Rebaelliun: O inesperado e desejado retorno
Por Alexandre Oliveira
Postado em 20 de julho de 2015
Meteórica. De 1998 a 2002, mais precisamente. Assim era resumida a história do Rebaelliun, banda gaúcha que, no boom da cena Death Metal brasileira, no trespassar de milênio, cravou seu nome com dois dos melhores álbuns tupiniquins já lançados: "Burn the Promised Land" (1999) e "Annihilation" (2001). Discos tão bons que justificaram as quatro turnês pelo Velho Continente, e os constantes pedidos, avolumados desde a popularização das redes sociais, por uma esperada volta. Atendidos.
Surgido das cinzas do embrião Blessed, no qual Fabiano Penna e Ronaldo Lima (guitarras), Lohy Fabiano (baixo/vocal) e Sandro Moreira (bateria) já maturavam a sonoridade que, pouco depois, ganharia a assinatura inconfundível dos gaudérios, é das cinzas do próprio Rebaelliun que o quarteto mais uma vez renasce, desta vez, contudo, mais maduros, e cientes de que a meteórica história merecia outro desfecho. Um desafio imenso, do qual estão certamente preparados. E ambiciosos.
Em 30 de junho você anunciou, em perfil pessoal no Facebook, a volta do Rebaelliun, após hiato de 13 anos. Na postagem, você afirmou ter esperado um bom tempo para divulgar a novidade. Quando iniciaram as conversas para a volta? O que determinou a decisão final?
Fabiano: Umas duas semanas antes de anunciar, a gente vinha pensando em fazer alguns shows pontuais; algumas pessoas próximas estavam conversando com a gente pra preparar um show pra 2016, tocar em algumas capitais e tal, e nos demos conta que a gente poderia se organizar e produzir um disco novo seguido de uma turnê, no lugar de armar toda uma estratégia pra fazer meia dúzia de shows apenas. O que determinou é uma série de fatores: a nossa vontade em fazer música juntos vem em primeiro lugar; foi o que nos motivou desde nossa adolescência e o que nos levou a ter uma banda e fazer o que fizemos lá no passado. Isso vem na frente de tudo. E o fato da banda nunca realmente ter morrido pros fãs do estilo, nem pros antigos, e me parece que pros novos também. Logo que a banda acabou, sempre ouvimos cobranças das pessoas pra banda voltar a produzir. Atualmente, com o lance das redes sociais, o cara te adiciona de um outro país, fala que tem teu disco, que ouve até hoje, que gostaria de ver a banda num palco; essas coisas contribuem, te mostram que teu trabalho foi relevante para um bom número de pessoas e que tem sentido botar esse trabalho pra funcionar de novo.
Durante o período de hibernação, em algum momento anterior vocês pensaram em voltar? Caso positivo, estiveram próximos em algum deles?
Fabiano: As conversas entre a gente sempre existiram, até mesmo logo após o fim da banda. Quando eu voltei a morar no sul, depois de um ano em São Paulo tocando com o Horned God (entre 2002 e 2003), a gente conversou e chegou até a fazer alguns ensaios. Mas era um momento complicado; pessoalmente estava todo mundo cheio de coisas pra resolver e a banda não teria espaço dentro de um contexto assim. E, em outras oportunidades, a gente conversou, esboçou uma volta, mas não chegamos a botar em prática, muito pela situação atual de cada um. Óbvio que hoje também temos nossas vidas, rotinas e problemas, mas é com certeza o momento mais propício pra gente se dedicar pro Rebaelliun, desde que a banda acabou.
Ronaldo: Certamente, houve alguns momentos nesses últimos anos em que tentamos reativar a banda, porém, por diversos motivos, não foi possível tornar isso realidade. Olhando agora em retrospecto, penso que realmente não era a hora adequada. Vivíamos outro momento em nossas vidas, tanto pessoal como profissionalmente, e, conforme você amadurece e vive outras experiências, também muda suas perspectivas e objetivos de alguma forma. Jamais voltaríamos com o Rebaelliun simplesmente por uma questão de ego ou por algum outro motivo que não fosse nossa vontade real de expressar nossa arte, de tocarmos juntos novamente e pelo amor que temos pela música extrema. O momento chegou e as coisas estão se encaminhando e acontecendo naturalmente.
