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Cammie Gilbert: mulher e negra em um dos melhores álbuns de metal de 2020

Por Leonardo Daniel Tavares da Silva
Postado em 27 de setembro de 2020

O Oceans of Slumber é uma banda americana de Houston, Texas e foi formada em 2011. Com a entrada da vocalista Cammie Gilbert em 2014, a banda definitivamente mudou de patamar e seus trabalhos ganharam em qualidade e originalidade.

Desde que assumiu o posto, Gilbert se tornou a principal compositora e a banda, desde então, cada vez mais mostra que tem muito a dizer e a fazer dentro do cenário da música pesada.

Com um fantástico álbum homônimo recentemente lançando via Century Media Records, o Headbangers Brasil através de um de seus redatores, o carioca Augusto Hunter, pode bater um papo super descontraído com a cantora Cammie Gilbert. Entre os vários assuntos ela comentou sobre sua entrada no Oceans of Slumber, sobre o novo álbum e acredite, sobre Michel Teló, he he. Confira essa sensacional entrevista.

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Headbangers Brasil: Em primeiro lugar, obrigado pela atenção conosco. Como você entrou na banda, Cammie?

Cammie Gilbert: Estou na banda desde 2014. Eu estava em uma banda local que abriu para ‘Oceans of Slumber’ em um show beneficente e Dobber me viu cantando e queria que eu colaborasse com eles em seu próximo álbum. E então ele me pediu para entrar no estúdio e ver algumas das músicas. E nós estávamos tentando algumas músicas e então o cantor deles saiu. E então ele me pediu para refazer o álbum e ser a nova cantora. Nós meio que partimos daí.

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HB: Legal. Quando você entrou no Oceans of Slumbers, você gravou ‘the Blue EP’, com algumas covers, que foi o principal caminho para que mais fãs prestassem mais atenção no ‘Oceans of Slumber’. Você pode mensurar o significado deste EP na sua carreira?

CG: Bem, estávamos fazendo naquele momento o álbum "Winter", que estava pronto, e eu havia regravado as canções para esse trabalho. E estávamos envolvidos na assinatura do contrato com a gravadora, que queria lançar o disco. Mas o cronograma para tudo isso se prolongou e para aproveitar o tempo, então pensamos o que fazer… Dobber achou que seria uma boa ideia mostrar minha voz e como ela se traduzia. Você sabe, como esse tipo de canções clássicas. Lançar o ‘the Blue EP‘ foi como uma espécie de trabalho intermediário. E então nós fizemos e acho que foi uma maneira mais fácil de familiarizar as pessoas com os tons de minha voz e prepará-las para o que estava por vir no álbum "Winter".

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HB: Legal, legal. Sim, eu adoro "Winter". Mas é bom saber que você teve que gravar esse álbum, porque a meu ver, é uma marca na sua carreira, fazendo com que a banda alcançasse posições mais altas e acredito que podemos dizer que o "Winter" é um ponto de virada em sua carreira.

CG: Sim, acho que foi mais um subconjunto, sobre que tipo de arranjo e que tipo de misturas íamos fazer em diferentes gêneros do metal. Você sabe, eu acho que definitivamente deu o tom do que éramos capazes como uma banda.

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HB: Legal. Antes de entrarmos no novo trabalho, você pode nos descrever a arte? O que você pode nos contar sobre a arte do álbum ‘Oceans of Slumber’?

CG: Foi feita pelo nosso bom amigo Giannis Nakos. Ele fez todos os nossos designs de camisas, ou quase todos os designs de nossas camisas. E basicamente somos amigos íntimos. Então foi simples para nós entrarmos em contato, e dizer que adoraríamos que ele finalmente fizesse uma capa de álbum para nós. Enviamos o disco para ele e demos uma completa liberdade artística para interpretá-lo como ele quisesse e ele nos enviou de volta esta enorme imagem dinâmica. E o que vemos na capa é, na verdade, uma parte dela. Mas tem sido fantástico tê-lo trabalhando conosco e ele fez as capas dos singles também. E é assim, está totalmente sujeito a interpretação já que nós, você sabe, não demos a ele nenhuma direção. Apenas o deixamos livre, você sabe, para decidir o que significava para ele e interpretar como ele achasse melhor. Então é uma obra incrivelmente bela, no sal, a física da água, e acho que existe aquela mesma maravilha na morte e emoção. Existe a aspereza que trazemos para nossas canções, com este ritmo que é um pouco mais rápido e a energia um pouco mais alta. Acho que demos um alívio um pouco mais emocional com este álbum no conteúdo das canções. Mas também com esses lampejos de esperança ao longo do álbum e isso pode ser uma espécie de reminiscência de quais sentimentos existentes no "Winter". Em um visão no geral, este é um passo muito confiante em direção ao que nós capturamos em nossos sons e em nossa abordagem da dinâmica, e que queremos para usar em nossos álbuns. Acho que os fãs ficarão bastante satisfeitos com a jornada que os levará adiante.

