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O poder da honestidade crua e sincera de Henry Rollins

Resenha - End of Silence - Rollins Band

Por Fernando Claure
Postado em 18 de abril de 2024

O fim do Black Flag não significou o fim de Henry Rollins. No mesmo ano de 1986, no qual a banda se desfez, Rollins foi atrás de seu amigo Chris Haskett para dar vida ao seu novo projeto. Os primeiros momentos do conjunto que viria a ser conhecido como Rollins Band foram marcados por instabilidade, já que o baterista Mick Green e o baixista Bernie Wandel viriam a participar apenas dos LPs "Hot Animal Machine" e "Drive By Shooting", que acabaram sendo deixados de lado pela banda e lançados como parte da carreira solo de Henry Rollins. Porém, no ano seguinte de 1987, com a vinda de Sim Cain para a bateria e Andrew Weiss para o baixo, a Rollins Band foi oficializada para mudar a cena de alt-metal e post-hardcore da época.

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Os dois primeiros álbuns do grupo, lançados sob o selo Texas Hotel, possuem um tom cru, animalesco, afiado e brutal nos instrumentos e principalmente na voz de Henry. Gravados e lançados ainda na década de 1980, a banda continuava a demonstrar características do punk, mas agora com uma técnica mais desenvolvida, polida e refinada. A mensagem não era o propósito inteiro da banda, mas sim como entregar a mensagem. A banda flertou com jazz fusion, post-hardcore, grunge, hard rock, psicodélico e outros gêneros, mas nunca se mostrou sólida o suficiente para adotar um destes como o seu. Apesar de serem excelentes projetos, o conjunto ainda não havia se diferenciado totalmente do Black Flag, mas isso viria a mudar com o LP de 1992, "The End Of Silence".

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Agora na Imago Records, o grupo lançou o álbum em fevereiro de 1992, tendo gravado todas as faixas um ano antes e finalizando os processos de produção e ‘overdubs’ em outubro de 1991. Dois meses desses processos de criação do LP, Rollins e seu melhor amigo, Joe Cole, foram abordados por dois assaltantes em frente a sua casa em Venice, na Califórnia. Mesmo cooperando com os bandidos, logo depois que eles ordenaram Henry a abrir a porta e entrar com eles dentro de sua casa, Cole tentou escapar e foi executado com um tiro na cabeça. Apesar disso ter acontecido após as gravações do álbum, as letras conversam muito com esse crime e a mentalidade de Rollins na época, que englobava principalmente o seu olhar pessimista sobre as sociedade da época e sua rotina de vida brutalmente rigorosa e focada. A morte de Joe impactou tanto o ex-Black Flag quanto a banda Sonic Youth, que dedicaram as músicas "JC" e "100%", ambas presentes no álbum "Dirty", em memória de Cole.

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O encarte do CD é bem básico, sem nenhuma foto ou algo diferente dentro, tirando a imagem da parte de trás com Henry Rollins, Andrew Weiss, Theo Van Rock, Sim Cain e Chris Haskett. Dentro do encarte algumas músicas possuem parte da letra omitida e, por algum motivo, a faixa "Blues Jam" é a única que não possui a letra listada. Na parte de créditos, a banda cita Rick Spellman como "Designer de tatuagem" por conta da imagem da capa do álbum ser baseada na tatuagem presente nas costas de Henry Rollins. Na parte de agradecimentos estão presentes artistas como Ice T and the [Rhyme] Syndicate, NIN (Nine Inch Nails), Butthole Surfers, Miles Davis e Living Colour.

Os elementos fundamentais para a composição do álbum são: honestidade e sentimentos sobre ódio da própria pessoa, inabilidade e impotência para mudar de rumo na vida. Esses tópicos são discorridos durante todas as músicas, que podem ser ouvidas separadamente mas quando juntas, formam um contexto único na perspectiva tanto da pessoa sofrendo quanto do amigo que enxerga tudo isso acontecer. O jeito que Rollins aborda essas emoções nas letras cria uma narrativa direta, sem muitas comparações ou metáforas, o que desenvolve uma sensação de que ele fala tudo isso diretamente para o ouvinte.

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A primeira faixa do LP, "Low Self Opinion", mostra um estilo agressivo de Rollins agora misturado com o seu trabalho de recitação (spoken word). Sua voz aparenta estar mais melódica e menos animalesca que nos outros dois álbuns anteriores. O baixo potente e encorpado como de groove metal se destaca bastante, mas não deixa a guitarra de Chris Haskett de lado, que reproduz um solo agitado nos últimos momentos da música. O instrumental possui um tom mais pesado e agitado, diferentemente da letra que aborda um tópico mais depressivo.

