Dorsal Atlântica: "Este é o momento de afirmação da liberdade de pensamento e da arte"
Por Frederico Borges
Fonte: Goblin Filmes
Postado em 04 de agosto de 2020
Em entrevista à Goblin Underground TV, Carlos Lopes fala sobre o crowdfunding do novo álbum da Dorsal, Pandemia, comenta sobre sua discografia e relembra momentos inusitados de sua carreira, como quando foi acusado de ser o anticristo no interior de Minas.
Se a caótica situação sanitária, política e econômica dos dias atuais tem uma única repercussão positiva sequer, certamente é a de sua influência nas artes. E mentes inquietas como a de Carlos Lopes, fundador da lendária banda Dorsal Atlântica, são a prova viva disso. Em uma entrevista concedida ao canal Goblin Underground TV, o músico apresentou a campanha de crowdfunding de seu novo álbum, revisitou momentos marcantes de sua carreira e discorreu sobre temas tão diversos quanto política, história e espiritualidade.
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Apropriadamente intitulado Pandemia, o novo trabalho da Dorsal Atlântica relata uma distopia tanto próxima de George Orwell quanto da realidade, além de dar prosseguimento à incessante busca da banda por uma sonoridade tipicamente brasileira. O álbum só será lançado, no entanto, com a adesão dos fãs à campanha de financiamento, que vai até o dia 15 de agosto. Levando em conta o alto nível criativo e a participação do público em projetos anteriores da Dorsal, também viabilizados por meio de crowdfunding, a meta será facilmente alcançada.
Confira, a seguir, a transcrição de alguns trechos do bate-papo e, ao final, a entrevista na íntegra e o link para a campanha de financiamento.
Recurso do crowdfunding
"Nós estamos em campanha para financiar o novo disco, chamado Pandemia. (...) uma campanha neste exato momento, em que há uma crise política e sanitária, esse é um momento de afirmação da liberdade de pensamento e da arte. (... ) Então a questão é coletiva, é um trabalho coletivo, em que todo mundo assume um nível dessa responsabilidade. (...) A gente é um sonho só, é um sonho que se sonha junto, um sonho de um país melhor, de um Brasil melhor e que seja sempre com a arte conectada aos nossos mais profundos desejos".
O álbum Pandemia
"É uma alegoria sobre a situação atual, tanto sanitária, quanto política e humana. O disco faz uma analogia com dois livros do George Orwell, que são Revolução dos Bichos e 1984. Musicalmente, é uma linha que segue a linha do Canudos, que é essa busca e afirmação da criação e fortalecimento de um novo rock pesado totalmente focado em nuances brasileiras".
O anticristo em Lambari-MG
"Eu fui dormir no hotel, aí me acordaram de manhã: ‘oh, eu acho melhor você olhar na janela’. Quando eu olho, tem uma procissão, com padre, com um monte de gente rezando o terço, um monte de senhoras. E eles estavam ‘abaixo o anticristo, abaixo o anticristo’. Quem era? Eu. O padre tinha feito uma missa de manhã na igreja, dizendo que o anticristo estava na cidade e que era eu, que eu deveria ser expulso".
Influenciando Max Cavalera
"A gente conheceu uns meninos e um menino chegou para mim e falou ‘cara eu vou montar uma banda inspirada em você, porque agora eu sei que é possível fazer isso no Brasil’. Era o Max Cavalera, era um menino, que tinha vindo (ao evento em Lambari) no ônibus do Overdose".
Primeiros shows em SP
"A plateia estava tentando entender o que estava acontecendo ali, não era natural para um paulista aquilo, entendeu? Era uma concepção diferente e eu lembro que tinha parte da plateia que ficava me xingando. Então eu lembro muito dessas duas frases: ‘surfistas, voltem para casa’ e ‘seus punks cabeludos’. Então é abrir o terreno à força".
História do Brasil e inspirações
"O Antes do Fim inteiro é um disco sobre a ditadura brasileira, que eu usei o nazismo para servir como alegoria. O Dividir e Conquistar, é um disco que também fala sobre relações humanas, sobre vários níveis de compreensão de relações humanas. Mas quando chega no Searching For The Light, que é a primeira ópera que eu escrevo, ele já é uma leitura do Brasil".
A primeira "opera-thrash" do mundo
"Segundo a imprensa internacional, foi. E a imprensa internacional apelidou de ‘opera-thrash’, naquele período. Porque, assim, no formato, era muito inusitado as letras não tinham rima, nenhuma rima. Era um livro que eu tinha escrito e resolvi cantar o livro inteiro, em ordem. O Searching For The light me parece mais compreendido hoje do que na sua própria época".
Alea Jact Est e o racismo
"Neste ano teve um desfile da Mangueira, com o mesmo tema do Cristo negro, e boa parte da imprensa lembrou desse fato. ‘Ah, a Dorsal Atlântica lançou um disco em 94 sobre o mesmo tema’. E agora começaram a entender o disco. O brasileiro é racista e ponto final. (...) Quando se mistura um negro, ainda hoje, com o salvador da humanidade, meu amigo, continua a dar problema. Então imagina quando eu lancei meu disco, lá atrás. Se eu fosse mainstream, eu ia até ser expulso do país, estou falando sério".
Straight e Madonna
"Então, estava na moda o Angra, se você puxar da memória, estava na moda o metal melódico. (...) Era a questão, assim, eu precisava romper com aquilo, com aquele lugar comum. Então eu decidi fazer um disco fora de prumo, totalmente inusitado. (...) Eu já devo ter falado isso, na época do Straight, o que eu mais ouvia era Madonna. E o que a Madonna me ensinou com o Straight? Seja direto".
Processo criativo e espontaneidade
"Meus caboclos dão a ordem, falam ‘é hora de agir’. E eu falo ‘beleza, mas eu estou sem ideias. Mande uma ajuda aí’. Aí a galera manda uma ajuda. (...) A capacidade de pegar o erro, o acaso, e transformar em algo benéfico. Porque a gente vive em um período, que, com o advento da gravação em computador, da digitalização, ninguém mais quer errar. Errar ficou feio. Você destrói uma carreira se você errar".
Motivos de não tocar ao vivo
"Você viu o filme do Anvil, não viu? Exatamente, aquilo ali. Só que eu vivo em um país de terceiro mundo e eles vivem em um país de primeiro, mas é igualzinho, a mesma coisa. Então se não tiver estrutura e se todo mundo não ganhar, não vale a pena, entendeu? Porque roadie também é profissional, técnico de som é profissional".
O que é ser bem-sucedido
"Hoje, pelas comunidades da Dorsal, no Facebook e nos grupos, os fãs são sociólogos, filósofos, historiadores, professores de todos os níveis, e isso é uma coisa que me deixa muito, muito orgulhoso. Então você tem níveis de carreira, não é? Economicamente, eu nunca fui bem-sucedido, mas, ideologicamente, ninguém chegou tão longe, ninguém".
A entrevista completa:
O crowdfunding:
https://www.catarse.me/dorsalpandemia
A produtora
Goblin Underground TV é o canal da Goblin Filmes sobre cultura alternativa. Aqui, a música e a arte do underground são disseminadas por meio de documentários, videoclipes, entrevistas, cobertura de eventos e vlogs. Com sede em Belo Horizonte-MG, a Goblin Filmes é especialista em produções audiovisuais e estratégias de marketing para artistas e empresas de diversos nichos.
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