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Gothic/Doom/Atmospheric/Neoclassical: Os melhores discos - Parte 1

Por Paulo Faria
Fonte: Paulo Faria
Postado em 09 de maio de 2020

Listas, sejam elas quais forem, são sempre injustas pelo simples fato de serem isto: listas. E por sua natureza carregam o gosto pessoal de quem as elabora, o momento, a tal "vibe", etc. Quando se trata de rock, já vimos um sem-número de listas, sejam nas revistas Rock Brigade, Rolling Stone, Roadie Crew e no próprio site WHIPLASH.

Então vamos lá: antes de começar a esmiuçar quais os melhores discos de gothic/doom/atmospheric/ambient music e suas derivações quero fazer uma breve introdução que vale a pena ser lido. Primeiro: eu já curtia rock e heavy metal desde os anos 90, mas ainda não havia tido contato com o gothic metal na sua profundidade devido à dificuldade de se comprar um CD ou achar pessoas, no interior, onde moro, que fossem aficionadas pelo estilo. (Vale aqui uma curiosidade: um amigo meu à época, por volta de 1998, reproduziu uma fita K7 do seu cunhado que por sua vez tinha reproduzido de uma outra fita k7 de um primo. A fita em questão era do PARADISE LOST "Draconian Times", e todos juravam que aquele som se tratava de um trabalho do METALLICA. Sim! Passei ao menos uns sete anos acreditando que aquela fitinha era um trabalho do... METALLICA! Só com o advento da internet aqui no interior das Minas Gerais que fui, enfim, resolver esse engodo.)

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Dito isto, vamos ao segundo ponto: meu contato de fato com aquele doom atmosférico se deu no começo dos anos 2000 quando um amigo me emprestou um CD promocional da extinta revista Planet Metal. A Banda: SILENT CRY. A música: "Innocence". Quando parou naquele play ("Inoccence") aquilo me tocou de tal forma que eu não parava de ouvir. Às vezes eu varava a noite escutando aquela canção. A partir dali, além de comprar tudo da banda, de ir a shows, etc., me fez também começar a garimpar o máximo de bandas do mesmo estilo, inclusive as que influenciaram a SILENT CRY. Despertou ali um sentimento por um estilo musical que me acompanha até hoje. Isso só fez aflorar meu estado emocional, melancólico, que eu já carrego somado a um tipo de arte totalmente sentimental.

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O terceiro ponto: como eu disse acima que "listas são listas" e por essência elas são injustas, farei aqui, em vários capítulos, apresentações de bandas e discos que considero essencial para quem curte gothic/doom e seus apêndices; descreverei aqui discos "obscuros", inclusive, vários que não deram as caras aqui no Brasil. Nesta esteira, não me prenderei apenas ao gothic/doom. Farei um "arremate" em estilos que se complementam como o ‘ambient music’, ‘new age’, ‘neoclassical’, ‘darkwave’... uma outra coisa: da santíssima trindade do gothic/doom, MY DYING BRIDGE, PARADISE LOST e ANATHEMA, só citarei a última por motivos puramente pessoais, pois convenhamos: pra quem está ligado no assunto, falar deste três ícones é chutar cachorro morto. Durante a confecção deste trabalho certamente faltará aquele disco preferido de algum leitor do WHIPLASH ou ainda entrará na lista possivelmente mais de uma vez a mesma banda. Endossando a questão de que "listas são listas, e elas são um reflexo pessoal de quem as produz, se faltar alguma coisa, a área de comentários está aberta para reclamações, sugestões, críticas e elogios, lembrando sempre que educação e bom senso nunca são demais.

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Como a introdução ficou longa, apresentarei aqui o primeiro disco, tendo em vista que nas outras publicações sempre serão de quatro em quatro discos. Vamos lá!

