A canção do ZZ Top que, para Mark Knopfler, resume "o que importa" na música
Por Bruce William
Postado em 23 de outubro de 2025
Nos anos 80, Dire Straits e ZZ Top corriam em pistas diferentes - Londres versus Texas, digital de estúdio versus hot-rod de garagem - mas havia um denominador comum: o boogie como eixo. Mark Knopfler já contou que, quando lapidava ideias que desaguariam em "Money for Nothing", estava ouvindo "coisas como 'Gimme All Your Lovin'" e que aquele pulso era a sua praia. "Ainda amo isso. É disso que a música se trata pra mim. Boogie é grande parte de onde eu venho", declarou Mark, em fala publicada na Far Out.

A frase ajuda a entender por que "Money for Nothing" ficou com aquela cara de marreta simples e eficaz. O riff nasce de um fingerstyle percussivo (o tal "clawhammer" adaptado à guitarra elétrica): polegar marcando graves, dedos atacando as cordas como quem bate palmas no contratempo. Não é virtuosismo exibicionista; é andar de locomotiva, o mesmo motor que empurra "Gimme All Your Lovin'".

Na década em que todo mundo flertava com sintetizadores e gravação digital, os dois grupos souberam casar tecnologia com raiz. O ZZ Top revestiu seu boogie com synths e drum machines sem perder o cheiro de borracha queimando. O Dire Straits, por sua vez, poliu timbres e mixagens sem abrir mão do toque de dedos que definia Knopfler desde "Sultans of Swing". Resultado: "Eliminator" e "Brothers in Arms" viraram placas tectônicas do período, com videoclipes que moldaram a era MTV.

Do lado texano, o segredo de Billy Gibbons sempre foi transformar poucas notas em presença física: o riff de "Gimme All Your Lovin'" é quase um slogan, e é justamente essa economia que Knopfler aponta como "o que a música é pra mim". Quando ele fala em boogie, não é só um rótulo; é uma ética de composição: repetir, insistir, deixar o groove falar antes da verborragia.
A admiração não ficou só na vitrola. Circulou a história de que Knopfler teria sondado Gibbons sobre truques de timbre para chegar "naquele som", ao que o guitarrista do ZZ Top respondeu, em tom de troça, que o britânico "não fez um trabalho nada ruim, considerando que eu não contei nada pra ele". A piada explica o essencial: dá para reconhecer o DNA do boogie mesmo quando ele veste roupas diferentes.

Também ajuda a reler "Money for Nothing" para além do vídeo em CGI e do refrão que todo mundo assobia. O que a sustenta é o mesmo empuxo que move "Gimme All Your Lovin'": batida que convida a cabeça a marcar o tempo; guitarra que fala mais pelo ataque do que pela quantidade de notas; e um andar quadrado e hipnótico que parece simples até você tentar tocar com a mesma pulsação.
Knopfler, na verdade, não estava canonizando uma banda rival, mas sim reconhecendo um princípio. "Gimme All Your Lovin'" condensa a ideia de que, às vezes, música é pulsação e teimosia: um riff que insiste, um groove que não cede, um refrão que chega porque o corpo já chegou. Se isso é "o que a música é", como ele disse, faz sentido que um inglês de dedos leves tenha se curvado ao boogie texano, e devolvido a lição à sua maneira.

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