Time Bomb Girls: A hora das meninas-bomba
Por Nelson de Souza Lima
Postado em 03 de setembro de 2020
De uns tempos pra cá a cena rocker brazuca, sobretudo paulistana, viu emergir uma considerável gama de bandas formadas somente por garotas. Entre elas podemos citar Nervosa, The Monic e Malvada.
Se juntando à esta galera, prometendo detonar as estruturas, o power trio Time Bomb Girls lançou recentemente seu álbum debute, disponível nas plataformas digitais e formato físico.
Surgida no final de 2017 a TBG é formada por Camila Lacerda (bateria/voz), Déia Marinho (baixo/voz) e Sayuri Yamamoto (guitarra/voz).
Influenciadas pelo punk rock, rockabilly, surf music, Blues, psychobilly e muita garageira as meninas evidenciam em "Las Tres Destemidas", (Monstro Records) que lugar de mulher é onde ela quiser, inclusive no palco.
A bolachiha tá repleta de "Hey Ho, Let's Go" e as treze faixas contém pitadas generosas de Ramones na sonoridade. Nitroglicerina pura.
No tocante à esta muito bem-vinda "invasão" de grupos femininos a baixista Déia Marinho diz que o momento é propício não só na música, mas de maneira geral, com a crescente onda feminista.
"Entendemos que precisamos lutar pelo coletivo, que nós mulheres temos que mostrar nossa força e que somos tão boas, senão melhores, que os homens. Entre outras coisas, começamos a sentir a necessidade de estarmos presentes em locais que há a predominante figura masculina. Se é tendência, espero que continue sendo e que mais mulheres se coloquem à frente da cena musical. Se é coincidência, que bela coincidência.", atesta.
"Las Tres Destemidas" foi gravado no estúdio Porto Produções Musicais por Raul Zanardo e produção caprichada de Matheus Krempel e Alexandre Saldanha. Os destaques são vários: "Entre Trancos e Barrancos", "Save Me", "Quando Eu Crescer", "Sobrancelhas Selvagens", "Nanana Surf" e "Waste Of Time".
Ouça aqui:
https://ditto.fm/timebombgirl-lastresdestemidas
Por e-mail as garotas trocaram uma ideia e falaram de tudo, rock, pandemia, feminismo e muito mais.
Time Bomb Girls, literalmente é a Hora das Mulheres Bomba. Como foi juntar este trio que é nitroglicerina?
TBM -Camila Lacerda - Formar uma banda só de meninas sempre foi o sonho das três, muito antes de nos conhecermos. Eu e a Deia já nos encontrávamos em vários rolês durante anos, mas nossa relação nunca foi de amizade apesar de sempre nos tratarmos muito bem. Então um dia eu vi uma foto da Deia tocando baixo e mandei uma mensagem pra ela sobre meu sonho de montar uma banda de meninas e se ela toparia, ela topou na hora e então conversamos com algumas pessoas pra poder formar a banda, houve algumas interessadas porém ninguém que tivesse a mente aberta pra fazer um som único igual a gente queria, e nem com a visão de não ter um líder da banda, de que todas tivessem sua igual importância, então ficamos meio desmotivadas e passaram mais alguns anos. No final de 2017 estávamos nós três em uma Pool Party em que a Say tocou com o Los Clandestinos (banda com o Vinci que também é meu parceiro em Voodoo Brothers) e assim que ela terminou já falamos sobre montar a banda, nos empolgamos na hora e daí em diante foi tudo muito rápido. Montei um grupo com as meninas no zap, já trocamos ideias de músicas e influências, no começo de 2018 fizemos nosso primeiro ensaio na casa da Say, onde confesso que achamos que a banda não ia longe, mas a interação e energia foi incrível, em breve já veio o primeiro convite pra tocar e nem tínhamos nome pra banda ainda, então daí em diante fomos aprimorando a parte musical, e nos amando cada vez mais, tudo foi acontecendo realmente rápido, uma verdadeira explosão.