Os planos para a volta parecem ser um disco novo e uma turnê em 2016. O que virá depois?
Lohy: O objetivo é dar continuidade aos trabalhos, promovendo o disco novo o máximo possível. Dessa vez, queremos tocar em lugares que ainda não havíamos tocado, como a região norte do Brasil e outros países que ainda não visitamos.
Ronaldo: Exatamente. Como o Lohy destacou, nosso objetivo é retomar nossas atividades plenamente e dar continuidade ao trabalho que estávamos desenvolvendo, atingindo um novo patamar, evoluindo os conceitos do nosso último álbum, "Annihilation", e promovendo a banda em todos os sentidos da melhor maneira possível. Existem muitas almas negras por aí a ser conquistadas pela música extrema do Rebaelliun; o mundo é vasto, e estamos sedentos por sentir o gosto do sangue e do aço que exalam dos campos de batalha novamente!
E isso significa mais discos, mais turnês, e mais anos pela frente? Ou é cedo para falarmos do futuro pós-2016?
Fabiano: Vamos concentrar todas as forças nesse disco e depois numa turnê, e acredito que depois disso pensaremos num novo disco e numa nova turnê, e assim por diante...
Com uma década e meia de espaço entre "Annihilation" e seu sucessor, fica óbvio que vocês entrarão em estúdio amadurecidos, como músicos e pessoas. Entretanto, o Rebaelliun é reconhecido e admirado pelo trabalho de quando vocês eram mais jovens e muito incertos do que viria pela frente. Como tentarão balancear a equação?
Fabiano: Sim, somos outras pessoas atualmente, inclusive com valores diferentes daquela época. A própria referência musical hoje é outra; todos nós ampliamos os horizontes em relação à música, cada um à sua maneira. Mas também levamos em conta quinze anos de energia contida pra produzirmos juntos; naquela época que a banda existiu a gente produziu muito, foram quatro lançamentos em três anos e meio, com quatro turnês fora do país; a gente viveu e respirou a banda 24 horas por dia por três anos e meio, e de repente aquilo não existia mais. Mas a vontade de fazer música continuou existindo, então temos certeza que esse período todo sem tocar juntos vai culminar em boas ideias pra fazer um álbum de retorno do nível que a banda e os fãs merecem.
Ronaldo: Penso que esse hiato de mais de uma década nos ensinou muitas coisas; amadurecemos bastante como pessoas e músicos, certamente. Sempre me considerei, acima de tudo, um músico, e, como tal, tenho interesses em diversos tipos de música, desde a música erudita até a mais extrema que existe. A opção pela música extrema foi uma questão de gosto pessoal, convicção, personalidade e identificação com esse estilo. Meus companheiros de banda também compartilham dessa mesma visão e talvez, por esse motivo, musicalmente tenhamos um diferencial dentro do estilo. Posso afirmar que nossa maior inspiração, sem falsa modéstia, são principalmente nossos próprios álbuns e nossas raízes musicais desde a adolescência, como Slayer e Morbid Angel, por exemplo, entretanto, sem querer soar igual a essas referências, mas sim capturar a essência e o espírito dessas bandas e elevar isso a outros patamares.
O processo de composição irá incorporar algum riff engavetado, ou alguma ideia dos tempos de Blessed (como ocorreu em "...and the Immortals Shall Rise")?
Fabiano: Não, o material vai ser 100% inédito. Vamos nos basear no que a gente fez lá atrás, isso sim; nossa referência maior pra compor esse disco novo até o momento está sendo o próprio "Annihilation".
