Vers - Entrevista exclusiva com a banda
Postado em 31 de janeiro de 2001
O Vers'Over foi formado em fevereiro de 1997 por Gustavo Carmo (G), Rodrigo Carmo (V), Fernando Hagihara (B) e Maurício Magaldi Suguihura (ex-baterista do Thanatus), sendo natural de Bebedouro (interior paulista). Com o seu primeiro álbum, ou seja, Love Hate & Everything In Between, a banda se destaca por haver composto um material cheio de musicalidade, onde os estilos variam desde o rock progressivo, passando pelo latente heavy metal e terminando com algumas pitadas de thrash. Destaque garantido também tem o conhecimento musical que a banda possui, com todos os integrantes tendo seus devidos estudos. Para esta entrevista, o Vers'Over nos revelou o quanto a banda, realmente, entende de musicalidade, além dos benefícios decorrentes deste valioso saber. Isso sem contar com a verdadeira aula de como uma banda deve se portar, nos mais diversos casos.
Por André Toral
WHIPLASH - De 1997 até os dias atuais, tendo passado pela demo Endurance, o Vers’Over veio vivenciando muitas coisas. O que estas experiências agregaram ao primeiro álbum, ou seja, Love Hate & Everything In Between?
Maurício Magaldi / Antes de começar a promover a demotape, tivemos que substituir o antigo baixista pelo Fernando Hagihara, para podermos começar a tocar ao vivo e compor novas músicas. Foi dessas novas composições que nasceu a idéia de fazer o primeiro CD. As músicas desse álbum foram feitas e arranjadas durante os cerca de 20 shows que fizemos para promover a demotape. Durante essa época pudemos conhecer a cena de metal nas diversas cidades do interior, além de experimentar as novas músicas ao vivo, antes mesmo de gravá-las. Esse método pode não ser o comercialmente mais viável, porém esses testes serviram para dar modelagens voltadas às performances ao vivo das músicas e conseguir uma aproximação maior entre elas e os membros da banda, o que facilitou a gravação.
WHIPLASH - Incluindo heavy e progressivo, a banda quis demonstrar o quão competente poderia ser, mesmo optando por apresentar complexibilidade no seu estilo musical. Esta escolha foi natural ou vocês planejaram tudo?
Gustavo Carmo / O modo como arranjamos a música do Vers’Over proporciona a todos expressar suas preferências e sentimentos. Como todos temos influências de bandas que fazem música complexa, foi natural para nós nos utilizarmos desses artifícios.
Maurício / O Gustavo traz as músicas em seu formato ainda bruto e propõe as idéias a todos. A partir daí estruturamos e refinamos os arranjos até a forma final da música. Quanto ao estilo, Heavy Metal é para sempre. A complexidade das músicas retratam apenas um momento do Vers’Over e não quer significar, de maneira alguma, que esse é o único modo com que as faremos no futuro.
WHIPLASH - Apresentando um som quebrado e de variações diversas, o Vers’Over sofreu alguma pressão interna, já que o estilo praticado é algo que envolve determinado risco?
Gustavo / Como era a nossa primeira experiência com a indústria fonográfica, a última coisa em que a gente pensou enquanto compunha foi na viabilidade comercial do projeto.
Rodrigo Carmo / Nós falávamos: "Tem uma puta coleção de músicas legais na banda. O que a gente faz com isso?". Então pressão quanto à complexidade foi algo que não existiu. Risco a gente assumiu mesmo quando quisemos formar a banda e tocar Heavy Metal no Brasil (risos).
Fernando Hagihara / Desde que entramos em contato com a Die Hard Records, o estilo e complexidade da nossa música foi o que os cativou - nunca questionaram. Para eles, isso é um ponto positivo no Vers’Over; trabalharam com esta característica em divulgação e confiam em nós, mesmo se decidirmos diminuir essa complexidade.
WHIPLASH - Ao analisar Love Hate & Everything In Between, pode-se perceber muito profissionalismo e instrumental apurado. As bases de guitarra são inspiradas e tudo está no seu devido lugar. Isso foi fruto de muito trabalho e estudo, ou se deu de forma rápida?
Gustavo / Instrumental apurado é o que a gente chama de coesão musical. Apresenta-se uma idéia, ensaia-se essa idéia à exaustão, até ficar legal. Se ficou legal e a gente enjoou, descartamos; caso contrário é algo especial que deve ser fixado. Por isso nos sentimos satisfeitos toda vez que tocamos qualquer música, desde ENDURANCE. Portanto o instrumental apurado é algo que exige muito, justamente por termos que ser cautelosos em sua definição. Quanto ao profissionalismo (e agradecemos o elogio!!!), só pode ser fruto de bom senso e democracia dentro da banda. Nós sempre encaramos tudo o que fizemos com profissionalismo, pois é o ponto de partida para que uma banda dê certo.