Em seguida, "Grip" mostra um início suave mas que gradativamente incorpora a explosividade de Henry Rollins. Os instrumentos abraçam características do grunge e alt metal da década de 1990 e acompanham a emoção dos vocais. "Tearing" tem o baixo de Andrew Weiss totalmente baseado no groove metal, destacando a sua personalidade musical durante suas performances. A intensidade, para apenas a terceira de dez faixas do álbum, serve como um aviso sobre as músicas seguintes.

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Quatro palavras podem definir "You Didn’t Need": Intensa, agressiva, passional e pessoal. A emoção na voz de Henry e o riff inicial criam uma melodia contagiante e apesar de ter um solo de guitarra relativamente curto, este é muito bem executado e ressalta a habilidade técnica proficiente de Haskett. Fechando a primeira metade, "Almost Real" começa lentamente, mas de uma maneira mais brutal e impactante. A melodia criativa e ‘groovy’ do baixo, guitarra e bateria funcionam como uma mistura de Black Sabbath, The Doors e Pantera, mas com o vocal único de Henry Rollins. O ‘breakdown’ cria uma atmosfera de suspense com uma calmaria aparente, mas que você sabe que a qualquer momento tudo pode explodir.

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Para abrir a segunda metade do projeto, "Obscene" possui um início lento (uma opção artística recorrente neste álbum) mas agressivo. Durante o solo, os instrumentos começam a se consolidar e aumentar a potência sonora da faixa que estava inexistente no início. O ‘breakdown’ é parecido com o de "Almost Real". O caos na segunda parte da música é parecido com o das músicas "L.A. Blues" e "Funhouse" do segundo álbum dos Stooges, o que não pode ser uma coincidência, considerando que Rollins já citou "Funhouse" como o seu LP favorito de todos os tempos.

O baixo em "What Do You Do" chega rasgando como uma lâmina quente e devagar no início. Apesar de ser mais lenta que as músicas anteriores, é mais vigorosa e violenta. As letras de Henry servem como difíceis questões sobre a vida, que ele faz para o ouvinte com a sutileza de um tapa na cara. "Blues Jam" é a música mais longa do álbum, que funciona como um desabafo ou uma história mais elaborada e complexa. Os instrumentos e os vocais criam uma harmonia carregada de melancolia e emoção pura e crua. As pancadas do baterista Sim Cain parecem estar mais fortes do que nas outras faixas, o que combina com a temática niilista de Rollins, que afirma "Life will not break your heart. It will crush it". No breakdown da faixa de pouco mais de oito minutos, a guitarra no fundo cria uma sensação de isolamento, como se tivesse apenas um radinho distante tocando e nada mais no ambiente. Henry abre a penúltima faixa, "Another Life", com seu vocal agressivo e suas letras, que agora não possuem muitas rimas, mas o seu jeito de se expressar e narrar a história providenciam uma experiência única. Esta marca a primeira música do álbum na qual Henry se destaca mais que os outros membros da banda.

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Para encerrar, "Just Like You" abre como um evento final de uma grande saga, a conclusão da jornada. O início lento se transforma em um riff insano e uma apresentação expressiva, com gritos bestiais e viscerais de "RAGE!" por Rollins no meio como se ele estivesse na sua época de Black Flag. Esta é definitivamente a música mais intensa do álbum, perfeita para fechar um projeto brutalmente direto no ponto como este.

Se você está meio para baixo ou se sentindo desmotivado, esse álbum te atinge como um soco na cara, igual ao retratado na capa de "Vulgar Display of Power" do Pantera. A agressão de Rollins, o estilo de Andrew Weiss, a técnica e versatilidade de Chris Haskett e a explosividade perfeitamente calculada e sincronizada de Sim Cain criam uma sintonia dilaceradora, estupidamente honesta e forte para servir de apoio, como uma mão amiga para levantar o ouvinte caído. Claro que essa mão é a mesma que vai te dar um murro com a força de um martelo de aço se você recair, mas todos nós demonstramos afeto de jeitos diferentes. O LP é considerado um dos destaques da banda e merece todos os méritos que recebeu pela criatividade e esforço que foi usado para construir um dos maiores projetos de alt-metal e post-hardcore de todos os tempos. 9/10

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1. Low Self Opinion
2. Grip
3. Tearing
4. You Didn't Need
5. Almost Real
6. Obscene
7. What Do You Do
8. Blues Jam
9. Another Life
10. Just Like You

Vocais - Henry Rollins
Guitarra - Chris Haskett
Baixo - Andrew Weiss
Bateria - Sim Cain

Produção - Theo Van Rock
Selo: Imago Records
Tempo: 1hr e 12min

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Sobre Fernando Claure

Jornalista formado em 2023, cresci ouvindo Sabbath e Metallica com o meu irmão mais velho e hoje escuto de tudo e mais um pouco. No momento meu ato favorito é o Nine Inch Nails, mas é capaz que mude daqui a um tempo. Se pudesse pegar três ídolos pessoais, estes seriam Iggy Pop, Glenn Danzig e Trent Reznor.
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