Metaleiro Patriota: entrevista com Arandu Arakuaa
Por Richard Pimentel de Carvalho
Fonte: Metaleiro Patriota
Postado em 08 de junho de 2014
O guitarrista e compositor Zândhio Aquino da banda brasiliense ARANDU ARAKUAA concedeu ao site Metaleiro Patriota uma entrevista em nome da banda falando sobre a relação com a cultura indígena, as idéias, o futuro, e a cena do metal brasileiro.
Como surgiu a ideia de escrever em tupi antigo? Envolver a cultura indígena incorporada na temática e na sonoridade? E tocar guitarra na base da viola caipira?
Zândhio: A escolha da língua tem mais a ver com sua importância na formação da nação brasileira, mas poderia ser outra língua indígena brasileira, a temática e a musicalidade são mais importantes. A música indígena brasileira e a música tradicional brasileira (baião, catira, frevo, moda de viola...) vem de berço, só tive contato com o rock na adolescência quando fui estudar em uma pequena cidade (seria entediante para os leitores contar metade da minha história aqui rs) e quando tentei arranhar algo não tive vergonha de ser o índio pálido caipira roqueiro mão pesada, apesar do bullying ser pesado, fodam-se, nada é puro neste mundo.
Como funciona processo de composição?
Zândhio: Da maneira mais primitiva possível (idéia, caneta, papel, guitarra, viola...), depois levo pro ensaio e meus parceiros transformam isso em algo que vale a pena ser ouvido.
Qual o envolvimento real da banda com os povos indígenas?
Zândhio: De muito respeito por suas culturas e suas lutas. Eu e Nájila temos conhecimento de nossa ascendência indígena, mas no Brasil é tudo misturado, não há sangue puro na cidade (o que é ótimo) mais importante do que ter sangue é honrar e respeitar nossa história. Alguns amigos indígenas têm conhecimento da nossa música e todos eles nos dão bastante apoio. Nasci e morei até os 24 anos ao lado da Terra Indígena Xerente em Tocantins e sempre que retorno sou tratado como sendo parte da família.
Qual o real objetivo da banda? Vocês acreditam que podem mudar a visão que o povo tem da nossa própria cultura nativa? O que esperam dos fãs que ouvem o Arandu Arakuaa?
Zândhio: A arte tem essa função de despertar. E isso já está acontecendo, muitos garotos que só conheciam o indiozinho do desenho do pica-pau depois de ouvi nossa música buscam mais informações sobre os indígenas brasileiros e depois dão retorno. Não somos uma banda de universitários bonitinhos tocando MPB (nada contra), somos da periferia (povão) tocando metal onde o normal é tocar que nem gringo e cantar em inglês. Estou reclamando? Não. Pregar para convertidos não deve ter muita graça né. No fim do dia só queremos ser criativos e passar algo de positivo para as pessoas e contribuir na divulgação da cultura tradicional do nosso povo.
Para os próximos trabalhos, quais os objetivos? Algo que pretendem mudar ou acrescentar?
Zândhio: Deixar tudo mais evidente e na cara, mais tribal, mais regional, mais pesado, mais melódico. Não pertencemos a um gênero musical específico, não temos gravadora, só temos nossa música e as pessoas que acreditam nela (vocês são fodas!!!). Não temos o que provar e maioria nem estariam interessados nisso haha.
Pra finalizar: Como enxergam a cena do metal no Brasil atualmente? Acham promissoras ou está na mesma de sempre?
Zândhio: Em termos de qualidade técnica creio que a cena encontra-se em seu auge e tem casos isolados de bandas tentando inovar (não vou citar nomes porque nunca vi ninguém de banda citando Arandu Arakuaa em entrevistas kkkk, zoando...). Do ponto de vista da composição (eu sou um velho chato) honestamente acho que a maioria dos músicos poderia abrir mão de 20 minutos de treino de técnica e exibicionismo e usá-los pra melhorar suas composições e pensar na música como um todo e não em seu instrumento apenas.
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