WHIPLASH - Os músicos da banda tiveram aulas sobre seus instrumentos antes?
Maurício / O Gustavo estuda violão clássico há mais de 4 anos com o professor Henrique Pinto, e guitarra com Mello Jr. há uns 2 anos, além de ter formação teórica/musical completa com o Maestro Claudinei Alves; também estuda harmonia e contraponto com o Prof. Dr. Calimério Soares. O Fernando estudou piano durante 4 anos e toma aulas de baixo há uns 5 anos.
O Rodrigo estuda canto clássico também com o Maestro Claudinei há 4 anos.
Eu estudo percussão militar há apenas 6 meses, antes disso fiz aula com diversos professores durante 5 anos.
WHIPLASH - As melodias e posicionamento do vocal também ficaram excelentes, dentro do contexto sonoro. Que método foi utilizado para juntar estes fatores?
Gustavo / Todas as melodias foram tratadas com um cuidado especial de identificação de tessitura, assim facilitando as diversas interpretações, antes de serem fixadas às bases. Esse tratamento é um cuidado necessário para que as melodias soem bem dentro de cada contexto com uma determinada interpretação. Nos preocupamos também com a sonoridade da letra, os fonemas, dentro das melodias. Por isso às vezes são necessárias várias adaptações nos aspectos rítmicos e melódicos de uma linha de vocal, ou das letras, até que soe agradável e não pareça forçado.
WHIPLASH - Outro ponto interessante é a distribuição de peso e melodia nas canções. Fica evidente que em músicas como "Hell Above You", "Craking Kissing" e "Timewarp" isso, de fato, existe. De que forma esta junção aconteceu?
Gustavo / Na verdade, peso é uma preocupação evidente em qualquer banda de Heavy Metal. E não é diferente com a gente. Porém, a densidade dentro das melodias, que as deixa pesada, é uma característica que é natural para a banda, devido às nossas influências. O peso e a melodia caminham independentes até aprovarmos cada uma em separado. Daí vem a fusão delas, e em seguida os testes para ver os resultados desta fusão.
Fernando / Um detalhe interessante é que isto é feito com olhos atentos ao Rodrigo (vocal), pois dentro do processo de composição seu principal papel é o de ouvinte, que aprova ou reprova um determinado trecho da música. A reação dele a alguma linha composta é algo que a gente considera bastante, antes de fixarmos uma linha de vocal ou até mesmo uma base.
WHIPLASH - Considerando o som que a banda pratica, como foi o processo de produção, já que pode-se ouvir tudo com muita clareza?
Maurício / A produção foi uma mescla da experiência e intuição de cada músico da banda. Podemos dizer "intuição" pois obtivemos um resultado satisfatório sem nunca ter tido instruções de profissionais quanto à produção, quando nos referimos à sonoridade geral do trabalho e inclusão de detalhes, como arranjos. A boa divisão de tarefas dentro do processo de produção, no nosso caso, também interferiu no resultado. O respeito que cada um tem com o conceito do outro e o próprio nível de conhecimento ajudam na hora de decidir qualquer coisa, e facilitam a produção. Quanto à clareza de som, tivemos o auxílio da equipe técnica que deu um excelente suporte para os novatos aqui!!!
WHIPLASH - Ainda sobre a boa produção, muitas bandas nacionais carecem disso. Neste aspecto, é correto afirmar que isso é outro ponto forte?
Gustavo / Produzir é um negócio complicado. Ou se tem experiência e se faz bem, ou se deve pagar alguém experiente para fazê-lo, o que custa caro, justamente por ser incomum ter eficiência nesse ramo. A estrada prova que parte da alma do CD está na boa produção, e que a boa produção está baseada no bom gosto, e que parte do bom gosto está na experiência. A visão vai aumentando a cada passo que se dá. Geralmente as bandas mais iniciantes não se preocupam com isso por que preferem economizar. Às vezes gastam o dinheiro com coisas que não são necessárias e acabam esquecendo e não se preocupando com isto. Depois, com o tempo, vão percebendo o que é verdadeiramente importante e começam a aplicar dinheiro aí, fazendo o caminho mais fácil na hora de procurar gravadoras e/ou promotores.
Fernando / No nosso caso, ficamos satisfeitos por termos produzidos sozinhos o CD, porém, no próximo, visamos trabalhar com produtores mais experientes. Inclusive já temos contatos com alguns deles.
WHIPLASH - A banda Vers’Over é uma junção de estilos que pode bem conquistar fãs, sejam de heavy, progressivo, tradicional e até mesmo thrash. Essa diversificação tem funcionado, neste sentido?
