Before Eden: Chegando ao lançamento do seu primeiro e grande CD
Por Paulo Finatto Jr. e Thiago Sarkis
Postado em 10 de outubro de 2005
De Santa Catarina a banda Before Eden está chegando ao lançamento do seu primeiro e grande CD, "The Legacy of Gaia". Metal progressivo de muita qualidade, com uma dose bastante considerável de características próprias, a banda está trabalhando ao lado da Hellion Records para a expansão do seu trabalho, no seu próprio país, que pouco a conhece. Alessandro Kotlinsky, o guitarrista, nos concedeu esta entrevista, que nos contou mais sobre a história da banda, seus antigos lançamentos e sobre o curioso legado de fãs que a banda já tem na Alemanha. E obviamente, muitos detalhes quando ao "The Legacy of Gaia".
Whiplash! - O primeiro lançamento de vocês, o CD independente "Before Eden", levou a banda a uma parceria para a distribuição com a Hellion Records. Quais foram os resultados do lançamento do debute aqui no Brasil?
Alessandro Kotlinsky - Obtivemos boas críticas de sites e zines especializados, mas em termos de venda não foi muito bem. O CD tinha curta duração, pouco mais de meia hora, além da qualidade sonora estar um pouco abaixo da média na época. Serviu mais como um "cartão de visitas", possibilitando alguns shows pela região Sul. Mais tarde a música "Fallen Angel" acabou fazendo parte da Hellion Collection 3, o que fez com que a banda fosse mais reconhecida, principalmente na Europa.
Whiplash! – O primeiro CD teve então exposição também no exterior?
Alessandro Kotlinsky - O CD foi posto à venda na Alemanha pela Hellion e o resultado foi muito mais positivo por lá do que aqui. A recente porcentagem de fãs que conquistávamos era praticamente toda do exterior. A coletânea da Hellion acabou sendo o principal de tudo, eram apenas três bandas nacionais em meio de tantas bandas de renome internacional. Foi uma ótima divulgação que fortaleceu bastante o nosso nome na cena.
Whiplash! - Por que levou tanto tempo para o lançamento deste segundo álbum, "The Legacy Of Gaia"? Seria errado considerá-lo como o verdadeiro debute do Before Eden?
Alessandro Kotlinsky - Problemas financeiros. Queríamos qualidade, mas de forma alguma tínhamos dinheiro para pagar um estúdio profissional. Decidi então que compraria o equipamento necessário para gravarmos na minha própria casa, assim teria tempo para estudar e fazer o melhor possível. Passei meio ano estudando produção musical para a gravação do álbum, inclusive tive que abandonar meu emprego para tal... Mas a vontade de me tornar produtor foi sempre muito grande e queria muito provar que era capaz de produzir um excelente álbum mesmo com recursos limitados. Não tínhamos condição de gravarmos a bateria, então esta foi gravada no RVB estúdios. O restante foi todo gravado, mixado e masterizado em meu ‘home-studio’. Fizemos a coisa com muita calma, não queríamos ter nenhum arrependimento depois. Apesar de ter demorado bastante, estamos muitos felizes com o resultado, principalmente pelo fato da crítica estar elogiando bastante, tanto pelo bom gosto das composições como pelo ótimo trabalho de produção. Comercialmente o novo álbum até pode ser considerado como o "debute" da banda. Não seria errado, mas acho que também não seria apropriado.
Whiplash! - Entre o lançamento destes dois CDs, a banda soltou a "Demo 2003" contando com três faixas, entre elas uma ao vivo, com uma gravação espetacular. Vocês pretendem aproveitar no futuro outras músicas retiradas daquele mesmo show? Pensam na gravação de mais material ao vivo?
Alessandro Kotlinsky - Sempre que temos condição de gravar algum show o fazemos. Se alguma música fica legal damos um jeito de divulgá-la. Colocamos recentemente no nosso site um vídeo da música "As I Am" do Dream Theater que tocamos no lançamento do nosso novo CD em Blumenau (SC), no mês de julho de 2005. Houve um amigo nosso que a filmou e a qualidade ficou muito boa, então resolvemos disponibiliza-la para ‘download’. Mas um álbum ao vivo ou coisa do gênero... não achamos que é hora para pensarmos nisso. O certo hoje em dia é gravar um DVD, mas o custo é muito alto. Em relação à gravação do show que fizemos em Joinville no final de 2002, a única música que realmente ficou legal foi a "Elemental Máster" que está presente na "Demo 2003". O restante jamais será aproveitado. Inclusive logo colocarei esta faixa ao vivo de volta em nosso site oficial para ‘download’, já que faz algum tempo que ela foi retirada por motivos técnicos e também porque a "Demo 2003" não está mais disponível para venda.
