Dio: a tríade de ouro do vocalista
Por Ricardo Seelig
Fonte: Collectors Room
Postado em 24 de fevereiro de 2016
No dia 10 de julho de 1942 nascia em Portsmouth, nos Estados Unidos, Ronald James Padavona. 67 anos depois, em 16 de maio de 2010, falecia em Los Angeles Ronnie James Dio, nome pelo qual o pequeno Ronald ficou conhecido em todo o planeta. Em quase sete décadas de vida, Dio participou de inúmeras bandas e gravou quase uma centena de discos (incluindo compactos e LPs).
Após o bom trabalho feito no Elf ao lado de seu primo David Feinstein, o reconhecimento veio ao lado de Ritchie Blackmore no Rainbow, na segunda metade dos anos 1970. Depois da parceria com o homem de preto, Ronnie reinventou o Black Sabbath ao substituir Ozzy e fazer a banda soar totalmente diferente. E, finalizando esse processo, aplicou todo o conhecimento e experiência adquirido em anos na estrada com músicos do quilate de Blackmore, Cozy Powell, Tony Iommi e Geezer Butler na banda que batizou com o seu próprio nome e se tornou um dos mais importantes e influentes nomes do metal dos anos 1980.
É muito difícil apontar qual foi o melhor disco gravado por Ronnie James Dio em sua longa carreira. No entanto, três títulos inegavelmente se destacam em uma discografia: "Rising" (1976), "Heaven & Hell" (1980) e "Holy Diver" (1983). Abaixo, os detalhes e os motivos que fazem destes três álbuns o ápice de Ronnie James Dio.
Lançado em 17 de maio de 1976, "Rising" é o segundo disco do Rainbow, banda formada pelo genial Ritchie Blackmore após a sua saída do Deep Purple em 1975. Sucessor do debut auto-intitulado, acentua os propósitos épicos e medievais que Blackmore almejava e apresenta uma sonoridade que influenciou profundamente todo o heavy metal produzido nos anos posteriores. Ritchie manteve apenas Ronnie na formação que gravou o álbum de estreia, montando uma banda dos sonhos com Tony Carey (teclado), Jommy Bain (baixo) e Cozy powell (bateria). O resultado é um disco arrebatador, com uma produção poderosa assinada por Martin Birch.
A concepção musical de "Rising" é toda de Blackmore. Dio consta nos créditos como parceiro de Ritchie em todas as canções, mas isso se dá pelas letras, todas assinadas pelo vocalista. Além da dupla, o outro destaque principal do álbum é a bateria de Cozy Powell, técnica e pesadíssima. Talvez o principal discípulo de John Bonham, Powell tem em "Rising" a principal performance individual de sua carreira, abortada precocemente em um acidente de carro em 1998.
Com apenas seis faixas, "Rising" traz o grupo voando alto em clássicos como "Tarot Woman", "Starstruck" e "Stargazer", onde é possível ouvir de maneira clara e sentir quase fisicamente a força e a dimensão que o Rainbow da época conseguia imprimir em cada canção. Dio, mais seguro após a boa aceitação do primeiro disco, canta com personalidade e como se o posto ao lado de Ritchie Blackmore fosse seu por direito desde o início dos tempos. Apesar de já contar com 34 anos na época, Ronnie não deixava de ser um novato, já que suas bandas anteriores nunca haviam atraído os holofotes e, no Rainbow, ele era o braço direito de um dos maiores guitarristas da história.
"Rising" soa atual até hoje e é, na minha opinião, um dos três melhores álbuns de hard rock lançados durante os anos 1970 e um dos discos mais importantes e influentes do rock pesado.
Ronnie James Dio saiu do Rainbow em 1978 após Ritchie Blackmore decidir que levaria o som da banda em direção a uma música mais acessível, visando o mercado norte-americano, direcionamento esse que seguiu a risca em álbuns como "Down to Earth" (1979) e "Difficult to Cure" (1981). Dio, por sua vez, viu o mundo dar um giro de 180 graus. Na época, o Black Sabbath havia mandado Ozzy Osbourne embora devido aos problemas crônicos do vocalista com todo e qualquer tipo de entorpecente. Os caminhos de Ronnie e do Black Sabbath se cruzaram, e dessa união nasceu um dos melhores trabalhos da lendária banda inglesa.
