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Nervosa: Preconceito, sucesso, fãs e a cena independente

Por Cláudia Nascimento
Fonte: JacareZine
Postado em 27 de junho de 2014

Cada vez mais ganhando seu espaço dentro e fora do país, o trio formado por garotas alia atitude e qualidade no seu som, e mostram que para chegar onde chegaram foi preciso dedicação e planejamento.

Fernanda e Prika cederam um pouco da sua atenção e responderam algumas perguntas para o nosso zine, falando desde os preconceitos, do sucesso da banda, fãs e da atual cena independente, ambas dando enfase na falta de respeito que existe no cenário que a grande mídia não evidência, e afirma respeitar não significa gostar.

Segue a entrevista na íntegra:

Meu nome é Gabriela de Oliveira e primeiramente eu gostaria de agradecer em nome de toda a equipe do JacareZine por nos conceder essa entrevista. O JacareZine é um fanzine virtual, o objetivo é colocar em destaque as bandas independentes da cidade de Jacareí, SP e também de toda a região do Vale do Paraíba. Aqui no Vale as bandas de rock têm pouco destaque e, ao ler um pouco mais sobre a história da Nervosa percebi que todas as bandas passam por dificuldades, seja desde reconhecimento até quanto a formação.

Este ano a banda Nervosa completa 4 anos e está ganhando cada vez mais fãs com o lançamento de um cd. Mas quais foram as dificuldades enfrentadas pela banda logo no início?

PRIKA – A maior dificuldade desde quando eu criei a banda, foi encontrar as integrantes certas, chamei muitas meninas para tocar, porém 99% não levava a sério, não acreditava na banda e não eram profissionais, as que se encaixavam no perfil já tinham suas bandas, cheguei a colocar duas baixistas na banda que não sabiam tocar nada, ensinei algumas coisas, mas não se dedicaram o quanto precisavam. Mas depois que a formação atual se fixou, estamos com a estabilidade que precisávamos.

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FERNANDA – Para mim, antes da Nervosa, as dificuldades eram as mesmas que a Prika citou: achar meninas que quisessem trilhar a estrada da música com o mesmo comprometimento e devoção que eu gostaria! Encontrar meninas pra tocar metal extremo já não é uma tarefa fácil, encontrar meninas que largassem mão de muitas coisas e deixassem muitas coisas pra trás em prol de uma banda, como eu estava disposta a fazer, era mais difícil ainda. Por isso quando surgiu a oportunidade de eu e a Prika unirmos as forças na Nervosa, tudo rolou bem, pois ambas tínhamos os mesmos objetivos e estávamos dispostas a fazer de tudo possível pra banda rolar. Exatamente por isso, assim que a formação se estabilizou, não tivemos muitas dificuldades, já que todas tínhamos o mesmo foco e contribuíamos pra banda da mesma maneira!

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Já em relação a ser uma banda só com mulheres, vocês sofreram ou sofrem muito preconceito? Portas foram fechadas por isso?

PRIKA – Preconceito sempre existe para qualquer um, mas ignoramos isso por se tratar de uma minoria insignificante. As portas não se fecham, pois aqueles que tem preconceito são pessoas de mente pequena, e essas pessoas geralmente não fazem nada de relevante, pois quem tem porta para abrir é sempre alguém inteligente.

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FERNANDA – Não tem como não dizer que existe preconceito, existe sim! Tudo o que é novo ou causa surpresa ou causa estranhamento, e quando a Nervosa surgiu a todo vapor, assim como várias outras bandas femininas que conhecemos, causou um certo choque, pelo fato do metal se tratar de um meio ainda predominantemente masculino, mesmo que essa tendência venha diminuindo nos últimos tempos. Por isso houve sim pessoas que tentaram nos ofender, mas, como a Prika disse, desde o início nossa postura foi sempre ignorar, e o fazemos até hoje. Veja que críticas com fundamento nós acatamos e compreendemos, agora ofensas gratuitas sem argumentos sólidos, a gente prefere ignorar. Fazemos isso porque seria muito injusto focar nossa tenção para uma minoria barulhenta, do que nos outros 90% de pessoas maravilhosas que nos apoiam e acompanham nossa estrada e evolução.

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Em 2012 vocês fizeram cerca de 50 shows ao redor do país e lançaram um ep que teve em média 20 mil visualizações em apenas uma semana no youtube. Qual foi a sensação de ter o trabalho da banda ficando conhecido e, além disso, reconhecido como bom?