Lohy: Temos como base o nosso último trabalho, mas a intenção é transcender o que já foi feito, tanto musicalmente, quanto liricamente. Mesmo que quiséssemos aproveitar algum material composto anteriormente, soaria datado e muito provavelmente aquém do que pretendemos mostrar com o trabalho novo.
Planejam também o lançamento de algum material ao vivo, já que materiais do tipo são escassos aos fãs do Rebaelliun?
Ronaldo: Cara, sempre tivemos interesse em lançar algo matador ao vivo, só faltou oportunidade na ocasião, e também ter uma estrutura adequada para isso. Nosso público sabe da força do Rebaelliun ao vivo (para mim talvez até maior do que em estúdio). Desta vez, penso que na hora certa irá acontecer de lançarmos algo como nosso próprio "Entangled in Chaos" [N.R.: disco ao vivo do Morbid Angel], e esperamos que isso ocorra em breve.
Como a banda vem lidando com a distância geográfica entre os membros (separados por três estados brasileiros), e no que isso influenciará na vindoura turnê?
Lohy: Sabíamos, desde o início, que essa seria uma questão que teríamos que administrar de forma muito sensata pra que todo o resto desse certo. É necessário muito planejamento e dinâmica para lidar com a distância. Temos a tecnologia trabalhando a nosso favor, então nesse quesito estamos bem amparados. Quanto à influência dessa distância para uma nova turnê, vai exigir uma logística diferenciada, mas nada que um planejamento bem articulado e eficiente não resolva.
Ronaldo: É isso mesmo. Planejamento, foco e determinação são fundamentais! Hoje em dia o mundo está perdendo suas fronteiras geográficas devido à tecnologia e à alta conectividade disponíveis. Bastante coisa pode ser feita de forma colaborativa e virtual. Essa é uma tendência global e irreversível, a qual procuramos usar a nosso favor.
Qual a última vez em que os quatro estiveram juntos, pessoalmente?
Fabiano: Não tenho certeza, mas acho que nós quatro juntos foi no início de 2002 ainda...
(surpreso) Há quanto tempo!
Fabiano: Todos nos encontramos várias vezes depois disso; o Lohy e o Sandro são vizinhos, ambos já vieram me visitar aqui em São Paulo; cheguei a encontrar o Ronaldo também, mas acho que os quatro juntos foi em 2002, um pouco antes da banda acabar.
O Rebaelliun "surgiu para o mundo" através dos esforços realizados no fim do século passado, quando vocês venderam tudo o que tinham e foram tentar a sorte na Europa, começando pela Bélgica. Ao longo dos anos, foram quatro turnês pela Europa. Depois, o nome se consolidou também no Brasil. Nessa volta, os planos serão novamente "de fora para dentro", ou pretendem focar simultaneamente em todos os mercados?
Fabiano: A gente fez um trabalho bom fora do país na época, porque acreditamos que era o correto a fazer; que isso nos manteria na estrada tocando e nos daria condições de gravar, lançar e formar público. A situação de lá pra cá não mudou, e, apesar do Brasil hoje ter um circuito de shows muito mais amplo e profissional do que há quinze anos, uma banda que toca Metal e que depende só do mercado brasileiro, inevitavelmente é uma banda de hobby; não tem como uma banda que só fique aqui se manter fazendo Metal e dependendo só do mercado brasileiro. Assim como uma banda estadunidense precisa tocar também na Europa, no Japão e na América do Sul pra sobreviver; isso não é exclusividade nossa. O Metal é um estilo global e dá essa possibilidade de você viajar o mundo; por que iríamos limitar nosso trabalho a um país, ou, pior, a um estado? Então, sim, vamos tentar trabalhar todos os mercados possíveis.
Lohy: Acho que é a vontade de todo músico mostrar seu trabalho na maior quantidade de locais possível. Conosco não é diferente, pois nunca foi o objetivo do Rebaelliun focar em apenas um mercado. Às vezes pensamos que somente as bandas daqui que são mais reconhecidas no Brasil quando voltam do exterior, mas esse fenômeno não é exclusividade nosso. Assim funciona no mundo inteiro. Claro, a Europa e a América são os principais mercados do Metal, mas, mesmo as bandas que nascem nesse berço, quando voltam aos seus países, após uma turnê em outro continente, trazem uma notoriedade e exposição maiores.
