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Rage in my Eyes: reafirmando a excelência do metal nacional

Resenha - Spiral - Rage In My Eyes

Por Marcelo R.
Postado em 25 de outubro de 2021

Nota: 10 starstarstarstarstarstarstarstarstarstar

Os gaúchos do RAGE IN MY EYES vêm consolidando carreira notável. Atendendo anteriormente sob o nome de SCELERATA, a banda, formada em 2002, lançou três elogiosos álbuns ("Darkness and light", "Skeletons domination" e "The sniper"). À época, o SCELERATA também excursionou, por alguns anos, com Paul Di’anno, na perna das turnês brasileiras do cantor, servindo-lhe como banda de apoio e, ainda, atuando como banda de abertura.

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Sob nova insígnia – RAGE IN MY EYES –, adotada desde 2018, o conjunto – que abriu um show do IRON MAIDEN em 2019, na Arena do Grêmio –, já lançou, nesse curto período de existência, um festejado álbum "full-length" ("Ice cell"), um single ("I don’t want to say goodbye", em homenagem ao saudoso Andre Matos) e, há poucos dias, um EP, intitulado "Spiral", objeto desta resenha.

Definir é limitar, afirmava Oscar Wilde (em "O retrato de Dorian Gray"). No caso do RAGE IN MY EYES, classificar o conjunto é tarefa árdua. Colocá-los no rol de um único estilo seria singeleza, superficialidade incompatível com a sua grandeza musical. O som do grupo pode ser categorizado, predominantemente, como power metal. Musicalmente, porém, a banda entrega algo muito mais complexo, dinâmico e sofisticado, incorporando, à sua criação artística, nuances de diversos subgêneros do rock e do metal, além de elementos de folk e de milonga (um estilo de canto, música e dança que adota instrumentos como violão, sanfona e violino, tradicional no Rio Grande do Sul, na Argentina, no Uruguai e na Espanha). A abundância musical, sempre coesa, do RAGE IN MY EYES evidenciou-se novamente nesse mais recente lançamento, doravante analisado.

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"Spiral" é inaugurado com "Farewell", uma belíssima introdução instrumental que se desenvolve em atmosfera melancólica, introspectiva e sentimental, cativando o ouvinte logo nas primeiras notas.

Em sequência, emendada à balsâmica e merencória introdução, o EP inicia sua explosão sonora com "And then came the storm", que contém riffs melodiosos, além de trechos mais pesados e viscerais. Essa equilibrada miscelânea de elementos empresta à canção aquela característica tão singular do RAGE IN MY EYES, que amálgama peso, melodia, técnica e atmosfera/"feeling", sempre em doses precisas, tornando a audição uma deleitosa, aprazível e fértil viagem sonora.

"And then came the storm", que rendeu a gravação de um clipe, aborda um conceito valioso. A composição é dedicada a todos aqueles que sofreram perdas prematuras nesse doloroso período de pandemia, que deixou tantas marcas indeléveis, conforme explicitado em matéria publicada no whiplash.net. A propósito: "‘And Then Came the Storm’ foi escrita como carta de despedida e declaração de amor. Todos os integrantes do RAGE IN MY EYES sofreram perdas importantes nesse último um ano e meio, e a música nasceu para eternizar aqueles que partiram cedo demais".

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Ponto positivo à banda pela sensibilidade.

Sequenciando a audição, o EP entrega ao ouvinte "Dare to defy", com um ritmo veloz, direto e pesado, construída com riffs cortantes, além de uma sonoridade moderna. "Dare to defy" é a composição mais agressiva do álbum, desenvolvida com uma levada próxima ao heavy metal tradicional, mas com um instrumental que flerta, também, com o thrash metal, com o groove metal e, sutilmente, com o death metal melódico mais moderno. O vocal, potente e limpo, de Jonathas Pozo completa a maestria sonora da canção, conferindo-lhe equilíbrio agradável e preciso.

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A seguir, o EP regala o ouvinte com "Spark of hope", que, em avaliação pessoal, é não apenas a melhor canção do EP, mas – sem exageros! –, uma das melhores músicas de rock lançadas no Brasil em 2021.

"Spark of hope" congrega múltiplas influências e experimentações, resultando, dessa miscelânea, uma fertilidade sonora impressionante e façanhosa, que, porém, não soa à deriva.