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HB: Ouvindo essas músicas há algo que sempre amei nos sons de ‘Oceans of Slumber’ por coisas como por exemplo: Enquanto a bateria impõem uma batida brutal, tem um vocal delicado rolando ao mesmo tempo. E é normal. Certo? E eu amo isso. O que você pode dizer? Conte-nos como vocês chegaram a esse som? Como você conseguiu fazer isso?

CG: E para nós isso acontece organicamente. Ele adora tocar rápido. Ele é um baterista dinâmico e incrivelmente talentoso. E a música pede por isso, sabe, um teatro explosivo, ele está enlouquecendo na bateria então é depois disso que começo a me sentir compelida. Você sabe, eu sei que posso cantar acima dele e poder corresponder a essa energia, então eu simplesmente vou em frente. E está apenas dentro do nosso jeito, são as ferramentas que eu tenho para abordar essas músicas que simplesmente funcionam dessa maneira.

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HB: Há grandes, grandes, grandes momentos de passagens extremas. E se há uma coisa que eu gosto, é o retorno das vozes guturais contrastando e é com isso alcançar a todos, não é?

CG: Sim, eu realmente queria que todos cantassem. E então com isso, você sabe, rosnar, eu amo solos baixos e pesados. E assim todos contribuíram com vocais diferentes e isso, você sabe, nos dá uma grande variedade de sons e dinâmicas.

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HB: Legal. E agora, antes do lançamento do novo álbum, vocês lançaram uma incrível versão para a canção ‘Strange Fruit’ que ficou linda. Foi um momento importante para você que mora nos Estados Unidos. Você pode nos contar a recepção dessa música cover e como foi importante para você cantar "Strange Fruit"?

CG: Tom e eu temos muito respeito por essa música há algum tempo. Tínhamos em nossa lista de ‘covers’ a fazer. Eu senti que este ano seria um bom ano para fazer isso. Originalmente, queríamos fazer isso para o Mês da História Negra aqui nos EUA, que é em fevereiro [N.T. O Black History Month é uma comemoração anual que começou nos Estados Unidos, mas também é observado na Inglaterra (onde acontece em outubro), Irlanda, Holanda e Canadá] . Mas dado o cronograma para terminar o vídeo e depois resolver os problemas dos direitos autorais, acabou sendo adiado e não poderíamos fazer isso a tempo para o Mês da História Negra. Mas depois todas essas outras questões e coisas que surgiram, ela saiu com muita relevância para o que estava acontecendo no momento. E foi muito importante porque, você sabe, é uma música muito histórica e definitivamente tem muito, você sabe, um peso nisso, que ao assumir, tivemos que realmente nos perguntar, você sabe, como nos sentimos sérios sobre a contribuição que estávamos tentando dar e obviamente, prestar muito respeito do jeito que podemos. Acabamos trocando. Portanto, como é uma tarefa realmente importante, onde, você sabe, nós colocamos muitos pensamentos sérios nisso. Isso foi importante. Mesmo com todas as coisas que aconteceram, todas as coisas que estão acontecendo durante esses anos. Então, eu acho que essas músicas, elas tem uma importância enorme, enorme.

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HB: Absolutamente. Eu acho que é uma pena que algo como a música tivesse tanta relevância agora e estar tão conectado a tudo o que está acontecendo. E isso torna mais importante reviver e compartilhar e fazer, fazer, fazer aqueles sentimentos conhecidos pelas pessoas agora, novamente. É triste, mas é verdade. Eu acho que você, você é um dos poucas musicistas que fazem metal e é negra. Você pode nos contar por que existe essa falta de negros na cena do metal e importante que você está ficando conhecida por todo o mundo.