SILENT CRY
Goddess of Tears
(2000, Demise Records)

A SILENT CRY, banda mineira de Governador Valadares, gravou sua primeira demo em 1994 "Tanatofilo, Opulente Pleniluneo", marcado pela lentidão e obscuridade. A partir dali a banda já sabia qual caminho trilharia, e depois de seu debut, "Remembrance", de 1999, eis que a banda entra num estúdio em 2000 em Belo Horizonte e sai de lá com o melhor disco de Gothic/doom do mundo! E motivos para fazer tal afirmação não me faltam. Ali, no começo dos anos 2000, começava a "modinha" "a bela e a fera" (um cachorrão urrando e uma mina cantando). Mas o que faz o álbum "Goddess of Tears" ser o melhor álbum do mundo dentro deste estilo? Vamos por partes. Primeiro, os arranjos. O disco não é aquela morosidade típica das mais de trocentas bandas do estilo que ficam oito, nove minutos sem variar um grauzinho na guitarra, nas vozes ou nos teclados. "Goddess of Tears" é diferente: do disco se extrai aquele som caótico que varia o tempo todo: numa mesma canção onde se tem bumbos duplos e os urros infernais de Dilpho Castro a música é entrecortada por singelos arranjos de teclados ou vocalizações suaves. Por falar em teclados, e sem desmerecer o conjunto da obra, é aqui que a coisa dá a tônica: o finado Bruno Selmer, à época ainda um garoto, fez um trabalho tão fenomenal aqui que você não encontra comparação com nenhum outro disco do estilo. Selmer criou uma atmosfera tão única neste álbum que ouvindo dentro de um quarto com um bom aparelho de som, parece que as melodias são oriundas do além. As guitarras, baixo e bateria estão lá fazendo seu trabalho, mas os teclados teimam em criar uma atmosfera etérea transportando a banda junto com as vozes femininas. E aqui temos outro ponto: Suelly Ribeiro. É ela quem é responsável pelas vozes femininas e aí a gente tem uma outra discussão longa. LIV KRISTINE ESPENÆS, a deusa, é uma cantora sem precedentes, e isto é um fato quase unânime para quem é fã de gothic/doom com vocais femininos, mas isso até você conhecer Suelly Ribeiro. Não quero comparar ambas as cantoras, mas a forma de interpretar da vocalista Suelly Ribeiro é intensa e suas linhas vocais tão suaves que às vezes se tem a impressão de que um anjo está cantando. Ela é única e isso fez um diferencial danado para que "Goddess of Tears seja o que é.

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Este álbum da SILENT CRY, definitivamente, não se encontra parâmetro em nenhum outro lugar do mundo, mesmo seguindo o clichê "a bela e a fera". Parece que a galera certa se encontrou no lugar certo para gravar o disco certo. Os vocais de Dilpho Castro vão da melodramaticidade do doom ao black metal; as guitarras conduzidas também pelo vocalista e Cassio Brand às vezes choram (ouça a faixa "Cryin Violins" para entender o que estou falando); a atmosfera etérea ficam a cargo da vocalista Suelly Ribeiro somados aos arranjos ÚNICOS de Bruno Selmer; e a condução da banda ficam a cargo de Roberto Freitas, baixo; e Ricardo Meirelles que espanca a bateria sem dó nem piedade. Dizem que parar pra ouvir Gothic/doom metal é pedir para dormir, mas não aqui. A sensação de ouvir este álbum é ter a certeza de que ele te trará um misto de sensações únicas: tristeza, nostalgia, e acredite, até adrenalina. Pra você ter uma ideia, possuo o CD desde 2002, e ainda hoje, quando o ouço, consigo capitar detalhes, mesmo 18 anos depois!

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Na época do lançamento, a revista Rock Brigade deu nota 9 para o trabalho. Dado a repercussão do disco no meio underground, o tecladista Bruno Selmer, como me confidenciou tempos depois o baterista Ricardo Meirelles, andou pela cidade de Valadares inteira com um exemplar da revista debaixo do braço mostrando para todo mundo. (A revista, à época, deu uma frisada especial nos trampos de teclados e pode ser que isso tenha mexido um pouco com o ego do tecladista).

Seja como for, tenho orgulho de começar esta série com este álbum tão importante para mim bem como para o underground mundial. "Godess of Tears é simplesmente um trabalho único que como já citei acima, não encontra parâmetro em lugar nenhum no mundo e possivelmente alguma banda irá superá-lo.

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Sobre Paulo Faria

Paulo Faria tem um montão de anos; é um amante do cinema de horror, literatura e rock 'n' roll. É professor por formação, humorista por conveniência, músico por obsessão e escritor por aspiração.
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