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Marilyn Manson: "Em um momento eu queria desistir da música!"

Por Rafael Tavares
Fonte: Blabbermouth
Postado em 03 de maio de 2007

MARILYN MANSON foi o convidado na estréia da temporada do The Henry Rollins Show no canal Independent Film Channel (IFC) na sexta-feira, 13 de Abril. A seguir a transcrição da entrevista, feita pelo MansonUSA.com.

Henry Rollins: Você esteve fora da música por um tempo?

Marilyn Manson: Foi um período estranho. Eu passei por um momento 'Ziggy Stardust' onde eu queria desistir da música. Eu não tinha interesse em fazer isso porque a indústria musical chegou a um ponto onde eu simplesmente me sentia completamente insatisfeito, desinteressado. Algo muito 'objeto', meio que como um produto, basicamente um clichê do que as pessoas deveriam sentir. Mas eu simplesmente não me sentia inspirado e então eu me afundei num estranho buraco negro onde eu realmente não sabia o que queria fazer, e eu perdi a identidade, como se eu não soubesse quem eu era, pois eu realmente não tinha nada, porque eu sempre me identifiquei pessoalmente por aquilo que eu fazia e meu maior medo sempre foi não ser capaz de criar e eu quase cheguei a esse ponto. Eu cheguei a este ponto por alguns meses, onde eu acho que nunca havia chegado, fiquei tão perdido, e coisas diferentes mudaram, pessoas diferente em minha vida mudaram, as coisas se deslocaram e eu escrevi uma música e então isso tornou-se, talvez, o álbum mais rápido no qual eu já trabalhei.

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Este é o disco que eu sempre quis fazer mas nunca havia feito. Eu não tenho certeza se este álbum é muito 'americano', especificamente. É provavelmente o mais autobiográfico. O ponto central é tentar encontrar uma conexão. É o sentimento definitivo de que você quer ser parte de alguma coisa, que você é importante. A coisa toda é você querer ser, se sentir como parte de alguma coisa. Então, desta forma, é como se compreendesse minha vida inteira, se eu tivesse que analisar objetivamente. Eu não acho mais que é a minha visão do resto do mundo. Sou eu falando coisas sobre mim mesmo, que talvez eu fosse muito tímido ou reservado para falar. Isto realmente irá afastar as pessoas um pouco. É muito Rock and Roll. É muito 'não-tecnológico', soa muito voltado para a música.

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Depois de ter sobrevivido a Columbine (nota: massacre ocorrido em Colorado, EUA, onde dois jovens mataram vários colegas de classe e depois se mataram; Manson foi acusado de 'influenciar' esses jovens com suas músicas) eu cheguei ao limite daquilo que você pode tolerar, pois aquilo foi realmente a pior coisa. Hollywood e as pessoas olhavam torto para mim, como se eu tivesse feito algo errado, tipo, 'que porra é essa? O que você está fazendo?'. Eu simplesmente aprendi a lidar com isso. Eu tive que me mudar de L.A. e fui para Chatsworth. Não entrei mais em contato com a mídia. Eu me recusava a fazer isso. Eu recebia ofertas de todo mundo, até que Michael Moore (nota: cineasta criador do documentário Tiros em Columbine, sobre o tal massacre ocorrido em 1999) me entrevistou. Isso não aparece em 'Tiros em Columbine' mas eu voltei a Denver pela primeira vez desde então quando estive no Ozzfest no Mile High Stadium.

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Nós tivemos centenas, centenas de ameaças de morte então eu pensei, 'se eu for morrer será hoje porque é o Mile High Stadium, eles não vão conseguir impedir se alguém quiser dar um tiro', então, quando eu entrei no palco, eu tive que decidir, eu não consigo viver sem fazer o que faço então eu tenho que aceitar o fato de que eu vou morrer por isso se hoje for o dia e… foi um ótimo show. É óbvio que eu não morri.

Mas quando eu fiz aquela entrevista, não havia um nome para o documentário, ainda não tinha chegado àquele ponto. Eu falei com ele (Michael Moore) por cerca de duas horas e meia e várias coisas que ele disse na segunda parte do documentário foram coisas que eu disse pra ele mas que abriram uma janela para me reintroduzir ao mundo, (me apresentando) de uma maneira que mostrou que as pessoas ainda não haviam me entendido antes.

