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Músicos, aceitem: ninguém mais paga por música

Por Nacho Belgrande
Fonte: Playa Del Nacho
Postado em 02 de março de 2015

Texto original de ARI HERSTAND

É quase que um ritual de passagem pelo qual todo artista passa na indústria musical moderna. O momento em que ele aceita que ele não poderá depender de vendas de sua música para sustentar sua carreira. Que as pessoas não compram mais música como costumavam. E nunca mais voltarão a comprar.

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Poucos anos atrás, parecia que todo artista estava penitenciando os fãs por baixarem músicas ilegalmente. Sobre como isso afeta as bandas. Os produtores. Os músicos de estúdio. As gravadoras [bem, nenhum fã se importa com elas]. Os compositores. E a indústria como um todo. Todos lembramos do argumento ‘baixar música ilegalmente é como roubar um micro-ondas de uma loja’. Todos nós acreditamos naquilo. Bem, quero dizer, os músicos e a indústria acreditaram. Os fãs? Nem tanto.

A RIAA processou mais de 35 mil fãs por baixarem músicas ilegalmente na metade da primeira década deste século. Ficávamos sabendo de pessoas de 12 anos sendo processadas em centenas de milhares de dólares. Avós cujos netos baixaram músicas em seus computadores e foram levadas para o fórum e forçadas a declarar falência. Um avô chegou a morrer durante um litígio do tipo e a RIAA comunicou à família dele que eles tinham 60 dias de nojo – e depois, eles que pagassem.

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Realmente, um excelente modo de convencer aos maiores fãs de música. Processá-los. Certeza que isso vai ensinar a eles.

Mas não ensinou. As vendas nunca mais subiram. E agora anuncia-se que os downloads pagos feitos pelo iTunes cairão em 39% nos próximos cinco anos. A receita decorrente dos serviços de streaming não compensa as perdas em vendas para os músicos.

E ainda não se sabe se isso ocorrerá a longo prazo. Mas, infelizmente, ao contrário das vendas, a receita do streaming requer números enormes para ver um movimento significante.

Anteriormente, se um artista tivesse 10 mil fãs, ele poderia confiar em 70 mil dólares em vendas [$10 por cada álbum menos os 30% do iTunes] quando um novo disco fosse lançado. Contudo, agora, mesmo se os fãs ouvirem a seu álbum de 10 músicas no Spotify por 10 vezes nos primeiros meses [1 milhão de execuções – impressionante!] isso só renderia cerca de 5 mil dólares [e muito menos do que isso se for no YouTube]. Mesmo se ele tiver outros 50 mil fãs que ouvirem o álbum apenas duas vezes, esse é um adicional de 5 mil.

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Não importa o quanto você divulgar, um artista de nível pequeno para médio não vai sobreviver com uma renda oriunda de streaming do modo que os números são calculados hoje em dia. Se estivéssemos falando de 5 centavos por execução ao invés de meio centavo, talvez.

Eu sou um grande apoiador do streaming desde sua concepção. Eu amo o fato de ele recompensar os artistas por criar música boa que os fãs queiram ouvir várias vezes. Há muito mais potencial. Quanto mais alguém gostar do seu disco, mais essa pessoa o tocará. E você será pago por cada execução. Com o tempo, claro, isso poderia render ao artista MAIS dinheiro do que as vendas.

Somente os artistas que estão tendo milhões de execuções estão vendo renda viável e significante do streaming. E a maioria deles está com gravadoras que fica com a maior parte [senão toda] dessa renda.

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Então quais são as soluções?

Você poderia gritar sobre streaming e pirataria até ficar roxo enquanto os fãs e a tecnologia ignoram seu barulho e seguem em frente [isso parece uma solução legítima para alguns] OU os artistas poderiam ir atrás de diversificar seu fluxo de renda.

Mais empresas especializadas em ajudar artistas a fazer mais dinheiro surgem a cada dia do que jamais apareceram.

Se antes 1000 fãs ‘de verdade’ gastavam 100 dólares por ano com vendas em CD e downloads, ingressos para shows e camisetas e rendiam ao artista 100 mil ao ano, o que aconteceria se, com novos modelos, os artistas conseguissem fazer com que seus ‘fanáticos’ gastem 500 dólares por ano com eles? E se isso escalasse? 200 fãs a 500, 300 fãs a 250, 500 fãs a 100? Ao invés de os artistas ganharem cerca de 100 mil por ano em cima de mil fãs, eles poderiam ganhar 225 mil.