Uma curiosidade: durante o hiato de 13 anos, nenhum material do Rebaelliun foi relançado. Imagino que houve bastante procura, com todos os álbuns esgotados por muitos anos. Por que nada foi relançado? Havia alguma indisposição por parte de vocês quanto a atividades relacionadas à banda? Há planos de relançamentos do material antigo, agora que estão de volta?
Fabiano: Sempre existiram algumas pendências com a gravadora que nos lançou na época, a Hammerheart Records, da Holanda. Agora com esse disco novo vindo em 2016, estamos já conversando com eles e tentando resolver as pendências, porque há uma demanda real pelos álbuns antigos. A chance é grande de nos acertarmos e relançarmos tanto o "Burn the Promised Land" quanto o "Annihilation", antes do lançamento do novo álbum. Espero poder anunciar isso muito em breve.
Após a dissolução do Rebaelliun, em 2002, você seguiu carreira musical produzindo discos de bandas de Metal, compondo e gravando trilhas sonoras para filmes e curtas, além de ter participado efetivamente de bandas como Horned God, Andralls e The Ordher, e colaborado com outras. Faltava a volta do Rebaelliun para você se realizar como músico?
Fabiano: Eu sempre achei que a gente tinha que tocar juntos novamente, mas também sempre entendi que não era possível nos momentos que chegamos a conversar a respeito. Mas também não podia ficar parado, por isso toquei com outras pessoas, montei minha própria banda e segui trabalhando com música, que é o que eu amo. Mas cada projeto foi diferente do outro e cada um me deu uma bagagem diferente; não me arrependo de nada que eu tenha feito depois que o Rebaelliun parou. Estou entrando num momento novo na música, voltando a tocar com amigos de infância e com quem eu estive apto a criar algumas das melhores coisas nas quais já estive envolvido, então as perspectivas são as melhores possíveis. E vou seguir trabalhando com música pra cinema, que é algo que gosto muito. Talvez um dia consiga convencer um diretor a colocar uma música do Rebaelliun em algum filme, quem sabe?
"Annihilation" conta com uma curta introdução de trinta segundos, composta pelo compositor gaúcho Jean Presser, que, mais tarde, repetiria a colaboração com Penna no segundo disco do Horned God ("Chaos, Bringer of All Revelations", de 2003). Imagino que, dessa vez, a introdução, se houver (e chutarei que sim), será obra sua, fruto da sua experiência pós-Rebaelliun como compositor de trilhas.
Fabiano: A gente sempre curtiu trilha sonora de filme, tanto que hoje eu trabalho com isso. Lembro que na época do Rebaelliun, quando morávamos juntos, um álbum que tocava direto em casa era a trilha original do "Conan, o Bárbaro", do Basil Poledouris, um compositor grego já falecido. E quando o Morbid Angel apareceu com o "Blessed are the Sick", no início dos anos 90, nos chamaram muito a atenção as vinhetas no disco, que quebrava um pouco o extremismo da música, mas também sugeria uma ligação entre os temas. E eles repetiram isso com maestria no "Domination". E a gente era moleque ouvindo esses discos e dizíamos que, se um dia a gente lançasse um disco, ia ter vinhetas, como no Morbid Angel. E no "Annihilation" finalmente pudemos investir nisso e saiu a intro do disco, épica e tal. Temos a ideia de abrir o novo álbum com uma intro sim, já que hoje tenho todos os recursos pra produzir algo de impacto, e com a força criativa que temos os quatro juntos acredito que será algo realmente impactante.
