A banda que resolveu simplificar as coisas e acabou criando um clássico do metal extremo
Por Mateus Ribeiro
Postado em 18 de setembro de 2025
Fazer o simples de forma bem feita e competente invariavelmente traz bons frutos. Essa máxima se aplica a várias esferas, incluindo o vasto universo das artes. Em um mundo onde a complexidade técnica muitas vezes é confundida com genialidade, o foco no básico - na essência de uma ideia, de um traço ou de uma nota musical - é o que, no fim, consegue cativar o público.
No heavy metal, o Metallica é um bom exemplo dessa filosofia. O grupo "virou a mesa" em 1991, quando lançou seu disco autointitulado, conhecido como "Black Album". O trabalho contrariou a complexidade apresentada em seu antecessor, "...And Justice for All" (1988), marcado por faixas longas e intrincadas. A estratégia se provou um sucesso: o disco vendeu dezenas de milhões de cópias, emplacou hits atemporais e mostrou que o heavy metal também poderia ser acessível e radiofônico.


Anos depois, outra banda, bem menos famosa, trilhou um caminho semelhante. Trata-se do At The Gates, surgido no início dos anos 1990, na cidade sueca de Gotemburgo. Em seus dois primeiros álbuns - "The Red in the Sky Is Ours" (1992) e "With Fear I Kiss the Burning Darkness" (1993) -, o quinteto apostou em uma abordagem experimental e extrema. No entanto, a partir de "Terminal Spirit Disease" (1994), o grupo optou por uma sonoridade mais simples, como Tomas Lindberg relatou em uma entrevista à Metal Hammer.

"Se você ouvir nossos dois primeiros álbuns, o estilo era muito técnico e complexo. A musicalidade às vezes atrapalhava. Então, quando chegou a vez de 'Terminal…', sentimos que era hora de progredir – e com isso quero dizer nos tornar mais simples e diretos."
O terceiro disco da banda, "Terminal Spirit Disease", é de fato mais direto que seus predecessores. Segundo Tomas, a nova abordagem visava deixar o som do conjunto mais brutal.
"Para alguns, isso pode parecer um retrocesso, mas para nós, foi uma questão de não sobrecarregar a música com muita bagagem desnecessária. Queríamos ser mais diretos, mais brutais."
Lindberg e seus parceiros continuaram investindo na simplicidade após o ciclo de "Terminal Spirit Disease". Essa aposta culminou em "Slaughter of the Soul", um clássico absoluto do estilo que passou a ser conhecido como melodic death metal, caracterizado pela mescla de agressividade e camadas melódicas.

"O 'Terminal Spirit Disease' deu início ao processo. Foi o embrião do qual demos origem ao 'Slaughter of the Soul'."
Com "Slaughter of the Soul", o At The Gates tinha uma meta bastante ousada: criar uma obra tão impactante quanto "Reign in Blood" (Slayer) ou "Bonded by Blood" (Exodus), dois baluartes do thrash metal. Nas palavras de Tomas, a "mediocridade" não era uma alternativa a ser considerada.
"Nunca esperamos chegar nem perto, mas pensamos que, se esse fosse o nosso objetivo, poderíamos chegar na metade do caminho. Havia muitas bandas de death metal na época, mas todas estavam felizes em fazer discos medíocres. Nunca vimos isso como uma opção. O At The Gates queria se testar contra os gigantes."

"Slaughter of the Soul" se tornou um dos álbuns mais influentes da história do metal sueco. Músicas como a faixa-título, "Blinded By Fear" e "Cold" demonstraram que brutalidade e melodia combinavam muito bem.
A obra fez relativo sucesso, e o guitarrista Anders Björler não conseguiu lidar com a pressão e quis deixar o grupo. Tomas conta que tentou convencer o colega a continuar, mas não obteve sucesso.
"Anders não conseguiu lidar com a pressão, foi simples assim. Tentamos convencê-lo a mudar de ideia, mas tudo acabou se sobrepondo a ele. O sucesso do álbum nos elevou a um novo patamar, mas também trouxe seus próprios problemas.
A Earache estava nos pressionando para voltar ao estúdio, e Anders cedeu. Olhando para trás, talvez devêssemos ter procurado substituí-lo e continuar, mas ainda éramos muito jovens e não estávamos com vontade de fazer isso. Como resultado, a banda se desfez."

O At The Gates se reuniu e retomou as atividades de forma definitiva em 2010. Desde então, lançou três álbuns: "At War With Reality" (2014), "To Drink from the Night Itself" (2018) e "The Nightmare of Being" (2021).
Infelizmente, Tomas Lindberg não está mais entre nós. O lendário frontman do At the Gates faleceu no dia 16 de setembro de 2025, um mês antes de completar 53 anos de idade, por complicações relacionadas ao seu tratamento contra o câncer.

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