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Seita: extremismo verde-amarelo na Holanda

Por Ben Ami Scopinho
Postado em 13 de abril de 2009

Alguns conjuntos possuem um talento nato para compor de forma marcante. Este é o caso do Seita, banda que nem parece iniciante e que tem em sua formação Michel Gambini (voz e guitarra), Edson Munhoz (guitarra), André Sparta (baixo) e Dom Mura (bateria), quatro brasileiros que têm como base a distante Holanda.

O pessoal está estreando de forma independente com o EP "Imprint Forever", que apresenta um amálgama matador de Death Metal e Hardcore. Além das excelentes composições, não se pouparam esforços em sua produção, que inclusive conta com a masterização de Danny O'Really, conhecida figura que já trabalhou com Deicide, Biohazard e Napalm Death.

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O Whiplash! conversou com os mentores Michel e Dom Mura, que se mostraram conscientes e extremamente sintonizados com o underground. Nesta entrevista o Seita fala sobre algumas particularidades do Brasil e Holanda, além do grande desejo de tocar pelos palcos de seu país natal.

Whiplash: Olá pessoal! O Seita é um novo grupo formado por quatro brasileiros que moram em Amsterdam. Poderia contar como foi o início de suas atividades?

Dom Mura: O início se deu por volta do segundo semestre de 2006, comigo e o Michel, após a dissolução de nossas outras bandas. Fomos para o estúdio com algumas idéias e, depois de algum tempo, essas idéias tomaram forma e decidimos tocar o barco pra frente.

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Whiplash: Como é a vida que vocês levam na Holanda? Ouvi comentários de que existe uma considerável colônia de brasileiros por aí...

Dom Mura: Bom, a vida aqui não é muito fácil. No começo a adaptação foi difícil porque aqui faz mais frio do que calor, em torno de nove meses com baixas temperaturas. Nós todos ainda trabalhamos cinco dias por semana e quando temos algum compromisso com a banda (shows ou tour) pegamos dias de nossas férias.

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Dom Mura: Você encontra brasileiros em qualquer lugar no mundo. Aqui na Holanda a quantidade é bem menor se comparado com (os imigrantes de) outros países como Suriname, Turquia, Israel, Marrocos, etc... Há uma quantidade oficializada, mas os que gostam de Metal são poucos.

Whiplash: "Imprint Forever" é um EP que impressiona. Quais eram os objetivos que vocês tinham em mente quando começaram a gravar estas canções?

Michel: O EP "Imprint Forever", em termos de sonoridade e composição, não teve planejamento algum. A maioria das músicas foi composta quando éramos apenas eu e o Dom Mura. A gente ia pro estúdio e simplesmente tocava e tentava criar coisas que sentíamos que seria legal tocar. Não tínhamos planos, não estávamos preocupados com tendências, eram apenas dois amigos fazendo um som. Depois de um tempo percebemos que as músicas estavam realmente ficando legais e tomando vida, foi aí que resolvemos levar a idéia adiante e montar a banda. O Edson veio antes do André e acrescentou bastante no processo final de composição e gravação, e o André deu umas idéias nos toques finais. Mas em geral não tínhamos um plano nem uma meta, a idéia era apenas fazer boa música.

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Whiplash: Você poderia descrever as implicações do significado do título "Imprint Forever" e se há algum sentido especial por trás dele?

Michel: A música "Imprint Forever", que também dá nome ao EP, significa muito para nós. Ela fala de algo que está gravado em você para sempre. "Imprint Forever", no nosso caso, é a música. É uma paixão e doença incurável, acho que foi isso que levou ao nascimento do Seita, simplesmente gostamos demais do que fazemos, e enquanto tivermos forças seguiremos fazendo.

Whiplash: A temática de "Imprint Forever" questiona muito os rumos da sociedade do Brasil. Qual a visão que o cidadão médio holandês tem do povo brasileiro, afinal?

Michel: É verdade, a maioria das letras das músicas deste EP foi inspirada em questões sociais brasileiras. Algo que é inevitável, especialmente sendo brasileiro e morando fora do Brasil, esse é um assunto que está sempre na sua cabeça.

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Michel: As pessoas aqui na Holanda são muito bem informadas e, apesar destes dois fatores, povo e sociedade, estarem totalmente conectados, os holandeses conseguem separar isso. Eles vêem o brasileiro como um povo hospitaleiro, que enfrenta muitas dificuldades e mesmo assim continua a sorrir, que tem uma musicalidade única, que irradia calor. São coisas que eles invejam. Mas com relação à sociedade em geral, eles a vêem como uma sociedade injusta, corrupta e violenta. Infelizmente as estatísticas continuam confirmando esses clichês sobre o Brasil.

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Whiplash: Você acha que a conhecida tolerância do sistema social da Holanda poderia ser um dia aplicada no Brasil?