"Las Tres Destemidas" é o álbum de estreia. São 14 faixas em pouco mais de trinta minutos. CD curto e explosivo. Como foi o processo de criação, gravação, mixagem do disco?
TBG -Camila Lacerda - O processo de gravação e mixagem foi longo, porém o de criação foi muito rápido para uma banda recém formada. Nos primeiros ensaios já tínhamos algumas letras, mas o que fez a gente criar muitas músicas de uma vez mesmo foi o PicNik Festival em Brasília pois deveríamos apresentar um show autoral, então corremos pra fazer o nosso melhor.
Normalmente as letras são escritas pela Deia ou Say e então elas se reúnem para compor a melodia, depois me mandam e eu crio "a cereja do bolo" com dinâmicas, cadências e um toque a mais de emoção (risos). A gravação e mixagem apesar de trabalhosa foi um momento delicioso de troca de experiências e muita aprendizagem, pelo fato de nós três cantarmos o que acabou tomando o maior tempo no processo foram as vozes, mas fizemos tudo com muito amor, dedicação e entusiasmo.
Na produção contaram com os feras Matheus Krempel (The Bombers) e Alexandre Saldanha (Reverendo Frankenstein e Spitfire Demons). Como foi trabalhar com eles?
TBG - Deia Marinho - Foi bem massa! É claro que, como qualquer relação, há atritos. Mas trabalhamos com feras, né? Matheus e Alexandre estão na música há mais de 20 anos, já gravaram vários discos. A Cá gravou dois discos com outras bandas dela, mas este é o primeiro meu e da Say e podemos dizer que aprendemos MUITO em cada processo com esses garotos e com o engenheiro de som Raul Zanardo também. Desde a organização até a mix e master que são etapas finais. Foi trabalhoso, suado, mas valeu a pena demais!
Abrindo o disco temos a instrumental faixa-título, "Las Tres Destemidas", com clima country/rockabilly. É a trilha de abertura de uma gama de vários estilos. Vocês bebem na fonte do rock punk garageiro mas sem ter medo de ousar. Falem sobre isso.
TBG -Sayuri Yamamoto - A faixa título foi uma música que fizemos uma adaptação para encaixar no nosso estilo mas é uma música que tem sim muita influência de country e tinha um pouco de flamenco que a gente adaptou isso para o Rockabilly. O legal desse instrumental é que deixa a imaginação de cada um vislumbrar algo diferente de acordo com as referências que cada ouvinte têm. Uns acham meio western, punk, blues, até surf já foi assemelhado. A realidade é que a maior influência dessa música um dos estilos que mais têm influência é o blues, ritmo musical que abrange todos esses estilos do rock. Então a influência garagem fica bem evidente com o nosso jeito de desprendido de tocar, o que deu a idéia do título da música Las três destemidas, pois quando escutamos o resultado da música, nos sentimos realmente destemidas.
"Quando eu crescer" fala de uma mulher independente que não quer ser dona de casa, mas ter uma metralhadora nas mãos. É um grito de empoderamento feminino. Vocês são engajadas em algum movimento? Como veem a situação da mulher contemporânea?
TBG - Deia Marinho - Esses dias nos perguntaram se nos identificamos com o movimento Riot Grrrl e como acreditamos levá-lo a frente. Respondemos que nos identificamos e, acredito, que estamos mais engajadas em levar o empoderamento feminino para qualquer área que tentam ou já tentaram nos diminuir. Temos uma banda formada por meninas em meio a predominante figura masculina que toma conta dos palcos na cena underground. Precisamos mostrar que fazemos um som tão bom quanto uma banda de meninos e incentivar outras garotas a irem para os palcos, a não se sentirem intimidadas e perceber que somos iguais aos homens e podemos fazer o que quisermos, quando quisermos.