CG: Acho que isso tem a ver com a falta de exposição, mas de um diferente tipo em comunidades negras. O metal em comparação com outros gêneros pode ser considerado um pouco mais recente, especialmente certos subgêneros dentro do metal. Para a vasta gama de ouvintes, pode ainda estar bastante concentrado em apenas algumas áreas. Eu sei, mesmo crescendo nos EUA eu não era exposta a nada que não fosse metal mainstream, e mesmo assim não muito e tampouco saía do meu caminho para encontrá-lo, sabe, com bandas como Metallica, como Slipknot e outras. Eles não estavam por perto e eram considerados mainstream por sua popularidade em relação as bandas como Katatonia ou Enslaved. Eles nunca vieram até aqui e só na minha vida adulta descobri sobre o metal. E não seria de pessoas da minha família que eu iria conhecer. E então eu acho que a exposição desempenha um grande papel, mas agora com a internet e as gerações mais jovens sendo tão carregadas na internet, que eu acho que isso está definitivamente ampliando a quantidade de culturas e todo tipo de pessoas que ficam expostas ao metal e sentem que também podem contribuir ou se apaixonar por esse som. E acho que vai mudar ou vai continuar mudando. Espero que você saiba, posso inspirar pessoas de qualquer cultura de cor que, se quiserem, e se eles tiverem a motivação certa, eles podem, você sabe, eles podem fazer você fazer qualquer tipo de música que eles querem fazer.

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HB: Sim, eu só acho que você está motivando, porque você é incrível, uma cantora incrível. E como você disse, a geração da Internet, as pessoas podem entrar com um toque, com tanta facilidade. Já a nossa geração, porque tenho 38 anos, para mim, para conhecer música, tive que ir às lojas e comprar e procurar muito. Hoje em dia é bem mais fácil né?

CG: Sim, sim, absolutamente. E então, com o Spotify, você ouve uma banda, até porque você está curioso e vai conhecer mais bandas com esse som. Então eu acho que é uma ótima maneira de obter exposição a tantas coisas.

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HB: E antes de encerrar essa conversa incrível, você pode nos dizer se você ouve música brasileira? E se você se interessa por música, que tipo de música brasileira você gosta de ouvir?

CG: Acho que não, acho que não conheço nada em particular. Principalmente na música brasileira. Você fala português, correto?

HB: Sim, falamos português.

CG: Então tem uma música que eu conheço há muito tempo, e acho que é em português. É como uma música de dança. É como "No Sir. No Sir. Assim você me mata"…

(N.R.: MUITOS RISOS)

HB: Oh, Deus. Você está cantando uma música do Michel Teló. É um cantor brasileiro de um tipo de música country.

CG: [Ainda rindo bastante] Não sabia que era considerado country. Eu conheço, porque eu aprendi a dançar quando era muito mais jovem e sim, ela foi comparada à "Macarena" e ganhou muita popularidade, então me lembro de ter aprendido as danças com meus amigos da comunidade latina daqui. As pessoas achavam que era uma música em espanhol. É uma música em português. Estou assumindo que é uma canção brasileira. Sim.

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HB: Com certeza

CG: Mas eu não procurei muito para encontrá-la. Mas é isso. Acho que é a única que conheço.

[Só aqui os risos pararam]

HB: Legal. Você pode mandar uma mensagem para todos aqui no Brasil?

CG: Sim, estamos muito animados para tentar ir ao Brasil. Definitivamente está na lista. É um pouco mais difícil descobrir rotas de turnê e coisas por ai. Mas estou absolutamente apaixonada e vamos fazer nossos caminhos se cruzarem com o Brasil. Esperamos que todos estejam seguros e saudáveis. E você sabe, estamos ansiosos para ver todos cara a cara e certamente trabalhando algo para chegar ao Brasil logo, mais cedo ou mais tarde.

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Matéria publicada originalmente no Headbangers Brasil
Entrevista: Augusto Hunter
Tradução: Paulo Márcio

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Sobre Leonardo Daniel Tavares da Silva

Daniel Tavares nasceu quando as melhores bandas estavam sobre a Terra (os anos 70), não sabe tocar nenhum instrumento (com exceção de batucar os dedos na mesa do computador ou os pés no chão) e nem sabe que a próxima nota depois do Dó é o Ré, mas é consumidor voraz de música desde quando o cão era menino. Quando adolescente, voltava a pé da escola, economizando o dinheiro para comprar fitas e gravar nelas os seus discos favoritos de metal. Aprendeu a falar inglês pra saber o que o Axl Rose dizia quando sua banda era boa. Gosta de falar dos discos que escuta e procura em seus textos apoiar a cena musical de Fortaleza, cidade onde mora. É apaixonado pela Sílvia Amora (com quem casou após levar fora dela por 13 anos) e pai do João Daniel, de 1 ano (que gosta de dormir ouvindo Iron Maiden).
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