O fã que conheceu Ozzy Osbourne no Rock in Rio e iniciou uma amizade de 40 anos
Por João Renato Alves
Postado em 28 de novembro de 2025
Stephen Rea está lançando o livro "Ozzy & Me: Life Lessons, Wild Stories and Unexpected Epiphanies from Forty Years of Friendship with the Prince of Darkness". A obra conta a história de um adolescente da Belfast devastada pela guerra que entrou em contato com Ozzy Osbourne e se tornou amigo para a vida toda do cantor e de sua família.
Para os brasileiros, o significado especial está no fato de que os dois se conheceram na primeira edição do Rock in Rio, em 1985. O próprio liberou um trecho para a Classic Rock, justamente onde ele descreve a verdadeira aventura que foi viajar para o Brasil naquele período.
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"Às 18h da quinta-feira, 1º de novembro de 1984, o noticiário local passava em uma TV portátil de dez polegadas em preto e branco na nossa minúscula cozinha. Mais mortes e destruição na sombria e deprimente Irlanda do Norte.
Eu estava a quatro semanas de completar quinze anos e sentado em um banco de madeira duro e bambo, em frente à nossa mesa de pinho macia e gasta, com meu uniforme escolar de suéter preto, camisa branca, gravata preta e calça preta. Meus pés, calçados com meias pretas, deslizavam sobre o piso laminado bege-claro e rasgado. Eu devorava o jantar de sempre: palitos de peixe, batatas fritas, ervilhas e pão com manteiga. De cabeça baixa e boca cheia, ataquei a edição número 80 da revista Kerrang! A página três trazia uma foto da aparição surpresa de Ozzy em um show recente do Iron Maiden, e ao lado, um pequeno texto dizia:
'Um grande festival de rock de dez dias acontecerá no Rio de Janeiro (Brasil) entre 11 e 20 de janeiro do ano que vem. Ao todo, 13 artistas internacionais se apresentarão, juntamente com o mesmo número de artistas brasileiros. Entre os grandes nomes já confirmados para se apresentarem estão Queen, Rod Stewart, Def Leppard, George Benson, James Taylor, Iron Maiden, AC/DC, Nina Hagen, The B-52's, The Go-Gos, Al Jarreau, Ozzy Osbourne e Scorpions.'
Murmurei, mais para mim mesmo do que para qualquer outra pessoa: 'O Ozzy vai tocar num festival enorme no Rio'.
Meu pai, com a atenção voltada para a tela, tomando goles de chá bem açucarado, desviou o olhar apenas o suficiente para dizer: 'Descubra mais informações. Sempre quis ir ao Brasil'.
Meus pais não eram ricos, mas acreditavam em aproveitar o dinheiro que ganhavam e valorizavam experiências em vez de bens materiais. Quando meu pai tinha 19 anos, ele e um amigo tentaram pegar carona para ver o Linfield, nosso time de futebol amador local, jogar em Portugal. Desistiram depois de alguns dias. A viagem foi lenta e eles não conseguiriam chegar a tempo para o jogo. Mas essa experiência ajudou a incutir nele o amor por viagens, o que minha mãe compartilhava.
Quando eu tinha apenas alguns meses de idade, eles me levaram para Maiorca, nas Ilhas Baleares, na época um lugar decadente e isolado, governado pelo ditador fascista General Franco. Eles economizaram o ano todo para nossas férias de verão: enquanto a maioria dos britânicos ia para o Mediterrâneo, em 1980 e 1981 nós voamos para a Flórida, embora em 1982 tenhamos ido para a Espanha ver a Copa do Mundo de futebol.
Mesmo assim, nem por um segundo imaginei que acabaria a seis mil quilômetros de distância, no Rio de Janeiro. Achei que meu pai estivesse brincando, então dei risada e voltei para meus palitos de peixe e minha revista.
Ele não estava brincando. Sua loja ficava ao lado de uma agência de viagens. Ele perguntou se eles conheciam o Rock in Rio. Eles vasculharam seus arquivos e encontraram um folheto de quatro páginas – um pedacinho de brochura meia-boca de uma operadora de turismo londrina.
Na frente e no verso, estavam as fotos mais sem inspiração já usadas para anunciar uma das cidades mais vibrantes do planeta: uma praia, uma palmeira, um lago de lírios, aquelas garrafas de souvenir com cenas feitas de areia colorida. A lista incluía a programação diária e uma breve descrição de um pacote turístico de treze noites, que custava £895 por pessoa (cerca de £3.600 ou US$4.700 em 2024).
Também continha a ressalva peculiar: 'O preço não inclui sobretaxas decorrentes de aumentos inevitáveis nos custos devido a ações do governo'. Como especialistas em América Latina, eles tinham visto novas administrações assumirem o poder e pressionarem pela implementação de um imposto turístico. Com voos de conexão de Belfast e dinheiro para gastos, o custo hoje seria superior a US$15.000.