Michel: Eu não acredito. Porque mesmo aqui na Holanda essa tolerância está diminuindo. O nível de consciência e respeito tem que ser grande demais. Exige uma mudança muito grande na mentalidade. É uma questão de não esperar nada de ninguém, de governo nenhum e assumir a responsabilidade que lhe cabe, só aí e possível haver tolerância em muitos aspectos. Infelizmente esse é um assunto longo e não vai dar para entrar em detalhes, mas eu não acredito que isso possa acontecer. Pelo menos não em um futuro próximo.

Whiplash: O Seita caprichou muito neste EP... Além do belíssimo projeto gráfico em digipack, a masterização ficou aos encargos de Danny O'Really, cara que já trabalhou com Deicide, Biohazard e Napalm Death. O resultado final correspondeu às suas expectativas?

Dom Mura: Primeiramente, obrigado pelos seus comprimentos. Michel, nosso guitarra/vocal conheceu o Danny’O’Really de outros trabalhos, e ele o convidou para a mixagem e masterização de nosso EP. O resultado final correspondeu exatamente às nossas expectativas, mas atualmente já estamos um passo à frente do que foi feito, melhorando a cada dia a qualidade sonora e performance ao vivo da banda.

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Whiplash: Sua agenda de apresentações é movimentada! Como vem sendo a recepção do público? Que banda holandesa vem chamando sua atenção?

Dom Mura: Os shows que arranjamos são frutos de nosso próprio esforço, e tentamos movimentar a banda o máximo possível para atingir o nosso objetivo com essas apresentações. O público vem reagindo de forma positiva durante nossos shows, e desde que as pessoas retornem após um show é um sinal que estamos fazendo nossa parte e caminhando para o nosso objetivo. O Legion Of The Damned está em evidência na mídia, o Pestilence voltou com nova formação, e gosto também do Severe Torture.

Whiplash: Existe grande diferença entre o underground brasileiro e o holandês?

Dom Mura: A diferença existe. No underground holandês o público apóia a cultura num contexto geral, e comparece em eventos de diversas categorias, estando preparado para novas experiências e novos tipos de músicas.

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Dom Mura: De um tempo para cá o underground brasileiro está se organizando de melhor forma e mais profissional, e consequentemente mais bandas estão vindo para o Brasil. Isso só mostra que o underground está sendo levado a sério e quem ganha com isso e o público brasileiro.

Whiplash: "Imprint Forever" possui apenas seis canções, mas que deixam o ouvinte na expectativa de um CD completo. Vocês tem tido tempo para planejar algo neste sentido? Seria ótimo se conseguissem distribuir o novo álbum no Brasil.

Michel: Como foi falado anteriormente, o "Imprint Forever" não foi planejado, não havia uma meta. Agora e diferente. Agora queremos superar o "Imprint Forever" em termos gerais, composição, sonoridade, etc... Como ainda somos uma banda independente, não temos pressão pra fazer logo um CD completo, então queremos muito manter o foco para realmente compor um disco que represente o Seita. Já compomos algum material novo e, por estar começando esse processo com a banda completa, eu já sinto a diferença na força das composições. O ganho em peso está sendo absurdo!!! Com certeza trabalharemos muito para esse CD sair no Brasil. Apesar de estar aqui há algum tempo, o Brasil é o nosso berço e sonhamos todos os dias em ter o CD lançado aí e voltar a tocar "EM CASA" !!! Com certeza esse é um dos principais objetivos!!!

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Whiplash: Ok, pessoal! Agradeço pela entrevista, e fiquem à vontade para as considerações finais. O espaço é de vocês!

Dom Mura: Nós é que agradecemos, é um prazer conceder essa entrevista e fazer parte desse grande site que é o whiplash.net. Estamos aqui na Holanda, trabalhando duro, enfrentando as adversidades e obstáculos para um dia levarmos o Seita para o Brasil. Um abraço e obrigado!

Michel: Queria muito agradecer o pessoal do Whiplash e toda a galera aí do Brasil que, mesmo com a distância, tem demonstrado interesse e muito apoio ao Seita. Todos nós do Seita começamos tocando em outras bandas no underground do Brasil, tomando cachaça na porta do boteco antes e depois do show, headbanging, escutando nossas bandas favoritas e curtindo a conexão com a galera que curte e vive a música pesada de coração. Queria dizer que somos esses mesmos caras, o sentimento que move o Seita é o mesmo desse tempo, e tudo que temos feito e vir a fazer vai ser em razão disso. A galera aí pode ficar tranquila que, de nossa parte, o esforço sempre será o maior possível pra levar essa bandeira, essa energia que vem daí pro ponto mais alto possível. Um abraço a todos e muito respeito. Obrigado.

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http://www.seitaofficial.com
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Sobre Ben Ami Scopinho

Ben Ami é paulistano, porém reside em Florianópolis (SC) desde o início dos anos 1990, onde passou a trabalhar como técnico gráfico e ilustrador. Desde a década anterior, adolescente ainda, já vinha acompanhando o desenvolvimento do Heavy Metal e Hard Rock, e sua paixão pelos discos permitiu que passasse a colaborar com o Whiplash! a partir de 2004 com resenhas, entrevistas e na coluna "Hard Rock - Aqueles que ficaram para trás".
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