Pelo menos no rock as mulheres estão num momento interessante com várias bandas só formadas por garotas, (Nervosa, Malvada, The Monic, entre outras). E vocês também estão nesta. É uma tendência do momento ou mera coincidência tantos grupos femininos atualmente?
TBG -Deia Marinho - Pelo que venho acompanhando, o surgimento de bandas só de meninas vem crescendo nos últimos cinco anos e, pela minha visão, é pelo simples fato da gente ter visto uma cena muito forte de bandas feministas entre os anos 90 e começo de 2000 e, em alguns anos, pararmos de ver bandas só com mulheres meninas tomando a frente dos palcos. Com a crescente onda do feminismo nos últimos anos, entendermos que precisamos lutar pelo coletivo feminino, que nós mulheres temos que mostrar nossa força e que somos tão boas, senão melhores, que os homens, entre outras coisas, começamos a sentir a necessidade de estarmos presentes em locais que há a predominante figura masculina. Se é tendência, espero que continue sendo e que mais mulheres se coloquem à frente da cena musical. Se é coincidência, que bela coincidência, não é mesmo?
Das quatorze faixas dez são inéditas e três regravações. Como escolheram estas canções pra serem re-gravadas?
TBG - Say Yamamoto - As canções regravadas já tinham sido lançadas de forma independente pela banda, que foram: "Confere com a muda", "Not a sad song". A "Quando eu crescer" já foi um single pela MONSTRO DISCOS quando estávamos finalizando o disco, mas queríamos que essas músicas também fizessem parte do nosso álbum, então decidimos experimentar lançar a "Confere com a muda" e a "Not a sad song" remixadas pelo Manoel Cruz, para ter disponível nos streamings digital duas versões diferentes dessas músicas.
Henrique San criou a capa e o design dando uma cara de HQ e transformando vocês em personagens de quadrinhos. Já pensaram que pode virar revista infantil e ser uma espécie de Os Impossíveis (antigo desenho da Hanna-Barbera) em versão feminina?
TBG - Camila Lacerda - Primeiramente temos que falar que o Henrique San arrasa sempre e no nosso álbum não foi diferente, nós tínhamos muitas ideias, mas nada muito concreto, então mandamos tudo pra ele e ele conseguiu juntar a essência de tudo isso e deixar perfeito. A forma de quadrinhos só ficou mais clara pra gente quando determinamos o nome do álbum "Las tres destemidas" e então foi justamente a partir disso que começamos a elaborar essa proposta. E sem querer dar muitos spoilers, mas já dando rs, temos uma idéia de fazer um clipe justamente como se fosse uma história em quadrinhos, então acho que se encaixaria perfeitamente numa revista infantil com essa pegada feminina, seria incrível.
Como foi finalizar o disco em meio á esta pandemia tenebrosa que além de paralisar todas as atividades culturais e econômicas já contaminou mais de 3 milhões de brasileiros e matou 121.000?
TBG -Camila Lacerda - Nós finalizamos na verdade antes até da gente imaginar que essa pandemia pudesse acontecer, estava faltando só prensar mesmo as cópias físicas que estávamos esperando meados de Março pra fazer isso, aí infelizmente aconteceu essa triste situação mundial e ficamos muito indecisas sobre o que fazer. No começo era certo que só lançaríamos quando tudo voltasse ao normal, e então os meses foram passando e percebemos que esse normal não iria vir tão cedo e achamos melhor lançar agora, até mesmo para confortar e alegrar tantas pessoas em suas casas.
Pra encerrar um recado para a galera que tá na fissura de conhecer a banda ao vivo?
TBG - Say Yamamoto - Recadinho pra galera que quer ver as TIME BOMB GIRLS ao vivo: Aguardem mais um pouco, por enquanto ao vivo não tem como, temos que nos cuidar e cuidar um do outro, mas acompanhem nossas redes digitais porque assim que puder fazer show postaremos mais novidades!!
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