Maurício / Realmente tivemos feedback de pessoas que gostam de estilos diferentes por apresentarmos um estilo variado no álbum. Notamos isto de dois modos: o primeiro é na escolha de músicas preferidas de quem escuta o CD - algumas gostam daquela terceira, outros gostam mais da última, e assim vai; o outro modo se dá com a própria imprensa. Nunca se entra em acordo no tocante aos destaques do CD. Às vezes até acontece de alguém dar como ponto fraco aquilo que outro apontou como destaque. Isso tudo nos deixa contentes, pois nos prova o equilíbrio que conseguimos com essa abrangência de estilos.
WHIPLASH - No que diz respeito a divulgação, como estão as investidas para promover a banda, tanto no Brasil quanto no exterior?
Gustavo / Eu acho que somos a banda mais sortuda do Brasil. Encontramos as pessoas certas na hora certa para se encarregar de nossa divulgação. Refiro-me ao pessoal da Die Hard (Fausto, André e equipe). São pessoas honestas, que acreditam na gente e que sabem o que fazem. A divulgação ficou toda na mão deles, e eles a fazem perfeitamente. Estamos muito satisfeitos com tudo.
Também fazem a divulgação tanto no Brasil quanto no exterior, que ainda está em andamento, e cujos resultados logo aparecerão; principalmente depois que o Projeto Hamlet for lançado, o que servirá de alavanca na divulgação de todas as bandas da gravadora, pois todas fazem parte do projeto.
WHIPLASH - Quais são os projetos futuros para a banda?
Maurício / Dois meses após o lançamento oficial do álbum fomos convidados pela Die Hard para participar do projeto Hamlet. Esse projeto vai ajudar muito na divulgação, pois é uma idéia que certamente vai funcionar e terá uma abrangência internacional. Nos sentimos muito honrados por participar desse projeto, já que estamos ao lado de muitas bandas excelentes e vamos aprender muito com isso.
Rodrigo / O Vers’Over terá duas participações muito especiais para o Hamlet: o Maestro Claudinei Alves fará os corais e Charles Dalla (Wizards) tomará conta dos teclados.
Gustavo / Agora estamos planejando a gravação do segundo álbum, além de estarmos cotando preços e disponibilidade de produtores e estúdios - logo teremos uma posição definitiva em relação a isso. Começaremos a compor um novo material em breve.
WHIPLASH - Qual tem sido o papel da internet na comunicação com fãs e divulgação ao redor do mundo?
Maurício / Acredite nisso: recebemos a proposta, acertamos detalhes contratuais e fechamos negócio com a Die Hard tudo via e-mail, sem mesmo conhecê-los pessoalmente!!! Essa foi a maior utilidade da internet para nós.
Em relação à divulgação e comunicação, sempre recebemos e-mails com críticas sobre o CD, tiramos dúvidas e até damos entrevistas via e-mail. Sem a internet o álbum provavelmente estaria no forno ainda. Em nosso site existem diversas informações sobre a banda: reviews, fotos e a história, inclusive do nome.
WHIPLASH - A respeito de shows, o que os fãs e futuros fãs poderão presenciar em uma apresentação do Vers’Over?
Gustavo / Quanto ao repertório, ele é baseado nas músicas presentes no nosso álbum, uma música da nossa demotape, um cover especial a escolher na hora, mais uma música inédita que a gente sempre toca, pois gostamos de experimentá-las antes de gravar, como aconteceu com todas do "Love Hate...".
Fernando / Quanto à energia, é só aguardar o Rodrigo ao vivo. Se todos da platéia captarem metade de sua energia, não sobra nada inteiro. A fidelidade das músicas ao vivo em relação às gravações de estúdio foi algo com que a gente sempre se preocupou, tanto em arranjos quanto em peso.
Gustavo / Pessoalmente, prefiro as músicas ao vivo, pois desse modo elas transmitem melhor o modo real com o qual queremos que elas soem.
WHIPLASH - Que recado vocês podem deixar para os apreciadores de cada estilo que a banda reúne em Love Hate & Everything In Between?
Maurício / Que cada um procure no Vers’Over, além de ouvir parte das nossas influências e suas preferências, nossa identidade musical, pois foi isso que procuramos inserir nas músicas.
Fernando / Antes de músicos, somos fãs e assim como gostamos de nos identificar com a música de nossos ídolos, gostaríamos que nossos fãs se identificassem com a nossa música.
WHIPLASH - Para finalizar, deixem um recado para o WHIPLASH!.
Maurício / Muito obrigado ao pessoal do WHIPLASH! pela oportunidade de nos colocar em contato mais direto com o público e esperamos que o site continue o nobre trabalho de promover o Metal no Brasil!!! Stay Heavy!!!
Para contactar a banda: [email protected]
Para acessar o site oficial da banda: www.versover.com.br
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