Raimundos: "vão cancelar Renato Russo?", diz Digão ao postar vídeo com falas do cantor
Por Igor Miranda
Postado em 30 de novembro de 2021
Digão, vocalista e guitarrista do Raimundos, compartilhou um trecho de uma entrevista concedida em 1986 por Renato Russo. Na filmagem, o falecido líder da Legião Urbana diz que "tradição seria algo bom se o Brasil tivesse" e que quer aumentar suas propriedades por ser um "capitalista nato".
A declaração de Renato foi dada ao programa "Clip Clip", após a entrevistadora perguntar como ele vê os valores de tradição, família e propriedade. "Acho que essa pergunta é uma tentativa de criar uma polêmica e a Legião Urbana não gosta de se envolver com esse tipo de coisa", respondeu o cantor, inicialmente, conforme transcrito pelo Whiplash.Net.
Apesar da introdução, o músico acabou respondendo à pergunta. "Tradição eu acho que é uma coisa que seria boa se nosso país tivesse. Família, eu gosto muito da minha. Propriedade é algo que estou querendo aumentar ao máximo porque quero muitas propriedades, porque sou um capitalista nato", disse.
Ao divulgar o fragmento da entrevista, Digão declarou: "Vão cancelar o Renato Russo agora? Tá aí em 'technicolor' pra não deixar dúvidas! Conservador, família e capitalista! Obrigado Renato e Legião Urbana pelo legado maravilhoso. Eternamente a melhor banda brasileira".
A publicação do músico dos Raimundos, com o trecho da declaração de Renato Russo, pode ser conferida a seguir.
Em entrevistas, Renato sempre deixou claro que tinha uma visão capitalista a respeito inclusive de seu trabalho como músico. Em maio de 1994, à MTV Brasil, ele declarou: "Não faço as coisas por dinheiro, mas o dinheiro é a motivação principal. Não vou ficar em casa passando fome com meu violão se as pessoas não forem ouvir o que eu tô fazendo. Todo artista gosta".
Na mesma ocasião, ele fez críticas à forma como as gravadoras operam no Brasil. "Se você não tem sucesso, bye bye. Se não vende disco, da próxima vez vai ser difícil conseguirem entrevista com a gente, porque a gravadora vai empurrar outros artistas. [...] Tem o lado da gente defender nosso lado também. [...] O dinheiro é importante sim, sou capitalista - se não fosse, estava sendo anarquista e fazia uma cooperativa -, mas existem caminhos", disse.
Por outro lado, em entrevista publicada no CD promocional "Equilbrio distante - A entrevista", em 1995, o líder da Legião Urbana fez críticas a governos de direita e evangélicos. "As pessoas que prezam família e respeito à tradição são geralmente pessoas que não respeitam a liberdade das outras pessoas. [...] Não quero que eu, tendo uma boa família, ouça um evangélico me dizer que tomo atitudes erradas. Ou ter, como tivemos recentemente, um governo de direita que não respeita a liberdade das pessoas, que prende as pessoas... tudo o que sabemos que aconteceu no Brasil nesse período dos anos 1970", afirmou, mencionando a época da ditadura militar, da qual foi bastante crítico.
Ele definiu governantes de direita e evangélicos como "pessoas que se utilizam dessa bondade, do respeito da família, para se colocarem como superiores, como se tivessem superioridade moral em relação aos outros". "Penso que família é importante para todos, não só para um evangélico ou um militar matando gente. Fica uma confusão. Sou humano, mereço amor e não preciso ser um fascista para valorizar coisas importantíssimas na vida", disse.
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