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Victoria: Jean Nastrini fala sobre tributo ao Helloween

Por Rodrigo Lima
Fonte: Helloween Brasil
Postado em 31 de julho de 2014

O vocalista Jean Nastrini do Victoria, uma das bandas participantes do tributo aos 30 anos do Helloween realizado pela Helloween Brasil, concedeu entrevista ao site para falar um pouco sobre o tributo e a música gravada por ele. Nastrini fala também sobre o heavy metal nacional e um possível álbum de estúdio do grupo. Ao final da entrevista assista ao videoclipe da versão da banda Victoria para a música Someone's Crying.

HBR.: Olá Jean, obrigado por aceitar responder algumas perguntas e obrigado por estar em nosso tributo em homenagem aos 30 anos do Helloween. Como se sente tendo essa oportunidade de prestar uma grande homenagem a uma das bandas que te influenciou e que você tanto gosta?

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NASTRINI.: Primeiramente eu gostaria de agradecer pela oportunidade em estar fazendo parte deste épico trabalho e parabeniza-los pela iniciativa deste brilhante projeto. Alguns destes grandes cantores que se encontram neste álbum têm uma história na cena metal brasileira e estar fazendo parte disso tudo é sem dúvida alguma um feito mais do que gratificante... Eu diria que além da grande responsabilidade que cada um está tendo, em particular eu me sinto privilegiado em estar envolvido com este lance!

HBR.: Para você, o que faz com que o Helloween chegue aos 30 anos com tanto prestigio e cada vez mais atraindo mais pessoas para sua legião de fãs ao redor do mundo e o que a diferencia de outras bandas?

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NASTRINI.: Sem dúvidas desde o seu início o Helloween nasceu com um enorme diferencial comparado a inúmeras bandas da safra dos anos 80. O estilo "praticamente criado" pelos caras influenciou e influencia gerações e por que digo isso? Muitas bandas daquela época não conseguiram chegar no patamar que chegaram e pra isso é preciso não somente "ser bom" no que se faz, mas ter um "grande diferencial" e isso os caras têm de sobra, não somente como compositores ou pela performance, mas também pelo carisma e energia emanada dos seus riffs e velocidade absurdas e sem dúvidas pelas marcantes vozes que também passaram pela banda. Andi Deris deu uma brilhante continuidade ao trabalho do grupo e fez com que até aos dias de hoje o nome Helloween ecoasse pelos quatro cantos do planeta.

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HBR.: Você regravou a música Someone's Crying do álbum Pink Bubbles Go Ape de 1992. Ela é uma música que nunca foi lembrada em um tributo ao Helloween. Qual é o motivo da sua escolha?

NASTRINI.: Bom... confesso que a ideia inicial seria a de escolher um clássico, mas nos foi sugerido que álbuns como "Pink Bubbles Go Ape" não fossem esquecidos e nem podem! Este disco é maravilhoso e quando tive que optar em escolher algum som, não pensei duas vezes, exatamente pelo fato de não ser um "hit" como "Eagle Fly Free" e outras tantas, é uma música poderosa, dotada de uma velocidade absurda, guitarras marcantes e as linhas de vozes do monstruoso Michael Kiske é algo que não precisa nem da gente falar né? Dei o melhor de mim e dentro das possibilidades que tínhamos (não somente na pouquíssima estrutura), mas também pelas condições de saúde em que me encontrei ao gravar a faixa (resfriado). Contudo eu espero humildemente que o pessoal fã da banda curta o nosso desempenho e claro, entendam que não somos uma banda cover e nossa participação é uma singela homenagem ao grande Helloween!

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Como você mesmo menciona na pergunta, de fato não é uma música costumeira que as bandas peguem para gravar e se tem um lance que curto e acho instigante é o fato de estar sempre desafiando algo. Este som vai na contramão de qualquer "álbum tributo" existente no mundo.

HBR.: Como foi o processo de gravação? Ela é uma música difícil para muitos vocalistas e você mandou muito bem nesta versão.