Whiplash! - Não há nenhuma música do debute auto-intitulado neste novo álbum. Vocês tinham a intenção de fazer um disco totalmente novo e deixar o passado da banda sem ligação com a atual fase? Como você compararia o início do grupo com o momento atual?
Alessandro Kotlinsky - Sim, tínhamos material novo para um álbum completo com quase uma hora de duração e então resolvemos deixar o passado para trás, ainda mais que as novas composições estavam muito mais maduras. Comparando as fases da banda, no começo tínhamos um contexto menos abrangente e também uma menor participação de todos os membros da banda, isto é, eu e o Juliano fazíamos praticamente tudo. Com a entrada de Ricardo Tomedi a coisa mudou um pouco, principalmente pelo fato dele ter um gosto musical muito variado. O Jaison também evoluiu muito e a banda está agora muito mais confiante, pois desenvolveu um estilo sonoro próprio onde todos participam. O caminho que uma banda percorre até o seu reconhecimento é muito relativo, depende de muitas coisas como dedicação, sorte e até mesmo dinheiro. Mas acho a amizade e a sinceridade entre os componentes da banda muito fundamental para seu desenvolvimento e isso é um ponto forte no Before Eden, por isso o momento atual é muito melhor que no começo. Estamos cada vez mais próximos e apesar das diferenças não escondemos nossas idéias. Resolvemos o que é melhor para a banda sem que nenhum de nós saia prejudicado.
Whiplash! - Para o trabalho atual, porém, vocês tiraram uma música da "Demo 2003", a épica "The Legacy Of Gaia", dividida em seis partes. Por que decidiram reformular a composição que já era destaque desde a primeira versão?
Alessandro Kotlinsky - Não a reformulamos. A idéia foi sempre essa, mas quando gravamos o CD demo, para demonstrarmos nosso material para as gravadoras, a música hoje intitulada "Enemy Eve" não tinha nome e acabou ficando com o nome da parte conceitual. Inclusive esta era a única música completa, todo o resto ainda estava sendo composto. Isso acabou confundindo muita gente e também não tínhamos o propósito de divulgar e vender a demo naquela época, mas como estávamos recebendo elogios da crítica e tudo mais...
Whiplash! - É complicado citar um destaque em especial dentro do álbum, mas "Wizard Of The South", "Essence" e "Enemy Eve" são ótimas. Como está sendo a repercussão de cada música? Também, qual a favorita de cada integrante?
Alessandro Kotlinsky - Isso é algo engraçado, pois se você verificar em todos as resenhas que tivemos até agora, todas as músicas já foram citadas como destaque. Você por exemplo citou a "Enemy Eve", e foi a primeira vez que ela apareceu entre as melhores! (risos) Isto é esquisito, não sei sé é bom ou ruim, mas a "Wizard Of The South" aparece em todos os destaques... Acredito que essa seja a preferida de muita gente e também do Jaison e do Juliano, se eu não estiver enganado. A gente costuma dizer que gosta de todas, e isso é verdade, mas sempre temos uma "queda" por uma delas. A minha preferida acaba por ser a "Nomad Soul", mas tem muito a ver com a pegada e a gravação dela, que de certa forma deram um toque especial.
Whiplash! – Além do trabalho na produção, outra mudança significativa dentro da ‘performance’ da banda é a forma de cantar de Jaison Peixer. Antes tínhamos uma voz mais suave e melódica, agora está um pouco mais grave e agressiva...
Alessandro Kotlinsky - Sempre achamos que esse era o melhor caminho a seguir, mas tudo aconteceu de forma natural, a própria evolução como vocalista levou o Jaison a cantar dessa forma. Ele ainda era um garoto quando gravou o debute "Before Eden" e também era a primeira vez que estava cantando numa banda. Agora é fã de Fábio Lione, então você já pode imaginar... Está cantando de acordo com o que a música pede.
Whiplash! - Digo que o Before Eden está hoje com uma nova base instrumental, pois aquela temática de metal erudito foi deixada um pouco de lado, para seguir por um caminho mais progressivo e épico.
Alessandro Kotlinsky - Com o passar dos anos tem acontecido algo interessante entre os componentes da banda, pois nossos gostos musicais de certa forma têm se distanciado. Particularmente acredito que hoje em dia eu seja o cara mais radical da banda, compondo músicas mais pesadas e futuristas. O bom disso é que o nosso som fica mais eclético, além de forte musicalmente, pois cada componente faz o que sabe fazer melhor dentro de seu gosto musical. O maior exemplo disso é o novo álbum, você encontra uma grande diversidade, músicas em estilos neoclássicos, futuristas, algumas você pode referir até a um thrash metal e outras a um metal mais moderno.