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Não é que os fãs não quisessem gastar mais do que $100 por ano com seu artista favorito, é que talvez antes eles não tivessem nenhuma opção atraente para com a qual fazê-0lo.

Sites como o Kickstarter, PledgeMusic, Indiegogo e Patreon têm permitido aos artistas oferecer mimos caros e exclusivos a seus fãs mais ferrenhos. O modelo do Patreon permite que os artistas faturem em cima desses fãs continuamente. O BandPage oferece experiências que possibilitam aos artistas que lucrem em cima de seus fãs mais ardorosos de maneiras criativas enquanto estão em turnê. O BandCamp e o Loudr permitem que os fãs ‘deem seu próprio preço’ por arquivos lossless ou em MP3. O Fanswell permite que os artistas viabilizem turnês por casas noturnas faturando o máximo possível em cima de um nicho pequeno, mas dedicado de fãs.

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As empresas de licenciamento estão ajudando artistas independentes a receberem inclusões bem lucrativas na TV e no cinema e empresas que administram o licenciamento de artistas independentes como a SongTrust, CD Baby e TuneCore estão coletando royalties antes só disponíveis àqueles com contratos de publicação.

O YouTube agora oferece uma função ‘gorjeta’ em seus canais e o Spotify já integra merchandise ao perfil dos artistas [sem pegar uma parte].

NÓS TEMOS QUE COMEÇAR A ABRAÇAR OPORTUNIDADES ALTERNATIVAS DE MONETIZAÇÃO E ACEITAR QUE O MODO TRADICIONAL PELO QUAL OS FÃS APOIAM O ARTISTA MORREU.

Precisamos de uma nova mentalidade. É uma nova era. As pessoas ESTÃO valorizando aos artistas – mas de um modo que faz sentido para elas [não pra você]. O que há de errado em um rapaz de 23 anos que ama uma banda pagar $250 por algo exclusivo da PledgeMusic, $5 por vídeo lançado no Patreon, $18 por um ingresso para o show, $25 por uma camiseta e conhecer os bastidores de um show do grupo por $50, mas nunca comprar um download ou um CD? O que há de errado nisso?

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O álbum pega o fã já na porta. Chama a atenção. O álbum é apenas a apresentação. Não é mais o fim da cadeia. O álbum é a porta de entrada. E o álbum pode ser encontrado no Spotify, no YouTube ou no Pirate Bay com alguns cliques.

E os artistas das grandes gravadoras nunca fizeram tanto dinheiro assim com vendas de discos, pra começo de conversa.

Eles sempre tiveram que depender de fontes alternativas de renda [como shows e merchandise] para compensar pelo que seus selos não os repassava em royalties. Lyle Lovett admitiu que depois de vender 4.6 milhões de discos, ele havia recebido $0 em royalties de sua gravadora. Mas ele teve uma carreira muito bem sucedida. Por que as pessoas ficam em silêncio quando as gravadoras roubam [legalmente] dos artistas, mas fazem um escarcéu quando os fãs o fazem?

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"Eu nunca fiz um centavo com venda de discos desde que assinei um contrato. Eu tenho sido muito feliz com minhas vendas, e meu público com certeza me apoiou muito. Eu ganho minha vida metendo a cara e fazendo shows." – Lyle Lovett

Então essas são suas opções. Você pode ficar de mimimi sobre ‘a queda da indústria musical’, reclamar que os fãs não são fãs de verdade se eles não pagam por música gravada, OU você pode ser criativo, adotar as novas tecnologias que se baseiam no relacionamento artista-fã, e liderar a matilha nesse admirável mundo novo cheio de fontes alternativas de renda. A escolha é sua.

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Sobre Nacho Belgrande

Nacho Belgrande foi desde 2004 um dos colaboradores mais lidos do Whiplash.Net. Faleceu no dia 2 de novembro de 2016, vítima de um infarte fulminante. Era extremamente reservado e poucos o conheciam pessoalmente. Estes poucos invariavelmente comentam o quanto era uma pessoa encantadora, ao contrário da persona irascível que encarnou na Internet para irritar tantos mas divertir tantos mais. Por este motivo muitos nunca acreditarão em sua morte. Ele ficaria feliz em saber que até sua morte foi motivo de discórdia e teorias conspiratórias. Mandou bem até o final, Nacho! Valeu! :-)
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