Rafael Bittencourt: comentários sobre a carreira, equipamentos e técnicas
Por Rodrigo Vinhas
Postado em 11 de abril de 2003
Os dois últimos lançamentos do Angra foram um grande sucesso no mundo todo, tanto em relação à mídia quanto ao público. Em 2001 lançaram o Rebirth, em 2002 o Hunters and Prey. Rafael comenta este período e seus equipamentos e técnicas.
Whiplash: Como você avalia esse período? Você acredita que devido a essa repercussão, para o próximo lançamento, haverá uma pressão ainda maior do que na apresentação da nova formação da banda?
Rafael Bittencourt: A pressão e a expectativa sempre tendem a subir. Se temos um ótimo Cd no mercado, precisamos nos superar com um próximo trabalho que atenda às expectativas do público; mas se temos um trabalho sem repercussão também nos pressionamos para não corrermos o risco de perdermos a credibilidade com o público.
Whiplash: Você acha que a partir do lançamento de Rebirth a banda mudou o seu direcionamento de alguma forma?
Rafael Bittencourt: De maneira alguma. O direcionamento manteve-se intacto. O que mudou foi a formação e é claro que houveram conseqüências. Por exemplo: a banda hoje, passa uma imagem mais informal de sua imagem, a postura do vocalista contribui muito para isto. Se o vocalista de uma banda é metido as pessoas tendem a achar que os outros membros também são, se o cara é simpático a imagem da banda é mais simpática, independente do direcionamento do grupo.
Whiplash: Qual é a previsão de lançamento do próximo álbum? Ele irá manter o direcionamento atual? Você acha que poderão ocorrer mudanças na sonoridade da banda, devido ao fato dos novos integrantes já estarem mais adaptados, e sendo assim mais livres para compor?
Rafael Bittencourt: Estamos nos planejando para lançar o novo álbum no final de outubro deste ano. Deve seguir o mesmo direcionamento, porém estamos mais à vontade para experimentar mais. O fato de estarem mais livres para compor não irá mudar necessariamente a sonoridade da banda, pois toda e qualquer idéia deve se encaixar no conceito da banda. Acho que a sonoridade tende a amadurecer, mas isto deve-se ao amadurecimento de todos na banda e do entrosamento do grupo.
Whiplash: Quando eles entraram na banda o primeiro disco estava praticamente pronto, certo?
Rafael Bittencourt: Sim, quando eles entraram o disco estava praticamente pronto.
Whiplash: O novo disco será conceitual?
Rafael Bittencourt: É cedo para dizer. Eu acho que um bom conceito ajuda a dar unidade para um disco, mas este conceito deve ser forte e ter conteúdo suficiente para não ficar algo sem propósito. Fazer um disco com uma estória qualquer pode ficar infantil demais se não for bem feito.
Whiplash: A produção será novamente feita pelo Dennis Ward? Como vocês chegaram ao nome dele?
Rafael Bittencourt: Estamos bem satisfeitos com o trabalho dele e queremos tê-lo conosco de novo, mas vai depender da agenda dele. Ele nos foi indicado pelo representante da gravadora Francesa Wagram, Olivier Garnier.
Whiplash: O novo disco será gravado no Brasil ou no exterior? Qual é o critério adotado pra vocês escolherem o local onde o disco será gravado?
Rafael Bittencourt: Isto vai depender do quanto as gravadoras vão querer investir no nosso disco e do quanto o dólar estará valendo, pois isto pode também inviabilizar uma gravação fora do país.
Whiplash: Como você avalia o período desde o lançamento do Rebirth até agora?
Rafael Bittencourt: Foi um período cheio de vitórias. Não sabíamos quando preparávamos o Rebirth, se teria êxito, mas fizemos com toda a garra do mundo alvejando sempre a nossa satisfação pessoal com o disco, já que não tínhamos mais nada a perder. Procuramos nos superar em todos os sentidos como músicos, nos reaproximamos no nosso público e eles nos deram muita força para não deixarmos a "peteca" cair. De lá pra cá conquistamos muitas vitórias, como o disco de ouro no Brasil, uma turnê de muito sucesso pelo mundo, visitamos vários lugares jamais visitados com o Angra e muito mais.
