Os desafios que o rock nacional encontrou para ser aceito na MPB, segundo Nelson Motta
Por Gustavo Maiato
Postado em 27 de agosto de 2023
Nelson Motta viu de perto o auge da MPB e o nascimento do movimento do rock nacional ainda na década de 1970. Em entrevista ao Corredor 5 ele refletiu sobre os desafios que esse estilo encontrou ao entrar no Brasil.
"O rock nacional pirou uma parte da minha geração. E pirou no mal sentido uma outra parte, que se tornou reacionária musicalmente. Apegada. Aquela MPB intolerante e desatualizada. Isso cada um escolhe seu caminho. Para mim, virou minha cabeça. Sobretudo quando comecei a viajar para a Inglaterra e Estados Unidos com uns 19 ou 20 anos.
Aquilo foi um terremoto, não só o rock, mas o estilo de vida. Estávamos numa ditadura militar. Um moleque de 20 anos vendo aquela Los Angeles, com uma loucura acontecendo nas ruas. Nova York, Londres e tudo mais. O Brasil era um atraso absoluto não só no quesito musical, mas no lifestyle. O rock era a música da juventude e liberdade. Era sexo, drogas e rock n’ roll. Um slogan atraente. O rock me deu tudo isso! [risos]. Me diverti muito, ganhei muito dinheiro, me emocionei demais e conheci muita gente. Isso no rock brasileiro, né?
Lembro quando vi a Rita Lee com os Mutantes a primeira vez. Fiz o Hollywood Rock de 1975, no campo do Botafogo, em General Severiano. Foram quatro sábados, patrocinados pelo cigarro Hollywood. Lá tocou pela primeira vez a Rita Lee logo que ela saiu dos Mutantes. Tocou o Vímana, do Lulu Santos. Teve Erasmo Carlos, Celly Campello e Raul Seixas! Eu era o produtor e botei dinheiro meu. Com patrocínio e tudo. Foi uma aventura. Produzir um festival de rock na ditadura precisava ter um saco. Eles pediam o nome de todos.
Todas as músicas precisavam passar pela censura. Precisava de atestado dos bombeiros e tal. Tudo dificultado para não acontecer, mas fui tinhoso! Imaginei que o rock cresceria muito no Brasil e acabaria por se integrar nessa grande música popular do Brasil. A Rita Lee é a mais completa tradução disso, quando ela faz essa ponte com ‘Lança-Perfume’, que é rock e tem uma coisa meio música de carnaval. Ali foi a integração completa. Depois, quando os Paralamas do Sucesso fizeram ‘Lanterna dos Afogados’, vi essa integração do rock com a música brasileira".
O rock nacional e álbuns clássicos
Em entrevista a Gustavo Maiato, o crítico musical Regis Tadeu também falou sobre o rock nacional, mais especificamente o produzido durante a década de 1980. Na entrevista, ele elegeu seus 5 discos favoritos do período.
"Vamos lá. Eu diria o ‘Jesus Não Tem Dentes no País do Banguelas’. Todo mundo acha que vou falar do ‘Cabeça Dinossauro’, mas para mim é o ‘Jesus’. O disco da Patrulha do Espaço de capa branca, que tem ‘Columbia’. Se chama ‘Patrulha do Espaço’ também.
O ‘Passo do Lui’, dos Paralamas do Sucesso, o ‘Maior Abandonado’, do Barão Vermelho e o ‘Pânico em SP’, dos Inocentes. São discos bem diversificados que oferecem um panorama legal para quem não conhece nada daquela época. Tem outras coisas muito boas, como RPM e Zero. Tem o ‘Concreto Já Rachou’, da Plebe Rude, que é essencial também".
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