NASTRINI.: Poxa, fico feliz que tenha gostado! Na verdade não gravamos esta faixa "como uma banda". A princípio a ideia seria de gravarmos tudo acusticamente e para isso estávamos ensaiando e criando uma nova roupagem que estava ficando muito bacana. Infelizmente devido ao nosso curto orçamento e pela falta de estrutura tivemos de optar em fazer um esquema do tipo "Rhapsody". Os baixos, riffs e bases de guitarra foram gravados por um músico chamado Vinícius que tem um home-studio. Devido nosso esquema ter sido todo desarmado, o amigo Michel Marcos (M&H Studio) me indicou este guitarrista que nos enviou a música para que aqui em nossa cidade Poços de Caldas os solos de guitarra (executados por Fábio Zanetti e Alexandre Franco) fossem gravados no Studio Atthenas. Na verdade eu acabei gravando os vocais em uma pequena cidade que fica cerca de 60 km daqui chamada Ipuiuna no Estúdio ID de propriedade do produtor e engenheiro de áudio João Gabriel Junqueira. Enviamos tudo para o Vinícius, mas não estávamos chegando em um denominador para o som final e da mixagem das vozes. Retiramos o trabalho que estava pago e repassamos para o Michel que remixou, dentro das suas possibilidades porque ele não tinha o projeto original, e que foi quem cuidou de toda a parte de tratamento e efeitos dos backings e voz principal ,todos gravados por mim. Como mencionei anteriormente não é uma faixa que conta com uma "alta produção", mas eu acho que o Michel foi o nosso grande "salvador da pátria" e sem ele eu acho que esta canção nem pronta ficaria. Meus sinceros agradecimentos a este grande amigo e profissional.

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Confesso que estar anos a fio sem cantar metal e encarar um som como este não é nada fácil e captar as vozes sem microfones adequados, um bom periférico, sala devidamente apropriada faz com que você tenha de superar os seus limites. É como se fala aqui em Minas: Você tem que tirar "Leite de Pedra". Ao mesmo tempo não posso reclamar porque o estúdio no qual gravei (dentro da realidade do nosso Sul de Minas) tem uma excelente estrutura e o João é um grande profissional. O lance é que "gravar metal" é algo realmente complexo e quanto melhor a estrutura que você tem, obviamente melhores resultados a sua banda conseguirá ter na performance e resultado final.

HBR.: Falando sobre o Heavy Metal no Brasil. Muito se fala que as bandas nacionais são desunidas e que os brasileiros não dão o devido valor para as bandas que temos por aqui. Você concorda com isso e se sim, o que pode ser feito para mudar esse cenário?

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NASTRINI.: Olha, eu acho que nunca existiu de fato uma "cena metal para as bandas nacionais", mas sim um movimento metal onde os bangers fizeram e fazem até aos dias de hoje que o metal em geral não desapareça do nosso país tupiniquim. Se você parar para analisar as "únicas bandas" que conseguiram tocar em casas como Credicard Hall e Via Funchal foram o Sepultura e o Angra (leia-se, André Matos e seus projetos). Não menciono o André com um ar negativo não! Muito pelo contrário... Assim como o Helloween foi pioneiro ao praticamente criar um estilo, o André foi o cara que desde moleque fundou as estacas junto ao Viper no Brasil. O problema é que por mais que bandas excepcionais como Dr Sin e inúmeras outras nunca conseguissem o seu merecido valor e reconhecimento, é que o público brasileiro se comporta de uma maneira muito estranha. Os mesmos caras que passaram a fazer parte do Angra, anteriormente possuíam o mesmo talento, mas o povo só passa a dar valor se você integra uma grande banda (e só temos o Angra que consegue trabalhar dentro deste estilo) ou se você tem em seu line-up caras que estejam ligados ao Angra ou ao André (que indiscutivelmente é o maior merecedor e que há décadas mantém uma agenda). Acho que acontecimentos como este, somados a falta de interesse da grande mídia, dos grandes empresários e com o desaparecimento dos festivais o espaço para que as bandas toquem está entrando em extinção. Fui um dos responsáveis pela criação do festival "Monsters Of Poços" que encerrou suas atividades no ano de 2003 e chegou a ser apontado como um dos maiores (senão o maior) evento de metal beneficente do país e as bandas vinham, era uma grande confraternização. Neste fiz amizades com bandas como Dark Avenger, Ópera, Versover, Henceforth, Marcos de Ros, dentre outros nomes. Hoje em dia muitos músicos querem tratar o metal como se estivessem dentro do mercado musical sertanejo. Querem cachê, mordomias, não querem investir, mas querem resultados! Claro que eu sou a favor de que uma banda não toque de graça, mas ao mesmo tempo quem irá comprar um show de uma banda que ninguém conhece e as que alguns poucos conhecem não têm um público suficiente para que as despesas sejam sanadas? Acusam as bandas em serem desunidas por aí, mas eu acho que desunido é o próprio público que não dá o devido valor as bandas, a mídia que sempre trata de uma maneira diferenciada os já "consagrados caras", mas não param para conhecer a história de muitas outras, das grandes gravadoras que só querem os mesmos caras e tiro o chapéu para as pequenas que são as responsáveis pela distribuição, muitas vezes sem um lucro para colocar nas prateleiras cds de excelentes grupos nacionais. Se você organiza um evento todo mundo quer entrar de graça ou acha que o preço está caro (estamos falando de 10, 20 reais), mas pagam de 100 reais pra cima para assistirem as bandas gringas. Se o pensamento em geral não mudar meu amigo, infelizmente eu creio que o interesse de muitos músicos em "fazer metal" tende a diminuir bruscamente dia a dia.