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E se eu fosse pago por cada vez que alguém chegasse pra mim num aeroporto, ou qualquer lugar, dizendo 'eu te vi em Tiros em Columbine'... a coisa mais comum que eu ouço é, 'eu não sabia que você era tão inteligente'. E eu digo, tipo, 'eu não sabia que você era tão idiota, mas eu não te conheço' saca? Mas no fim... é tipo um tapinha nas costas.

As pessoas me perguntam o que eu acho disso (o documentário) e eu, é claro, gostei de como eu fui envolvido (no documentário), algo que o filme não mostrou. Tem muita coisa lá que eu queria que o filme respondesse e ele não respondeu. Finalmente, eu gostei do que o filme fez mas até onde o tema de verdade importa e as respostas que me deixaram obcecado, porque eu me tranquei em um sotão por três meses, e eu não queria falar com ninguém porque eu tive mede de ser morto; então eu queria muitas respostas e eu não as obtive; mas isso é algo diferente.

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Henry Rollins: O que te assusta na América hoje?

Marilyn Manson: O que me assusta, é como o homem comum pode ser manipulado, o quão longe o governo por ir, o quão longe até podermos chegar em George Orwell (nota: escritor e jornalista, autor de livros como "Revolução dos Bichos" e "1984"). Tem tanta gente que sabe e fala sobre isso. Entretanto muitas pessoas irão assistir ao seu show e saber disso e concordar com você, que assistem Bill Maher (nota: comediante), 'Tiros em Columbine', e você pensaria, se todas essas pessoas fizessem algo a respeito, porque estaríamos na mesma posição? Então, é assustador ver que esse direito é muito controlado.

Se as pessoas realmente parassem para pensar em quanta arte e pessoas criativas moveram o mundo contra a política e religião, não seria nem justo debater. Um artista, pelo menos, cria coisas, coloca coisas no mundo, enquanto essas outras pessoas estão destruindo coisas, tirando coisas do mundo. Esse sempre foi o ponto da política, de reprimir isto pois eles têm medo, e eles sabem disso.

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Henry Rollins: Quão importante a pintura é para você hoje?

Marilyn Manson: Nos últimos meses eu não tenho pintado pois tenho cantado. Mas sempre foi uma saída. Especificamente, se eu estou frustado, ao invés de passear ou assistir TV ou alguma coisa, eu iria pintar. Arte degenerada e a era Dadá, eles faziam isso (arte degenerada) no senso do Punk Rock. Que foi o Punk Rock original. Riscos de vida. Em ser um escritor, se você quer ser único, você sempre tem que dizer alguma coisa que outra pessoa não esteja falando. Até mesmo pra se considerar um escritor, você tem que ser controvérso, caso contrário… você não estará fazendo nada. Eu sempre quis levar as coisas um passo à frente, onde eu sentia como se tivesse pondo em risco minha segurança pessoal, minha reputação pessoal, para defender o que eu digo.

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Henry Rollins: Como você espera ser lembrado?

Marilyn Manson: Eu sempre pensei nisso e a resposta mais fácil sempre foi, 'até aonde eu possa ser lembrado', mas no fim das contas não é bem isso em que eu acredito. Como escritor, seja escrevendo músicas ou livros, ou simplesmente dizendo o que eu acredito em um quadro, tanto faz, eu só quero ser lembrado como alguém que tomou um tempo e se arriscou por aquilo que acreditava, que arriscou sua vida para colocar aquilo no mundo. Alguém que acima de tudo era um artista. Eu realmente gostaria de ser capaz de… eu não me sinto desconfortável dizendo isso, mas lembro de quando estava crescendo, dizer que você é um artista soava pretencioso, agora é uma das únicas coisas dígnas as quais você pode se considerar.

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Sobre Rafael Tavares

Nascido em 1987, descobri o rock and roll já cedo, aos 6 anos de idade, quando ouvi "I Don't Care About You" com o Guns N' Roses em algum momento de 1993. De lá pra cá minha paixão pela música pesada e, especialmente pelo Guns N' Roses (que estará para sempre marcado em minha pele, alma e coração) cresceu exponencialmente. Sebastian Bach me fez querer virar cantor e o resto é história. Produtor fonográfico, formado em Letras e professor. Tão diversificado quanto o Rock and Roll, essa é minha vida, esse é meu clube. =D
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