir momentos muito difíceis como este que estamos passando, onde não existe divulgação grande para shows, eventos, lançamentos e nem muita estrutura física e financeira para grandes feitos e grandes aparições que fazem o estilo musical ficar em evidência novamente. Realmente quando o estilo não fica "popular", ele perde audiência e como consequencia temos o que percebemos no metal melódico, que é um grande número da fãs acompanhando, mas espalhados por aí. Então fica normal e faz parte do processo cíclico da música, um período com menos gente nos shows mesmo! E ainda, não ter gente nos shows como tinha antes significa um envelhecimento natural dos fãs que não tem mais tempo e nem faz parte do habitual comparecer em shows. Trabalham o dia todo, todos os dias na semana e muitas vezes por não querer gastar ou estar cansado, também não vão em shows. Isso é natural e faz parte da escolha de cada um! Nem por isso deixam de apreciar o estilo e fazer parte da cena!
E como fazer para lidar com isso?
Durante muito tempo, o metal melódico se deu ao luxo de ter muita rivalidade entre bandas, Egos fora do comum reinando nas bandas, produtores de shows que fazem monopólios, desrespeito com bandas mais iniciantes por parte das bandas maiores, concorrencia entre artistas, diretores de mídias pretenciosos e imparciais e fãs que criticam muito e de maneira muitas vezes prejudicial ao meio, por tanta agressividade e falta de análise. Agora neste momento o que se precisa é a união! Isso já foi provado com diversos outros estilos musicais que caíram e se uniram para se recompor com estratégias e planos.Esse foi o intuito único desse evento. Uma oportunidade de conversa entre as bandas e um encontro dos fãs, para de boca a boca poder mostrar a qualidade da nossa música novamente e cativar mais pessoas para irem aos shows!
Então, o que está acontecendo hoje no estilo é um fato histórico e os culpados por isso se mantem e não dão a volta por cima são as bandas, produtores, fãs que criticam publicamente de maneira prejudicial, assessores e empresários que não conseguem mais cativar o público de uma maneira que façam com que saiam das casas para ir aos shows e não conseguem uma união real de ações e atitudes. Se essa união e essa força não ocorre, realmente não irá ter a aparição de novos fãs e os fãs antigos perdem os habitos joviais de ir em shows e perseguir uma banda onde quer que ela esteja.
O fato de falarem que o metaleiro é "paga pau de gringo" nada mais é do que falar que quase todo brasileiro é "paga pau de gringo". Somos um país e um povo que tem por cultura a admiração pela cultura estrangeira, desde bandas, marcas, roupas, alimentos, séries de televisão, filmes etc... Sempre fomos assim, é só andar na rua e ver uns escritos em inglês por todas as placas, ou ouvir um som e ver que é cantado em inglês! Isso é uma coisa normal ! É normal irmos a um show gringo de alguém que está longe de nosso alcance e prestigiar essa diversidade cultural.As bandas, mesmo de metal, lutam para ir para fora tocar! Então, elas são paga pau de gringo? Não é bem assim! Isso tem a ver com a nossa cultura. As pessoas ainda lotam os shows do Metallica, Iron, Bon Jovi, porque são cativadas para irem e tem vontade de ir. Porque este não são divulgados como mídia underground e ainda atingem um público maior, com uma estrutura melhor, o que gera vontade e curiosidade!
Então, estamos com esse problema de cativação e organização do próprio meio para gerar novos fãs e mais vontade das pessoas em acompanhar e seguir tudo isso.
De verdade, não acho que o METAL NACIONAL está acabando, até por que nem vou falar do Thrash, Death e Heavy Metal, pois não estou inserido para saber exatamente o que acontece, e também não acho que o Metal Melódico e o Power Metal nacional também esteja acabando. Converso com bandas que surgem e os mesmos estão felizes, correndo atrás do seu trabalho. O que mudou foi o meio, e o que precisa mudar é a mentalidade dos líderes desse estilo, pessoas que acham que tudo é igual há 20 anos e nada neles tem que mudar. O meio mudou e muita gente precisa perceber que talvez um show de 300 pessoas hoje não represente um fracasso, como representava 20 anos atrás, mas, sim, represente um momento que quem quer ver ao vivo, vai lá, mas muitos outros vão ver pela internet, pelo celular e não vão sair de casa. Mas, mesmo assim, vão comentar e acompanhar. Para mim fazer um show de 300, 500 pessoas hoje representa um show para 5.000 amanhã que verão isso. Então eles tem que procurar entender as mudanças do meio e aprender a lidar com isso.
Por isso, para finalizar, essa é apenas a MINHA OPINIÃO PESSOAL! Eu agradeço demais a todos que foram ao evento e a todos que entram em foruns para elogiar e criticar, de maneira benéfica, por que, mesmo não indo aos shows, continuam fazendo a cena existir e se movimentar.
Nós, músicos, temos a obrigação de continuar tocando, fazendo o melhor e esperando e tendo atitudes para que nosso meio volte a ficar fortalecido.
Fiquei muito feliz com esse Primeiro Dia do Metal! Foi realmente impressionante ver a qualidade e força de todas as bandas lá presentes HANGAR, ILLUSTRIA, WIZARDS, NANDO FERNANDES, HIBRIA, ALMAH e SHAMAN. Espero que continue tendo eventos dessa magnitude com cada vez mais frequência e, se cada um que tiver cativar mais 10 pessoas, vamos estar no caminho certo de deixar o nosso estilo de volta em evidência. Qual fã ou músico não quer ligar a rádio e ouvir um bom e trabalhado metal melódico e power metal?
Agradeço a todos que trabalham 8 hrs por dia e ainda tem a vontade de entrar na internet e fazer um comentário sobre as bandas! Isso é ser fã. Não ir em show ou ir é só uma questão de poder ou não poder, de querer ou não querer. O importante é continuar acessando, conversando e movimentando tudo juntos!
De novo, obrigado a todos. Meu twitter é @fernandoquesada e estou afim de discutir isso, esclarecer tópicos para, juntos, podermos fazer o melhor possível!
Abraço a todos ! E vamos fazer mais edições desse evento e como eu gosto de dizer também, quantidade não é qualidade, mas quando a qualidade existe é inevitável a quantidade em médio e longo prazo! Por isso, acredito, e não importa se tem uma pessoa ou 30.000 eu vou fazer o meu trabalho para crescer e fazer as pessoas se identificarem!"
Fernando Quesada é professor e coordenador da Universidade Ceunsp e também ministra cursos no EM and T. É Produtor Musical e baixista da banda SHAMAN.
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