Avec Tristesse: Entrevista exclusiva com o vocalista Pedro I. Salles
Postado em 16 de março de 2003
Depois da saída de alguns integrantes e muita batalha para gravar o seu trampo, o Avec Tristesse consegue lançar o seu debut "Ravishing Beauty" pela Hellion Records. Vindos do Rio de Janeiro e formada por Pedro I. Salles (Vocal/Guitarra/Sintetizador), Nathan Thrall (Bateria/Vocal) e Raphael G. (Baixo), a banda vem recebendo excelentes críticas por parte da imprensa e do público. Conversamos com Pedro I. Salles para que você leitor conheça mais desta banda promissora que é o Avec Tristesse!
Por Carol Mendes
Whiplash! - Conte-nos um pouco da história da banda.
Pedro I. Salles / O Avec Tristesse já está com mais de 2 anos de vida. Começamos como um projeto de gravação caseira. Era muito produtivo, pois em casa, longe do ouvido alheio, podemos experimentar várias coisas. Cresci bastante como compositor dessa forma. Quando as músicas começaram a ficar realmente boas, decidi montar uma banda para executar as músicas. Após algumas formações, cheguei à formação que gravou o disco. Eu, Pedro I. Salles cantando e tocando guitarra, Raphæl G. no baixo, Nathan Thrall na bateria e, os já ex-membros, Alexander Woden nas guitarras e Bruno Campbell nos teclados. Hoje contamos com 2 membros convidados para shows, eles são A. Graham nas guitarras e F. Vizeu nos teclados.
Whiplash! - Como vocês poderiam definir o som do Avec Tristesse? Quais as maiores influências da banda?
Pedro I. Salles / O som da banda é uma tentativa de nos expressarmos através da música. Nas partes mais agressivas, tentamos, obivamente, passar um sentimento de raiva e agonia enquanto nas partes lentas tentamos passar um outro tipo de sentimento. Temos infinitas influências, musicais e não musicais. Dentre elas, destaco a forte influência de trilhas sonoras de filmes da minha parte e bandas como Carcass, Slayer, My Dying Bride e Opeth.
Whiplash! - Porque o nome da banda em francês?
Pedro I. Salles / Achei que seria algo diferente, e a língua francesa tem a ver com o nosso som, no sentido de ser muito sensual e romântica. Avec Tristesse significa "Com Tristesa" em francês, que vem a descrever o que tentamos produzir.
Whiplash! - Com a saída do guitarrista Alexander Woden e do tecladista Bruno Campbell, vocês acabaram se tornando um trio. Mas vocês já têm músicos contratados para uma possível turnê. Existe a possibilidade deles se tornarem músicos fixos da banda?
Pedro I. Salles / Sim existe, porém no momento queremos passar pela experiência de gravar o segundo disco como um trio. Ele já está todo composto e será redundante eu passar as partes de guitarra e teclado pro guitarrista e o tecladista reproduzirem. Seria uma perda de tempo e dinheiro.
Whiplash! - Como será a turnê de divulgação do CD "Ravishing Beauty"? Afinal, o contrato com Hellion rendeu um reconhecimento do Avec Tristesse em quase todo território nacional.
Pedro I. Salles / Gostaria muito de fazer uma turnê. No que depender de nós, tocamos em qualquer lugar. Queremos mostrar nosso som ao vivo para todo mundo. Tentamos passar esse sentimento do disco pro palco, pois achamos que um show é 50% audio e 50% visual. Se fosse 100% audio, não teria porque as pessoas irem assistir.
Whiplash! - Em todos os sites e revistas, as notas dos reviews foram bem positivas. Vocês já esperavam por isso?
Pedro I. Salles / Sinceramente, não. Esperava que as notas fossem mais baixas por causa da curta duração do disco e da gravação que não ficou lá essas coisas. Porém, eu acho esse sistema de dar notas uma coisa meio desprezível, pois, eu posso dar 10 para um disco e você pode dar 5 para o mesmo; varia de pessoa pra pessoa e é uma 'política' a ser repensada.
Whiplash! - Como está sendo a repercussão do álbum?
Pedro I. Salles / Parece que está sendo muito positiva em termos de números e críticas. Estamos recebendo muitos e-mails de pessoas satisfeitas com o disco e querendo ver a banda ao vivo. Queria agradecer todo mundo, pois são muito gentis.
Whiplash! - Existem planos para lançamento ou distribuição no exterior?
Pedro I. Salles / Vamos discutir isso em breve com a gravadora. Por enquanto só sei que existe tal possibilidade. Não sei se posso revelar algo sobre isso, mas acho que algo na america latina está sendo planejado.
Whiplash! - Quais os problemas enfrentados com os outros estúdios? Isso também ocorreu para que vocês gastassem mais dinheiro e com isso diminuissem o número de músicas do álbum, já que contém não mais que 35 minutos?
Pedro I. Salles / Sim, você acertou na mosca. Por causa dos problemas com estúdios, acabamos gastando muito dinheiro à toa. Os problemas foram todos derivados da total falta de profissionalismo de certas pessoas. Tivemos que fazer a mixagem e a masterização duas vezes em estúdios diferentes.