Ronaldo: Essas vinhetas fazem parte do conceito musical do trabalho, ajudam a reforçar alguns aspectos, acrescentam dinâmica e impacto sonoro à música. O know how do Penna como compositor, arranjador e produtor será com certeza um fator determinante para fazer crescer e evoluir nossa música neste sentido.
Ainda sobre o seu trabalho, Penna, o último registro do Rebaelliun foi gravado na Alemanha, no estúdio Stage One, com Andy Classen (o mesmo que gravou "Conquerors of Armageddon", do Krisiun), e masterizado na Holanda. Imagino que, desta feita, toda a produção ficará a seu cargo. Estou certo? Caso positivo, o que isso muda para a banda, já que terão mais tempo e tranquilidade para gravar?
Fabiano: Sim, já estamos acertando isso. Seria excelente produzir com outra pessoa também, me daria mais tranquilidade pra apenas tocar guitarra, mas temos um cronograma apertado pra gravar esse álbum e optamos por fazer tudo por aqui, e aí a produção fica na minha mão, com o apoio dos caras, obviamente. Eu não acho que vamos ter tempo ou tranquilidade, eu sou meio contrário a produções que levam meses; acho que perde todo o pique do trabalho. A banda tem que se preparar o melhor possível, fazer uma pré-produção decente e depois entre três a quatro semanas tem que gravar tudo e mixar; é um tempo bom. Como disse um produtor esses dias, se o cara precisa mais de três takes pra gravar a sua parte, ele não está preparado pra registrar a música; vai ter que estudar e ensaiar muito ainda.
Sandro foi outro a continuar a carreira musical durante o período de hibernação do Rebaelliun, se envolvendo com outras bandas do estilo, como Sledge-Hammer e Mental Horror (que já encerraram as atividades), além de integrar, desde 2013, o Exterminate, que está para lançar seu primeiro disco. Sandro, como ficará a divisão do tempo entre as bandas? E o que pode nos contar sobre a participação no disco "Firestorm", projeto de Neoclassical Heavy Metal do músico gaúcho Carlos Lichman, que contou, dentre outros, com convidados como Kiko Loureiro?
Sandro: Quando nós conversamos a respeito do retorno, todos estavam cientes do compromisso que tenho com a Exterminate, mas isso não implicará nos compromissos futuros. Na época do Sledge-Hammer, não tínhamos pretensão de seguir carreira com a banda; tocávamos mais pelo prazer de fazer música, era pura diversão. O projeto "Firestorm" foi um convite do Carlos Lichman, na época ensaiávamos no mesmo estúdio, acabou rolando essa parceria. Sobre a Exterminate, estamos finalizando a gravação, antes de outubro será lançado aqui no Brasil em formato digipak; no exterior estamos tentando o lançamento ainda para este ano. Já está disponível na rede o som título do álbum, "Burn Illusion"; para quem não conhece a banda, é só checar a página no Facebook.
Lohy e Ronaldo aparentemente não se envolveram com projetos musicais desde o fim do Rebaelliun. Como está sendo, para vocês, a readaptação à rotina de banda? Estão sentindo alguma dificuldade, ou mantiveram-se ativos, praticando em casa, durante esses treze anos?
Lohy: Trata-se de um desafio, com certeza. Depois de encerrarmos as atividades eu não me envolvi em nenhum outro projeto real. Eu pouco toquei, enquanto o Rebaelliun esteve parado. Fiz alguns ensaios com amigos, mas nada muito sério. Portanto, voltar ao ritmo que o Rebaelliun exige está demandando muita prática e estudo. As dificuldades são as que se espera pra quem ficou um bom tempo sem tocar um estilo que demanda precisão, técnica e velocidade. Mas com dedicação e empenho se supera a "ferrugem" nos dedos, e voltamos ao ritmo que a banda impõe.