Whiplash: Há pouco tempo vocês lançaram um DVD de um show realizado em São Paulo. Fale um pouco sobre o DVD.
Rafael Bittencourt: O DVD tem como atração principal o registro do show em São Paulo em novembro de 2001 no Via Funchal, onde atraímos um público de mais de quatro mil pessoas na oitava apresentação ao vivo da banda. Isto mesmo, aquela foi a nossa oitava apresentação e já mostrávamos muito entrosamento e fibra. Foram várias câmeras, fogos, luzes etc. Também temos pequenos clipes da nossa passagem por vários lugares desta turnê, Taiwan, Japão, Europa, Festivais e vários lugares do Brasil.
Whiplash: Como surgiu o contrato com a Peavey?
Rafael Bittencourt: A Peavey do Brasil funciona diferente de outras marcas estrangeiras que estão no Brasil. O próprio dono da Peavey americana, o Sr. Hartley Peavey, é o proprietário de sua filial brasileira e estão até montando alguns amplificadores em Manaus, com toda a tecnologia e matéria prima importada. O Kiko ficou sabendo, através do Sr. Fábio Viola que os diretores da empresa aqui no Brasil estavam procurando alguém que tivesse o perfil da marca e ele me deu o contato. Eu apresentei o meu material, fiz algumas entrevistas e consegui o patrocínio. Estou muito feliz com os instrumentos que eu represento e com o apoio que eles têm me dado.
Whiplash: Qual é o seu equipamento no estúdio e ao vivo?
Rafael Bittencourt: Em estúdio não existe um equipamento definitivo, geralmente é um trabalho de pesquisa que envolve muito mais o know-how de quem está mexendo do que necessariamente a marca dos amplificadores. Cada sala tem um som e você precisa saber se acomodar às circunstâncias de cada gravação. Seria injusto eu listar aqui equipamentos bons para uma gravação, pois são tantos que eu poderia acabar esquecendo algum, mas eu começaria com aqueles que eu endosso: Pedais Onner (especialmente o delay 24 bits, o Carbon-X e o Fat boy), amplis Peavey (pode ser o 5150 o triple X ou o XXL que trás a tecnologia transtube da Peavey), guitas wolfgang (esta guita já ganhou centenas de prêmios em revistas de música do mundo), cabos Santo Ângelo e cordas NIG. Tenho orgulho destas empresas brasileiras que fazem um esforço dobrado para atingirem os padrões de satisfação dos músicos brasileiros, e o fazem bem.
Whiplash: Você ainda estuda guitarra diariamente?
Rafael Bittencourt: Quase diariamente. Às vezes, outros compromissos acabam atrapalhando o estudo diário. O estudo de guitarra, depois de um tempo é muito diferente, você não gasta tanto tempo praticando movimentos automáticos e sim procura usufruir dos sons que correm pelas suas mão naturalmente; em outras palavras, você simplesmente toca e prima pela fluência e a busca da autenticidade.
Whiplash: Qual foi seu primeiro trabalho com música?
Rafael Bittencourt: Acho que foram algumas aulas de guitarra e violão aos dezessete anos.
Whiplash: Você cursou faculdade de música certo? Qual foi a importância desse fato para o seu desenvolvimento como músico? Você acredita que para quem pretende viver de música, esse é o caminho mais indicado?
