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A resposta de Augusto Licks para crítica que rock no Brasil não produziu músico virtuoso

Por Gustavo Maiato
Postado em 11 de abril de 2024

Não é raro encontrar fãs, músicos e jornalistas que comentam que o rock no Brasil, principalmente o praticado nos anos 1980, não produziu músicos virtuosos e técnicos. Mas o que será que Augusto Licks, ex-Engenheiros do Hawaii, acha dessa história? Em entrevista a Gustavo Maiato ele comentou a respeito.

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Foto: Reprodução - Várias Variáveis
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"Quem diz essas coisas é porque não tem discernimento, não entendeu a diferença entre quem toca em banda e quem toca por contrato remunerado. São duas situações musicais legítimas, mas diferentes. Um artista solo tem um depoimento pessoal a oferecer, e se arvora de instrumentistas de sua preferência pra dar conta do recado, e confortavelmente procura se acercar de que serão músicos tecnicamente muito bons e capazes de executar o que deles se espera.

A banda, por sua vez, é "o" próprio artista, só que um artista formado por mais de duas pessoas, independentemente de serem instrumentistas muito bons ou não, pois o que vale é a capacidade de todos produzirem um depoimento sonoro convivendo entre si, numa relação que não é exatamente profissional e nem sempre é confortável. É claro que, em geral, existem instrumentistas muito mais proficientes tecnicamente do que os que tocam numa típica banda de canções de rock, exceto talvez quando for uma banda formada justamente por instrumentistas virtuosos, e temos exemplos históricos desde o Deep Purple há mais de meio século atrás.

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Mas mesmo esse tipo de formação mais virtuosa terá alguma conta a pagar, terá seu próprio "cobertor curto", pois ao tratar de cobrir melhor os pés pode deixar a cabeça descoberta. A maior qualidade técnica instrumental pode não deixar muito espaço pra uma qualidade literária, ganha-se e perde-se. Além disso, existe uma dificuldade natural de instrumentistas virtuosos ao lidarem com a simplicidade, muitas vezes esta não os satisfaz e muitas vezes a simplicidade é justamente a marca que define determinadas bandas ou artistas solo. Não sei se foi mesmo Leonardo da Vinci que disse, como se lê por aí na internet, mas é definidora a frase "a simplicidade é a máxima sofisticação".

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Música, incluindo a música rock, não se mede pela quantidade técnica e sim pela qualidade, pelo que resulta de quem a faz, qualquer que seja a limitação, qualquer que seja o virtuosismo. Eu costumo dizer que são tudo "encanamentos" de um tipo ou de outro, e o que importa é o que acontece quando se abre a "torneira". Eu nunca me considerei um virtuoso, precisei fazer um grande esforço pra dar conta de tocar num trio como Engenheiros do Hawaii, de encontrar soluções pros desafios que surgiam em cada uma das canções, e isso incluiu surfar pelas opções da tecnologia, separando o que poderia ser decisivo de coisas que poderiam ser mais do mesmo ou até atrapalhar.

A própria limitação do formato trio me ajudava naquele processo, não permitia excessos desnecessários. Mesmo assim eu fazia ao máximo o que estava ao meu alcance, todos fazíamos ao máximo que estava a nosso alcance. Você pergunta sobre virtuosos, existem muitos, poderia citar vários mas o que importa é se a música resultante causa ou não alguma reação pra cada pessoa que a escuta. Eu posso gostar do Tommy Emmanuel, por exemplo, e você não gostar, essa é a beleza da vida, não sermos iguais. Eu costumo brincar que a guitarra elétrica, além de instrumento musical e brinquedo de diversão juvenil, também poderia ser elevada à condição de esporte, uma modalidade olímpica.

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No meu Instagram augustolicks_oficial cheguei a postar sobre um vídeo com o Yngwie Malmsteen em que um narrador brasileiro descreve cada uma das muitas técnicas do guitarrista sueco usando termos típicos de competições, tipo "olha aí um sweep up carpado" ou coisa parecida, e depois "mas vai perder ponto na aterrissagem", linguagem que se ouve em exibições olímpicas. Claro que pra muitos essa técnica em profusão é exatamente o que lhe interessa, mais do que música, e eu quando jovem já tive momentos de fissura nos "mais rápidos do gatilho", mas depois a gente cresce (nunca se é velho demais ...) e consegue separar o que é "ser impressionado por técnica" do que é "ser emocionado por música".

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Ultimamente, causa furor o italiano Matteo Mancuso, que chama atenção pela sua extraordinária técnica de mão direita, ele não precisa de palheta pra fazer o que outros virtuosos fazem com palheta. Mas aí é de se fechar os olhos, e perguntar: a música que resulta do Mancuso é tão diferente da de outros como Eric Johnson, Steve Vai, Satriani, etc em que o depoimento é tirar tecnicamente o máximo de uma guitarra elétrica? Faz tanta diferença em relação a estes e outros tantos se você não prestar atenção em que ele não usa palheta? Comparando com um guitarrista de rock como o Mark Knopfler, bem mais limitado tecnicamente, em qual dos dois a técnica de não usar palheta resulta numa característica própria de timbre sonoro? Pense aí e tente responder".

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Sobre Gustavo Maiato

Jornalista, fotógrafo de shows, youtuber e escritor. Ama todos os subgêneros do rock e do heavy metal na mesma medida que ama escrever sobre isso.
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