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HBR.: Por mais que você já tenha muitos anos de experiência na música e que o Victoria tenha sido formado em 1997, você ainda não tem nenhum trabalho de estúdio com a banda. Você ainda pretende lançar algum EP ou álbum com o Victoria futuramente?

NASTRINI.: Pois é....Infelizmente a banda esteve na ativa em um período onde você precisava de ter muito mais grana do que hoje para se fazer um disco. Já tive a infelicidade de ver alguns ex integrantes alegarem que o Victoria era uma banda que tinha talento, grandes músicas, mas não tinha "foco ou objetivo". Eu como fundador deste grupo (não mais na ativa como uma banda, mas como um projeto onde eu convido diferentes músicos para estarmos juntos realizando algum tipo de trabalho) posso lhe dizer que nunca houve uma reunião entre quaisquer membros para falarmos em "valores". Quanto custaria uma demo sequer, quanto mais um álbum. Ajudei muitos caras em minha vida, apresentei muita gente para "caras do meio musical", mas o agradecimento que tive foram calúnias e cuspidas na cara. Decidi justamente me afastar de tudo (e olha que até 2001 mesmo sem um álbum a banda era muito conhecida), segundo muitos amigos do meio.

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Tentei várias vezes peitar sozinho, mas a grana nunca foi o suficiente e o mais triste é que de fato as composições são muito legais e soam bem atuais até aos dias de hoje. Não sei se remontar este grupo será algo possível, pois como relatei em outra pergunta, a cabeça de muitos músicos mudou. Não entendem que uma banda é praticamente uma empresa e uma empresa nunca consegue ir para frente se não existir investimento, dedicação, trabalho, amor ao que se faz.... Sei que ideologia não enche barriga (como já ouvi também de um certo ex-integrante), mas a minha ajudou alguns a chegarem em algum lugar e posso te falar que vivo somente das aulas que ministro há cerca de 18 anos. Ser músico é uma profissão como qualquer outra. Você precisa estudar, estar atualizado, mas para se ter uma banda é preciso ter irmandade e não somente pensar em dinheiro, mas em chegar em algum lugar.

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Se algum álbum for lançado eu terei de refazer tudo de novo e confesso que isso não é algo que me anima muito, ainda assim em respeito aos tantos que sempre torceram pela banda e por mim em especial eu me sinto na obrigação em conseguir lançar oficialmente algum material consistente. E acreditem, músicas não faltam.

HBR.: Conte um pouco do Victoria para os leitores...