Whiplash! - Se antes a banda já possuía um certo reconhecimento no exterior com "Before Eden", qual será o próximo passo com o lançamento de "The Legacy Of Gaia" concretizado em terras estrangeiras?
Alessandro Kotlinsky - Ainda estamos em fase de negociação com distribuidoras internacionais, mas o CD já está à venda na Alemanha através da Just For Kicks Music. Esperamos lançar o novo álbum lá fora o mais rápido possível, pois temos certeza que o sucesso do CD na Europa e no Japão será muito maior do que aqui.
Whiplash! - Como o grupo se sente em seu próprio país, onde os espaços para uma banda com sonoridade tão complexa costumam ser pequenos? Isto porque, ao que parece, a quantidade de bandas de metal progressivo que realmente conseguem se destacar em todo o Brasil é mínima ou quase nula...
Alessandro Kotlinsky - É difícil falar sobre isso. Bandas de prog metal internacionais têm uma boa reputação por aqui, mas acho que o problema está no fato de que o público brasileiro acha que as bandas de prog metal nacionais além de copiarem as bandas já renomadas não têm álbuns com boas gravações o que compromete muito uma banda com musicalidade complexa em que os mínimos detalhes são muito importantes. Por mais pretensioso que isso possa soar, o Before Eden não sofre desse mal, nem um pouco. E posso falar isso em nome de todas as críticas que temos recebido, nossa originalidade e qualidade no último álbum têm sido constantemente elogiadas. Outro problema daqui é o fato do país ser uma pirataria só. É difícil vender um CD por aqui hoje em dia. Talvez o Before Eden não deva reclamar disso, pois nosso CD está barato através da Hellion Records além de ser um álbum muito profissional, com encarte de seis folhas e ótima gravação... Mas os álbuns de bandas internacionais acabam custando muito caro e o metal acaba sendo prejudicado no nosso país. As coisas dificilmente irão mudar, o governo daqui é uma bosta e as bandas de metal nacional têm que primeiro fazer sucesso lá fora para depois conquistar o país, infelizmente é assim.
Whiplash! - Quais bandas e músicos você mencionaria como grandes influências ao Before Eden?
Alessandro Kotlinsky - Em um contexto geral somos influenciados por Symphony X e Dream Theater. Acho que a primeira talvez pelo lado musical, e a última mais por toda a sua atitude e conquista. Particularmente fui influenciado por muita coisa durante todos esses anos... Agora, de uma forma individual, em relação a cada componente da banda, posso citar bandas como Evergrey, Nevermore, Kamelot, Rhapsody, Rush, Deep Purple, e músicos como John Petrucci, Michael Romeo, Jeff Loomis, Tony Macalpine, Yngwie Malmsteen, Michael Pinella, Jordan Rudess, John Myung, Mike Portnoy, Neil Peart, Russell Allen, Freddie Mercury, Fábio Lione, Michael Kiske, etc.
Whiplash! - Uma curiosidade... De onde veio esse nome? Há algum significado especial?
Alessandro Kotlinsky - A idéia foi minha. Primeiramente, ele foi escolhido por ser esteticamente muito bonito (escrita e fonte utilizada) além de soar muito bem. De alguma maneira ele pode ser relacionado com o paraíso descrito na Bíblia, mas não temos nada a ver com uma religião ou coisas do gênero. O Before Eden é uma banda livre de rótulos e expressa as suas idéias livremente, falamos de diversos temas e não pregamos nada de forma extremista, como sendo uma verdade para todos. Falando de seu surgimento, este nome me acompanha há mais de dez anos. Eu já o tinha em mente antes mesmo da banda ser formada. Ele significa "Antes do Éden", representando assim a energia que gerou tudo. Como o universo da banda é a nossa música, somos a energia que alimenta e dá vida a este universo, a identidade chamada Before Eden.
Whiplash! - Obrigado pela entrevista Alessandro, este espaço final fica para uma mensagem da banda aos leitores do Whiplash!.
Alessandro Kotlinsky - Muito obrigado ao Whiplash pela oportunidade! Aos leitores: não esqueçam de acessar o site oficial da banda para conhecer o nosso trabalho. Baixem as músicas, vídeos, deixem as suas opiniões no nosso ‘guestbook’ e não hesitem em entrar em contato! Valeu!
Site Oficial – www.beforeeden.com
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