Minha mãe escreveu para o fã-clube pedindo mais detalhes, mencionando meu status de membro antecipado. Na quinta-feira seguinte, cheguei em casa depois de jogar futebol. 'A secretária do Ozzy Osbourne ligou', disse minha mãe, com naturalidade.
Tecnicamente, era a assistente da Sharon, Lynn. Ela trabalhava para Sharon havia um ano e uma de suas muitas funções era supervisionar o fã-clube. Sem dúvida, estava sempre atarefada, atender mães de fãs adolescentes não era uma de suas prioridades. Poderia ter ignorado ou enviado uma carta padrão nos encaminhando para uma agência de viagens. Em vez disso, pegou nosso número com a assessoria de imprensa e ligou.
Minha mãe tinha rabiscado anotações no verso de um envelope rasgado: os dias em que Ozzy se apresentaria, o hotel em que eles ficariam hospedados, a data de chegada.
'Lynn me disse para não comprar ingressos para o show', disse ela, como se fossem velhas amigas. 'Se formos ao Rio, eles nos darão entrada de graça. Ela me deu o número dela e disse que eu deveria ligar. Ela quer falar comigo pessoalmente.' Eu não conseguia acreditar na naturalidade com que ela agia. Será que ela não percebia o quão insano aquilo era? Eu não ia mesmo voar para a América do Sul para ver o Ozzy, né? Fui dormir atordoado e fiquei acordado por horas.
Lynn e eu estávamos em contato constante naquele novembro e dezembro. Ela sempre perguntava sobre o planejamento da nossa viagem, e cada conversa era prolongada por uma enxurrada de interrupções, já que o outro telefone dela não parava de tocar, e ela me deixava em espera enquanto resolvia as coisas importantes pelas quais era paga.
Nos conectamos instantaneamente. Eu não fazia ideia do porquê de tanta paciência comigo – acho que era por causa da personalidade genuína dela: calorosa e prestativa. Ela era uma secretária inglesa na casa dos vinte e poucos anos que trabalhava no ramo da música desde que saiu da escola, enquanto eu era um jovem irlandês de quinze anos, mas conversávamos com facilidade.
Na primeira vez que conversamos, ela me contou sobre um incidente constrangedor quando Rod Stewart se aproximou da mesa dela em um pub, acrescentando: 'Nem o Ozzy e a Sharon sabem dessa história!'
Desde o início, porém, eu sabia que minha escola, o Campbell College, seria um problema. O festival acontecia de 11 a 20 de janeiro, no auge do ano letivo. A menos que me concedessem duas semanas de folga, eu não poderia ir. Era um tradicional internato britânico só para meninos (embora também tivesse alunos externos como eu), uma instituição presa à sua história, onde nossas provas eram elaboradas por Oxford e Cambridge.
Usávamos boné e bermuda até os treze anos – mesmo na neve e na chuva congelante – e, quando um adulto entrava na sala de aula, ficávamos de pé. No recreio, a lojinha de doces era administrada pela esposa do diretor, e o máximo que podíamos gastar eram quinze centavos. Fazíamos fila para esperar nossa vez, e se ela ouvisse algum barulho – um sussurro, uma risada, qualquer coisa – ela fechava a portinhola com força e permanecia fechada até que houvesse silêncio absoluto.
A pior parte era a semana de seis dias. Tínhamos aulas todos os sábados. Foi enriquecedor e desafiador, mas às vezes parecia viver num romance de Dickens, antiquado e conservador ao extremo. E não era o tipo de instituição de ensino que concederia aos alunos uma longa ausência para assistir a um show do Ozzy Osbourne. Implorei à minha mãe que escrevesse outra carta e a entreguei no gabinete vitoriano do diretor, apresentando o argumento que eu já havia ensaiado oitenta vezes.
Ele me fez esperar até a semana seguinte, quando cheguei em casa e vi um envelope no chão, embaixo do banco do telefone, onde estava aninhado depois de ter sido arremessado com força pela caixa de correio pelo carteiro. Peguei-o, passei o polegar sobre o brasão da escola gravado no envelope branco impecável, inflei as bochechas e o abri.
Havia um preâmbulo sobre o pedido ser extremamente insatisfatório... altamente irregular... não querer criar um precedente... mas ele havia consultado meu orientador, que me descreveu como 'ouro puro' e acrescentou: 'Uma viagem ao Brasil deve ter algum valor acadêmico'.
Finalmente, a frase crucial que ainda consigo recitar: 'Eu concordo, sob protesto, e peço que isso não aconteça novamente.'
O motivo de eu me lembrar disso é porque eu não sabia o que 'concordar' significava. Mergulhei na minha mochila e folheei meu dicionário de bolso surrado. Radiante, mal podia esperar para contar aos meus pais pessoalmente e liguei para eles no trabalho. Estava decidido."
O livro de Stephen Rea já está disponível – em inglês, obviamente – nas principais plataformas online. Só lá você saberá a conclusão da aventura. Ozzy Osbourne realizou dois shows no Rock in Rio. O Madman foi o primeiro artista internacional oficialmente contratado para o evento.
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