NASTRINI.: Logo de cara conto uma curiosidade bem interessante (digamos assim). Antes da banda chamar-se Victoria, nosso baterista que era conhecido como "Rodrigo Max" era bem moleque, mas tocava muito. Infelizmente o pai do cara foi transferido para o Rio de Janeiro e lá ele montou uma banda chamada "Los Hermanos". Sim! Ele era um batera que tocava metal, passou a ser chamado de "Rodrigo Barba", mas por lá a coisa é mais difícil ainda. O Victoria foi oficializado em fevereiro de 1997 com músicos locais. Com apenas 10 meses de banda fomos convidados para realizarmos a abertura para um dos (senão o último) show da Holy Tour do Angra na cidade de Pouso Alegre. Em 1999 novamente abrimos para o Angra aqui em Poços de Caldas em um dos últimos shows da Fireworks Tour. Em dezembro de 2000 fui um dos pouquíssimos caras selecionados para o teste final como vocalista do Angra, mas não me achei capaz e optei em não realizar o teste. Ganhamos dois festivais, um em Poços de Caldas e outro na cidade de Americana dentre mais de duzentas bandas no processo de triagem. Músicos como os guitarristas Vandré Nascimento (Madgator) e Fabiano Rodrigues (transcritor do songbook Rebirth do Angra), Bill Hudson (Circle to Circle), Fernando Giovannetti (ex-Karma), Alberto Lima (guitarrista do Abstract Shadows) e o até então desconhecido tecladista Fábio Laguna (Hangar) integrou a banda por dois anos, tendo estreado nos palcos do "meio metal" junto a nós na segunda abertura para o Angra. Durante anos contamos com o apoio do maior conservatório da América Latina, o Souza Lima. Nos apresentamos no primeiro evento tributo de grande porte existe em nosso país chamado "Metal Heroes Tribute", uma homenagem ao Angra/ Viper e André Matos. Neste interpretamos músicas complexas como Carolina IV, Z.I.T.O, Stand Away e Wings Of Reality com tão somente dois dias de ensaios. Foi uma banda que sem um álbum rompeu barreiras, teve o seu nome ecoado em vários estados e até mesmo em alguns países no ano de 2004, após o envio para mais de 40.000 contatos do single "Pray To Die" em versão demo. Após a audição desta música a própria gravadora do Helloween no Japão a Marquee Records me contatou e solicitou material, mas infelizmente eu não tinha mais nada gravado. O grande lance é que o presidente desta gravadora quem entrou em contato, assim como a Roadrunner da Bélgica. Muita coisa pra quem não teve um cd, visto que muitas bandas na falta de um trabalho, têm dois ou mais lançados.

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Deixo aqui o link do site provisório para que possam conhecer mais detalhes, fotos, vídeos, matérias de jornais da época: www.tuesvictoria.wix.com/esvictoria e espero que se divirtam!

HBR.: Agora abro o espaço para você deixar uma mensagem que deseja e falar o que as pessoas devem esperar do seu cover de Someone's Crying.

NASTRINI.: Galera fã do Helloween! Não esperem por uma mega produção, mas podem esperar por uma das músicas mais poderosas desta incrível banda, vocais que mesmo não sendo fiéis ao grande Kiske, foram gravados com toda paixão pelo que faço e por esta banda que marcou minha vida! Espero que vocês possam curti-la, divulgarem aos seus amigo e chacoalharem suas cabeças porque foi um som escolhido "a dedo" e eu gostaria de ver o próprio Helloween poder voltar a tocar este som porque é bãããão demais.

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Um grande abraço à todos vocês do Helloween Brasil, em especial à você Rod e ao Mário Pastore que foi o cara quem indicou o link da gente tocando "Eagle Fly Free" em janeiro de 1999 com nada mais, nada menos que Hugo Mariutti na guitarra junto ao nosso grande amigo e guitarrista Marcos Câmara (ex-Victoria).

Deus abençoe a todos nós!

Assistir vídeo no YouTube

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Sobre Rodrigo Lima

Conheci o metal em 1998 com os festival Skol Rock com as bandas Iron Maiden e Helloween que hoje são minhas preferidas e principais influências. Principalmente o Helloween que me inspirou a criar um Fâ-Clube brasileiro para a banda, o Sole Survivor Helloween Brasil.
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