Whiplash! - Qual é a melhor exemplificação do conceito da capa de "Ravishing Beauty"? Podemos fazer alguma analogia da capa com a Ofélia, da peça de Shakespeare, "Hamlet"?
Pedro I. Salles / Sim, isso pode ser feito. Além disso, achei que seria ótimo esteticamente para ilustrar a capa do disco. A única modificação que fiz, foi transformar o retrato da cena para de noite, pois se você tiver a oportunidade de ver o quadro original, vai ver que é de dia.
Whiplash! - Algumas notícias divulgadas nos últimos tempos revelaram que o Avec Tristesse já está preparando o seu próximo CD. O que os fãs podem esperar deste novo material, algo mais próximo do black metal ou do metal gótico?
Pedro I. Salles / Acho que ele ficou mais épico e mais bem trabalhado. Ao contrário do primeiro disco que não teve uma pré-produção completa e foi parte improvisado, nesse tivemos como ouvir como as músicas vão ficar antes de gravá-las, fazendo a pré-produção, podendo então lapidar as músicas e encrementá-las deixando-as o mais rico possível.
Whiplash! - Porque ao invés de pensar em uma longa turnê de divulgação para o primeiro trabalho, vocês já estão pensando em lançar algo novo?
Pedro I. Salles / Um novo trabalho está muito mais viável aos nossos olhos, do que uma longa turnê. Primeiro por causa do custo, que eu imagino ser muito alto para a nossa gravadora bancar sozinha. Segundo por já estarmos a mais de um ano a ponto de bala para começar a gravar o segundo disco. No tempo em que estivemos esperando o primeiro sair, gravamos toda a pré-produção do segundo disco no meu computador. Estamos muito entusiasmados com ele e não queríamos perder esse clima que rodeia nossas músicas novas. Achamos que isso possa acrescentar em alguma forma na hora de gravar pra valer no estúdio.
Whiplash! - Quais são as músicas presentes no álbum que melhor resultado vêm obtendo junto aos fãs? Por curiosidade, estas músicas que estão com maior sucesso são as prediletas de vocês?
Pedro I. Salles / As que estão fazendo mais sucesso são "The Crown of Uncreation" e "De Sombre Amour et Souffrance". Porém a que eu gosto mais é "She, the Lust". É engraçado que "De Sombre Amour et Souffrance" foi feita na hora em que ela foi gravada no estúdio. Eu só tinha a letra na mão e uma idéia na cabeça. Era para eu declamar aquela prosa em francês, porém achei que uma menina fazendo isso, deixaria mais rico e variado.
Whiplash! - Além do Avec Tristesse, os integrantes têm alguma outra banda?
Pedro I. Salles / Cada um tem seus projetos e bandas paralelas. Destaco um projeto de black metal do nosso baterista Nathan Thrall e do nosso guitarrista convidado A. Graham chamado Ad Noctum, eles estão batalhando para conseguir terminar a primeira demo deles. Eu tenho um projeto com 2 integrantes do Venin Noir e, novamente, com o guitarrista A. Graham, chamada In Pure Sanity. O estilo ainda está se desenvolvendo, mas está com uma carinha de Death Metal melódico com vocais, digamos, diferentes. Eu canto e toco baixo nesse projeto. Destaco também a minha outra banda chamada Ashtar. Fazemos um som bem original misturando folk/celta com rock progressivo e um pouco de metal. Toco teclado nessa banda.
Whiplash! - Como vocês vêem o cenário do Metal no Brasil hoje em dia?
Pedro I. Salles / Pelo que andei vendo nas outras cidades, assim como aqui no Rio, cada lugar tem suas características. Algumas cidades têm maiores públicos e recursos, como São Paulo. Já aqui no Rio, por exemplo, o público é grande, porém sem recursos. O mesmo acontece em Salvador e Curitiba. Se bem que Curitiba tem mais recursos que o Rio, mesmo sendo uma cidade bem menor.
Whiplash! - Notamos que a cena nacional tem evoluído bastante em termos de lançamentos com trabalhos cada vez mais bem acabados e com sonoridades excelentes, a nível internacional. Porém, o publico ainda não dá o devido valor para as bandas nacionaism, assim como os produtores de eventos. O que você acha que deveria ser feito para isso mudar?
Pedro I. Salles / Antes de mais nada, gostaria de expressar a minha profunda decepção com aquelas pessoas (são muitas) que gastam R$150 com uma calça de couro, R$200 com cinto de bala, R$250 com um coturno e são os primeiros a falarem que não vão pagar 5 míseros reais para assistir a um show porque está muito caro, ou R$18 por um CD nacional, pelo mesmo motivo. Acho que esse é um problema proveniente da mentalidade das pessoas. Não consigo pensar em uma solução eficaz. O único jeito é não desistir e continuar à luta. Talvez aumentar a comunicação entre as pessoas ajude; convencer seus amigos que vale mais a pena investir em shows e CDs do que em "visual".
Whiplash! - O espaço é de vocês para considerações finais.
Pedro I. Salles / Obrigado pela oportunidade Carol e Whiplash. Espero poder responder novamente a perguntas suas.
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