Bruce Dickinson teve em "Number Of The Beast" o mesmo problema de Dio em "Heaven And Hell"
Por Bruce William
Postado em 19 de agosto de 2024
Bruce Dickinson sempre citou Ronnie James Dio como uma de suas grandes influências. Ele descobriu o trabalho do saudoso vocalista ainda nos anos setenta, conforme contou em uma entrevista para a Metal Hammer: "Aos 15 ou 16 anos descobri Ronnie Dio em 'The Butterfly Ball' [um álbum conceitual de 1974, produzido por Roger Glover, baixista do Deep Purple]. Ouvi isso em algum lugar no rádio e pensei: 'Quem diabos é esse tipo de cantor? Uau, que voz!'," disse Bruce, seguindo com comentários elogiosos como "Ronnie tinha uma voz adorável e cheia de alma".
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A morte precoce de Dio em maio de 2010, aos 67 anos de idade, obviamente mexeu com Bruce, que durante um show do Iron Maiden algumas semanas mais tarde dedicou a faixa "Blood Brothers" a Ronnie James Dio. Ao apresentar a música, Bruce disse que Dio era um de seus mentores, e de bom humor fez o seguinte comentário: "Um cara que tristemente se foi. Em algum lugar, tomara, ele está olhando lá de cima e tirando sarro da minha cara - Sr. Ronnie James Dio. Esse é um cara para quem eu posso realmente falar 'Ronnie, eu realmente não sou melhor, mesmo sendo três polegadas mais alto que você".
Quando Bruce Dickinson se dobrou à experiência do lendário produtor Martin Birch
Na autobiografia "Para que serve esse botão?" (Amazon), Bruce relembra a dificuldade que teve para gravar o que ele mesmo descreve como "uma das maiores músicas de Metal de todos os tempos", que é "The Number Of The Beast", faixa que dá título ao álbum de 1983 do Iron Maiden, e que teve como produtor/engenheiro de som Martin Birch, que também esteve nos bastidores das gravações de discos lendários como "Machine Head" do Deep Purple, "Rising" do Rainbow, "Heaven And Hell" do Black Sabbath e vários outros.
"Steve tinha o hábito de assoviar suavemente junto a um gravador de fita cassete portátil e depois transpor aquilo para uma linha de vocal ou um riff de guitarra. Só descobri isso quando ele me mostrou a fita original onde foi gravada a composição de 'The Trooper', que soava como um carteiro feliz subindo pela trilha do jardim para entregar a correspondência. De repente entendi por que várias linhas vocais do Maiden são virtualmente impossíveis de cantar ou pelo menos exigem muita atenção ao fraseado para assegurar que você não arranque a ponta da língua com os dentes enquanto tenta se entender com as consoantes desnecessárias", conta.
Em outro trecho mais adiante Bruce relata como foi a gravação do vocal: "Quando chegou a hora de cantar diante do sr. Birch, senti um misto de curiosidade e frustração. A frustração foi gerada pela tática de Martin de me fazer esperar; a curiosidade dizia respeito a descobrir o que ele poderia me ensinar. Aquele era um cara que já havia supervisionado algumas das maiores vozes e algumas das maiores performances. Eu queria me enclausurar para despejar os vocais e me banhar na glória. Martin não estava interessado nessas frescuras e da forma mais educada e gentil me ensinou a não dar as coisas como certas".
"Considerem o trecho de abertura de 'The Number of the Beast'", prossegue o vocalista. "Antes do grito de gelar o sangue à la 'Won't Get Fooled Again' [canção do The Who], há uma introdução quase sussurrada que se constrói até o grito culminante. Não é muito agudo nem fisicamente exigente. Achei que poderia burilá-lo em poucos takes e prosseguir para soar alto e bombástico".
Mas Bruce logo descobriu que não seria assim tão fácil: "Martin, Steve e eu ficamos o dia todo e a noite inteira nos dois primeiros versos. Repetidamente, até eu estar tão de saco cheio que saí jogando móveis contra as paredes devido à frustração, arrancando grandes nacos do reboco úmido na cozinha semipronta. Fizemos um intervalo de duas horas. Sentei-me, taciturno, com uma xícara de café. Martin estava definitivamente alegre. Babaca, pensei".
Seguiu-se então um diálogo entre o lendário produtor e o também lendário vocalista: "Não é tão fácil, né?", disse Martin sorrindo, completando em seguida: "Ronnie Dio teve o mesmo problema em 'Heaven and Hell'". Bruce conta então: "Minha cabeça, que doía, e meus olhos, que doíam, começaram a prestar muita atenção. 'Como assim?'". E Martin respondeu: "Bom, ele chegou com a mesma atitude que você. Vamos dar conta dessa aqui logo. E eu disse pra ele: 'Não. Você tem que resumir sua vida inteira nesse primeiro verso. Ainda não estou ouvindo isso'. Sua vida inteira está naquele verso. Sua identidade como vocalista."
Daí então caiu a ficha para Bruce: "Vagamente, comecei a entender a diferença entre cantar um verso e incorporá-lo. 'I left alone, my mind was blank. I needed time to think to get the memories from my mind...', como diz a letra de 'The Number of the Beast'. E foi esse meu espírito ao retornar para o microfone. 'Just what I saw, in my old dreams...' e daí em diante. Foi como se Martin fosse um abridor de latas, e eu fosse uma lata de feijões".
Bruce resume o aprendizado que obteve ali de Martin Birch, que usou sua longa experiência para lapidar o talento bruto daquele então jovem vocalista: "Ao aparecer a rachadura na represa que eu mesmo erguera, a inundação ocorreu. O muro que ergui era meu ego. Todo mundo precisa de um, em especial se você pretende conquistar cem milhões de fãs de rock, mas não se deve trazê-lo para o estúdio. Ali dentro, é a música que possui você, como um filme que se descortina à sua frente. Tudo que faço é cantar as palavras que pintam o quadro. Achei que o teatro da mente fosse invenção minha, mas Martin Birch já fazia aquilo havia anos", finalizou o cantor.
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