Ronaldo: Como citei anteriormente, nunca me afastei da música, isso está no meu DNA. Pratiquei violão erudito, aprendi um pouco sobre composição e arranjo, me envolvi com música instrumental brasileira e jazz. Foram grandes experiências! Evidentemente, voltar a tocar no nível técnico que o Rebaelliun exige é um desafio constante e requer muita disciplina, prática e apuro técnico. Mas se não fosse assim não faria o menor sentido. Esse desafio é, de fato, o fator determinante para evoluirmos como banda e músicos, e é o que nos instiga a ir sempre mais além. Dificuldades existem, é claro, mas estão aí pra serem superadas e esse processo é extremamente desafiador, e ao mesmo tempo gratificante, pois te leva a uma grande evolução como músico e expande teus limites também.
O Brutal Death Metal brasileiro teve seu boom na transição de milênio, e me lembro dos splits da Mutilation Records (Descerebration/Funeratus, Mental Horror/Queiron, Ancestral Malediction/Ophiolatry) e da compilação "Brazilian Assault" (com Abhorrence, Nephasth, Mental Horror e Ophiolatry), lançada pela americana Relapse Records, nos fazendo voltar aos tempos de "Warfare Noise", quando bandas promissoras eram fartas e lutavam por um lugar ao sol. Acho, inclusive, que o Rebaelliun esteve próximo de participar da "Brazilian Assault". Hoje em dia, apenas o Krisiun, que já era grande na época, segue mantendo o legado que ajudaram a construir (com lançamentos e turnês internacionais), um fato que me faz lembrar o boom do Thrash Metal nacional nos anos 80, do qual apenas uma banda, o Sepultura, sobreviveu à carreira internacional. Na opinião de vocês, o que faltou para que aquela cena de Brutal Death pudesse se consolidar? Foram esses os motivos que também culminaram no encerramento das atividades do Rebaelliun?
Fabiano: Eu acho que cada banda encerra por motivos próprios. A gente acabou a banda porque nossa convivência era diária, tocávamos e morávamos juntos, quase sempre sem grana; obviamente tinha muito atrito, a gente era novo, imaturo, e esse desgaste foi minando a paciência de todos, e um dia não deu mais. Mas isso foi o Rebaelliun. Não sei porque outras bandas acabaram. E eu acho que esse lance de ficar reclamando de cena, disso, daquilo, é balela. A gente acabou as atividades porque não dava mais pra seguir juntos, não vamos culpar a "cena", o "país". A gente fez nossa parte, o público fez a sua parte, mas o trabalho se tornou inviável. Se tem uma banda do estilo que consegue trabalhar e sobreviver, se adaptou ao mercado, e outras bandas não deram certo, a culpa é do mercado? Não, o problema tá nas próprias bandas, em algum nível. O nosso nível era pessoal, ficou todo mundo desgastado e não rolou mais. Mas as bandas precisam se posicionar melhor, botar um objetivo, trabalhar por ele e reclamar menos; todo mundo vai ganhar com isso. Sobre o "Brazilian Assault", lembro que na época alguém comentou que o Rebaelliun entraria, mas nunca ninguém falou com a gente objetivamente sobre isso. Já estávamos assinados com a Hammerheart, a compilação era da Relapse; acho que nem seria viável.
Ronaldo: A banda encerrou suas atividades devido a um consenso pessoal, ao momento da vida de cada um de nós. Não se pode definir um "porquê" ou um fator isolado. Foram diversos fatores pessoais e musicais que pesaram naquele momento e culminaram nisso. Não iríamos seguir em frente apenas por motivos de ego, mercado ou coisas do tipo, nem aceitaríamos lançar ou criar nada que fosse inferior ao "Annihilation", certamente. Tudo acontece no momento em que tem de acontecer e não se pode ter o controle absoluto de tudo que nos cerca. Saber a hora certa de iniciar ou encerrar as coisas também é fundamental.
Voltando ainda mais no tempo: o Blessed, embrião do Rebaelliun, esteve na ativa entre 1992 e 1996. Após pouco mais de dois anos de dissolução da banda, vocês formaram o Rebaelliun, apresentando sonoridade muito mais brutal. Foi este o motivo para o início de uma nova banda, com novo nome? O que ocorreu nesses dois anos que fizeram vocês voltar muito mais maduros e concisos?