PRIKA – Foi algo totalmente surpreendente pois não esperávamos nem metade disso tudo. A idéia do clip foi a melhor coisa que nos aconteceu, pois foi ele que nos abriu portas e foi ele que nos divulgou. Sempre nos preocupamos muito com cada passo que a banda vai dar, tudo é pensado e planejado, e ter feedback positivo só nos incentiva ainda mais continuar.

FERNANDA - Quem nos conhece sabe que somos uma banda muito devotada e trabalhadora e planejamos cada detalhe para que tudo saia da melhor maneira possível, então é claro que no fundo a gente espera que as coisas acabem dando certo, mas sem dúvida alguma todo o reconhecimento que tivemos no começo e que ainda temos conseguido, nos causa muita surpresa sempre! Esse apoio nada mais é que nosso maior combustível pra seguir em frente, e é por isso que nunca paramos, sempre queremos trazer algo de novo pra quem acompanha a banda!

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Qual a relação que vocês da banda tem com os fãs? Há respeito e carinho mútuos?

PRIKA – Com certeza! Nunca fomos desrespeitadas pessoalmente, o público em geral nos respeita, há um desrespeito por alguns, mas somente pela internet, mas estas são pessoas fictícias que tem apenas uma vida virtual e nunca saem de casa. Nossos fãs são maravilhosos, o carinho e admiração que eles nos dão, é muito valorizado pela gente, e sempre fazemos questão de atender a todos nos shows.

FERNANDA - Fazemos nosso melhor pra manter uma relação bem próxima com os fãs, principalmente ao vivo. Nunca saímos de uma casa de show sem falar com a galera, sem perguntar se curtiram, sem ouvir o que eles tem a dizer pra gente, e isso cria um laço muito forte entre a banda e a galera que apoia a gente! Há sempre muito carinho e o respeito é sempre muito grande e é dessa maneira que gostamos que a coisa seja, afinal, sem o pessoal que nos apoia, a banda não seria nada, os fãs são um dos maiores combustíveis para uma banda e por isso os valorizamos tanto.

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Pra finalizar, você como integrante de uma banda de thrash, o que acha do cenário musical independente de hoje em dia? Acha que falta apoio pra essas bandas conseguirem um espaço na mídia e conquistarem fãs?

PRIKA – Eu acho que falta na cena é o que falta no Brasil em geral, que é respeito a todos (mesmo que você não goste de um estilo musical ou banda), todos trabalham duro em sua carreira, por pior que seja, houve um trabalho, uma dedicação, tempo perdido e dinheiro investido, então se deve respeitar, e respeito não significa gostar. E outra coisa que falta, é fazer as coisas direito e correr atrás das coisas sem esperar que alguém lhe dê algo, as oportunidades em 95% não vem sozinhas, você tem que buscar ou apenas enxergar!

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FERNANDA - Eu acho o cenário do metal brasileiro excelente, principalmente no que diz respeito às bandas. Onde quer que você vá, você vai encontrar uma cena sólida, com fãs apoiadores e bandas sensacionais, nosso cenário é muito, muito rico! Tenho um programa de rádio chamado Heavy Nation, e a cada edição que se passa, fico mais impressionada com a qualidade e dedicação das bandas que entrevistamos e tocamos no programa, não devemos nada a nenhuma cena estrangeira no quesito qualidade de produção musical. Mas o que ainda dá pra melhorar é, como a Prika disse, o respeito dentro da cena. Não adianta pregar a união na cena, e execrar e falar mal de bandas simplesmente pelo fato de você não gostar. União de fato é entender que somos todos parte de uma coisa só que é o metal e valorizar o trabalho de quem está ali tentando fazer sua parte por ele, seja com banda, seja com rádio, zine, blog, seja como fã! Independente se você gosta ou não, a pessoa está ali de alguma maneira ajudando o legado do metal a continuar vivo, então respeitar é fundamental. Além disso, sempre prezar pela qualidade. É a qualidade de algo que faz aquilo ser apreciado e logo incentivado e apoiado, Então se queremos que o metal tenha uma estrutura melhor, devemos sem dúvida todos lutar sempre pela qualidade.

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PRIKA – Obrigada pela entrevista, e forças para que vocês continuem com esse trabalho, pois é muito importante para as bandas e conseqüentemente para a cena. Valeu!!!

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