O maior artista do rock chiclete de todos os tempos, segundo Noel Gallagher
Por Gustavo Maiato
Postado em 18 de abril de 2025
A declaração escancara uma tensão clássica no mundo da música: ser acessível é sinônimo de ser raso? Ou será que há arte em fazer canções que grudam na cabeça e resistem ao tempo?
Um elogio vindo de um Gallagher é quase uma aberração. Conhecidos mais pelas alfinetadas do que pelos aplausos, os irmãos de Manchester são especialistas em distribuir críticas afiadas, não tapinhas nas costas. Mas, em 1996, Noel Gallagher fez uma rara exceção — e surpreendeu ao declarar que o título de "rei do disco de rock chiclete" deveria ir para ninguém menos que Kurt Cobain.


"Eles eram os melhores do caralho. E aquele cara era o rei dos discos de rock chicletes do caralho", disse Noel sobre o Nirvana. A frase, por si só, carrega o peso de quem entende — e valoriza — a arte de compor algo direto, simples e marcante. A entrevista foi resgatada pela Far Out.
Na lógica de Noel, ser "catchy" — termo que pode ser traduzido como "pegajoso", no sentido musical — não é um demérito. Ao contrário: é uma habilidade rara. "Você não poderia escrever músicas mais pegajosas do que as dele", completou o guitarrista e principal compositor do Oasis.

A declaração escancara uma tensão clássica no mundo da música: ser acessível é sinônimo de ser raso? Ou será que há arte justamente em fazer canções que grudam na cabeça e resistem ao tempo? Para Gallagher, não há dilema. "Não acho que exista algo como ‘chiclete demais’. Desde que seus amplificadores Marshall estejam no volume dez e façam os olhos das pessoas lacrimejarem", disse.
Oasis e Nirvana
No contexto do Nirvana, no entanto, a ideia de "pegajoso" soa quase paradoxal. Cobain rejeitava os rótulos, detestava os holofotes e parecia desconfortável com o próprio sucesso. Ainda assim, hits como "Smells Like Teen Spirit" e "Come As You Are" têm exatamente essa característica: bastam poucos segundos para que a melodia fique registrada — quase involuntariamente — na memória.

Assim como as músicas do Oasis ("Wonderwall", "Don’t Look Back in Anger", "Champagne Supernova"), os grandes sucessos do Nirvana têm um apelo imediato. A diferença está na estética: enquanto Noel abraça o pop com guitarras altas e refrões empolgantes, Cobain carregava nas letras angustiadas e nos riffs pesados — mas sem abrir mão da melodia.
Para o público, o resultado é semelhante: canções que você ouve uma vez e nunca mais esquece. Para os críticos e para o próprio Cobain, talvez essa fosse uma armadilha. Ainda assim, Noel não hesita: "Kurt era o rei do disco de rock chiclete". E vindo de alguém que entende de hinos geracionais, talvez não haja elogio maior.


Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps