O dia que o Nirvana sacaneou o Top of The Pops com uma apresentação hilária
Por André Garcia
Postado em 03 de março de 2022
Em novembro de 1991, o Nirvana chegava à Inglaterra com status de sensação nos Estados Unidos.
Bem no dia em que seu segundo álbum, "Nevermind" (1991), atingiu a marca de um milhão de cópias vendidas em seu país, o trio foi finalmente apresentado ao grande público britânico em seu mais tradicional programa musical, o Top of the Pops.
Imagine a surpresa de todo mundo quando, já nos primeiros segundos de "Smells Like Teen Spirit", ficava claro que a banda não fazia nenhum esforço para parecer que estava tocando. Muito pelo contrário.
O baixista, com seus quase dois metros de altura, dançava como uma criança hiperativa dopada, enquanto o baterista, com movimentos exagerados e fora do ritmo, nem encostava as baquetas em seu instrumento. O pequenino guitarrista, se movendo como um fantoche humano, nem sequer tocava as cordas.
Se aquela visão fez todos coçarem a cabeça, quando ele começou a cantar, todos devem ter ficado perplexos. Ao invés do vocal tantas vezes já ouvido na televisão e nas rádios, o que ouviam foi uma caricata voz grave e empostada, propositalmente ridícula, que Kurt revelaria ser uma imitação de Morrissey, o então já ex-The Smiths.
Confira a cena no vídeo abaixo.
No topo do pop
O Top of the Pops era um tradicionalíssimo programa musical britânico, exibido de 1964 a 2006 pela BBC. Fazendo o estilo parada musical, apresentava o que estava no topo das paradas na semana, e assim, se tornou um verdadeiro registro histórico das transformações sofridas pela cultura pop na Inglaterra.
Ao longo das décadas que passou no ar, acumulou dezenas de momentos memoráveis. Foi lá que John Lennon, pouco depois do fim dos Beatles, apresentou "Instant Karma" ao lado de Yoko, que fazia uma performance inspirada em Bob Dylan.
Foi lá também que David Bowie apresentou Ziggy Stardust para o mundo, tocando "Starman" pouco após se declarar bissexual a um dos maiores jornais do país. E foi ao tocar "This Charming Man" lá que o The Smiths se firmou como uma daquelas bandas icônicas que marcam geração.
Já em seu lançamento o "Nevermind" foi imediatamente reconhecido e aclamado como o disco definitivo de rock alternativo, e adotado como a trilha sonora de uma geração. Embora tivesse sido alçado ao mais alto estrelato da noite para o dia, Kurt Cobain se mantinha fiel a seus princípios punks, rejeitando as armadilhas da fama e as imposições da indústria.
Foi assim que, em 25 de novembro, Nirvana chegou aos estúdios da BBC, principal emissora da Inglaterra. Kurt aceitou, contrariado, a escolha de "Smells Like Teen Spirit", que acabara de chegar ao topo das paradas, mas ele queria tocar ao vivo.
A direção do programa, que sempre foi feito com playback, se recusou a alterar o formato para satisfazer ao vocalista. Entretanto, os dois lados cederam, e ficou combinado que o instrumental seria dublado e o vocal ao vivo.
O que fez a coisa desandar foi a ideia da emissora de encerrar a apresentação com uma encenação: alguns caricatos adolescentes entrariam como se estivessem invadindo o palco para dançar com a banda. Kurt, que se contorceu só de ouvir a ideia, não quis nem saber. Mas a emissora foi irredutível dessa vez e ficou imposto.
A sabotagem
Puto, Cobain viu uma possibilidade para, de uma só vez, provocar um tumulto (algo que no fundo ele adorava) e mostrar aos executivos de TV o que acontecia com quem tentasse mandar nele.
Ao confidenciar seu plano de (auto)sabotagem a Krist Novoselic e Dave Grohl, ele ganhou a imediata adesão de ambos. E assim aconteceu uma das mais impagáveis apresentações de uma banda de rock na televisão — um gigantesco dedo do meio a uma emissora exibida por ela mesma.
Cobain se manteve inabalável em sua imitação de Morrissey até o fim, chegando até mesmo a cantar com o microfone dentro da boca. Uma cena que parecia ficar mais hilária e constrangedora a cada segundo que passava. Apenas os diretores da BBC não acharam a menor graça. Ao final da exibição, eles partiram furiosos em busca da banda apenas para descobrir que ela já havia recolhido suas coisas e se mandado.
Na biografia Mais Pesado Que o Céu, de Charles R. Cross, Alex MacLeod recordou que naquele momento o vocalista estava feliz e, enquanto fugia da ira da BBC, Kurt Cobain sorriu. "Ele estava extremamente alegre", contou. "Não havia dúvida de que eles eram o maior acontecimento na música. E ele tirava proveito disso. Ele sabia que tinha o poder."
No entanto, se havia em Kurt o desejo de sabotar seu sucesso com aquilo, a estratégia não funcionou. A polêmica apresentação no Top of the Pops apenas contribuiu para tornar o Nirvana ainda mais popular, e reforçar nos fãs sua imagem como um heroico ídolo rebelde.
Mostrando não guardar ressentimento do saudoso rockstar americano, a BBC publicou em 2017 um artigo em seu site chamado Seis Razões Pelas Quais Ainda Amamos Kurt Cobain.
Leia mais sobre na Ultimate Classic Rock.
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