Vocalista inglesa conta como é "desconcertante" fazer shows diante de tantos celulares
Por Mateus Ribeiro
Postado em 07 de fevereiro de 2025
Na ânsia de registrar momentos especiais, cada vez mais pessoas filmam e fotografam artistas e bandas durante shows dos mais variados estilos musicais, do Pop ao Death Metal. Eu mesmo já fiz isso algumas vezes, e é muito provável que você, do outro lado da telinha, também tenha feito.
Antigamente, registrar um show era complicado, afinal de contas, câmeras fotográficas e câmeras não eram tão acessíveis. No entanto, os telefones celulares deixaram tudo mais simples.
Existe quem gosta de filmar sua banda do coração, enquanto outros não são fãs dessa prática. E o que os artistas pensam disso? A musicista inglesa Serena Cherry, guitarrista e vocalista da banda de Post-Hardcore Svalbard, escreveu um artigo para a Metal Hammer e deu sua opinião.
Serena afirma que a presença de tantos telefones a deixa pressionada. Ela diz que fazer shows diante desses aparelhos é uma experiência "desconcertante".
"Subir no palco para um mar de telefones é desconcertante. Um privilégio desconcertante. Sinto-me imensamente lisonjeada pelo fato de o público não só ter se esforçado para assistir ao show, mas também por querer filmá-lo e compartilhá-lo em suas redes sociais. Mas é difícil não interpretar esses telefones como um tipo diferente de pressão. De repente, o público diante do qual estou não é mais o único público para o qual estou me apresentando. A ocasião agora também pertence à mídia social e à sua implacável seção de comentários."
A guitarrista/vocalista mencionou que a presença de celulares altera a sua maneira de se portar em um show. A frontwoman comentou:
"Como músico, você quer se perder na apresentação, mas é difícil ficar despreocupada quando há câmeras gravando todos os seus movimentos. Sempre defendi que a beleza da música ao vivo está em seus desvios - a sinergia do momento imperfeito. Quero dizer, uma música sempre terá o mesmo som no disco, mas a cada noite de turnê ela terá diferenças únicas que lhe darão uma vida inimitável (...).
Com isso em mente, tocar em frente a um mar de telefones todas as noites distorce minha perspectiva sobre a apresentação. Fico obcecada com os erros, apavorada com as falhas - porque cada falha será documentada e publicada. Parece a antítese do metal, pois eu me contenho com medo de me soltar 100% no palco, só para o caso de um ataque de vento selvagem me fazer tocar uma nota ruim. Em minha mente, o metal sempre foi sobre se soltar, se expressar e aceitar as imperfeições; no entanto, agora me vejo lutando para fazer exatamente isso ao tocar música pesada no palco. Estou presa em minha cabeça, cedendo a uma pressão por perfeição ao vivo que não existia há 10 anos, graças a esses pequenos dispositivos retangulares erguidos no ar."
Por fim, Serena disse que é complicado se conectar com as pessoas quando muitos dos presentes estão em seus celulares. No entanto, ela se mostrou favorável às filmagens feitas pelo público que comparece aos espetáculos.
"Embora eu aprecie cada vídeo que vejo compartilhado de uma das minhas apresentações e goste de compartilhar trechos que filmei das minhas bandas favoritas ao vivo no Instagram, acredito que a presença dominadora dos telefones nos shows é uma faca de dois gumes. É mais difícil se conectar com o público quando ele está assistindo desatentamente pela tela do celular (...). Todas essas telas podem parecer uma parede impenetrável e distrativa às vezes.
Os shows seriam melhores sem telefones? Essa é uma pergunta que nunca poderemos responder nesta era moderna, pois impor uma regra ‘sem telefones’ ao público é muito drástico e injusto com o portador do ingresso. Sou totalmente a favor de que as pessoas documentem e comemorem as experiências que trabalharam duro para desfrutar. Mas não posso deixar de imaginar como poderia ser diferente olhar para uma multidão e ver rostos cheios de expressão em vez das costas planas e inanimadas dos telefones celulares."
O Svalbard iniciou suas atividades em 2011. O grupo lançou, até o momento, quatro álbuns de estúdio. O mais recente desses trabalhos é "The Weight of the Mask", de 2023.
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