Lançado em 25 de abril de 1980 e contando, assim como "Rising", com Martin Birch na produção, "Heaven and Hell" reinventou o Black Sabbath. A música dos pais do heavy metal soa mais épica e técnica no disco, contrastando de maneira clara com os álbuns gravados com Ozzy durante a década de 1970. As oito canções, apesar de creditadas para toda a banda, são, na verdade, criações de Dio e Iommi. Ambos se acertaram de imediato como parceiros, transbordando inspiração. "Heaven and Hell" marca também um passo importante na carreira de Ronnie James por apresentar o músico indo além do que fazia no Rainbow, onde compunha apenas as letras e algumas melodias vocais, e trocando figurinhas de maneira profunda com Iommi, afirmando-se como excelente compositor.
"Heaven and Hell" soa praticamente como uma coletânea. Seis de suas oito faixas se tornaram clássicos do Black Sabbath - "Neon Knights", "Children of the Sea" (primeira canção composta por Dio e Iommi), "Lady Evil", "Heaven and Hell", "Die Young" e "Lonely is the Word" -, comprovando a imensa capacidade criativa da nova encarnação do grupo. Livre da sombra de Blackmore, Ronnie chama para si a responsabilidade e assume sem maiores traumas um dos postos mais cobiçados no cenário musical da época, brilhando intensamente e revelando-se a pedra fundamental que provou ser possível a existência de um Sabbath sem Ozzy. Sua performance em todo o disco é arrebatadora, com destaque para os vocais de "Children of the Sea", "Die Young" e da faixa-título.
Desentendimentos causados durante o processo de mixagem do duplo ao vivo "Live Evil" (1982) - Dio fazia um mix durante o dia enquanto Iommi e Butler alteravam tudo à noite - fizeram com que Ronnie saísse do Black Sabbath em 1982. Porém, depois de anos dividindo as atenções com outros protagonistas, chegava a hora de Ronnie James Dio brilhar de maneira intensa em sua própria banda. Para ocupar o lugar que já havia sido de Blackmore e Iommi, Ronnie encontrou o jovem prodígio irlandês Vivian Campbell, então com apenas 22 anos. No baixo o parceiro dos tempos do Rainbow, Jimmy Bain, enquanto a bateria foi assumida por Vinny Appice, herdeiro da dinastia rítmica iniciada por seu irmão Carmine.
"Holy Diver", estreia da banda batizada com o sobrenome artístico do vocalista, chegou às lojas em 23 de maio de 1983 e apresentou ao mundo o jeito Dio de fazer heavy metal. Com letras repletas de fantasia e uma música cortante e cheia de energia, o disco galgou rapidamente o gosto dos fãs e voou até o topo, transformando-se com o tempo em um dos maiores clássicos da música pesada. A produção, assinada pelo próprio Dio, contrastava com a refinada sonoridade criada por Birch para "Rising" e também com o gorduroso som presente em "Heaven and Hell". Com a guitarra de Campbell lado a lado com sua voz, Dio, então com 41 anos, gravou aquele que é, provavelmente, o mais autoral de todos os seus trabalhos.
As faixas de "Holy Diver" formam um tracklist sólido, consistente e refrescante. Ao menos seis das nove canções fazem parte do inconsciente coletivo de qualquer fã de metal: "Stand Up and Shout", "Caught in the Middle", "Don’t Talk to Strangers", "Straight Through the Heart", "Rainbow in the Dark" e a fenomenal faixa-título.
Dio bate no peito e canta com a alma, no mesmo nível que apresentou em "Rising" e "Heaven and Hell", porém acrescentando uma dose maior de agressividade como elemento permanente de sua performance a partir de então.
Ao pensar ou analisar o metal produzido durante a década de 1980, "Holy Diver" ocupa lugar fácil entre os 10 melhores discos produzidos no período - que, diga-se de passagem, é farto em excelentes títulos.
[an error occurred while processing this directive]"Rising", "Heaven and Hell" e "Holy Diver" apresentam, cada um a sua maneira, o ápice do vocalista em momentos diferentes de sua carreira. No auge de seus poderes, Ronnie James Dio construiu o culto em torno do seu nome e de sua voz com estes três álbuns. É quase impossível dizer qual é melhor. Por via das dúvidas, é sempre bom ouvi-los novamente, recordando canções e descobrindo novos detalhes.
E pra você, qual foi o melhor disco gravado por Ronnie James Dio?
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