Rafael Bittencourt: A faculdade de música foi muito importante para mim, mas não existe uma regra que diga que será importante para qualquer um que for estudar lá. Eu aproveitei muito as aulas diferentes, as pessoas que me rodeavam, e tudo mais, pois sempre tive muita curiosidade com relação a várias coisas que só um ambiente acadêmico proporciona, como por exemplo o estilo de vida de um maestro em São Paulo, qual o gosto musical de um músico de estúdio que só grava sertanejo, quais os livros que deve ler o organista da Catedral da Consolação e muito mais. Tudo isto me ajudou a ter um pensamento musical próprio e a primar pela minha identidade musical. Ou seja, o ambiente musical é fundamental, mas não necessariamente numa faculdade, basta que você tenha uma atitude ativa com relação à profissão. Por exemplo: Se o seu vizinho é um bom guitarrista, visite-o todos os dias que você também o será, ao invés de sair por aí dizendo que você toca melhor que ele.
Whiplash: O que você acha do cenário musical brasileiro atualmente?
Rafael Bittencourt: Bom, existem coisas boas e coisas ruins, como em qualquer lugar. Mas, de uma maneira geral, acho que poderiam valorizar mais o Heavy-Metal "tipo exportação" que está crescendo no Brasil e que muitos meios de comunicação não dão o devido valor, por achar ultrapassado. Nós temos em mãos, mais uma vez na nossa história, um cenário cheio de talentos e bandas que estão fazendo sucesso no exterior e que são deixadas de lado aqui no Brasil por pura hipocrisia.
Whiplash: Quais bandas nacionais você acha que são mais promissoras?
Rafael Bittencourt: O Karma e o HolyFire são duas bandas que eu produzi. Mas não é porque eu produzi que eu estou mencionando e sim o contrário: eu produzi porque eram promissoras.
Whiplash: Você tem atuado esporadicamente como produtor certo? Fale mais sobre isso.
Rafael Bittencourt: Bem esporadicamente. É algo que eu gosto muito de fazer mas não tenho tempo. Acho que poderia contribuir muito, com a minha experiência, para algumas bandas saírem do anonimato, pois sem este "auxílio" fica ainda mais difícil a situação de algumas delas aqui no Brasil. É muito triste para mim ver tanta gente talentosa ser ignorada enquanto a mídia enfatiza o falso valor de outras porcarias. Gostaria que o nosso movimento fosse maior, que as bandas brasileiras mandassem no cenário mundial e tal. Mas sou só um e tenho o meu barco para tomar conta também. Quem sabe um dia eu poderei me dedicar apenas a isso.
Whiplash: Você está fazendo muitos workshops pelo Brasil? Quanto você cobra em média pra fazer um workshop?
Rafael Bittencourt: O meu cachê varia conforme a distância, o tempo que eu vou ficar fora de casa, o tamanho do público que eu vou atingir etc. Para maiores informações o telefone é 011-5579 4124 (tratar com Cláudia ou Isolda).
Whiplash: Você tem algum outro projeto paralelo ao Angra?
Rafael Bittencourt: As produções, os workshops, o meu novo site (www.rafaonline.com), o livro que eu estou escrevendo, o cd de demonstração que estou gravando, a participação em eventos e cd's dos patrocinadores e outras coisas são todos projetos paralelos. Mas não tenho ainda nenhuma banda paralela ao Angra.
Whiplash: Deixe uma dica para quem está começando a tocar agora e pretende viver de música no Brasil ou montar uma banda e atingir sucesso, assim como o Angra.
Rafael Bittencourt: A dica maior é não se deixar desanimar com os contratempos eventuais que sempre aparecerão. Procurar ter um bom relacionamento com o pessoal do seu grupo e evitar fofocas e intrigas dentro do grupo. Ter certeza de que a galera com quem você toca tem os mesmos objetivos que você, para não ter que se indispor no futuro e/ou perder o seu tempo investido com surpresas do tipo: "Não quero mais tocar com você!".E, é claro, passar bastante tempo com o seu instrumento, entender que a música é comunicação e o seu instrumento é apenas um meio de você tocar a sensibilidade quem estiver ouvindo e não uma maneira de você aparecer. Por fim, OS SENTIMENTOS DEVEM SER AUTÊNTICOS!
Obrigados àqueles leram esta entrevista.
Rafael Bittencourt.
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