Como Zé Ramalho foi convencido a não imitar capa de Pink Floyd em seu álbum?
Por Gustavo Maiato
Postado em 15 de junho de 2022
Em 1997, Zé Ramalho lançou o álbum "20 Anos: Antologia Acústica" e quem criou a capa do disco foi o designer Ricardo Leite, responsável por trabalhos de bandas como Paralamas do Sucesso e Legião Urbana.
Em entrevista ao canal Corredor 5, no YouTube, Ricardo Leite se recordou de uma situação inusitada que aconteceu na gravadora quando estavam discutindo sobre como seria a capa. De acordo com ele, Zé Ramalho queria uma arte no estilo de "Pulse", do Pink Floyd, que era bastante elaborada e cara de fazer.
"Fiz mais de 10 capas do Zé Ramalho. Na ‘Antologia Acústica’ teve uma história interessante. Era um disco que comemorava seus 20 anos de carreira. A gravadora me disse que ele queria que a capa fosse igual a do ‘Pulse’ do Pink Floyd. Era um álbum duplo, com novos arranjos. Sempre fui fã do Zé Ramalho. Na sala de reunião, então, tinha esse problema, porque a capa do ‘Pulse’ tinha um livro dentro, várias páginas, muitas cores. Ele gosta de Pink Floyd e queria assim. A gravadora disse que não dava, porque ia ficar muito caro. Ele achava que a gravadora estava de mesquinharia", disse.
Após ouvir um "não" da gravadora, Zé Ramalho estava irredutível em sua vontade de copiar o estilo do clássico do Pink Floyd. Foi então que Ricardo utilizou o argumento certo que convenceria o cantor a ir por outro caminho artístico.
"Eu vi esse impasse, aí ele me perguntou o que eu achava disso. Disse que como designer seria ótimo fazer isso. Seria ótimo trabalhar com esse requinte gráfico, esse acabamento espetacular. Isso iria para meu portfólio, ganharia prêmios por isso. Mas, disse que se fosse ele, não faria dessa forma. Ele perguntou o motivo e eu disse que se ele fizesse essa capa, na largada pode ser que a gravadora consiga fazer, tem uma tiragem inicial razoável, 80 mil cópias, algo assim. Eles conseguiriam diluir o preço, mas um dia esse disco viraria catálogo. E aí, a gravadora não ia conseguir lançar com esse acabamento. Ou ela mutilaria o disco, e viraria algo meio vagabundo, ou nunca mais vai produzir e viraria item de colecionador. Disse que ele era um sujeito com uma geração toda que estava o descobrindo. Disse que ele não ia dar acesso para as pessoas se o disco saísse daquela forma. O preço unitário ia sair caro. Quando falei que ele ia tirar o acesso do fã à obra, ele me perguntou o que eu faria. Aí disse que faria um CD convencional colocado dentro de um box. Tiraria o livrinho de dentro, botava para fora, faria um livro com 40 páginas. Ele falou para eu mostrar como seria, no final ele comprou a ideia. Os caras da gravadora ficaram impressionados porque eu consegui convencer. Disse que a gravadora estava argumentando errado, dizendo que o produto vai ficar caro. O problema dele não é preço. Ele não se preocupa com isso. É um projeto artístico, quando você mostra que esse projeto não vai chegar no público, ele entende. Não é grana, sabe? É uma questão de dar acesso para quem vai conhecer sua obra", concluiu.
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