"Spark of Hope" inicia de maneira dócil e fleumática, com foco em influências de milonga, já conhecidas no som do RAGE IN MY EYES. Após ambientar o ouvinte nesse clima aprazível, "Spark of Hope" progride para um clima mais veloz e pesado, embora ainda bastante atmosférico, em subitânea explosão sonora recheada de "feeling" e de criatividade. Os vocais sobrepostos – algo semelhante a um coral – que se incorporam ao instrumental, técnico e abundante em sentimentos, resgataram-me à memória, ainda que sutilmente, a rica e experimental sonoridade do ORPHANED LAND, especialmente aquela do primoroso álbum "All is one" (2013), com a sua peculiar levada operística e folk.

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"Spark of hope" também presenteia o ouvinte com um surpreendente e inesperado trecho cantado em português, num agradável momento que aduna rock a elementos do melhor estilo de sertanejo raiz.

"Spark of hope" merece, de fato, aplausos em pé!

"Spiral seasons", que encerra o EP, desenvolve-se em estilo mais direto, pesado e cadenciado, embora com ritmo um pouco mais lento em comparação com "Dare to defy", já mencionada. "Spiral seasons" possui um solo de guitarra memorável, um refrão marcante – executado por meio de trabalho vocal admirável de Jonathas Pozo – e um final intenso, que deixa ao ouvinte aquela sensação de "quero mais".

No aspecto conceitual, "Spiral" não é um álbum que se junge, exclusivamente, à questão da pandemia. A tônica é mais ampla, abrangendo os aspectos cíclicos da vida, seus momentos e sobressaltos, metaforicamente comparados a uma espiral. Sobre o assunto, Jonathas Pozo assim esclareceu em matéria que encontrei durante as pesquisas que realizei sobre a temática conceitual do EP "Spiral": "Espirais remetem ao tempo e aos ciclos, e simbolicamente são utilizadas por diversas culturas e crenças como representação de morte e vida, renovação, evolução e involução ou simplesmente a própria progressão da existência. ‘Spiral’ não é um EP sobre a pandemia, mas se assume completamente envolto pelas consequências e reflexos da mesma em suas etapas de criação e produção, expressando e imprimindo assim de forma artística as nossas perdas e nosso luto durante este período; do estranhamento com o novo cotidiano à busca por sanidade e adaptação neste ciclo que atravessamos. ‘Spiral’ é sobretudo uma celebração à vida que segue, em memória e em ação, mas que segue compreendendo-se cíclica" (fonte: Rpoadie Crew).

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Em "Spiral", portanto, a banda associou, a um conceito temático filosoficamente complexo (e bastante pertinente ao momento atual), uma sonoridade fértil e pródiga em qualidades, com diversas e destemidas experimentações. Todos os integrantes são destaques e, fruto disso, "Spiral" entrega um material excelentemente produzido, com canções que contêm peso, melodia, técnica, significativas doses de emoção, vocais marcantes (que arrancam aplausos de qualquer plateia!) e uma expressiva miríade de excelentes influências, todas equilibradamente dosadas. O resultado é um EP que, em termos qualitativos, mantém o RAGE IN MY EYES no catálogo dos maiores conjuntos nacionais de metal e reafirma, uma vez mais, a posição do Brasil como país que sedia as melhores bandas de música pesada no mundo.

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Altamente recomendável.

Track-list:

1. Farewell
2. And then came the storm
3. Dare to defy
4. Spark of hope
5. Spiral seasons

Formação no EP:

Pedro Fauth (baixo)
Francis Cassol (bateria)
Magnus Wichmann (guitarra)
Jonathas Pozo (vocal)

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Sobre Marcelo R.

"Marcelo R. é natural de Itu. Da fama de sua cidade, herdou alguns exageros, como o gosto pela música e pela literatura. Ávido leitor e aficionado por uma imensa gama de subgêneros do rock, possui especial paixão pelo metal nacional, do qual é incansável apoiador. É colecionador de discos, já tendo completado algumas discografias, como a do Katatonia e a do Bruce Dickinson. Nas horas vagas, é um despretensioso escritor, aventurando-se especialmente em resenhas de livros e de música. Colabora com a página Rock Show, sediada no site Medium. É formado em Direito."
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