O clássico que imortalizou a carreira do "Elvis do Mal", Glenn Danzig.
Resenha - Danzig III: How The Gods Kill - Danzig
Por Fernando Claure
Postado em 29 de fevereiro de 2024
Após o sucesso de "Danzig II: Lucifuge", Glenn Danzig percebeu que as suas experimentações e flertes com outros gêneros musicais poderiam resultar em grandes sucessos. O álbum, que teve um toque mais criativo de Glenn, trouxe músicas como "Blood and Tears" e "I’m The One", uma balada e uma faixa de blues rock, respectivamente, que mostraram a versatilidade do vocalista para compor músicas fora do espectro do horror punk e do heavy metal. Essa maleabilidade criativa resultou no terceiro projeto da banda, "Danzig III: How The Gods Kill".
Em entrevista à Seconds Magazine, em 1997, Glenn comentou sobre o papel de Rick Rubin nos álbuns do grupo e ecoou o sentimento de que o produtor da American Records tinha suas preferências para produzir: "[Rick Rubin] odiava tudo digital. Você não podia nem colocar uma harmonização digital nos vocais, Rubin teria um ataque cardíaco. Esse é um dos motivos do porquê Danzig III soa tão diferente. Eu pude brincar com muitas coisas", disse o "Elvis do Mal".
Na cópia usada para essa resenha, um relançamento de 2007, a maioria dos elementos do LP original foram mantidos. Tanto a capa do álbum quanto a do single "Dirty Black Summer" foram feitas pelo artista suíço H.R Giger, mais conhecido por ter feito o design dos Xenomorfos, do filme "Alien". A arte original foi alterada para o álbum. Uma figura fálica foi substituída por uma espada com o logo da banda na parte da guarda, imaginado por Giger.
O álbum começa com "Godless", uma abertura furiosa que brinca com a técnica de breakdown e idealiza o que o ouvinte pode esperar pelo resto do LP. De acordo com uma entrevista de Glenn para a Clyde 1 Radio da Escócia, em 1992, a letra fala sobre "[...] a frustração que eu vejo em muitas pessoas na América ou até mesmo aqui, na Europa, que estão tendo com a religião- especialmente o Cristianismo".
Em seguida, "Anything", uma das minhas composições favoritas de todo o catálogo de Danzig, flui como uma declaração de amor ardente e incorrupto. O instrumental de Chuck Biscuits, John Christ e Eerie Von casa perfeitamente com a letra de Glenn: nem tão pesada, nem tão leve. A terceira faixa "Bodies" surge como a primeira música de blues rock do álbum. O ritmo que a banda usa para iniciar junto com o estilo vocal de Glenn é o resultado da criatividade e experimentação que o conjunto apresentou no projeto anterior com "I’m The One" e "Killer Wolf". Danzig agora demonstra como nunca seu grande alcance vocal, quase como uma prévia para a próxima.
Faixa título do álbum, "How The Gods Kill" é o evento principal de "Danzig III", mesmo sendo apenas a quarta música. O uso do breakdown é o que faz o instrumental fluir, e somados aos gritos melancólicos de Danzig, acabam desenvolvendo uma melodia sombria como nunca antes presente em uma composição na carreira de Glenn até este ponto.
O fim de "How The Gods Kill" ainda percorre no começo da faixa seguinte, "Dirty Black Summer". Isso é comum nos álbuns, mas é algo que particularmente me incomoda, porque os primeiros 41 segundos da faixa são sons ambientes tenebrosos. John Christ abre com um riff básico, mas contagiante, que prende o ouvinte na letra sobre as histórias de Glenn (um pouco dramatizadas para se encaixar no tema sombrio do álbum) durante os verões em Lodi, Nova Jérsei, sua cidade natal.
Danzig inicia a segunda parte do LP com a sua agressividade e atitude confrontativa mais fortes como nunca em "Left Hand Black". É possível sentir pela música inteira a ferocidade dos instrumentos no fundo, como as batidas fortes de Chuck Biscuits e a estrutura de titânio que o baixo de Eerie Von providencia para segurar o peso da voz de Danzig e a fúria da guitarra de John Christ.
Originalmente, a sétima faixa do álbum "Heart of The Devil", que conta com um ritmo de blues e uma letra sobrenatural, que juntos criam uma melodia sinistra que exala poder, maliciosidade e superioridade de um ser muito poderoso, teria o músico de blues Willie Dixon junto com Glenn nos vocais, mas infelizmente Dixon faleceu antes que a colaboração pudesse ser gravada. Em entrevista para a Revolver Magazine em 2022, Danzig explicou: "geralmente, quando você me ouve gritando e uivando em uma música, tem muito a ver com Willie Dixon".
Primeira balada após "Blood and Tears" em "Danzig II", "Sistinas" foi uma das quatro músicas do projeto a receberem um videoclipe. É uma canção melancólica e emotiva sobre depressão e solidão de uma pessoa incapaz de formalizar uma relação. A entrega vocal dolorosa de Glenn te faz sentir a soledade relatada como se você fosse o protagonista da faixa.
Se você se acalmou e baixou sua guarda com "Sistinas", a nona e penúltima faixa do LP, "Do You Wear The Mark", vem como um soco na cara. Durante a música inteira, é claro o flerte dos instrumentistas em simplesmente explodirem e tocarem o mais pesado e rápido possível, o que acaba acontecendo no final. Por mais que a voz de Danzig seja forte e exalte a sua presença em todas as outras canções, são os instrumentos que se destacam nesta música. Christ, Eerie e Biscuits criam uma harmonia caótica e perfeita para o álbum, no melhor estilo Danzig.
Para encerrar, "When The Dying Calls" traz uma melodia balanceada, nem tão calma como "Anything", nem tão pesada como "Left Hand Black". Essa estrutura funciona como um excelente encerramento para o álbum, apesar de não ser um dos maiores destaques de todo o projeto.
"Danzig III: How The Gods Kill" é um produto único. Após anos com os Misfits e o Samhain, seguido por "Danzig" e "Danzig II: Lucifuge", o vocalista finalmente conseguiu elaborar um som baseado em heavy metal e blues que poderia existir apenas pela criatividade de Glenn Danzig. A produção, os teclados, as letras, os instrumentos de John, Eerie e Chuck, todos estes elementos foram aprimorados e refinados e juntos, vieram a formar o álbum mais polido e impactante de Danzig. 10/10.
Faixas:
1. Godless
2. Anything
3. Bodies
4. How The Gods Kill
5. Dirty Black Summer
6. Left Hand Black
7. Heart of the Devil
8. Sistinas
9. Do You Wear The Mark
10. When The Dying Calls
Vocal e teclado: Glenn Danzig
Guitarra: John Christ
Baixo: Eerie Von
Bateria: Chuck Biscuits
Produção: Glenn Danzig e Rick Rubin
Selo: American Recordings
Tempo: 48min e 59s
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