Raimundos: a história de "Eu Quero Ver o Oco", que envolve cinema após capotar carro
Por Igor Miranda
Postado em 19 de agosto de 2021
Um dos grandes sucessos do Raimundos é a música "Eu Quero Ver o Oco", lançada no álbum "Lavô Tá Novo" (1995). A faixa chama atenção pelo instrumental pesado aliado a um refrão forte e a uma história curiosa contada em sua letra.
Em entrevista ao À Deriva Podcast, com transcrição do Whiplash.Net, o guitarrista e vocalista do Raimundos, Digão, contou como "Eu Quero Ver o Oco" foi composta. A canção agrega duas histórias diferentes em sua letra - uma delas envolveu o capotamento de um carro por parte do baixista Canisso, que, mesmo após o acidente, decidiu ir ao cinema para encontrar seus amigos de banda.
Inicialmente, Digão revelou que pensou em "Eu Quero Ver o Oco" para ser uma música tipicamente "Beavis and Butt-Head", em referência ao famoso seriado da MTV. "'Eu Quero Ver o Oco' nasceu de 'Beavis and Butt-Head'. Sempre que vinha um clipe legal na MTV, ficavam o Beavis e o Butt-Head no sofá: 'yeah, rock'. Falei: 'a gente tinha que fazer uma música Beavis and Butt-Head, onde os dois subiriam no sofá e ficassem assim'. Foi essa a ideia", afirmou, conforme transcrito pelo Whiplash.Net.
A estrutura da música nasceu de forma rápida, a partir de uma mudança na afinação da guitarra. "Cheguei no estúdio, a primeira coisa que fiz foi dropar a (afinação da) guitarra. O Canisso foi no microfone enquanto eu fazia o riff e falou: 'eu quero ver o oco'. O Rodolfo (ex-vocalista) veio do outro lado da sala: 'p**a que pariu, que é isso, faz de novo'. Fizemos. Pronto. O resto veio", disse.
O carro capotado
Com riff principal e refrão criados, chegou a hora de criar a letra. Coube a Rodolfo a tarefa de agregar histórias envolvendo carros.
Uma delas foi justamente o capotamento de um Fusca de Canisso. O vocalista estava junto do baixista naquela ocasião e narrou o episódio na letra de "Eu Quero Ver o Oco", mais especificamente antes do primeiro refrão.
"Falamos da capotada do Canisso. Capotou e foi ao cinema. Essa história é real. Nos anos 80, quando tirei carteira, meu pai emprestava a caminhonete. Eu carregava todo mundo. Combinamos de ir ao cinema. O Canisso tinha um Fusca. Fui com a galera primeiro e o Canisso ficou de ir com o Rodolfo e um amigo nosso", contou Digão, de início.
Ele completa: "Chegamos primeiro no cinema, aí... cadê o Canisso? Entramos e fomos ver o filme, foi quando relaxei. Daqui a pouco, mó silêncio no cinema, ouço a voz do Canisso: 'ow'. Falo: 'tô aqui, Canisso'. Daí ele: 'capotei o carro'. Meu irmão... o cinema inteiro riu. O Canisso todo cheio de graxa, tinha machucado o queixo".
Digão ainda descreveu a região onde o acidente ocorreu, bem como a forma que tudo rolou. "Lá em Brasília, onde a gente mora, ali no lago, tem uma ponte e aí depois você sobe para a Asa Sul. Quando você chega lá, tem uma curva e do lado tem uma grama. O Canisso, com o Fusquinha azul calcinha dele, meteu a terceira marcha, fez a curva e o carro rabeou de um lado, rabeou para o outro e desceu o barranco de grama. Foi descendo. Quando chegou lá embaixo, que o barranco faz uma curva, travou. Aí o carro capotou e saiu arrastando de cabeça para baixo", disse.
Por sorte, ninguém se machucou seriamente: o amigo que acompanhava Canisso e Rodolfo no Fusca bateu a cabeça, mas nada grave. O problema é que, para voltar as rodas do carro para o chão, o baixista da banda levou um "coice" de seu próprio veículo.
"Eles não machucaram sério. Nosso outro amigo bateu a cabeça, mas o Rodolfo e o Canisso não. Tiveram que quebrar o vidro traseiro, porque as portas não abriam, e saíram. Foram desvirar o carro. O Canisso fez a maior força. Conseguiram desvirar, só que quando o carro desvirou, ele subiu e bateu no queixo do Canisso", disse.
Capotou o carro e foi ao cinema
O contratempo não foi o suficiente para fazer com que Canisso, Rodolfo e o amigo faltassem ao compromisso. Como o carro estava funcionando, eles acabaram indo ao cinema.
"O Canisso colocou a chave, o carro pegou, daí foram para o cinema. Já viu aquele filme 'Matou a Família e Foi ao Cinema'? É tipo isso, capotou o carro e foi ao cinema", contou Digão.
Por fim, o guitarrista contou sobre a outra história narrada em "Eu Quero Ver o Oco", esta já depois do primeiro refrão.
"A especialidade do Rodolfo era essa: contar histórias de um jeito engraçado. Ele também falou (na letra) do pai dele, que tinha um Opala. Uma vez, ele prendeu o dedo na porta e o Véio Mané ficou rindo dele, achou engraçado. Ele pega esses flashes da vida dele e vai incorporando. O Raimundos conta muitas histórias em uma música só", pontuou.
O trecho em que Digão conta as histórias de "Opa! Peraí, Caceta" e "Eu Quero Ver o Oco" pode ser conferido no player a seguir.
A entrevista completa pode ser assistida no vídeo abaixo.
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