Fabiano: O Blessed foi nossa banda na adolescência. Quando a gente chegou nos dezoito anos de idade, as famílias começaram a botar pressão e todo mundo teve que ir trabalhar, e acabou o tempo pra ensaiar etc. Mas ficamos em contato nesse período, tanto que eu e o Sandro moramos algum tempo juntos, dividimos uma casa em Porto Alegre. E, num determinado momento, a gente se viu mais dispostos a investir melhor na música novamente; foi quando montamos o Rebaelliun. Nesses dois anos eu fiquei estudando música, fiz aulas de violão erudito, depois guitarra com o falecido mestre Paulo Schroeber. O Sandro ficou um bom tempo fazendo aula com bateristas de jazz; o Ronaldo investiu o tempo dele em violão brasileiro, que ele gosta muito. Então, quando a gente se reuniu de novo, tava todo mundo num nível acima, musicalmente falando.
E uma dúvida histórica: todos os atuais integrantes do Rebaelliun compartilharam um passado no Blessed, mas, curiosamente, no início do Rebaelliun, em 1998, Lohy optou por não ingressar na banda e vocês trouxeram Marcello Marzari (baixo/vocal) para completar a formação. Quis o destino que Marcelo deixasse o Rebaelliun após o EP "Bringer of War" (2000), e Lohy voltasse a tocar com vocês a partir de "Annihilation", e agora na volta. Lohy, quais os motivos para ter declinado o primeiro convite, e o que o levou a aceitar o próximo?
Lohy: Quando o Blessed encerrou as atividades, eu fiquei afastado da música, e voltado para outros projetos pessoais. Apesar disso, nunca perdi o contato com os outros integrantes da banda. Sempre acompanhei de perto seu projetos pessoais; mantivemos o contato, como sempre foi. Quando eles se reuniram e me convidaram pra voltar a tocar em uma banda com um novo nome, e com uma proposta mais extrema, foi tentador, pois sempre fomos como irmãos. Por esse motivo, e por já termos uma química de anos tocando juntos, eu era a primeira opção. Mas, na ocasião, eu não me sentia preparado para assumir o nível de dedicação e empenho que esse novo projeto exigia. Agradeci o convite, mas declinei. Eles entenderam meus motivos, e partiram para o próximo passo que seria recrutar quem seria meu substituto no baixo e vocal da banda. O Marcello Marzari sempre foi nosso amigo, e, além de ter um vocal matador, e ser um puta frontman, todos nós sempre admiramos o trabalho dele no Garbage, banda em que era somente vocalista quando nos conhecemos. O convite surgiu, ele aceitou, e começaram os trabalhos. Quando ele saiu do Rebaelliun, eu me vi na oportunidade de voltar a fazer o que eu mais gostava, que era fazer música com meus irmãos. Conversamos, e acertamos a minha entrada na banda. Sempre compartilhamos a ideia de que uma banda, para dar certo, tem que haver uma química entre os integrantes, tanto para compor, quanto no palco. Isso nós já tínhamos. O que eu queria era voltar a compor, e voltar a fazer shows com eles novamente. Eu estava em um momento melhor pessoalmente, mais estruturado e estava preparado pra enfrentar o que viria pela frente. Por isso voltamos a trabalhar juntos.
Um muitíssimo obrigado ao quarteto, e um desejo de muita sorte e sucesso nesse retorno. Que dure não apenas por uma turnê ou disco, mas por muito tempo.
Fabiano: Valeu Alexandre pela força agora e sempre e pelo espaço!
Lohy: Obrigado pelo apoio e pelo espaço, Alexandre!
Ronaldo: Cara, muito obrigado pelo apoio, pela ótima entrevista e pela admiração que tens pela banda; caras como você nos inspiram a continuar na batalha e dar o máximo pela nossa música! See you soon at the battlefield! At war!
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