A essência do som de Nova Iorque no downtown, com Melvin Gibbs
Por Fernando Claure
Postado em 04 de março de 2025
Música é um processo evolutivo. Blues, rock, RnB, jazz, clássica e muitos outros gêneros são como troncos de árvores e de suas ramificações, nascem os subgêneros. Hard rock, metal, blues rock, jazz fusion, música barroca, etc. Para exemplificar uma dessas fundações experimentais, o baixista Melvin Gibbs (ex-Rollins Band, Defunkt e músico de sessão para Marisa Monte, Sonny Sharrock e outros) contou para o Bandcamp as raízes de sua carreira no downtown, um subgênero de música experimental desenvolvido na década de 1960, pelos arredores de Manhattan, bairro mais antigo da cidade de Nova Iorque, nos EUA.

"Eu cheguei na cena bem quando o loft jazz começou a dar espaço e a combinar com a cena de downtown," Gibbs explica. "Aquela fundação—minha habilidade em tocar música avant-garde, e a minha habilidade de tocar os vários estilos populares no meu bairro (funk, reggae, soca, etc.)—me tornou um dos baixistas-referência para os caras do jazz que queriam arejar os seus sons."
Acima, vídeo do canal dulls980.

"Quando eu comecei a tocar downtown, eu fiquei com os músicos do Black Artist Group que haviam se mudado para Nova York e com a galera da Ornette Coleman’s Prime Time ao mesmo tempo. Eu estava tocando na versão reconstituída de Nova York do The St. Louis Ensemble, que era co-liderada por Charles ‘Bobo’ Shaw e Joseph Bowie e que estavam tocando com o baterista Ronald Shannon Jackson e o guitarrista Bern Nix, ambos do Prime Time."
De acordo com o compositor e pesquisador Kyle Gann: "É possível caracterizar a cena de Downtown entre as décadas de 1960 e 1990 como uma miscelânea de refugiados dos mandatos de composições pretensiosas e arbitrárias que estavam sendo empunhadas como armas na academia e no mundo da música clássica." Gann descreve a música downtown como algo que busca sair fora do molde que as produtoras exigem. O gênero também inspirou a expressão de bandas nas décadas subsequentes, como o Sonic Youth, caracterizado pelo seu som "no wave".

Tendo isso em mente, a carreira de Gibbs pode ser considerada como um símbolo do downtown. Mesmo fora dos holofotes, Melvin já trabalhou em diversas áreas da música e possui créditos onde você menos espera. Para exemplificar esse cenário, ele já é conhecido pelo seu tempo no Rollins Band e seus créditos, principalmente para o álbum "Weight", que lançou a música mais famosa do grupo, "Liar". Porém, Gibbs também participou no álbum Mais da cantora e compositora brasileira, Marisa Monte, tocando baixo no famoso single, "Beija Eu".
"James Chance contatou Joseph Bowie para ajudá-lo a montar uma nova versão do The Contortions, ele me incluiu. Aquela versão da banda de desfez rapidamente e virou Defunkt." Gibbs adiciona que "Flea me contou que a primeira música que o Red Hot Chili Peppers escreveu foi montada em torno da minha linha de baixo na música ‘Defunkt’. Eles exaltaram a banda depois na música ‘Can’t Stop.’"

Atualmente, Gibbs está focado no processo de escrever seu livro The Science of Black Music (A Ciência da Black Music), que será publicado pela Basic Books no começo de 2026. Ele também trabalha na sua banda Elevated Entity, um mix de música religiosa Yoruba, hip-hop e jazz.
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